No blog do Escritor Famoso já podem ler os 5 primeiros textos a concurso.
1. de George Cassiel, Agulhas ferventes:
"Entrei como um actor entra em cena, sem nada que me despertasse a atenção, porque tudo sempre estivera lá, nos mesmos sítios desde o início, como os adereços sobre o palco deverão estar para que o actor não se perca, sem novidade, sem diferença, para que a indiferença provocada seja estímulo à concentração absoluta no corpo, no corpo do actor, no meu corpo quando entro em cena, em casa. (...)"
2. de Palavras em Linha, As palavras da memória:
"Há momentos em que paramos. Subitamente. Como se o corpo estivesse em exaustão e precisasse de recompor-se da corrida diária que é a vida.
Não se trata de parar para pensar, para desbastar a ideia que anda há semanas a ocupar a mente como onda espraiando-se sobre o areal da praia em dia de Agosto. Paragens dessas tive-as amiúde. Resultaram em páginas saídas das minhas mãos como pedaços de mim e espalhadas depois pelos olhos dos outros, olhos atentos, olhos de converter palavras em coisas acabadas com desfechos estranhos à minha compreensão.
O que deixamos escrito sai de nós para não nos pertencer mais.(...)"
3. de Hipatia do Voz em Fuga, Les voix du silence:
"Percorreu cada espaço. Sentia-o vazio agora, um refúgio oco. Olhou os livros caiados de pó de casa antiga e com visitas retardadas pelos afazeres longe demais. Em cada espaço, uma memória salta-lhe ao caminho, um sorriso empoeirado de quando era tão mais fácil sorrir. Percorreu cada espaço, cada quarto. Sentou-se nas cadeiras do costume, como se nunca tivesse partido. Respirou os cheiros, cheiros familiares e antigos, de madeira verdadeira e linhos amarelados. Percorreu cada espaço, como quem percorre de mansinho uma vida inteira....)"
4. de Ivar Corceiro do Bagaço Amarelo, alguém construiu uma fábrica a muitos quilómetros daqui:
"Durante a noite alguém construiu uma fábrica a muitos quilómetros daqui, e eu sentei-me no parapeito da janela onde ainda estou. Nunca vi Vera passar o túnel. São tantas as vezes que um homem olha para o chão, penso agora, que não encontro resposta para a forma preocupada como a mobília me encara. É verdade que estou a olhar para o chão, e que me acalento na fraca pulsação da luz matinal. É verdade que talvez Vera ainda venha hoje. As árvores caminharam durante a noite aproximando-se da casa, e algumas estão deitadas lá fora à espera duma história de amor. As histórias de amor são sempre ridículas, penso agora, e não percebo porque geram tanta expectativa.(...)"
5. de J.P. do Faz de Conta, sem título:
"Embebedei-me de aromas ao tocar a pedra áspera. Arcada bruta nascida do sonho de mostrar poderio. Palpei de novo as raízes da infância, quando as azedas eram mais azedas, e o coração menos brando.
Que carranca séria, disseram-me. - Solta o riso que as flores agradecem!
Muda encaracolei-me no axadrezado hipnótico. O eco dos passos uma cortina de fumo.(...)
Os vossos textos também querem ir ao encontro do Escritor Famoso. Façam-lhes a vontade. Até dia 10 de Outubro (24:00).
1. de George Cassiel, Agulhas ferventes:
"Entrei como um actor entra em cena, sem nada que me despertasse a atenção, porque tudo sempre estivera lá, nos mesmos sítios desde o início, como os adereços sobre o palco deverão estar para que o actor não se perca, sem novidade, sem diferença, para que a indiferença provocada seja estímulo à concentração absoluta no corpo, no corpo do actor, no meu corpo quando entro em cena, em casa. (...)"
2. de Palavras em Linha, As palavras da memória:
"Há momentos em que paramos. Subitamente. Como se o corpo estivesse em exaustão e precisasse de recompor-se da corrida diária que é a vida.
Não se trata de parar para pensar, para desbastar a ideia que anda há semanas a ocupar a mente como onda espraiando-se sobre o areal da praia em dia de Agosto. Paragens dessas tive-as amiúde. Resultaram em páginas saídas das minhas mãos como pedaços de mim e espalhadas depois pelos olhos dos outros, olhos atentos, olhos de converter palavras em coisas acabadas com desfechos estranhos à minha compreensão.
O que deixamos escrito sai de nós para não nos pertencer mais.(...)"
3. de Hipatia do Voz em Fuga, Les voix du silence:
"Percorreu cada espaço. Sentia-o vazio agora, um refúgio oco. Olhou os livros caiados de pó de casa antiga e com visitas retardadas pelos afazeres longe demais. Em cada espaço, uma memória salta-lhe ao caminho, um sorriso empoeirado de quando era tão mais fácil sorrir. Percorreu cada espaço, cada quarto. Sentou-se nas cadeiras do costume, como se nunca tivesse partido. Respirou os cheiros, cheiros familiares e antigos, de madeira verdadeira e linhos amarelados. Percorreu cada espaço, como quem percorre de mansinho uma vida inteira....)"
4. de Ivar Corceiro do Bagaço Amarelo, alguém construiu uma fábrica a muitos quilómetros daqui:
"Durante a noite alguém construiu uma fábrica a muitos quilómetros daqui, e eu sentei-me no parapeito da janela onde ainda estou. Nunca vi Vera passar o túnel. São tantas as vezes que um homem olha para o chão, penso agora, que não encontro resposta para a forma preocupada como a mobília me encara. É verdade que estou a olhar para o chão, e que me acalento na fraca pulsação da luz matinal. É verdade que talvez Vera ainda venha hoje. As árvores caminharam durante a noite aproximando-se da casa, e algumas estão deitadas lá fora à espera duma história de amor. As histórias de amor são sempre ridículas, penso agora, e não percebo porque geram tanta expectativa.(...)"
5. de J.P. do Faz de Conta, sem título:
"Embebedei-me de aromas ao tocar a pedra áspera. Arcada bruta nascida do sonho de mostrar poderio. Palpei de novo as raízes da infância, quando as azedas eram mais azedas, e o coração menos brando.
Que carranca séria, disseram-me. - Solta o riso que as flores agradecem!
Muda encaracolei-me no axadrezado hipnótico. O eco dos passos uma cortina de fumo.(...)
Os vossos textos também querem ir ao encontro do Escritor Famoso. Façam-lhes a vontade. Até dia 10 de Outubro (24:00).
6 comentários:
Olá. Andava por ai pela net e cai por aqui, desculpa e não queria ser indelicado, mas gostaria de deixar aqui a minha opinião.. O Texto "Palavras em Linha" está para mim o melhor, gosto deste tipo de escrita .. E deixo aqui expressa "a minha opinião para não me pertencer mais" :o)
Abraços
Mestre, as votações só começam a 11/Out, quando todos os textos estiverem listados. Mas obrigada pela tua visita e por nos ter deixado a tua opinião :)
o escritor deixou cair a sua cabeça sobre os braços caídos. sobre a mesa uma folha de papel aguarda
a pena esguia e leve.
os céus e a Terra pesam-lhe no momento síntese.
apenas uma lágrima ou sorriso subtil vertidos no papel
incolores
invisíveis
mas lá.
beijos.
incolores
invisíveis
mas lá. os beijos
Rosário,
A fasquia está alta e vai ser difícil a nossa tarefa! Mas estou a gostar tanto!!!! :)
Bjs
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