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11.7.07

Estatísticas

O INE disponibiliza no seu portal uma área dedicada à Presidência Portuguesa da União Europeia. Este site terá disponível informação e documentação relativa aos dossiers legislativos em discussão no Grupo de Trabalho do Conselho sobre Estatísticas.
No período "presidencial", e já a 20 de Julho, sairá também o relatório sobre "Portugal - 20 anos de integração europeia", que espero poder vir a consultar on line.

P.S.: Talvez já conheçam, foi inaugurado a 1 de Junho, mas fica aqui o link para o portal oficial da Presidência Portuguesa, Portugal 2007.

2.11.06

SIM ou NÃO. A questão do aborto #5

António Vitorino no DN (27/10/06):

É que a sondagem a que me venho referindo prova que a maior relutância em participar no referendo vem do eleitorado masculino, como se a questão do regime legal do aborto (e a própria decisão de abortar) fosse apenas uma questão do foro das mulheres.

Neste plano, o debate sobre a despenalização do aborto até às dez semanas não é apenas uma questão de índole jurídico-penal: é também uma questão eminentemente cultural para o campo dos defensores do "sim", onde se joga um dos princípios basilares do Estado de direito democrático - o da igualdade entre os homens e as mulheres.

22.9.06

Se tiverem a impressão #1

... que a duração média dos anúncios publicitários na televisão aumentou, saibam que não é só uma impressão.

Em Agosto de 2006, foram 57 407 as peças publicitárias passadas nos écrãs da RTP1, 2:, SIC e TVI, considerando todos os tipos de publicidade à excepção das auto-promoções dos canais. Este montante equivale a uma média diária de 463 inserções de publicidade por canal.

Mais informações: Marktest

10.2.06

O homem mais rico do planeta


No dia 2 de Fevereiro a RTP1 transmitiu a Grande Entrevista com Bill Gates. Com 31 minutos de duração, esta entrevista atingiu 11.1% de audiência média e 25.9% de share. Contactaram com a Grande Entrevista 1.990.800 espectadores, que viram em média 52% da duração total do evento.
Quase dois milhões de portugueses viram o Bill Gates!

Fonte: Marktest

Classes mais altas preferem hipermercados.


Aquela ideia de que é o povo que adora passear em hipers no fim de semana deve ser corrigida. Na verdade são as classes mais altas que preferem este tipo de estabelecimento.

Cerca de 40,5% do valor despendido pela classe social alta e média alta em bens de consumo corrente para o lar é gasto em hipermercados, sendo neste tipo de loja que esta classe social gasta a maior percentagem do seu orçamento para as compras do lar.

As classes sociais média e baixa despendem a maior percentagem de valor gasto em compras para o lar nos supermercados. Do total de gastos efectuados nestas compras pelos lares da classe social média, 37.8% foi realizado nos supermercados. Nos lares das classes média baixa e baixa, 39.7% dos gastos em compras para o lar foram feitos neste tipo de lojas. É também a classe social mais baixa que despende uma percentagem mais elevada do seu orçamento em mercearias e nos outros tipos de estabelecimentos, 7.2% e 13.9%, respectivamente.

Fonte: Marktest Retail Index

26.1.06

Janelas famosas


RTP1, SIC e TVI fizeram a cobertura especial da noite eleitoral. Desta vez, a RTP1 foi o canal com maior audiência (nas Presidenciais de 2001, tinha sido a TVI). Rui Monteiro Romano, o realizador recentemente premiado pela Casa da Imprensa, parece estar agora em todas as grandes emissões desta estação.

A RTP1, que emitiu a transmissão mais longa (das 18:45:02 às 23:58:47), obteve 11.1% de audiência média (1.046.700 espectadores) e 28.8% de share.
A TVI iniciou a transmissão às 19:59:58 e terminou-a às 23:27:13. Teve uma audiência média de 11.8% (1.115.000 espectadores) e 28.7% de share.
Na SIC, o especial eleições começou às 18:57:59 e prolongou-se até às 23:50:29. A audiência média foi de 8.8% (829.000 espectadores) e 22.3% de share.

