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27.3.12

Poesia Matemática

 
 
POESIA MATEMÁTICA
Millôr Fernandes (1923-2012)

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
...
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.


[Imagem: Wassily Kandinsky. Decisive Pink. 1932. Oil on canvas. 80.9 x 100 cm]

18.9.09

Coloful Ensemble

Wassily Kandinsky. Coloful Ensemble. 1938.


I. Segundo Raul Proença, é no direito individual, e não no direito do número, que reside a essência da Democracia (Páginas de Política - 1929, vol. I, Lisboa, 1972, p. 197). Para este «intelectual político», o conceito de individualismo é validado, é «útil», se associado ao requisito de «solidariedade» entre membros da intelligentia. Em vez de individualismo, no artigo «O Determinismo e a Apatia Nacional», publicado na revista Alma Nacional em 1910, Raul Proença usa o termo «personalista». Afirma: «Somos personalistas nisto: que é das pessoas que esperamos a reorganização das energias colectivas, e não esperamos de braços cruzados o milagre que nos levante (…), e pensemos que o indivíduo não é um escravo que meramente obedece – mas uma força da natureza em exercício». Uma nova elite, com uma nova mentalidade, seria a peça central da estratégia de salvação do regime republicano-democrático. A «terapêutica do espírito» levaria à criação de uma opinião pública nacional capaz de impor aos dirigentes políticos, pela via persuasiva, as reformas institucionais, económicas e educativas necessárias, por cima dos interesses das oligarquias financeiras, das classes sociais e dos partidos.

Eliminando o pendor (muito) elitista que contamina estas reflexões, não deixo de me rever em parte deste ideário. Que bom seria se dirigidos e dirigentes fossem mais "esclarecidos"! Que bom seria, ao nível da sociedade civil, poder "persuadir" a elite política e económica, em vez do automatismo de "obedecer" ou "combater". E se a estratégia fosse, por princípio, a da não-estratégia! E se o sentido de "serviço público" existisse no público e no privado (ou associativo)... (sem estratégia)?

Às vezes já é assim.e quero crer que eu, cidadã, me esforço para que esse país exista.

II. As legislativas aproximam-se. Em vez de uma maioria absoluta, desta vez vai haver maior equilíbrio na representação das várias correntes de opinião no parlamento. Como Stuart Mill (Representative Government, 1861), prefiro um sistema político e eleitoral que favoreça esse tipo de cenário. O bipartidarismo é redutor. Consultando os registos da
Actividade Parlamentar e Processo Legislativo da AR, percebemos a importância da presença do PCP, CDS-PP, BE e PEV. Não podem existir apenas duas vozes com direito a microfone. José Sócrates e Manuela Ferreira Leite não exigiram maioria absoluta mas sabemos que acreditam nas palavras de Joseph Schumpeter: «este sistema pode impedir a democracia de se dotar de governos eficientes e pode assim revelar-se perigosa em períodos de tensão» (Capitalisme, Socialisme et Démocracie, Paris, 1963, p. 371).

II. No próximo dia 27 de Setembro saberemos como o eleitorado pondera estas questões tão antigas. Vamos votar no projecto político com o qual mais nos identificamos, rezando para que o direito individual coincida com o direito do número (e aceitando que eventualmente assim não seja)(porque é essa a essência da democracia), ou vamos tentar reduzir o eventual efeito da "ingovernabilidade"?
Já agora, identificamo-nos de facto com algum projecto político? Conhecemos e diferenciamos os programas de cada partido? Ou votamos por amor e o amor é cego ou faz de conta que é...

Será certo que sem maioria absoluta haverá maior instabilidade? Não compete aos líderes partidários, homens com sentido de Estado, encontrar plataformas de entendimento no sentido de tornar viável o governo que venha a ser formado? (Como "dirigida", gostaria de os persuadir nesse sentido.)

7.5.09

Kandinsky tinha o Hubble Deep Field na cabeça

Wassily Kandinsky. Sky Blue. 1940.
Oil on canvas. 100 x 73 cm

Wassily Kandinsky. Fixed Flight. 1932.
Oil on panel. 49 x 70 cm



Uma das imagens da rubrica Day in Photos do The Washington Post de 6 de Maio'09. Legenda:
«May 4 (release date): Several hundred never before seen galaxies glow in this "deepest-ever" view of the universe made with NASA's Hubble Space Telescope. Besides the classical spiral and elliptical shaped galaxies, there is a bewildering variety of other galaxy shapes and colors that are important clues to understanding the evolution of the universe. Some of the galaxies may have formed less that one billion years after the Big Bang. NASA-Reuters.»
Mas, oh ética jornalística, por onde andais! acabei por encontrar a mesma imagem no
Hubble site com outra legenda (e data): «About 1,500 galaxies are visible in this deep view of the universe, taken by allowing the Hubble Space Telescope to stare at the same tiny patch of sky for 10 consecutive days in 1995. The image covers an area of sky only about width of a dime viewed from 75 feet away.»

E eu que só pensava nas pinturas do Kandinsky, fiquei a olhar para este céu, colocando-me outras questões...