4.1.06

Um pequeno passo para o homem...

Herb Rits
Chegada de férias perguntei por novidades. Unh..., há poucas, disseram. Então e a campanha para as Presidenciais? E a mudança na Direcção da PT? E as reviravoltas no Expresso? EXPRESSO? Disse EXPRESSO? E saiu logo em catadupa: 10% dos portugueses são homossexuais! Enfim, para ser mais preciso, 7% são homossexuais e 2.9% são bissexuais. E de repente, grande discussão, que sim, que nisso as nossas percentagens nos aproximam da média europeia; que não, até porque a maior parte dos inquiridos não respondeu, que a amostra não deve ser representativa, e que são 10% mas dos que têm mais de 15 anos, uff que alívio, talvez não seja um milhão, bla-bla-bla. Bem, acabei a ler a notícia. Deixo o link (decididamente útil).

Só posso concluir que, na minha ausência, em Portugal, via Eurosondagens, via Expresso, aconteceu Um pequeno passo para o homem mas um grande passo para a humanidade. Agora só é preciso que um político eminente se assuma publicamente como homossexual, de preferência um que seja católico e de direita, e ficamos no pelotão da frente das sociedades-em-que-ser-homossexual-é-tramado-e-bissexual-nem-falar-mas-já-não-perdemos-o-emprego-por-causa-disso.

Sinceramente, é admissível que hoje em dia as pessoas fiquem surpreendidas com a notícia de que umas centenas de milhar de portugueses são gays? Mas haverá quem ainda apenas associe a homossexualidade a plumas e paradas com travestis? ________________ A resposta é sim. Glups! De resto, ainda recordo uma petição saloia que andou a passear por aí a reclamar um impeachment para o Esquadrão G. Um dos autores da petição escrevia que esse programa televisivo podia ser perigoso "para os nossos filhos". Mesmo que seja difícil ser melhor que a Santa Sé, ficava a ideia de que, em poucas semanas, rapazinhos heterossexuais poderiam repensar a coisa e passar a preferir o modelo gay, muito mais fashion (na prática, pareceu-me que os concorrentes ficavam apenas com um ar mais lavadinho).

Enfim, brincamos com coisas sérias. O que eu sei é que nos tempos que correm, este das auto-estradas digitais e expedições a Marte, o Santo Ofício alter ego ainda ameaça a vida daqueles que se descobrem homossexuais, adultos gays adiam eternamente a revelação a pais e amigos, homens e mulheres partilham vidas infelizes com cônjuges igualmente infelizes por não assumirem a sua identidade sexual, quando a única diferença que os caracteriza (na base) é a apetência (que dizem ser, apesar de tudo, compensatória) para sentir desejo e prazer por/com indivíduos do mesmo sexo. Uma vez que, ainda por cima, quando podem, resolvem o caso entre si, por que raio é tão difícil serem socialmente aceites?

É por isso que espero que venham mais notícias destas em front page. A ver se, da martelada na cuca, sai uma reacção de indiferença. Porque se eu fosse gay, era o que mais desejaria: uma saudável indiferença.

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