Isto significa que cerca de 3 milhões de portugueses estiveram em frente do écran na noite de 22 de Janeiro. Como todos os canais tiveram uma equipa na Travessa do Possolo a filmar a janela da casa de Cavaco Silva, 3 milhões de portugueses poderam ver o novo PR espreitar para a rua e nunca mais se decidir se fechava ou não a janela!

Fonte: Marktest

12.1.06

Presidenciais 2006

A Marktest adere ao princípio de open source e compromete-se a divulgar de forma exaustiva os procedimentos adoptados na realização de sondagens políticas e de opinião.

O que isto significa é que as empresas de estudos de mercado começam a adoptar o princípio da transparência, fornecendo o relatório técnico completo das sondagens. As famosas fichas técnicas nunca foram suficientes para uma interpretação clara dos resultados. Agora passamos a ter acesso, por exemplo, a um elemento fundamental: o questionário. E, para além da definição do Universo e Amostra (dados que já eram obrigatórios) podemos compreender o processo de selecção dos entrevistados. Vejam aqui um exemplo (pdf).

Para a consulta de sondagens diárias podem também recorrer ao site da Marktest.

15.9.05

La Repubblica I



Segundo os dados da MediaMonitor, o investimento publicitário realizado em televisão até Agosto de 2005 está perto de 1,5 mil milhões de euros, a preços de tabela.
A publicidade atingiu em Agosto um valor de 177 milhões de euros, a preços de tabela, na RTP1, 2:, SIC e TVI. Este valor representa um decréscimo de 20.8% relativamente ao mês anterior, mas um aumento de 29.7% face ao mês homólogo de 2004.
De Janeiro a Agosto de 2005 a publicidade nestes quatro canais está em 1 488 milhões de euros, mais 31.7% do que os 1 130 milhões de euros investidos no mesmo período do ano transacto.

Nos primeiros sete meses de 2005, a indústria da alimentação liderou o investimento publicitário realizado em imprensa, rádio, televisão, cinema e outdoor. O sector despendeu mais de 272,6 milhões de euros, a preços de tabela, o equivalente a 13.1% do total. Neste sector, os iogurtes foram a classe mais importante, responsável por quase 58 milhões de euros em publicidade.
Na segunda posição está o sector dos serviços e equipamentos de comunicação, com montantes superiores a 261 milhões de euros, 10.4% do total. Neste sector, os telemóveis foram a classe mais importante, responsável por montantes superiores a 151 milhões de euros.
A higiéne pessoal é o terceiro sector com maior volume de publicidade, responsável por compras de valor próximo dos 206 milhões de euros, 9.9% do total. Neste sector, os champôs foram a classe mais importante, responsável por cerca de 11 milhões de euros em publicidade.
No ranring de volume de publicidade por sector de actividade, seguem-se a indústria automóvel (193 milhões de euros), bancos e OIMF (154), bebidas (148), comércio (146), higiéne do lar (95 milhões de euros).
Mas sozinhos, os três primeiros sectores representam um terço (33.4%) do mercado publicitário nacional, a preços de tabela.

Numa análise mais detalhada, por classe de produto, a liderança foi dos automóveis, que despenderam, de Janeiro a Julho de 2005, mais de 157 milhões de euros em publicidade, a preços de tabela, nos cinco meios auditados pela MediaMonitor. O valor representa 7.6% do mercado publicitário total.
Os telemóveis foram a segunda classe com maior volume de publicidade, num total superior a 151 milhões de euros, 7.3% do total.
Na terceira posição, encontramos os super e hipermercados, responsáveis por montantes superiores a 117 milhões de euros em publicidade, 5.6% do total.
Em conjunto, estas três classes representam um quinto (20.5%) do mercado publicitário nacional.

Fonte: Marktest

8.3.05

Diferenças

Free Image Hosting at Durante o ano 2004, Portugal foi a palavra mais procurada pelos internautas que em suas casas acederam à rede, de acordo com os resultados do estudo Netpanel da Marktest. Mas as procuras variam consoante o sexo dos internautas.

