31.10.07

Ópera "Três Vinténs" de Kurt Weil

Orquestra Sinfonieta da Esmae. Direcção Musical - António Saiote.
Encenação - Marcos Barbosa.
Coro – Estúdio Ópera do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de Aveiro.
Co-produção – Fundação João Jacinto Magalhães e Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão.

No Teatro Aveirense, hoje, às 21:30h.



Adenda: Depois desta ópera de Kurt Weill, e tendo já visto Orfeu nos Infernos, não tenho dúvidas de que vou manter-me fiel aos espectáculos da Classe de Canto da Universidade de Aveiro. A encenação de Marcos Barbosa é fiel à intenção original da criação de um novo teatro musical: os conceitos de ópera e de teatro aliam-se com humor e eficácia. A tradução e a integração da mesma (texto) na dinâmica da peça foram decisões inteligentes. Cómica, poética, grotesca, agridoce, cruel, irónica, ontem reconhecemos o espírito Brechtiano. O público aderiu. Culpa nossa, Bertolt Brecht está longe de estar obsoleto.

A Espera - uma criação performativa livremente inspirada em "À Espera de Godot". Direcção Artística - Helena Botto

Estreia hoje, dia 31 de Outubro, às 22h. As apresentações continuam nos dias 1, 2, 3, 7, 8, 9 e 10 de Novembro no Estúdio
PerFormas.



Adenda: Comentário de quem já viu a A Espera - "...é uma experiência quase transcendente. A valer mais do que uma visita."

À escuta #54

Elas começaram a escrever um Diário há poucas semanas. Têm sete anos e deve ser por isso que não se importam que eu leia as suas confissões. As minhas gémeas têm estilos diarísticos muito distintos. Estas passagens foram escritas ontem à noite:

S:
«30/10/2007

No dia 31 do 10 é dia das bruchas e eu pensava que não era dia de aulas mas é dia de aulas. Eu ficei triste e tive pena. Espero que no proximo dia que seija das bruchas não ája aulas. Beijos
[desenho de um coração]»

A.:
«[sem data, escrita contínua]
Hoje passei um grande dia. É fantástico tudo o que existe. Eu adoro brincadeiras giricimas. E nunca pedi nadinha. Eu adoro brincar tanto como as bruxas daquela historia em que as bruxas se divertem mais que as fadas. Gosto de escrever muito! Eu adoro desenhar bonecas e bonecos. Adoro flores. Eu gosto do dia do namorado e do dia do carnavale. No carnavale podemos por disfarces muito diferentes e no dia das bruxas só há bruxas. No inglês a professora disse que fantasma é ghost e eu vou de fantasma. Eu adoro piqueniques divertidos. Eu fasso festas de pijama muito giros. Eu tenho corações na minha janela. Eu uso chapêu quando está muito calor. Eu apanho flores quando estou numa ilha deserta. Eu adoro um chupa-chupa. Eu tenho cinco sentidos! 1+1=2 e essa é fácil. Eu estou numa ilha deserta quer dizer faz de conta.»

30.10.07

Cine Eco #n +1



A deusa grega Deméter deu a agricultura à humanidade. Os Campos de Deméter foi filmado em sete países da Europa mas o professor e realizador norueguês Knut Krzywinski não quis revelar-nos que países eram esses. No filme, as paisagens também não são identificadas por nacionalidade. Tentámos adivinhar mas Os Campos de Démeter remete-nos para além do presente, do pontual, e até do que é visível.

No CineEco' 07, o Júri Internacional atribui-lhe o Prémio Educação Ambiental e o Júri CineEco em Movimento, de que fiz parte, atribuiu-lhe o "Prémio Especial".
Este é um dos filmes que gostaria muito que fosse apresentado em Aveiro. Percebam porquê.

«Quando olhamos para o campo e nos maravilhamos com a sua beleza natural, vale a pena lembrar uma coisa - esta paisagem está longe de ser natural. O que nós estamos a ver, para o melhor e para o pior, é uma paisagem que foi profundamente alterada por gerações de intervenção humana, em particular por antigas práticas agrícolas.

Na Europa, a relação com a terra e a paisagem sempre foi governada pela existência humana. Os habitantes de grutas do Paleolítico, há 40.000 anos, viviam num ambiente que não podiam controlar: no entanto, com a introdução da agricultura esta relação mudou e, através dos milénios que se seguiram, uma combinação de forças naturais e culturais modelaria as paisagens da Europa.
A agricultura necessita de espaços abertos. Áreas foram limpas para o cultivo e os animais domésticos mantinham os espaços abertos através do pastoreio. O Homem tornou-se um factor de estabilização no mundo natural sempre em mudança. Deste modo, uma diversidade de habitats e de paisagens culturais tradicionais foram criadas e mantidas, habitats como os prados, campos de cultivo, vinhas, urzais e pastos.

