13.9.07

História de amor e trevas #2

YEFIM LADIZHINSKY

Eram capazes de passar três ou quatro horas a discutir apaixonadamente sobre Nietzsche, Estaline, Freud, Jabotinsky, de se lançar nessas discussões de corpo e alma, de vibrar de emoção, de se indignar sobre o colonialismo, o anti-semitismo, a justiça, a «questão agrária», o «problema da mulher», a «questão da vida em oposição à arte». Mas quando tentavam exprimir um sentimento pessoal, o resultado era sempre crispado, seco, quase amedrontado, fruto de gerações de inibições e tabus. De tabus duplos, de dois sistemas repressivos: a boa educação europeia pequeno-burguesa reforçando as inibições do shtetl* tradicional judaico. Quase tudo era «proibido» ou «não se faz» ou «não é bonito».
Para além disso, faltavam-lhe as palavras: o hebraico ainda não era para eles uma língua espontânea, e muito menos íntima, e não sabiam bem o que saía quando falavam hebraico. [...]
Mesmo pessoas como os meus pais, que sabiam bem hebraico, não dominavam a língua totalmente.

pp. 17

in Amos Oz, Uma História de Amor e Trevas
Ed. ASA, Março de 2007


* Shtetl: termo iídiche que designava as povoações de população maioritariamente judaica, situadas na Europa Central e de Leste de antes do Holocausto, em particular na chamada «Zona de Residência» do Império russo, Polónia, Galícia e Roménia.

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