14.1.06

Socio-pedagogia contrabaixa III

Que a causa de todos os males é o liberalismo económico! Que vivemos numa sociedade altamente competitiva! Que o consumismo destrói todos os valores! Enfim, quem ainda não ouviu uma destas sentenças? E depois, _________________ sabem o que é uma key party? Aqui, no D&C, temos sempre um filme muito pedagógico à vossa disposição.


Adenda - o comentário mais divertido: Só para dizer olá... e que o meu carro é um Corolla. Ah! Mas com 6 meses apenas, o que conseguiu atrair até agora foi, entre outras coisas, cola-tudo, restos de comida e uma carrinha Peugeot (com um senhor de 65 anos). Rui

13.1.06

e ainda... para as mucho woman (II)

Conselho de fim de semana para os macho men (I)

Todos temos que tomar decisões. Cumprir as regras do trânsito, por exemplo, não é um dado adquirido. Sabemos que ainda existem muitos macho men que insistem em infringir a lei. Às vezes compensa. É por isso que lhes sugiro este carro. Vejam o filme.

República e Laicidade


A 9 de Dezembro passado festejou-se o primeiro centenário, em França, da Lei de Separação entre o Estado e a Igreja, a famosa Lei de 1905. Portugal também teve uma Lei de Separação entre o Estado e a Igreja pouco tempo depois, em 1911, com a sua 1ª República, e foi Afonso Costa o seu principal autor e promotor.
Num tempo em que tanto se discute a existência de crucifixos e a realização de cerimónias religiosas em muitas das nossas instalações escolares públicas, talvez fosse importante discutirmos mais o que é isso da Laicidade e como nos posicionamos nessa matéria. Para melhor se informarem deixo-vos o link da Associação República e Laicidade, um artigo de Fernando Savater, a Laicidade explicada às crianças, e a memória de uns posts aqui editados aquando da visita de Étienne Pion, Presidente do CAEDEL, a Aveiro, Laicidade I, II, III.

12.1.06

Pepetela


Acabo de ler Predadores de Pepetela. Leiam este livro, leiam tudo, dele.

Idioma Português na ONU

Chamo a vossa atenção para uma petição que tem por objectivo tornar oficial o idioma português na ONU, à semelhança do que já sucede com o Árabe, o Chinês, o Espanhol, o Francês, o Inglês e o Russo.

A petição pode ser subscrita aqui (e divulguem-na):
PETIÇÃO PARA TORNAR OFICIAL O IDIOMA PORTUGUÊS NAS NAÇÕES UNIDAS


Depois, parece-me que esta petição só tem sentido se assinarmos uma outra: PETIÇÃO PELA DIGNIDADE DO ENSINO EM PORTUGAL

Presidenciais 2006

A Marktest adere ao princípio de open source e compromete-se a divulgar de forma exaustiva os procedimentos adoptados na realização de sondagens políticas e de opinião.

O que isto significa é que as empresas de estudos de mercado começam a adoptar o princípio da transparência, fornecendo o relatório técnico completo das sondagens. As famosas fichas técnicas nunca foram suficientes para uma interpretação clara dos resultados. Agora passamos a ter acesso, por exemplo, a um elemento fundamental: o questionário. E, para além da definição do Universo e Amostra (dados que já eram obrigatórios) podemos compreender o processo de selecção dos entrevistados. Vejam aqui um exemplo (pdf).

Para a consulta de sondagens diárias podem também recorrer ao site da Marktest.

