Lila Downs
A primeira vez que ouvi Mercedes Sosa ficou para sempre. O mais forte não terá sido então aquele poema Gracias a la Vida nem o som grave e índio que parecia chegar das profundezas da Cordilheira dos Andes. Não, o que me tocou foi o silêncio cheio de lágrimas da Consuelo. Essa amiga dos 20 anos, colombiana, quase exilada, e que tinha uma beleza prima da de Lila Downs. Contava histórias que pareciam vindas dos romances de Gabriel Garcia Márquez, cheias de heróis que sobreviviam a terramotos e a armas e conservavam a pureza. Havia uma de um músico que arriscara várias vezes a vida pelo seu violino. Fiquei assim, observando e respeitando as lágrimas de Consuelo, que pareciam querer dizer "esta é a minha identidade" e estou longe, sinto saudades.
Passaram-se longos meses até esbarrar num álbum de Mercedes Sosa. Pensei que tinha de o levar para casa pela Consuelo. Mas, no meu silêncio, encontrei outras razões para nunca mais deixar de a ouvir. Mercedes conseguiu juntar as melhores influências e os melhores letristas-compositores daquele continente (Nicolas Brizuela, Victor Herédia, Silvio Rodrigues, Milton Nascimento, Chico Buarque, entre tantos outros). Um dos meus sonhos é ouvi-la ao vivo um dia. Quando passou por Portugal - deu um concerto na Aula Magna, eu vivia em França. Lembro-me de que nessa ocasião foi ao programa do Herman José. Eu via os canais portugueses e quis bater em alguém. Ele não conhecia a grandeza da diva, deu-lhe 5 minutos de emissão. À Amália Rodrigues de todo o continente sul americano.
Através de Mercedes Soza (argentina) cheguei a outras vozes e a outros músicos. Mas hoje só vou falar das mulheres. Violeta Parra (chilena), que compôs aquele Gracias a la Vida é um mito. Os temas populares e os problemas sociais são uma constante na sua música, e a imagem que temos dela bebe muito da sua forte militância política. Mas Violeta Parra é uma artista. e é raíz. é emoção. são todas as dimensões.
Em direcção ao Norte, damos um salto a Cuba para evocarmos Celina González. Chegamos ao México e à musa de Frida Kahlo, Chavela Vargas. É preciso ouvi-la cantar La Llorona. Almodovar foi buscar Luz de Luna e rendeu-se à sua personalidade forte. Chavela, que morreu recentemente com mais de 80 anos, deixou uma herdeira. Ela está ali, chama-se Lila Downs. Talvez a tenham visto e ouvido no filme Frida, de Julie Taylor.
Todas juntas numa mesma passion musical e política. Hijas de America Latina. Sangre caliente. Cantando la vida.
5 comentários:
infelizmente não posso postar html... dá-me o teu mail (podes enviar para ShadowDweller@netvisao.pt e envio.te isso por mail.. já com op html prontinho a por no site)
já agora gostava de acrescentar a peruana Susana Baca.
Ouvir o "Gracias a la vida" é arrepiante!
Um poema de sonho com uma voz deslumbrante!
Xiii! Santa ignorância! Desses todos que falas só conheço o Chico Buarque... :-(
Obrigada por teres posto o meu blog lá no Notícias de Aveiro! Quando eu for famosa é para ti o meu primeiro autógrafo!! Explica-me uma coisa: o Notícias existe apenas online? pelo sim pelo não vou já pôr no meu blog um link para ele! Gracias!!
Shadow, mais uma vez obrigada!
Bagaço, obrigada por acrescentares a Susana Baca. Vou seguir a pista.
Mfc, é verdade que ela canta essa canção com muita alma! obrigada pela tua visita e comentários assíduos, ando um bocado à mingua!!
Saltapocinhas, o Notícias de Aveiro só existe on line, obrigada tb pelo link. E olha, por aquilo que tenho lido no Fábulas, acho que eras pessoa para gostar destas meninas!
Bjs para todos
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