Assim, na lista das procuras mais frequentes realizadas por homens em 2004, constam Portugal, download, 2004, Lisboa, mapa, free, jogos, Porto, sexo e sapo.
Já na lista das 10 mais procuradas por mulheres, estão as palavras Portugal, Lisboa, escola, mapa, 2004, jogos, Porto, casa, como e sapo.
Download, free e sexo, presentes nas principais pesquisas dos homens, encontram-se ausentes das pesquisas mais frequentes das mulheres. Sexo aparece na 52ª posição do ranking feminino! Se pensarmos em imagens como estas, compreendemos porquê!
Escola, casa e como, muito frequentes nas pesquisas realizadas pelas mulheres, não se encontram na lista das favoritas dos homens (casa aparece em 12º lugar nas pesquisas masculinas, não está muito distante do top 10).
Este "como" será de "como fazer para..."? - provavelmente!

A partir destes dados, parece evidente que os estereótipos dos dois géneros saiem reforçados. Era simples tirar esta conclusão!
Mas não são mais os conceitos que nos unem? O just in time (2004), a pátria e como nos orientarmos nas grandes cidades, a forma de lazer (jogos) e, pelos vistos, a preferência pelo portal Sapo. Para não falar da quantidade de coisas que nem homens nem mulheres procuram na net.
Mas sobretudo, e felizmente, não nos resumimos às nossas pesquisas na net. (ou seja, este post não serve para nada!)

26.2.05

Cinema no sofá


Fonte: Marktest. Top 10 Filmes mais vistos na TV em 2004

Em 2004, em dias de chuva, quiça, foi isto que os portugueses andaram a fazer: ver filmes na TV. É claro que...

Às 21:59 não foram as criancinhas que andaram a ver o Homem-Aranha! E o que é a Velocidade Furiosa!?

Tudo bem, não faço mais comentários! Mas há alternativas... (próximos posts).

22.2.05

Especial Legislativas no sofá


Fonte: Marktest


----------RTP1------TVI------SIC
Aud.M---13.3%----10.5%----8.3%
Share--- 36.0%----27.8%----21.4%

Fonte: Marktest

Na noite das Eleições, os 3 canais generalistas apresentaram emissões em directo. O programa da RTP1 foi o mais longo (5h:30m), seguido do da SIC (4h:30m); a TVI só abriu o directo às 20:00 (e não às 19:00, como os outros canais) e este terminou 4h:11m mais tarde. A RTP1 foi o canal mais visionado, atingindo uma audiência média de 13.3% e 36% de share; foi também quem teve melhor audiência no dia (20.6% de share) e no horário nobre (das 20:00 às 24::00, 35.6% de share). Para tal terá contribuido certamente todo o investimento na produção do programa, como a montagem de um estúdio no Centro Cultural de Belém, e o painel de comentadores que incluia o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

Às 20 horas, os 3 canais apresentaram as primeiras projecções dos resultados. Os portugueses preferiram confiar na RTP1/Univ. Católica (mais de 40% dos espectadores), depois na TVI/Intercampus e em último na SIC/Eurosondagem. Note-se que foi a Intercampus quem mais se aproximou dos resultados finais.

Um pouco antes das 21:30 Francisco Louça fez a sua declaração e RTP1 e TVI têm praticamente o mesmo share; só cerca de 20% dos espectadores assistem à SIC, apesar deste canal ter sido o único a seguir até ao fim as palavras do líder do BE.

A partir das 22h:45m, depois de Jerónimo de Sousa fazer o seu discurso, a RTP começa a perder audiência para os outros canais; a partir daí a TVI estabiliza mas a SIC volta a baixar gradualmente o share, sempre a favor da RTP1. Mas se querem visualizar num gráfico o efeito zapping olhem para o que se passa por volta das 23 horas. Ficamos com a impressão de que é só depois de Paulo Portas falar que os espectadores ficam mais quietos no sofá (cerca das 23:15).

Às 24h:20m, a SIC terminou a emissão em directo, sendo o único canal a não emitir o discurso de Sócrates no Largo do Rato - que ocorre por volta da meia-noite e meia.

