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16.10.11

Todos os homens são maricas quando estão com gripe

Pachos na testa terço na mão uma botija chá de limão zaragatoas vinho com mel três aspirinas creme na pele grito de medo chamo a mulher - ai Lurdes Lurdes que vou morrer mede-me a febre olha-me a goela cala os miúdos fecha a janela não quero canja nem a salada ai Lurdes Lurdes não vales nada


Letra: António Lobo Antunes

António Lobo Antunes

"É o poder económico que manda [nos partidos políticos]. (...) A Cultura é a base de tudo, para além da bondade, da tolerância. (...) Os países mais cultos da Europa não estão em crise [Suécia, Noruega, Alemanha, Finlândia]. Quem está em crise são os países onde a cultura é menos desenvolvida e foi menos apoiada. É a Grécia, Portugal..., isto é tão evidente! Se se comparar a taxa de leitura [dos países referidos] com a taxa de leitura dos portugueses, a diferença é brutal! (...) Os grandes autores não estão nas livrarias. Se for procurar Camões ou Fernão Lopes, eles não têm. Têm livros de auto-ajuda. (...) É preciso estar muito perdido para acreditar numa pessoa assim [Alberto João Jardim]. (...) Achava impossível poder-se construir um ser humano assim. O André Brun que foi um dos grandes humoristas portugueses nunca conseguiu construir uma personagem assim. O problema é a desgraça que essas pessoas podem trazer atrás delas.(...) O consumo do pão baixou 30 a 40%, isto é inadmissível. Quem foram os malandros que fizeram isto ao meu país?"



António Lobo Antunes, «[quando esteve doente] estava grávido da morte». «Ninguém está preparado para morrer e o drama é que também muito poucas pessoas estão preparadas para viver. Nós vivemos muito mal.»
[quando esteve doente], «a pessoa que me ajudou mais foi o Júlio Pomar, ele teve o mesmo cancro que eu tive, e a frase que ele me disse foi "aguenta-te"». «A maçada da morte é que se fica morto muito tempo».

15.3.07

A ordem natural das coisas

Ele disse: "Quando se pergunta porque é que determinado quadro de Picasso está a verde, às vezes é porque o encarnado se tinha acabado. Não vale a pena ir mais longe."
[Expresso, 7/11/1992]

Mas o Prémio Camões 2007 é dele! Obsessivo, aposto que se lhe faltasse o encarnado, dava a volta à cidade as vezes que fossem necessárias até o encontrar. ou: Inteligente, juntaria azul ao verde, numa aproximação à cor pretendida. e: Original, descobriria uma nova cor. Nós: sabemos que ele inventa encarnados que não são encarnados. e confundimos as certezas quando o lemos.


* Memória de Elefante (1979) * Os Cus de Judas (1979) * A Explicação dos Pássaros (1981) * Conhecimento do Inferno (1981) * Fado Alexandrino (1983) * Auto dos Danados (1985) * As Naus (1988) * Tratado das Paixões da Alma (1990) * A Ordem Natural das Coisas (1992) * A Morte de Carlos Gardel (1994) * Crónicas (1995) * Manual dos Inquisidores (1996) * O Esplendor de Portugal (1997) * Livro de Crónicas (1998) * Olhares 1951-1998 (1999) (co autoria de Eduardo Gageiro) * Exortação aos Crocodilos (1999) * Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000) * Que farei quando tudo arde? (2001) * Segundo Livro de Crónicas (2002) * Letrinhas das Cantigas (edição limitada, 2002) * Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo (2003) * Eu Hei-de Amar uma Pedra (2004) * História do Hidroavião (conto, reedição 2005) * D'este viver aqui neste papel descripto: cartas de guerra ("Cartas da Guerra", 2005) * Terceiro Livro de Crónicas (2006) * Ontem Não te vi em Babilónia (2006)

9.9.05

Lx II


Como bem me lembrou a Isabela, "os anos 80 foram a minha geração de 60 mas acabaram, irremediavelmente". O tempo é outro, cidades e pessoas respiram outra atmosfera, pelo que até os lisboetas podem sentir saudades da Lisboa desse tempo.