11.1.06

Carrie vai para Paris


Desculpem mas acabo de descobrir que Sexo e a Cidade dá na SIC e por isso só me apetece falar de... televisão. De vez enquando automedico-me injecções televisivas. Ontem apanhei a entrevista histórica de Santana Lopes, o animal (ressabiado) político, muitos portugueses reais a dizer que o país precisa do seu candidato, o ministro da economia a defender que o plano tecnológico começa com aulas de inglês na pré-primária e fiquei feliz! Este é mesmo o meu país, senti-me em casa! Mas zapping que se preze vai até aos canais do cabo em que se falam outras línguas. Em Inglaterra continua o drama do (ex) líder do Partido Democrático Liberal, Charles Kennedy que apresentou demissão devido a problemas de alcoolismo. Eu por acaso não consigo transpor o caso para Portugal. Fico na dúvida se os ingleses são demasiado puritanos, ou se nós somos completamente laissez faire, laissez passer. Na TV 5, o debate da noite era sobre François Miterrand, bien süre! Venerado dez anos após a sua morte, não deixou de ser interessante ouvir Charles Pasqua, Jacques Atalli e outros convidados discutirem qual deve ser o papel do Presidente da República em França. E é claro que o nosso sistema político é diferente mas, quand même, lá fiz a transposição. Queremos um presidente monarca, fechado em Belém e distanciado das massas, ou um presidente cuja estatura e valores remetam para a modernidade? Queremos um homem politicus, enredado nas malhas do poder, com um passado glorioso mas também obscuro, ou um autista rigoroso e orgulhoso dos seus princípios? Miterrand terá sido tudo isto, nas opiniões divididas dos participantes deste debate televisivo. E de repente, percebi. Nas próximas eleições presidenciais, nós seremos obrigados a escolher um destes perfis (adivinhem qual se ajusta melhor aos diferentes candidatos). Lamentavelmente, como se concluiu, falar de Miterrand é falar do passado. E foi no reinado Miterrand que em França se instalou um sentimento que também nos é familiar, e que ainda não foi ultrapassado: descrença e desconfiança em relação à classe política. Enfim, cada povo tem o que merece. Os franceses têm que aguentar o Chirac e nós vamos aguentar com... ! Seja quem for, nenhum é bom... a não ser o meu candidato, é claro! :)
Ah, e a Carrie decidiu finalmente deixar Nova Iorque e seguir com o namorado para Paris. Mas a Miranda não concorda... Na próxima terça-feira, lá estarei.

10.1.06

- Se dévouer pour quelqu'un que l'on est sûr de garder, ce n'est rien, répondit-elle. (...)
- Je ne sais pas. Je les aime tant que je ne crois plus au repos pour moi.

in Boris Vien, L'arrache-coeur

O arrais



- Avô, conta-me a história do teu avô.
- O que era arrais?
- Aquela em versos!
- As histórias nunca se contam da mesma maneira. É como os sulcos na areia, não há dois iguais. Se acordas bem disposto fazes cócegas na areia, se estás de mau humor, afincas-lhe os dedos.
- Aquela do avô que se chamava Francisco como eu.
- É uma longa história!
- Tenta.

Não que se usassem muito os grandes nomes___ mas vai daí, talvez por ser um homem muito alto e encorpado,
coisa também rara para a época, era uso lhe chamarem de Francisco Xavier. O arrais!

Mestre de barcos de fundo chato, esculpido, bordador das redes com que enchia o barco e que depois lançava às águas. Era rico, muito áspero, rigoroso, um tanto bruto mas generoso. O arrais!

De família dizia-se parco. Uma mulher fraca, doente, Rosa de nome mas pálida de cara, e um único filho a que chamou Abel, na esperança de um dia vir a ter um Caim. (Que não era de brigas ou de mortes. Era de crenças e de lemas. E que um homem deve invejar para ser maior.)
Mas assim não quis a sorte.

- Avô, isso são versos?
- Isto são sulcos na areia!

Aos amigos emprestava
em momentos de aflição
e na cobrança ao que dizem
não tinha tinha de cão.

Mas à mulher não esquecia
de dizer com mau humor -
se um dia te vais desta
caso-me logo de novo,
compro pronto outra aliança.
Quis a sorte que o futuro
ocorresse de outro modo.

À cabeça da xávega em dia de tempestade
bate-lhe uma onda no peito.
Que nunca mais foi o mesmo.
A dor não matou ali para ir matar mais à frente.

Fica a Rosa e o Abel
mais as vozes que lhes dizem
que o Francisco Xavier
é credor de muito ouro.
E cadê dos passeantes?

Quis a sorte que o Abel
descobrisse por acaso
no virar de um velho quadro
dez mil reis empoeirados.

Vende a xávega do pai.
Compra terras de lavoura.
Outra história se seguiu
mas essa guardo-a pra mim.

Quis a sorte que o Abel
tivesse um filho Manuel
e esse, meu caro neto,
foi o pai que me serviu.

- Acabou?
- Acabou.
- Faz mais cócegas na areia...


P.S. : Esta história foi-me contada pelo meu pai, que a ouviu ao pai dele. Eu devo ser trineta do Francisco Xavier, o arrais :))