A emissão da RTP1 só terminou perto da 1 hora da manhã (24:54) - foi o momento de apanhar ainda o filme da SIC (mais que o da TVI), dar um salto à 2: ou, para a maior parte, de ir dormir.

Algo correu mal ali para os lados de Carnaxide! Nas Legislativas de 10 de Outubro de 1999, em que António Guterres saiu vitorioso, foi a SIC a liderar o share no dia, com 39.5%, e o share no horário nobre (40.8%). Em 2002, enquanto RTP1 e SIC se "gladiavam", a TVI faz uma ascenção surpreendente e lidera as audiências (33.5% share no dia e 35% no horário nobre).

Esta "vitória" da RTP é ainda mais importante porque este share reporta a um número de espectadores nunca alcançado anteriormente numa noite eleitoral: foi ultrapassada a fasquia dos 4 milhões!

14.2.05

O Dia do Escrutinador IV


Dave April

Deixemos de parte as sondagens por um momento e recordemos os resultados eleitorais das últimas 7 eleições legislativas.
A primeira conclusão a que chegamos talvez vos pareça óbvia, mas dada a insatisfação e desmotivação generalizada que se sente no país, acho que merece realce: desde 1987, PS e PSD juntos, totalizam sempre mais de 70% das intenções de votos. Em 2002 os dois partidos reuniram mesmo 78% dos votos. Foi assim que, aos poucos, chegamos a este "modelo":
  • O PS em 1983, com Mário Soares, consegue 36.35% das intenções de voto; o PSD chega aos 27.04%. A coligação APU/CDU/PCP-PEV ainda está próxima dos 20% (18.20%). Forma-se o Bloco Central que vai durar até 1985.
  • Em 1985 há uma "perturbação" com a entrada do PRD (lembram-se da iniciativa de Ramalho Eanes?). O PRD, que chega aos 18.04%, retira votos a todos os partidos, com excepção do PSD. O PS baixa para 20.82%, o PSD sobe ligeiramente para os 29.79%. É o início da era Cavaco Silva.
  • Em 1987 e 1991, o PSD de Cavaco Silva consegue as maiorias absolutas (primeiro com 50.15% e depois com 50.43%). Em 87, o PSD vai buscar esses votos ao PRD (que desce vertiginosamente para 4.93%) e ao CDS (é um ano negro, ficam-se pelos 4.34%); o PS quase não se altera (22.30%). Em 1991, o PS sobe para 29.25% à custa do voto útil (?) dos comunistas (a CDU nunca mais vai recuperar os eleitores). Pela primeira vez, a abstenção ultrapassa os 30%.
  • Em 1995, temos o confronto entre o PSD de Fernando Nogueira e o PS de António Guterres. Este último sai vencedor com 43.85% das intenções de voto; o PSD baixa para 34.%. E em 1999, em matéria de resultados eleitorais globais, quase não há alteração: 44% versus 32.32%.
  • Finalmente, em 2002, há um inversão nesta balança. Durão Barroso obtém 40.21% dos votos; o PS de Ferro Rodrigues, 37.79%.
Segunda conclusão: nos últimos actos eleitorais (e vai manter-se) a vitória eleitoral depende fundamentalmente da alternância de voto que se faz entre o eleitorado flutuante do PSD e do PS. Pelo que, para efeito de estudo, uma boa pergunta a fazer é se os eleitores votam sempre (ou não) no mesmo partido. Tendo uma ideia da percentagem de eleitorado fixo em cada partido, saberíamos quantos dos 40.21% que votaram PSD ou dos 37.79% que votaram PS estão seguros e, ao mesmo tempo, quantos correm o risco de flutuar (é claro, sempre com uma margem de erro). Seria mais uma variável a considerar nas previsões eleitorais (os partidos políticos têm certamente esses dados; nos media não me recordo de ver esses números em discussão).
Terceira conclusão: as eleições de 1987 foram as últimas em que um terceiro partido chegou aos 2 digitos - CDU/APU, com 12.18%.
  • A partir daí a CDU veio sempre a descer instalando-se na casa dos 8.84% e 8.61% em 91 e 95, subindo muito ligeiramente para 9.02% em 99, para logo voltar a baixar bastante: 6.94% em 2002.
  • O CDS começa a descer em 1985 (de 12.38% passa para 9.74%), cai acentuadamente em 87 (4.34%) e 91 (4.38%), recupera em 1995 (9.09%), estabiliza em 1999 e 2002 com 8.38% e 8.72%, respectivamente.
  • O BE chegou aos 2.74% em 2002.
  • Os dados que consultei agregam os votos de todos os outros pequenos partidos com os votos em branco (vá lá, distinguem estes últimos dos votos nulos). De 1983 a 2002, a média deste "bloco" é de 4.35%, mas em 2002 registou-se o mais baixo score de sempre: 2.63% dos votos. José Saramago ainda não tinha lançado o Ensaio sobre a Lucidez!?
Quarta conclusão: a abstenção não cessa de aumentar. Passamos de 21.36% em 1983 para 38.52% em 2002. Foi em 1999 que chegamos à fasquia dos 38%.
É provável que a abstenção venha a aumentar ainda mais nestas eleições de 20 de Fevereiro. Voltemos agora às sondagens. Parece certo que vamos continuar seguindo a via dos dois grandes partidos a aglutinar mais de 70% dos votos. Nas últimas sondagens da Eurosondagem ou da Aximage, PS e PSD, juntos, ultrapassam sempre os 75%. Com ou sem maioria absoluta. E tudo indica que as variações dos scores eleitorais dos outros partidos, CDS, CDU e BE não serão maiores (para mais ou para menos) que 2%.
Para o BE, por exemplo, essa variação seria muito significativa. Para o CDS, poderia significar chegar aos tais 2 digitos e Paulo Portas tiraria daí grandes dividendos (as sondagens não apontam nesse sentido). Mas no conjunto, não estamos de todo na eminência de uma profunda alteração.
É claro que estou a ser muito simplista porque os aspectos quantitativos, por si só, não nos dão um retrato da realidade. Na verdade, qualquer similute pode ser muito enganosa. Tirem as vossas conclusões.
Eu, chegada ao nível do impressivo, e assumindo toda a subjectividade, confesso que sinto o ar parado, e que é aflitiva esta sensação de estagnação!
[Fonte: Estatísticas STAPE]

