(7)
E como de uma desgarrada nasce uma maratona ou toma lá outro poema, ó parceira:
Descalça no areal
parei para sentir a noite
esse instante em que o vento é mais nu
o teu corpo fica frio de vento
os odores caiem c'os açoites do ar
esse instante em que a palavra é mais crua
os olhos erguem-se para a palavra
o céu desce até nós
tocam-me as luzes que tremem
e nesse instante quebras um búzio
e suspiras adeus
(8)
E como um duelo com a Palavras em Linha se transformou numa Estória do Bicho da Seda:
descalça no areal
parei para sentir a noite,
grávida de sonhos
que a mão da consciência
sente pontapear
naquele instante
em que suspiraste adeus
vi que na ampulheta dos teus beijos
se media o meu tempo
e levito no vácuo da espera
ansiando que um búzio qualquer
te sussurre “vem”
na minha voz de mar
(9)
E como da poesia surgiu a prosa. Em mensagem de alegria à vista, mais uma vez, mas agora já sem rimas, que a prosa também é poética, a resposta da Palavras:
Estava descalça no areal vestida ainda de espanto; quebrado o búzio as mãos estavam vazias e eu deixei soltar o grito sob os açoites do vento. Baixei então os olhos e a lágrima prendeu-se ao choro calado, envergonhada.
Sob os meus pés, as ondas murmuravam que não, que não, que não tens culpa e o sol continuava quieto no seu espaço absoluto.
Amanhã todas as coisas estariam ali, mesmo que eu não voltasse.
Ergui os olhos, ergui os braços, silenciei o queixume e avancei, serena.
Atrás deixava as águas e os meus pés trilhavam o caminho certo.
Sob os meus pés, as ondas murmuravam que não, que não, que não tens culpa e o sol continuava quieto no seu espaço absoluto.
Amanhã todas as coisas estariam ali, mesmo que eu não voltasse.
Ergui os olhos, ergui os braços, silenciei o queixume e avancei, serena.
Atrás deixava as águas e os meus pés trilhavam o caminho certo.
(10)
E como a Sol&tude entra no grupo:
Tomei a areia nos braços,
e o mar sentia-o no ventre,
sorvendo as lágrimas de sal
com as ondas do meu desalento.
Traguei a vida num sopro,
até à banalidade da morte,
fiz de pouco a minha sorte
e do amor amuleto...
Despi-me de roupas e credos,
vesti-me do verso, de errado,
não fosse o destino ofertar-me
o teu corpo por presente...
Que mais fiz que não faria?
Que vagas rebentaram cá dentro,
quando nua me vi deitada
ardendo de fogo e tremendo...
Troquei seixos por promessas,
rezei, chorei e pedi
que a espuma da maré vaza
te trouxesse de novo até mim.
Cinji a cintura de algas,
cobri o rosto de véus
quando na praia te vi as pegadas
e te senti os braços nos meus...
Das febres, das seivas, dos gestos
dos risos, gemidos, odores,
calou a noite o segredo
guardou o mar os sabores...
E depois de saborear, hei-de ver como transformo.
P.S.: Aqui, desgarrada com outros odores.
P.S.: Aqui, desgarrada com outros odores.
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