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3.5.12

«nouvelles coopérations»

Philippe Douste-Blazy é um homem de centro-direita. Apoiou François Bayrou na primeira volta. Não vai votar em Sarkozy e, num artigo do Le Monde, justifica a sua posição. O que é interessante é o conceito de "fronteira" que defende, assim como o seu ponto de vista sobre a regulação dos fluxos migratórios. Não inova. Mas há, neste artigo, valores que têm andado muito esquecidos.

«...car on ne règlera la question des flux migratoires que par l'aide au développement en inventant de nouveaux mécanismes de solidarité mondiale pour permettre aux plus pauvres de la terre d'avoir accès aux Biens Publics Mondiaux (nourriture, eau potable, accès à la santé, à l'éducation et à l'assainissement). L'accès d'un village au cœur du Mali aux médicaments anti paludisme, ce sont dix candidats de moins à l'exode. C'est ce que nous devrions faire, car on ne règlera pas la plupart de nos problèmes d'injustice sans la réelle mise en œuvre de financements innovants à l'échelle d'abord européenne puis mondiale avec, en pariculier, la mise en œuvre de la taxe sur les transactions financières, seul impôt adapté au monde global. C'est ce que devrait faire la France, pays des Droits de l'Homme, en montrant l'exemple, en proposant de dépasser la notion des vieilles frontières, en créant de nouvelles coopérations à l'échelon européen et mondial plutôt que construire des murs.»

Le débat entre François Hollande et Nicolas Sarkozy


O que eu vi foi um debate de 2h30 que passou a correr___ pelo interesse das temáticas e a vivacidade (às vezes, forte agressividade) dos dois candidatos. E, fugindo ao que serão as opiniões mais radicais, voltei a encontrar um discurso diferenciado entre a Direita e a Esquerda. O que os separa: [1] não a necessidade de fortalecer a Europa Comunitária (ponto assente para Sarkozy e Hollande, apesar de isso os afastar dos eleitores do Front Nacional, os Marinistes) mas a orientação económica que nesta deve prevalecer; [2] a política fiscal; [3] a questão da imigração. Difícil acrescentar a política externa francesa como 4º tópico: Hollande apenas defendeu o regresso das tropas francesas no Afeganistão ainda em 2012, enquanto Sarkozy prefere terminar a missão estabelecida para a França e acordar a data com os aliados (provavelmente em 2013)__ e aqui pareceu-me que a atitude de Hollande era "forçada".

Portugal nunca foi mencionado, o que é bom e mau. Não somos dados como mais um terrível exemplo de contas públicas deficitárias, nem mencionados por qualquer boa política. Na verdade, desde a época em que vivi em França, sei que Portugal não interessa a ninguém. Mas Zapatero, Papandreou e Berlusconi não foram poupados! O mais curioso é que este último apoia Hollande___ por se ter sentido humilhado por Sarkozy. E Sarko repudia qualquer ligação ao italiano, apesar de pertencerem à mesma família partidária. Enfim, neste capítulo ambos estiveram mal! Mesmo se Hollande se distanciou, convictamente, do que foi a acção do eixo franco-alemão nestes últimos 3 anos. De resto, é aí que reside a maior diferença e a razão da grande expectativa em relação a estas eleições presidenciais.

Hollande propõe "crescimento" para combater a austeridade, em vez de planos centrados apenas na redução do déficit, nomeadamente por via do despedimento massivo de funcionários públicos. A França de Sarko já demitiu mais de 100 mil professores e auxiliares de educação. E mesmo se a premissa é: «Nous ne redistribuerons que ce que nous aurons fabriqué », Hollande prometeu estabilizar os efectivos da função pública e readmitir professores (a juventude e a melhoria da educação na República é uma das suas prioridades). As políticas fiscal e económica defendidas por cada um dos candidatos, centradas na França, podem ser lidas em pormenor 
aqui. Mas, para a Europa, são basicamente 4 as propostas de Hollande: (1) Criação de eurobonds para financiar projectos industriais, infraestruturas - com grande oposição de Sarkozy que acha que não compete à França ou à Alemanha pagar a dívida dos países "infractores"; (2) Baixar a taxa de financiamento da Banca (o BCE financia a Banca a 1%, os Bancos não podem depois exigir 5%); (3) Criação de uma taxa sobre as transações financeiras que servirá para financiar projectos de desenvolvimento; (4) Mobilizar os fundos estruturais europeus que estão actualmente inactivos.

Enfim, François Hollande afirma-se pela "mudança" e Nicolas Sarkozy bate-se pela continuidade numa França que, apesar do descontrolo do déficit, continua a crescer.

O mais arrepiante em Sarkozy é a sua aproximação à Front Nacional, em matéria de imigração. O seu discurso, associando os estrangeiros em França à comunidade islâmica (a propósito da proposta de Hollande de abertura das eleições municipais a estrangeiros residentes há mais de 5 anos), caiu mal e foi bem aproveitado por Hollande. Mas lá regressaram ambos aos véus e às burkas, o que era absolutamente desnecessário.

Última nota: anseio por um debate equiparável em Portugal numas futuras eleições, legislativas ou presidenciais. Gostaria de ver candidatos bem preparados para discutir matérias concretas, defendendo políticas com base em dados objectivos e ideias que estão para além do fait divers. E, se tentados ou levados a ataques pessoais, capazes de nomear claramente situações, datas e nomes. Hollande queixou-se da falta de justiça e de transparência no aparelho judicial francês (e apresentou medidas). Se ele desse um saltito a Portugal....
Segundo todas sondagens, François Hollande será o novo Presidente da República francês. Este debate era crucial. Nicolas Sarkozy deveria, não só bater Hollande aos pontos, como deixá-lo KO. Esteve longe disso.
Resta esperar pelo próximo domingo. Tendo como referência os resultados da primeira volta, continuo a pensar que nada está seguro.
São estas capas de hoje do gauchiste Libération e do pró-Sarko Le Fígaro: