8.3.07

Baudrillard. 27 de Julho de 1929 - 6 de Março de 2007

Auto-retrato
Jean Baudrillard

Quem me falou pela primeira vez de JB foi o meu professor de semiologia da Universidade Nova, Pedro Frade, que andava a elaborar a sua tese de mestrado sobre fotografia, ou sobre como o nosso espanto gera formas acríticas de relação com o complexo industrial-técnico-científico-cultural (em 1992, a ASA publicou Figuras do Espanto, de Pedro Frade). A imagem fotográfica afasta ou atrai a população da realidade? - esta foi a questão que Baudrillard levantou (e que mais tarde inspiraria os irmãos Wachowski na criação de Matrix) (o hacker Neo/Keanu Reeves guarda os seus programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulação, de Baudrillard) (filmes que ele não gostou de ver, até porque hoje, tudo é efeito especial). Qual o impacto da comunicação e dos media na sociedade e cultura contemporâneas? Baudrillard estuda, decompõe, desmistifica a hiper-realidade (a realidade construída).

Sobre si dizia que era um dissidente da verdade. Não acreditava na ideia de um discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvia uma teoria irónica que tinha por finalidade formular hipóteses. Examinava a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, JB era também um fotógrafo.

Os primeiros livros que li, O Sistema dos Objectos e Para uma Economia Política dos Signos, estariam já ultrapassados, segundo o próprio Baudrillard. Nessas obras, escritas nos anos 60, ele analisava o papel do valor dos signos nas trocas humanas. Actualmente, cada signo tende a transformar-se num objecto em si mesmo, tendo valor de uso e de troca em simultâneo. Para ele, o relativismo dos signos resultou numa espécie de catástrofe simbólica.

E a arte. A arte integrou-se no ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há excepções, mas, em geral, os artistas renderam-se à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os signos soterraram a singularidade. Os artistas submetem-se a imperativos políticos, e já não seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.

Foi acusado de cair no relativismo mais absoluto. Mas Baudrillard limitou-se a descodificar. Não por acaso, o Libération anuncia a sua morte com o título: Fini de décoder.

[Ver Dossier sobre Jean Baudrillard no Le Monde]
[Ler artigo no Fígaro: Jean Baudrillard l'inclassable]

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