14.5.07

A Mulher que prendeu a chuva #3

No conto "A Mulher que prendeu a chuva"(1), uma mulher é responsabilizada pela seca e sacrificada. O que aparece aqui como um possível mito africano foi um mito no Ocidente na época medieval: a mulher encarnando o mal.
Nesta narrativa, o povo da tribo hesita, não quer matar "a mulher que prendeu a chuva", mas vence o pensamento mágico.

No conto "Roma"(2), lemos: "[no Coliseu havia] tronos de mármore onde as Vestais se sentavam, na mesma fila dos Senadores (a crueldade das virgens, dissemos). E depois recordámos que as Vestais eram mortas quando cediam ao desejo de um homem e morriam sufocadas dentro de paredes, não sem antes lhes ter sido dada uma vela acesa e pão, para terem tempo de ver a extensão do seu erro, antes de sucumbirem à sua morte vagarosa." (p. 49)

No conto "História antiga"(3), uma mulher que sempre fora "escrava" do marido é assassinada por ele, quando as vizinhas o avisam de que ela tem um amante. "Esteve preso alguns meses e foi julgado, mas o juiz acabou por o mandar em paz. não era crime matar a mulher própria, quando apanhada em flagrante." (p. 75)


--- desfazendo uma representação contínua da História,
pergunto: sendo certo que os tempos se justapõem. que resquícios do passado se cruzam ainda na nossa mentalidade?


(1)(2)(3) in  A Mulher que Prendeu a Chuva, de Teolinda Gersão

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