(...) Queremos consultar a tua opinião.
- Estou à vossa disposição - respondeu Vidal.
- Não te ponhas tão solene. Queremos a tua opinião. Dante, aqui presente, resolveu ontem à noite... digo?
- Foi para isso que cá viemos - disse Dante, incomodado. - Quanto mais depressa, melhor.
Arévalo falou rapidamente:
- Ontem à noite resolveu pintar o cabelo e quer saber a tua opinião.
Vidal balbuciou:
- Parece-me perfeito...
- Não te apresses - protestou Arévalo.
- Posso explicar-te as minhas dúvidas? - perguntou Dante. - Há pessoas a quem o cabelo grisalho repugna e enfurece; em contrapartida, a outros, um velho com o cabelo pintado enraivece-os.
- Posso explicar-te? - disse Arévolo. - Eu estava a contar a Dante que, uma vez, indo com uma rapariga para um hotel, nos cruzámos à porta com um casal. A rapariga riu-se: "Olha para o velhinho." Eu olhei e era um condiscípulo meu, mais novo do que eu, só que parecia uma ovelha com o cabelo branco.
- Tu pintas o cabelo?
- Estás louco? Graças a Deus, nunca precisei.
- Há um mas - observou Dante, com visível preocupação. - A tinta nota-se.
- Vai lá agora notar-se - replicou Arévolo. - Ninguém repara em ninguém. Temos uma ideia geral de que fulano é grisalho ou é calvo.
- As mulheres talvez reparem - opinou Vidal.
- Não te oiço - disse Dante.
- Reparam nas outras mulheres, para as criticarem - disse Arévolo.
- Agora as pessoas reparam - insistiu Dante - e não me vão negar: um velho de cabelo pintado provoca irritação.
- E os calvos? - perguntou Vidal.
- Pintar o cabelo - continuou Dante - é, hoje em dia, um procedimento grosseiro. Nota-se.
- Metade das raparigas que andam pela rua tem o cabelo pintado. Tu nota-lo. (...)
Como se mudasse de lado, Arévalo admitiu:
- Nota-se quando é fingido. Que me dizem dessas morenas pintadas de loiro?
- As morenas não me interessam. Digam-me a verdade, pareço mais novo? Eu assim não engano ninguém - declarou Dante, desolado.
- Então, para que é que pintaste o cabelo? - perguntou Arévolo.
- Não sei, pá.
(...)
- Estou à vossa disposição - respondeu Vidal.
- Não te ponhas tão solene. Queremos a tua opinião. Dante, aqui presente, resolveu ontem à noite... digo?
- Foi para isso que cá viemos - disse Dante, incomodado. - Quanto mais depressa, melhor.
Arévalo falou rapidamente:
- Ontem à noite resolveu pintar o cabelo e quer saber a tua opinião.
Vidal balbuciou:
- Parece-me perfeito...
- Não te apresses - protestou Arévalo.
- Posso explicar-te as minhas dúvidas? - perguntou Dante. - Há pessoas a quem o cabelo grisalho repugna e enfurece; em contrapartida, a outros, um velho com o cabelo pintado enraivece-os.
- Posso explicar-te? - disse Arévolo. - Eu estava a contar a Dante que, uma vez, indo com uma rapariga para um hotel, nos cruzámos à porta com um casal. A rapariga riu-se: "Olha para o velhinho." Eu olhei e era um condiscípulo meu, mais novo do que eu, só que parecia uma ovelha com o cabelo branco.
- Tu pintas o cabelo?
- Estás louco? Graças a Deus, nunca precisei.
- Há um mas - observou Dante, com visível preocupação. - A tinta nota-se.
- Vai lá agora notar-se - replicou Arévolo. - Ninguém repara em ninguém. Temos uma ideia geral de que fulano é grisalho ou é calvo.
- As mulheres talvez reparem - opinou Vidal.
- Não te oiço - disse Dante.
- Reparam nas outras mulheres, para as criticarem - disse Arévolo.
- Agora as pessoas reparam - insistiu Dante - e não me vão negar: um velho de cabelo pintado provoca irritação.
- E os calvos? - perguntou Vidal.
- Pintar o cabelo - continuou Dante - é, hoje em dia, um procedimento grosseiro. Nota-se.
- Metade das raparigas que andam pela rua tem o cabelo pintado. Tu nota-lo. (...)
Como se mudasse de lado, Arévalo admitiu:
- Nota-se quando é fingido. Que me dizem dessas morenas pintadas de loiro?
- As morenas não me interessam. Digam-me a verdade, pareço mais novo? Eu assim não engano ninguém - declarou Dante, desolado.
- Então, para que é que pintaste o cabelo? - perguntou Arévolo.
- Não sei, pá.
(...)
in Diário da Guerra aos Porcos de Adolfo Bioy Casares
pp. 59-60
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