___ excepto nestes (muitos) momentos. oh god!
30.3.12
Desasosiego
Diz que não é um catálogo de recursos vocais__como se fosse uma acrobata. mas o canto da garganta, antigo, é seu. Um canto entre o animal e o humano. A mais artística das virtuosas, mais do que a fantástica Meredith Monk, pareceu-me, depois de ter visto as duas ao vivo. e menos estranha (às vezes) que a gloriosa Diamanda Galas.
29.3.12
Linha d´Água - Tapeçaria de Portalegre e Arte Contemporânea
Quadros de Maria Helena Vieira da Silva, Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, Nadir Afonso, Júlio Pomar, Júlio Resende, José de Guimarães, António Charrua, Costa Pinheiro, Lourdes Castro ou Graça Morais foram reproduzidos pelos artífices das Tapeçarias de Portalegre, combinando as técnicas da tecelagem artesanal com a pintura moderna para criar obras originais. Composta por 13 tapeçarias que fazem parte da colecção da Fundação Millenium BCP, a mostra, inaugurada hoje, pode ser vista no MUSEU DE AVEIRO até dia 13 de Maio. São obras impressionantes. Adorei!
[Tapeçaria de Portalegre - Almada Negreiros, sem título, 1930]
28.3.12
«a beleza pertence à ordem dos sentidos»
Luchino Visconti e a sua Morte em Veneza (aqui, todo filme. coisa de ocasião, oh freguês, oh adorador). (claro, primeiro houve) Thomas Mann e Gustav Mahler. Vocês sabem, é de uma beleza maior. (perdão, "tu queres dizer o teu conceito espiritual de beleza".)
(Antes disso, esclarece-me: como nasce a beleza? "oh, é fruto do trabalho árduo de artistas". (não! "nasce espontaneamente, completamente alheia ao meu esforço e ao teu. ela pré-existe a qualquer pre_sunção artística. o teu grande erro, meu amigo, é ver a vida, a realidade, como uma limitação". ("mas não é? a realidade só nos distrai e degrada. a criação da beleza e da pureza é um acto espiritual." ("não! a beleza pertence à ordem dos sentidos". ("tu não chegas ao espírito através dos sentidos. pelo contrário, é necessário o completo domínio dos sentidos para alcançares sabedoria, verdade, dignidade"! ("mas para que servem a sabedoria e a dignidade humanas? o génio é um dom divino, melhor, é uma centelha mórbida e pecaminosa de todos os dons naturais". ("eu rejeito as virtudes demoníacas da arte"! (mas estás enganado! o mal é necessário, ele é o alimento da genialidade". ("sabes, a arte é a maior fonte de educação e o artista deve ser exemplar. ele deve ser um modelo de equilíbrio e força. ele não pode ser ambíguo". ("mas a arte é ambígua. e a música é a mais ambígua de todas as artes, é a ambiguidade feita ciência!"
(Antes disso, esclarece-me: como nasce a beleza? "oh, é fruto do trabalho árduo de artistas". (não! "nasce espontaneamente, completamente alheia ao meu esforço e ao teu. ela pré-existe a qualquer pre_sunção artística. o teu grande erro, meu amigo, é ver a vida, a realidade, como uma limitação". ("mas não é? a realidade só nos distrai e degrada. a criação da beleza e da pureza é um acto espiritual." ("não! a beleza pertence à ordem dos sentidos". ("tu não chegas ao espírito através dos sentidos. pelo contrário, é necessário o completo domínio dos sentidos para alcançares sabedoria, verdade, dignidade"! ("mas para que servem a sabedoria e a dignidade humanas? o génio é um dom divino, melhor, é uma centelha mórbida e pecaminosa de todos os dons naturais". ("eu rejeito as virtudes demoníacas da arte"! (mas estás enganado! o mal é necessário, ele é o alimento da genialidade". ("sabes, a arte é a maior fonte de educação e o artista deve ser exemplar. ele deve ser um modelo de equilíbrio e força. ele não pode ser ambíguo". ("mas a arte é ambígua. e a música é a mais ambígua de todas as artes, é a ambiguidade feita ciência!"
Espera, ouve este acorde:
27.3.12
«the impression we exist»
POZZO: I am blind.
... Silence.
ESTRAGON: Perhaps he can see into the future
(...)
ESTRAGON: We always find something, eh Didi, to give us the impression we exist?
(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let's go.
They do not move.
in Samuel Beckett, "Waiting for Godot" (original escrito em francês em 1948-49)
__________________
... Silence.
ESTRAGON: Perhaps he can see into the future
(...)
ESTRAGON: We always find something, eh Didi, to give us the impression we exist?
(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let's go.
They do not move.
in Samuel Beckett, "Waiting for Godot" (original escrito em francês em 1948-49)
__________________
É o Dia Mundial do Teatro e não, não haverá espectáculos por todo o país. nem de longe nem de perto.
Continuamos à espera de Godot!
Continuamos à espera de Godot!
Poesia Matemática
POESIA MATEMÁTICA
Millôr Fernandes (1923-2012)
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
... um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
[Imagem: Wassily Kandinsky. Decisive Pink. 1932. Oil on canvas. 80.9 x 100 cm]
Millôr Fernandes (1923-2012)
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
... um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
[Imagem: Wassily Kandinsky. Decisive Pink. 1932. Oil on canvas. 80.9 x 100 cm]
25.3.12
uma hora
Levei o pontapé e avancei uma hora, sem viver essa hora. Acho isso inaceitável.
[Imagem: Josef Koudelka. Watch. Checoslováquia 1968]
[Imagem: Josef Koudelka. Watch. Checoslováquia 1968]
23.3.12
A voz humana
A quem interessar:
Sáb 24 Mar 22H00
A PARTIR DE "LA VOIX HUMAINE" [1930] DE JEAN COCTEAU:
«...Claro que é preciso desligar, mas custa muito...Sim. Ter a ilusão de estarmos abraçados um ao outro e de repente interpor caves, esgotos, uma cidade inteira entre nós...Lembras-te da Ivone, que não podia conceber como a voz passava através de um fio tão torcido? Pois tenho o fìo em volta do pescoço. A tua voz em volta do pescoço...»
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