5.12.06

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

X

O rir dos lábios belos. São essas palavras de Rimbaud que repetes para me explicares a tua presença. Mas agora é tarde no dia e ainda estás longe. Sentar-me-ei no alpendre à tua espera e talvez apareças quando eu já tiver adormecido. Delicia-me pensar que neste momento todos os teus passos te aproximam da nossa casa.

Saboreio as viagens que fazes, reencontro-te belo como uma árvore. às vezes, é claro, deixas-te queimar pela neve. mas chega sempre o dia em que te sentas na minha mesa, prisioneiro dos meus olhos, ao alcance dos meus gestos.

O amor é para ti uma coisa natural sobre a qual não se deve falar muito. nunca são muitas as palavras, e raramente são tuas. dizes que os poetas já inventaram quase tudo. Talvez, sobre o amor. mas falas tão pouco de ti, e quando partes levas contigo todo o teu ser, tão completamente. não esqueces nenhuma parcela de ti, em nenhum lugar.
Adivinho pois, creio. e anseio. que a ternura que abandonas de cada vez que te afastas tenha cada vez mais o valor de um tesouro. Diz-me que há um sentimento de mágoa a crescer dentro de ti nos momentos em que nos enterras. A minha casa é aqui, a minha fonte são os teus olhos, só eles me saciam, dizes antes de partir. e a meio da noite, das noites, abraças-me, apertas-me com ternura, como se eu fosse um pequeno animal doméstico e sussuras não sei ser teu, perdoa-me.

Nunca sei muito bem como me arrumar em ti ou na cómoda dos meus pensamentos. Ofereço-te o rir dos meus lábios, enceno a tua fantasia. para que escaves sempre e revolvida a terra nos encontres.
e durante alguns dias em muitos anos, vamos vivendo. intensamente. nunca em paz. para sempre.

não demores.

*

Il faut que ma femme me rapelle que je suis tellement amoureux.
Carta de Antoine de Saint Exupéry a Consuelo de Saint Exupéry


Meu amor,

Acabo de ler um livro com a correspondência entre Saint Exupéry e Consuelo Sandoval, a única mulher com quem casou, e apontei esta frase.
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Todas as semanas saiem novos textos:
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