14.5.12

O Exótico Hotel Marigold


Realizador: John Madden
Escritores: Ol Parker (argumento), Deborah Moggach (romance)

Este filme é bem mais do que uma aposta na fórmula "comédia+elenco de actores consagrados". É verdade que a proposta de uma viagem pela Índia, acompanhada de uma boa dose de humor servida por bons actores, não é de negligenciar. Mas o filme é melhor do que isso. O argumento é inteligente. Centrado nas vivências de um grupo já na terceira idade, pertencente a uma abrangente classe média (da ex-empregada doméstica/governante ao juiz aposentado), retrata as dificuldades financeiras, familiares, as contingências de saúde e de perda comuns nesta idade, sem cair num tom nostálgico ou patético. Tendo em conta o género, poderia avançar na comédia recorrendo a promessas de elixires de longa vida ou outras panaceias. Não o faz. O filme é divertido e sóbrio. Todas as personagens são tratadas com a dignidade que merecem. De resto, se há uma lição, é essa: a de não retirar à terceira idade o sonho e o direito à independência, ao romance, a uma vida sexual activa, à realização pessoal. Já todos temos essa consciência? Não será por insensibilidade ou maldade (mesmo se isso também existe), mas as associações mais ou menos estereotipadas sobre cada fase da vida, afastam as diferentes gerações. Este filme leva-nos ao encontro dos outros pelo que são e não pelos anos que já contam. E o deus dos novos tempos já viu que isso era bom.

Uma última nota para a imagem que a nova (velha) Albion projecta do país que já pertenceu ao Grande Império: pareceu-me que não evoluiu muito desde os anos 80 com David Lean e a sua "Passagem para a Índia", mesmo se não se aborda a resistência à dominação inglesa ou a consciência nacionalista indiana. Os ingleses são ridicularizados quando apresentam comportamentos racistas mas todos são condescendentes. Recusam o “ser colonizador”, certamente, mas são rapidamente admitidos como "consultores" (Evelyn Greensladee/Judy Dench) e, no fim, salvam o sonho do protagonista indiano, gerindo sabiamente o Hotel. A personagem indiana central é Sonny Kapoor (Dev Patel), cujo perfil ambivalente se enquadra facilmente no estereótipo do colonizado. É impulsivo mas também digno, subserviente; é o gestor, aprecia a modernidade, e ao mesmo tempo é místico - é ele quem profere o lema do filme: "everything will be alright in the end; if it's not alright, then it's not the end"; mas, mais que doce e bondoso, que é o que são todas as personagens indianas, ele é infantil. Na literatura e cinema, a infantilização do povo que é/foi colonizado é recorrente. Além de que a motivação do grupo pela Índia é basicamente económica. O interesse é intelectual na medida em que buscam "o exótico". Valha-nos o médico eficiente que opera a anca de Muriel (Maggie Smith)! Em 2011, Prospero não consegue deixar de ser Prospero.

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