8.2.05

O Dia do Escrutinador III


Dave April

Gostaria desde logo de precisar que não é minha intenção denunciar de maneira mecânica e fácil as sondagens de opinião. Se não há dúvida de que as sondagens não são o que se pretende fazer crer, também não são o que se diz quando se pretende dismitificá-las. (...)
A sondagem política é hoje um instrumento de acção política; a sua mais importante função é talvez impor a ilusão de que existe uma opinião pública como somatório puramente aditivo de opiniões individuais; é impor a ideia de que, por exemplo numa sala de aula, existe opiniao pública, algo que seria como a média das opiniões ou a opinião média. A "opinião pública" manifestada nas primeiras páginas dos jornais sob a forma de percentagens (60% dos franceses são favoráveis a...), esta opinião pública é um artefacto puro e simples cuja função é dissimular que o estado da opinião num dado momento do tempo é um sistema de forças e de tensões e que nada é menos adequado para representar o estado da opinião que uma percentagem.
Sabe-se que as relações de força nunca se reduzem às relações de força: todos os exercícios da força são acompanhados por um discurso que visa legitimar a força daquele que a exerce. (...) Para falar simplesmente: o político é o homem que diz "Deus está connosco". O equivalente moderno de "Deus está connosco" é "a opinião pública está connosco".
É este o efeito fundamental da sondagem de opinião: constituir a ideia que existe uma opinião pública unânime para legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundam ou a tornam possível.