À medida que lentamente aprendíamos a lidar com a terra, os nossos valores, ideias e identidades começaram a entrelaçar-se com a nova realidade. A ideia de natureza como algo para ser dominado e conquistado desenvolveu-se enquanto economia e a tecnologia tornou atingível o seu controle absoluto. Esta é a origem de muitas calamidades contemporâneas como a perda de biodiversidade, a poluição, a deterioração geral do ambiente e, acima de tudo, a nossa alienação da natureza.

Desde meados do Século XX a agricultura mudou dramaticamente. Nas terras apropriadas, a agricultura intensiva e as monoculturas substituíram a agricultura tradicional, de pequena escala, enquanto nas áreas marginais e isoladas a terra é normalmente abandonada, uma vez que não pode competir com a agricultura intensiva. O abandono é muitas vezes seguido pela invasão do matagal e eventualmente florestação. O aumento do desequilíbrio do uso da terra – reflectido na dupla ameaça da intensificação e do abandono – resultou na erosão das paisagens culturais tradicionais e a sua característica diversidade de habitats e de espécies.

“Campos de Deméter” é uma viagem através das visíveis e invisíveis Paisagens Culturais Europeias – uma viagem através da diversidade, tendências e desafios das nossas paisagens culturais de todos os dias. » [Continuem a ler
aqui, e descubram um pouco da História Agrícola de cada país]

Os Campos de Deméter são um projecto
ECL - European Cultural Landscapes e tem por objectivo comunicar a universal importância das Paisagens Culturais Europeias e possibilitar uma maior compreensão e reconhecimento do seu significado. Isto ajudará a aumentar a consciência acerca da necessidade urgente de proteger o património que é nossa paisagem cultural, através da agricultura e utilização da terra sustentáveis. O projecto ECL promove a produção de documentação e de disseminação transnacional do património das nossas Paisagens Culturais Europeias através da cooperação entre uma rede de cientistas, operadores culturais e promotores.
Coordenador do Projecto: Universidade de Bergen,Noruega.

Rostos

Alguns dos rostos deste CineEco' 07
Colagem feita pelo
Director do Festival, Lauro António

O Professor Anthímio de Azevedo, os realizadores Lauro António, João Baptista de Andrade, Alain Marie, Knut Krzywinski, a directora executiva do Festival Ambiental de Washington Annie Kaempfer, o director do Festival Internacional de Inverno de Sarajevo Ibrahim Spahia, o escritor Fernando Dacosta, as actrizes Rita Ribeiro, Lia Gama, Natasha Marjanovic, Rita Calçada Bastos, Cátia Garcia, Sílvia das Fadas, os músicos Rao Kyao e Celina Pereira, o director de "Mares Navegados" Amândio da Conceição Silva, o Professor António Maues-Collaço, a jornalista Silvia Alves, João Madeira, Eduarda Colares, Carlos Teófilo, Frederico Corado, Márika Benatti, Orquídea Lopes, Luís Silva, Teresa Matias, entre tantos outros. Obrigada pelo convite, L.A., foi um prazer integrar esta equipa e tertuliar entre filmes e filmes e filmes ;)

29.10.07

Aldeias e cidades (quase) invisíveis #3


Imagens da Igreja Matriz, da Capela de São Pedro, do jardim do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (C.I.S.E.), do Museu do Pão e do Museu do Brinquedo, para além de alguns detalhes de ruas.

Vivemos esta semana de CineEco entre o C.I.S.E e a Casa Municipal da Cultura de Seia. Restou-nos pouco tempo livre para andar pela cidade ou ir à Serra, pelo que estas imagens são apenas uma pequena nota sugestiva da beleza do lugar. Como dizia Miguel Torga a propósito da Beira, também Seia anda «à roda, à roda, e sempre à roda da mesma força polarizadora: - a Estrela. (...) Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo na Beira? Faz-se na Estrela. Há roupa na Beira? Tece-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. Há energia eléctrica na Beira? Gera-se na Estrela. Tudo se cria nela, tudo mergulha as suas raízes no seu largo e materno Seio».

