No início dos anos 90, a belga Amélie-san é contratada pela Yumimoto, uma grande empresa japonesa. Ela vai então descobrir o implacável rigor das hierarquias e o sentido de autoridade da organização japonesa. Depara-se com códigos de comportamento que lhe parecem indecifráveis. Domina a língua japonesa mas não deve revelá-lo para que a empresa não perca a confiança dos seus clientes. A sua superiora hierárquica directa é Mori Fubuki, pelo que não deve falar com o senhor Tenchi, mesmo que este tenha um projecto em que ela pode ser útil. E não esquecer que o superior hierárquico de Fabuki é o Senhor Saito, e o deste, o Senhor Omochi, e o deste o Senhor Heneda,...
Dia após dia, vai somando erros, faltas e fracassos e, como num pesadelo, vai descendo degraus na hierarquia. Até chegar ao nível de supervisora de casas de banho, a derradeira humilhação.
Absurdo, cómico, angustiante, este romance ou esta sátira valeu a Amélie Nothomb o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa em 1999. O livro já foi adaptado ao cinema por Alain Corneau.
Em Portugal o livro foi editado pela Bizâncio.
- Mademoiselle Mori?
- Chame-me Fubuki.
Eu já não ouvia o que ela me dizia. Mademoiselle Mori media pelo menos um metro e oitenta, altura que poucos homens japoneses atingem. Ela era esbelta e graciosa, arrebatadora mesmo, apesar da dureza japonesa a que tinha de sacrificar essa beleza. Mas o que me petrificava era o esplendor do seu rosto. (pp 13, traduzido do original da Albin Michel)
Gritam-me em cima. Abro os olhos e vejo detritos. Volto a fechá-los.
Volto a cair no abismo.
Ouço a voz meiga de Fubuki:
- Eu conheço-a bem. Ela cobriu-se de lixo para não ousarmos sacudi-la. Ela tornou-se intocável. É assim o seu feitio. Não tem nenhuma dignidade! ( pp 85-86, idem)
5 comentários:
Fiquei com o apetite aguçado... e a curiosidade também. Vou à procura do livro para lhe dar uma espreitadela... obrigado pela sugestão.
No Japão não sei como é. Mas aqui, se não souberes alinhar nos esquemas do senhor Veiga, que está abaixo do Senhor Moreira, e por sua vez arranjar maneira de ter acesso ao sr. Moreira para fazer a folha ao sr Veiga, chegas num instante a supervisora das retretes :-)
Mas o livro deve estar baril, vou estar atenta.
Já o li e lê-se facilmente.
Amélie Nothomb tem uma escrita muito fluída.
Também li dela o livro "Dicionário de Nomes Própios", que não me decepcionou, mas este "Temor e Tremor" é melhor.
Eh pá, eu não posso vir a este blog. Se visses a pilha de livros que tenho para ler não punhas estas sobremesas à minha frente... Vou tentar resisitir, mas não prometo não passar pela livraria mais perto e pecar...
Peca Barão, pequem!
Enviar um comentário