[in Pierre Bourdieu, L'Opinion publique n'existe pas, Paris, Les Temps Modernes, Janeiro 1973, pp 1292-1308]

3.2.05

O Dia do Escrutinador


Dave April

Estamos em pleno período de campanha eleitoral pelo que, quase diariamente, ouvimos falar de sondagens de opinião. As sondagens aumentam as audiências dos media, os media investem nelas; os políticos comentam as sondagens, contestam-nas se fôr caso disso, às vezes ameaçam instaurar processos; são matérias que vendem. Depois, os partidos políticos também encomendam sondagens e temos sempre a impressão de que estas lhes são mais favoráveis!?
O que resulta de todo este espectáculo é uma enorme descredibilização das sondagens de opinião, nomeadamente de um dos seus tipos, a sondagem eleitoral.
Não acreditando na hipótese de "construção de resultados" por parte das empresas de estudos de mercado, não posso deixar de admitir que existem problemas de natureza metodológica, por um lado, e relativos à publicação/divulgação das ditas sondagens, por outro. Aquando da última revisão da legislação que enquadra as sondagens e as regras jurídicas em matéria da sua divulgação - definidas pela Lei 10/2000, de 21 de Junho -, vários investigadores de reconhecido mérito foram convidados a dar o seu contributo (teórico) pela AACS.
Note-se que cabe à AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social) o poder de fiscalizar a publicação de sondagens eleitorais. É também a AACS que credencia as entidades que podem realizar estes estudos (segundo os últimos dados, são apenas 13).
Ora lendo esses "contributos", críticos em relação à situação e legislação actuais, ficamos imediatamente esclarecidos sobre as limitações objectivas das actuais sondagens. Chamo a vossa atenção para este documento escrito pela profª Maria Helena Gomes que se centra mais nos aspectos ligados à qualidade da informação estatística, mas onde também podemos aprender a ler de forma crítica a ficha técnica de uma sondagem.

A informação estatística pode ser obtida por vários processos, mas o mais comum é através de inquéritos por amostragem. Um inquérito por amostragem tem várias etapas e em cada uma delas há que ter em conta a qualidade. Desde a definição dos objectivos até à divulgação dos resultados, passando pela definição do universo, pelo dimensionamento da amostra, pelo desenho do questionário, pela qualidade dos entrevistadores, etc. tudo isso contribui para a qualidade da informação estatística a obter.(...) Muitas vezes o erro de amostragem foi calculado para determinada desagregação das variáveis, mas a divulgação da informação é feita a um nível mais desagregado. Neste caso o erro de amostragem é com certeza superior e é possível que resulte não só da dispersão, mas também do enviesamento dos dados.

Apesar dos esforços da APODEMO (Assoc. Portuguesa de Empresas de Estudos de Mercado e de Opinião), nomeadamente através da criação do CODEMO, a verdade é que são poucas as empresas que procuraram certificar-se pela Garantia de Qualidade ISO. Pelo que, mesmo que a qualidade média seja elevada, o sector não criou "defesas" que tranquilizem e esclareçam a opinião pública.
No que diz respeito às sondagens publicadas, tenho reparado também que, na ficha técnica, é frequente haver informações omissas. E, o que me parece grave, nunca é nomeado o técnico responsável pelo estudo. A indicação do nome, e a inerente responsabilização pela comprovação e exactidão dos resultados, eliminaria muitos fantasmas, nomeadamente os do nosso primeiro-ministro.
Termino estas notas, recomendando outra leitura - é o contributo do Prof. Jorge Vala que se centra mais na dimensão institucional das sondagens eleitorais.
Para a análise de todas as sondagens que vão sendo publicadas neste período, já devem conhecer o Margens de Erro.
Em "O dia de um Escrutinador", Italo Calvino fez-nos ver que, mesmo junto à mesa eleitoral, tudo pode acontecer. E aqui não há idiotas mas a verdade é que os eleitores indecisos ou pouco convencidos são sensíveis às sondagens eleitorais. Elas podem levar ao voto útil (ou inútil). e há estudos que indicam que este tipo de eleitor também prefere apoiar o partido que é dado como vencedor. Já percebem a raiva do ministro?