Hoje, este cariz fortemente serrano permanece, mas a cidade não parou no tempo. É impossível não repararmos nas estruturas e equipamentos sociais que foram sendo criados na cidade, nomeadamente o novíssimo C.I.S.E.. O que a Estrela dá, Seia deseja estudar e conservar. A defesa do ambiente não é moda mas forma de estar. Foi ali que, há já treze anos, a CMS aprovou e subsidiou um festival de cinema centrado nesta temática. Este ano, uma nova iniciativa foi criada: a organização da Conferência Anual CineEco subordinada ao tema do Desenvolvimento Sustentado. Foram os seguintes os temas abordados:
"Turismo de Natureza e Cultural, no contexto regional e ibérico das estratégias e programas de desenvolvimento sustentável", "Aldeias de Xisto: Desenvolvimento Sustentável" e "Os valores naturais das montanhas do Centro Interior".

Vive-se bem nesta Beira - que ainda sofre de algumas limitações em matéria de acessibilidades. A gastronomia quase merecia um capítulo próprio. Ficam os nomes dos espaços que nos receberam mais que bem:
Restaurante Borges, Farol, Martinho (Quinta do Crestelo), O Tachinho do Francisco, Restaurante do Museu Nacional do Pão.

Fiquei com vontade de voltar para andar à roda, à roda e sempre à roda.

28.10.07

Cine Eco' 07

Os membros dos júris (Internacional, Especial CineEco em Movimento e da Juventude)
Foto desviada do blogue do Luís Silva, Oceano de Palavras


Ainda estou de ressaca e não é por causa das caipiroskas no Espaço Ego em Seia. Vi cerca de 60 filmes entre segunda-feira e sábado. Ainda estou de ressaca, mas foi bom. As temáticas abordadas pelos vários documentários a concurso deixaram-me mais clarividente - dizia Milton Santos que a clarividência não é instintiva, é um saber que se aprende - e assim foi, em matérias de antropologia ambiental e de educação ambiental.

Aos poucos, irei falar-vos mais deste festival criado há 13 anos por Carlos Teófilo e Lauro António. Por agora deixo-vos o trailer de "Encontro com Milton Santos", filme realizado pelo brasileiro Sílvio Tendler, e que foi o grande vencedor desta edição do Cine Eco.



A foto ali em cima (hei-de soltar outras) é apenas uma maneira de vos falar do grupo de pessoas muito bonitas com quem tive o privilégio de partilhar os últimos dias. Um abraço especial aos meus parceiros do "CineEco em Movimento", o antropólogo António Caetano de Maues-Collaço, a jornalista da RTP Silvia Alves, o Almargenzino João Madeira, e ainda Sandra Silva (Sec. Regional do Ambiente, Açores), Susana Ribeiro (Dep- Ambiente, CML) e Patrick Carré (Delegado da Cultura da Mairie de Contrexéville, França).

23.10.07

The 11th Hour



O Cine Eco continua durante toda a semana. Dia 24 às 00.00h, há Sessão Especial no Cinema da CASA DA CULTURA DE SEIA. Em ante-estreia, o primeiro filme de DiCaprio. Vamos ver se é um filho natural de Uma Verdade Inconveniente de Al Gore ou se traz um special apport ;)


Quanto aos filmes a concurso, infelizmente não posso comentar, mas já vi alguns premiáveis. A saga continua até sábado à noite. São quase 60 filmes.

21.10.07

Vou andar por aqui

Cine Eco

Este ano participarei no Festival com um objectivo muito especial: seleccionar os filmes que serão incluídos na Extensão do CineEco em Aveiro. Não, não tenho ainda nenhuma garantia de que esse projecto (diga-se que de mui fraco investimento, em termos financeiros) possa vir a ser realizado. Mas acredito que a CMA possa vir a compreender o interesse de apresentar nesta cidade cinema de qualidade centrado na temática ambiental.

O ano passado, o vencedor do Prémio Lusofonia do Cine Eco foi o filme
Ainda Há Pastores? de Jorge Pelicano. A porta abriu-se de seguida à sua participação em vários festivais internacionais, nomeadamente no FICA e no Festival Cinemambiente de Turim. Neste último ganhou o GREEN AWARD, a maior distinção do cinema ambiental.

A generalidade do público desconhece este tipo de festivais e a qualidade dos filmes, do ponto de vista dos conteúdos e/ou da estética. Os documentários que abordam questões ambientais mais acessíveis são os televisivos - alguns de excelente qualidade, mas a linguagem do cinema ambiental é distinta. É mais cuidada do ponto vista formal e mais diversificada do ponto de vista temático. Nesta edição 2007 estão a concurso 58 obras oriundas de 21 países pelo que a pluralidade de linguagens, prismas, olhares culturais originais, nem é uma condição, mas um pressuposto.

