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18.2.08

Correcção


"Permanentemente corrigimos e corrigimo-nos a nós próprios sem a mínima contemplação, porque a todo o momento reconhecemos que fizemos (escrevemos, pensámos, executámos) tudo errado, que agimos erradamente, que tudo era falso no nosso procedimento, de modo que tudo até este momento é uma falsificação, por isso corrigimos essa falsificação e corrigimos novamente a correcção dessa falsificação e corrigimos o resultado dessa correcção da correcção e assim por diante (...). Mas a verdadeira correcção vamos nós protelando, como outros a fizeram sem mais nem menos de um momento para o outro, penso eu, (...), a puderam fazer, quando eles próprios já não pensavam nisso, porque tinham medo, só de pensar nela, mas depois corrigiram-se."

in Correcção de Thomas Bernhard
Tradução de José António Palma Caetano
Ed. Fim de Século, 2007

Original: Korrektur, 1975

10.4.05

Nada é mais fantástico do que a realidade


Ricardo França (via Expresso do Oriente)

Dostoievsky - Ricardo França - Bhixma dão o mote e Thomas Bernhard, na Extinção, inclemente, vampiriza, destrói, extingue o sonho:

"Fotografar é um vício abjecto, que a pouco e pouco se vai apoderando de toda a humanidade, porque esta não está só apaixonada, mas também doida pela distorção e pela perversidade e, de tanto fotografar, toma efectivamente, com o tempo, o mundo distorcido e perverso pelo único que é verdadeiro. (...) Fotagrafar é uma paixão infame, que alastrou por todos os continentes e todas as camadas da população, uma doença que atacou toda a humanidade e da qual já não há possibilidade de cura. (...) Nunca vi em nenhuma fotografia uma pessoa natural, isto é, real e verdadeira. A fotografia é a maior infelicidade do século XX." (pp 37-38)

15.3.05

Amor

O meu primeiro contacto com as chamadas outras pessoas foi o contacto com os jardineiros, eu observava-os sempre que podia e todo o tempo que me era possível. Mas eu não me dava por satisfeito, logo desde o início, com o magnífico colorido das plantas, tinha eu dito a Gambetti, queria sempre saber também de onde vinha esse colorido, de que modo se originava e como é que se chamava exactamente.

[in Bernhard, Thomas, Extinção, Assírio & Alvim, 2004, pp 141]

Ociosidade

Os meus pais, para apresentar ainda um antagonismo existente entre eles e o meu tio Georg, detestavam a chamada ociosidade, porque não sabiam que uma pessoa intelectual não conhece a ociosidade, não pode sequer permitir-se a ociosidade, que uma pessoa intelectual vive precisamente com extrema intensidade e com o máximo interesse quando, por assim dizer, se entrega à ociosidade, porque eles nunca souberam fazer nada da sua verdadeira ociosidade, porque na sua ociosidade não se passava nada, com efeito, absolutamente nada, porque eles na verdade e na realidade não eram capazes de pensar, quanto mais dar curso a um processo intelectual. Para a pessoa intelectual a chamada ociosidade nem sequer é possível. A ociosidade dos meus pais era, contudo, uma verdadeira ociosidade, pois neles nada se passava quando eles nada faziam. Pelo contrário, a pessoa intelectual exerce a maior actividade quando, por assim dizer, nada faz. Mas não é possível fazer compreender isso aos verdadeiros ociosos, como os meus pais e em geral todos os meus.

[in Bernhard, Thomas, Extinção, Assírio & Alvim, 2004, pp 51-52]

É claro que dedico este post à equipa do
Amor e Ócio (com a quase certeza de que a Maria Heli deve conhecer T. Bernhard). E parabéns pelo programa na Rádio!