Nos anos 80, a situação política acalmara mas os espíritos estavam ainda agitados e frenéticos com a conquista da liberdade, o desaparecimento da censura, e a entrada no país de todas as novas (para nós) influências e correntes. Queríamos "participar", havia curiosidade. Foi bom ter 18/20 anos nessa altura pela "coincidência" de ânsias entre esse Tempo e o meu, pessoal. Politicamente, era difícil não tomar partido, mesmo sem militâncias formais. E do ponto de vista cultural, abriam-se janelas e testavam-se caminhos. A cidade experimentava também novas formas de estar. Alguém se lembra da primeira Animação do Chiado? Creio que foi em 85, actores e performers actuavam nas ruas. A SN de Belas Artes, ali ao pé, "mexia" e envolvia. Acabei mascarada de palhaço a cumprimentar as crianças que passavam. As bancas de artesanato proliferavam. Ouvia-se música portuguesa, muito Zeca Afonso, Fausto, Sérgio Godinho. Os Trovante revolucionavam o meio, enchiam o Coliseu e provocavam histeria junto das meninas. Mas também me lembro de ouvir Chico Fininho enquanto fazia o cubo mágico. Na faculdade, os professores mais liberais deixavam-nos beber cerveja nas aulas e porque ficava ali ao pé, até tivemos direito a aulas no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian. O primeiro a levar-nos até lá foi o Prof. de Semiologia, Pedro Frade, que para grande orgulho nosso fora entrevistado pelo JL a propósito da tese de mestrado que originaria o seu livro Figuras de Espanto, e que nos incutiu o gosto por Barthes e Baudrillard. Apetece-me falar dele e do Dr. João Loureiro, o nosso professor de Economia que no ano a seguir a nos ter dado aulas, já saía connosco para o Bairro Alto e, apaixonado por Gershwin, nos levava às Noites Longas para ouvirmos uma orquestra de jazz. Líamos Escuta, Zé Ninguém! (Wilhelm Reich) ou Nietzsche ou Sartre ou Mário-Henrique Leiria e os seus Contos do Gin-Tonic ou O Memorial do Convento de Saramago ou Memória de Elefante de Lobo Antunes ou pequenos livrinhos sobre Lenine, Marx e mesmo Catarina Eufémia. O Macintosh foi lançado (1984) mas o gabinete de informática demorou algum tempo a ser criado, pelo menos no Departamento de Sociologia. Aceitavam-se trabalhos escritos à mão porque nem todos tinham... máquina de escrever! E Lisboa continuava a convidar-nos para novas propostas! O Frágil, de Manuel Reis, era o must. Aí podíamos encontrar alguns dos pintores da nova geração. Abriam novas galerias de arte, discutia-se estética e o valor da arte. Pedro Proença e Pedro Portugal fundaram o projecto de uma revista intitulada Homeostética, a partir da qual se viria a formar o grupo Homeostético (colectivo que integrava também, no início, os nomes de Manuel João Vieira, Ivo e Xana...). Recordo-me de assistir a uma vernissage em que "Sanita Pintor" pintou com um spray o preço da obra na tela, 500 CONTOS. Diria Mário Murteira, "como se, por um golpe de mágica, tivéssemos saltado a pés juntos dum capitalismo arcaico e asfixiante para a sociedade perfeita com que sonhara o jovem Marx"!

Lisboa, a capital do país, reunia todos os tempos. E foi bom cirandar pela cidade... acreditando que, pelo menos a nossa vida, poderia ser perfeita!


João Loureiro e Pedro Frade, referidos neste post, faleceram no início dos anos 90. A FCSH da Universidade Nova perdeu então, subitamente, dois dos seus professores assistentes mais jovens e promissores. Lembro-me de passar na Av. de Berna e de ver a bandeira a meia haste. Tinha começado a trabalhar, os colegas de curso estavam dispersos pelo país, e então quis fugir dali! O problema da memória é que ela também não perdoa...