Conto com o apoio de todos os aveirenses no sentido da realização da Extensão do Festival em Aveiro. E espero a visita de todos os que, no decorrer desta semana, queiram passar por Seia para ficar com uma antevisão do CineEco.

Dança e Novas Tecnologias

Aivars B.
Crazy Dance


O teatro Aveirense está a organizar o Ciclo Dança e Novas Tecnologias que, ao longo do mês de Outubro e de Novembro, incluirá a apresentação de seis espectáculos. São espectáculos interdisciplinares, que criam pontes entre a arte performativa e a tecnologia. Flatland I, de Patrícia Portela, "aterrorizou-nos" sexta e sábado; dia 26 será a vez de Jukebody, criado e interpretado por Cristiana Rocha; dia 7/11 teremos uma tripla perspectiva do conceito de ego, em Ego Skin, de Amélia Bentes; dia 22/11 poderemos observar a relação telemática entre uma mulher e um homem imaginário em Algum Dia Tinha de Ser a Sério de Lígia Teixeira e Ivan Franco; no dia 30/11, Isabel Valverde vai questionar a portuguesidade do fado-dança com Dança Fora de Horas.

Patrícia Portela gosta de utilizar "tecnologia doméstica", Cristiana Rocha expõe o "corpo em diálogo com um dispositivo cenográfico e tecnológico mais ou menos variável", Amélia Bentes opta pelo desenho digital executado com uma caneta + mesa Wacon ligada a um laptop (software: Adobe Phtoshop em full screen mode), Lígia Teixeira programa todo o sistema usando linguagem audiovisual Pure Data, Isabel Valverde usa uma tecnologia para manipulação de vídeo através de biofeedback e captação de sensores vocais e musculares (EMG).

Dança e novas tecnologias. Facilmente nos assustamos com a temática, ou nem sequer concebemos a relação, se andarmos distraídos. Mas as novas ferramentas são cada vez mais utilizadas pelas artes em geral, e não apenas pela indústria e economia. O que é importante discutir face à evidência? Desde logo, ao nível do ensino, os novos conteúdos e a estratégia pedagógica a adoptar e, ao nível do trabalho artístico, a coerência entre o conceito da obra e as aplicações tecnológicas por que se optou. Parece unânime a opinião de que os novos media devem ser encarados apenas como ferramentas adicionais e que o enfoque deve permanecer no conceptual. Vi Flatland I. Foi criada, com esses suportes, uma nova linguagem estética? Os meios utilizados foram eficazes na transmissão da mensagem (assumam aqui um plural)?
Eu respondo SIM. e este é mesmo um SIM grande. A beleza do "livro" gigante, o layout e a forma como foram programados os efeitos, o jogo que se estabeleceu entre voz e imagem, a "materialização" dos limites e ambições da personagem "Flatland" via esse diálogo, são arrebatadores. Na segunda parte, quando o público é raptado, os media integram o espectáculo em pleno. "Flatland" interage com as imagens projectadas, elas reforçam sentidos.

No dia 18 assisti à conversa e à perfomance que inaugurou o Ciclo Dança e Novas Tecnologias. Organizada e moderada pelo Professor Paulo Bernardino (UA - DeCA), com a participação de vários experts no uso e reflexão destas questões (Dolores Wilber - DePaul University; Len Massey - Royal College of Art, Reino Unido; Heitor Alvelos - Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto; etc.), a conversa centrou-se nos medialabs e no modelo que estes devem assumir em Portugal, nomeadamente como novos espaços de investigação e desenvolvimento (fixei algumas ideias para discussão em próximos posts - depois de regressar de Seia).

A perfomance, assente na utilização de medias simples (papel e fita-cola) e tecnológicos (criando efeitos audio e visuais) procurou levar todos os presentes a interagir. Foi uma experiência lúdica e reveladora. Os media que, por definição, são o que está no meio, criam oportunidades - para criar barreiras, ou para estabelecer ligações. Nesta perfomance, uma criação colectiva muito experimental, a produção de sons (música) e a expressão corporal (coreografias individuais e de grupo, mesmo que rudimentares) aliaram-se. Ponto final___ ou de partida para outra discussão: os media favorecem a convergência nas artes, mas podemos deixar de desenhar fronteiras entre disciplinas?


[Sobre toda a trilogia Flatland, remeto-vos para uma crítica sapiente lida em O Melhor Anjo]