20.1.05

Mulheres da América do Sul, hablando espanhol


Lila Downs

A primeira vez que ouvi Mercedes Sosa ficou para sempre. O mais forte não terá sido então aquele poema Gracias a la Vida nem o som grave e índio que parecia chegar das profundezas da Cordilheira dos Andes. Não, o que me tocou foi o silêncio cheio de lágrimas da Consuelo. Essa amiga dos 20 anos, colombiana, quase exilada, e que tinha uma beleza prima da de Lila Downs. Contava histórias que pareciam vindas dos romances de Gabriel Garcia Márquez, cheias de heróis que sobreviviam a terramotos e a armas e conservavam a pureza. Havia uma de um músico que arriscara várias vezes a vida pelo seu violino. Fiquei assim, observando e respeitando as lágrimas de Consuelo, que pareciam querer dizer "esta é a minha identidade" e estou longe, sinto saudades.
Passaram-se longos meses até esbarrar num álbum de Mercedes Sosa. Pensei que tinha de o levar para casa pela Consuelo. Mas, no meu silêncio, encontrei outras razões para nunca mais deixar de a ouvir. Mercedes conseguiu juntar as melhores influências e os melhores letristas-compositores daquele continente (Nicolas Brizuela, Victor Herédia, Silvio Rodrigues, Milton Nascimento, Chico Buarque, entre tantos outros). Um dos meus sonhos é ouvi-la ao vivo um dia. Quando passou por Portugal - deu um concerto na Aula Magna, eu vivia em França. Lembro-me de que nessa ocasião foi ao programa do Herman José. Eu via os canais portugueses e quis bater em alguém. Ele não conhecia a grandeza da diva, deu-lhe 5 minutos de emissão. À Amália Rodrigues de todo o continente sul americano.
Através de Mercedes Soza (argentina) cheguei a outras vozes e a outros músicos. Mas hoje só vou falar das mulheres. Violeta Parra (chilena), que compôs aquele Gracias a la Vida é um mito. Os temas populares e os problemas sociais são uma constante na sua música, e a imagem que temos dela bebe muito da sua forte militância política. Mas Violeta Parra é uma artista. e é raíz. é emoção. são todas as dimensões.
Em direcção ao Norte, damos um salto a Cuba para evocarmos Celina González. Chegamos ao México e à musa de Frida Kahlo, Chavela Vargas. É preciso ouvi-la cantar La Llorona. Almodovar foi buscar Luz de Luna e rendeu-se à sua personalidade forte. Chavela, que morreu recentemente com mais de 80 anos, deixou uma herdeira. Ela está ali, chama-se Lila Downs. Talvez a tenham visto e ouvido no filme Frida, de Julie Taylor.
Todas juntas numa mesma passion musical e política. Hijas de America Latina. Sangre caliente. Cantando la vida.

5 comentários:

A. disse...

infelizmente não posso postar html... dá-me o teu mail (podes enviar para ShadowDweller@netvisao.pt e envio.te isso por mail.. já com op html prontinho a por no site)

Ivar C disse...

já agora gostava de acrescentar a peruana Susana Baca.

mfc disse...

Ouvir o "Gracias a la vida" é arrepiante!
Um poema de sonho com uma voz deslumbrante!

saltapocinhas disse...

Xiii! Santa ignorância! Desses todos que falas só conheço o Chico Buarque... :-(
Obrigada por teres posto o meu blog lá no Notícias de Aveiro! Quando eu for famosa é para ti o meu primeiro autógrafo!! Explica-me uma coisa: o Notícias existe apenas online? pelo sim pelo não vou já pôr no meu blog um link para ele! Gracias!!

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Shadow, mais uma vez obrigada!

Bagaço, obrigada por acrescentares a Susana Baca. Vou seguir a pista.

Mfc, é verdade que ela canta essa canção com muita alma! obrigada pela tua visita e comentários assíduos, ando um bocado à mingua!!

Saltapocinhas, o Notícias de Aveiro só existe on line, obrigada tb pelo link. E olha, por aquilo que tenho lido no Fábulas, acho que eras pessoa para gostar destas meninas!

Bjs para todos