13.1.05

Chamaremos a Deus, o tubo

Serge Gainsbourg: "O Homem criou deus. O inverso ainda não foi provado"



E finalmente quem é este deus de que fala Amélie Nothomb na sua Metafísica dos Tubos? É a própria Amélie, em bébé.


"Os médicos diagnosticaram uma apatia patológica, sem se darem conta de que havia uma contradição nas palavras: A vossa filha é um legume. É muito preocupante." Neste livro, autobiográfico, Amélie descreve o estado em que permaneceu até aos dois anos. E "como explicar este nascimento dois anos após o parto? Nenhum médico virá a descobrir a chave do mistério. Foi como se tivessem sido necessários dois anos de vida extra-uterina para se tornar operacional." Depois desenvolve uma personalidade muito especial. A ama japonesa exercerá uma influência enorme sobre a criança Amélie, que começa a acreditar que é Deus. "Chegara finalmente o dia do meu terceiro aniversário.(...) Nishio-san foi perfeita: ajoelhou-se em frente da criança-deus que eu era e felicitou-me por essa proeza. Ela tinha razão: ter três anos não está ao alcance de qualquer um."


Amélie Nothomb é espantosa na descrição da sua infância (no Japão) e consegue fazer-nos compreender e mergulhar nas percepções e estratégias mentais de uma menina de dois/três anos. Com contextos narrativos e históricos completamente distintos, essa capacidade literária de situar o leitor no mundo imaginado (mas credível) da sua infância, já me fez ficar rendida a outros escritores - como Albert Camus, em O Primeiro Homem, ou Simone Beauvoir, em Memórias de uma Menina Bem Comportada.

E agora, porquê esta alusão a Serge Gainsboug? Pelas respostas que foram dadas à pergunta "quem imaginam que seja Deus?", a partir do primeiro capítulo da Metafísica dos Tubos. De alguma forma, o pensamento da maioria enquadra-se nesta frase de Gainsbourg.



O Contrabaixo é atribuido ao Bhixma, que deu a resposta mais correcta (bébé). A menção honrosa vai para o Abulafia que cita John Lennon: "Deus é um conceito através do qual medimos a nossa dor".