29.2.08

Nanook of the North, Robert FLAHERTY, 1922

E agora que se aproxima a data de início da extensão do CineEco em Aveiro, apeteceu-me relembrar o primeiro documentário de longa-metragem da sétima arte. Um filme não isento de críticas dada a forma como Flaherty encenou a realidade. O nome do protagonista foi alterado - Nanook, em vez de Allakariallak, a "mulher" não era a sua verdadeira mulher e, nas cenas de caça, são filmadas técnicas ancestrais, não se revelando que Allakariallak utilizava já uma pistola. Os documentários actuais não escapam ao mesmo tipo de polémicas. Poderá um realizador, como defendia Robert Flaherty, alterar, mudar as peças de lugar, de forma a captar o que considera ser o verdadeiro espírito de um lugar ou de um povo?




PROGRAMAÇÃO DA EXTENSÃO DO CINEECO EM AVEIRO

27.2.08

Faltam 7 dias


O pré-anúncio foi feito em Outubro. Agora vai acontecer! Dias 4, 11, 18 e 25 no Teatro Aveirense, dias 6, 13 e 20 no Mercado Negro (Cineclube de Aveiro). Toda a programação no blog da Extensão.

26.2.08

Palavras III

O fetichismo da mercadoria é o fenómeno pelo qual, na produção capitalista, a mercadoria serve de suporte às relações de produção entre os homens, dando assim a impressão de que as relações sociais de produção são relações entre coisas.

Esta teoria foi criada por Karl Marx. O termo aparece em O Capital (1867), substituindo a Teoria da Alienação que Marx elaborara na sua juventude.

Sem saber, Marx introduzia conceitos que seriam também precursores de uma nova ciência, a semiologia.

Palavras II

(...)
hoje
dentro deste corpo que sentia cansar
pude colidir com o adormecimento que me chama
pude ver meus olhos viajantes
tornarem-se estrangeiros em mim;
e a agressão de um riso,
intenso,
promover-se embriagado
por entre desejos silenciados

(...)

Luis F. Simões

Palavras I


Nudibrânqueo _____ “brânquias a descoberto”, no Cabo dos Ventos.

23.2.08

Enlevar-se

A Beleza de Vénus

MÁRIO VITÓRIA

Exposição "O Guardador de Rebanhos " na
Galeria Nuno Sacramento até 29 de Março



Crença violenta na ideia mordaz e velada

21.2.08

Palavras aos molhos

Jean Sébastien Monzani
The Still Travelers

Uma nova corrente e, via Absorto, sou apanhada. Doze palavras preferidas.

Lembrei-me
da VIDA secreta das palavras e tive SAUDADES de uma AMIGA. Naquele dia, disse logo: ALGODÃO. e é VERDADE. Algodão é uma palavra bela. e deve haver uma razão__ ou várias, para que esta palavra, e não outra qualquer, tenha saltado logo do topo da minha mente (em inglês, top of mind, é uma expressão que me agrada; em português não é muito musical). é verdade que se chama por ela facilmente: [á]____lgodão. olho outra vez para a palavra. vou olhar imensas vezes para descobrir sentidos____ os que me são familiares e outros estranhos que aparecem sempre que olhamos muito para uma coisa. al__godão alkutum é árabe e gosto do Bi Kidude, rei do taarab. a generosidade de algo__dão contraria o vício capitalista de estimar um preço para tudo. quem dá vai ser____ a senhora da roulotte no parque de diversões, às escondidas do marido que pede 5 euros por algodão azul, rosa ou branco. doce. tenho cinco anos e lambuzo-me de algodão. e trinta anos depois, também. estico o algodão, arranco um pedaço enorme e meto-o na boca. as cores são as da infância. a roupa dos meus bebés. e os tecidos! laváveis a mais de 30°, hipoalergénicos, saudáveis. mas esses não são doces, são macios. estes e os que desmaquilham e lavam feridas.
o que há de universal no algodão: em todos os sentidos da palavra, estica-se na mão. depois de deixar de ser semente. desde a colheita. sendo certo que é melhor evitar falar das plantações. o passado do algodão é negro de escravidão, o presente é transgénico! por outro lado, se o algodão é História, o algodão é rico. oh, nada desvirtua a beleza da palavra! cor, sabor, textura, filamento de sentidos que não se desvanecem com este saber em rama.


Mas, palavra por palavra, hoje, prefiro MILAGRAR, que é uma invenção do poeta Manoel de Barros neste poema:

Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)

Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas.)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam
a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!

(O abandono me protege.)


Teorizar: o meu gosto pelas palavras também varia consoante o seu estado: sólido, as que lemos; em processo de solidificação, as que escrevemos; gasoso, as que lançamos ao ar e mais ou menos lentamente se desintegram; líquido, as que fluem em conversas com amigos, amantes, filhos.

MILAGRAR, por exemplo, é palavra sólida. SUSTO também. Os imperativos líquidos divertem-me, são teatrais: Vá, VAI! MACIO gosto em estado gasoso. dizer, ouvir MACCCIO. às vezes não gosto: quando o ccc se aproxima do zzz. Gosto de VOZES. As vozes condicionam o meu gosto pela palavra. Uma palavra pode ser bela e tornar-se feia, ou vice-versa, consoante o seu estado e o seu emissor. Enfim, COMPLICO (palavra sólida e gasosa)! que as há neutras, quase transparentes, como CORES (sem adjectivo nem especificação). ou carregadas de sentido e sofrimento, como TRISTE. e gosto delas.

É claro, as palavras que preferimos são as que (nos) provocam EMOÇÕES. Agora mesmo, em estado sólido, deparei-me com esta sequência: "mamã doime o ouvido esquerdo". E desfaleci de AMOR e de culpa porque não estava no lugar certo no momento certo (odeio CERTO).

[não foi por desgostar de DOZE que acabei por eleger 14 palavras]

A CORRENTE (não gosto em nenhum estado, mas submeto-me: é o poder da palavra!__ os visados podem tentar resistir) passa para:
A destreza das dúvidas - A Ilusão da Visão - A Senhora Sócrates - A Vida O Amor e as Vacas - Bandida - Cabo dos Ventos - Deliciosamente em Surdina - Divino Senão Fosse Humano - E-Konoklasta - Expresso do Oriente - Elypse - Luminescências - O Rasto dos Cometas - Plan(o)alto - Zumbido

[o número que eu mais gosto é 15. até chorei quando fiz 16 anos. juro! (termino com uma palavra que evoluiu, está cada vez mais cómica)]

18.2.08

Correcção


"Permanentemente corrigimos e corrigimo-nos a nós próprios sem a mínima contemplação, porque a todo o momento reconhecemos que fizemos (escrevemos, pensámos, executámos) tudo errado, que agimos erradamente, que tudo era falso no nosso procedimento, de modo que tudo até este momento é uma falsificação, por isso corrigimos essa falsificação e corrigimos novamente a correcção dessa falsificação e corrigimos o resultado dessa correcção da correcção e assim por diante (...). Mas a verdadeira correcção vamos nós protelando, como outros a fizeram sem mais nem menos de um momento para o outro, penso eu, (...), a puderam fazer, quando eles próprios já não pensavam nisso, porque tinham medo, só de pensar nela, mas depois corrigiram-se."

in Correcção de Thomas Bernhard
Tradução de José António Palma Caetano
Ed. Fim de Século, 2007

Original: Korrektur, 1975

Still Life


Dia 26, o CHINEMA prossegue com Still Life - Natureza Morta de Jia Zhang Ke.


Leão de Ouro em 2006