7.1.05

Réplicas nas grelhas televisivas


Ilha Phi Phi

As televisões informaram o mundo. que constatou a enormidade da catástrofe na Ásia. E depois, sobreinformou. Entre o dia 26 de Dezembro de 2004 e o dia 2 de Janeiro de 2005, o tsunami motivou 988 notícias nos serviços informativos regulares dos quatro canais portugueses. Segundo dados da MediaMonitor/Marktest, nestes 8 dias, 48.8% das peças emitidas estavam relacionadas com o tsunami. Somando as notícias de todos os canais, temos uma média de 124 peças por dia - 124 marteladas! já que as peças eram muitas vezes repetidas.
A SIC foi a estação que mais noticiou sobre este tema - que representou 65.8% da sua grelha informativa regular. O canal passou 335 notícias sobre a catástrofe (dá uma média de quase 42 notícias por dia!). Corresponde a 11:09 horas de informação sobre o tsunami num total de 16:57 horas de notícias.
Na TVI passaram 303 notícias, que corresponderam a 10:29 horas de tsunami num total de 17:00 horas de informação.
A RTP passou 228 peças sobre o tsunami com a duração total de 8:22 horas em 19:44 horas de informação.
A 2: dedicou ao acontecimento 122 peças informativas por um período de 3:27 horas (em 6:40 de noticiários). Com cerca de 52% da grelha dedicada a este tema, foi a que menos insistiu na tragédia!
E por que se batiam as estações televisivas? Pelas audiências, pois claro. Ou não vivessem delas! Mas perderam qualquer noção de equilíbrio! A grande vencedora foi a SIC: o canal atraiu 38.0% do total da informação vista sobre este tema; seguem-se a TVI, com 32.9% de visibilidade, a RTP (27.5%) e a 2: (1.7%).
A todas agradecemos a possibilidade de, em directo, poder assistir à aplicação do princípio de informação por mono-temas sequenciais. Para ficarmos a saber o que não queremos mais!

14.12.04

Um olhar à nossa volta

Enterneço-me como uma adolescente com pequenos registos de amor ou saudade ou simplesmente de curiosidade em relação ao meu país. Há 10 anos, em Praga, numa pequena loja de discos, um sujeito com pouco mais de vinte anos veio ter comigo porque queria que eu soubesse que ele andava a aprender a minha língua. numa escola? não tenho dinheiro para isso, comprei umas cassetes e todas as manhãs faço exercícios de português. gosto muito de Portugal. porquê? porque é um pequeno país como o nosso que tem uma grande história e fica no extremo da Europa. Ah! ainda hoje o imagino no seu apartamento pequenino a repetir, com aquele sotaque que até era bonito, o que a voz portuguesa ditava, "co-mo te cha-mas?"...
Anos mais tarde, sozinha nas ruas de Bath, comecei a ouvir uma melodia que me parecia familiar. seria possível encontrar ali Dulce Pontes? segui a música até a encontrar num bar quase vazio ao pé das termas romanas. sentei-me ao balcão e pedi uma bebida qualquer enquanto cantarolava com a Dulce. o empregado anglosaxónico não podia perceber a minha emoção. foi o boss que comprou o CD já há algum tempo. Grrr!
Será este sentimento tão provinciano, próprio dos cidadãos dos países (ou fragmentos de países) periféricos, mas tão espontâneo e natural e invasor e doce, o mesmo que nos leva a decorar janelas com bandeiras nacionais em épocas de campeonatos de futebol? ou o futebol tem razões que o meu coração desconhece?
O futebol gera as suas próprias emoções, é claro. Mas como explicamos que, no passado domingo, o minuto mais televisionado tenha ocorrido às 13 horas em ponto? era o momento dos penaltis e nesse minuto os colombianos cometeram o segundo erro (depois aproveitado por Pedro Emanuel). Segundo a Marktest, a audiência desse minuto foi de 2 101 800 espectadores. todos com os olhos postos no écran.
Mais de dois milhões! De todos os partidos, credos ou clubes desportivos. que poder!
Face à grandeza dos números pareceu-me ainda maior a responsabilidade daqueles que investigam e julgam processos como aquele em que Pinto da Costa estará envolvido.
Mas esses milhões que suspenderam as suas vidas entre as 10:08 e as 13:02 de domingo, fizeram-no pelo país ou pelos volteios do jogo? as duas coisas? que poderosa mistura!
(mais de dois milhões! é ópio.
P.S.: o título deste post foi roubado a um livro do António Alçada Baptista