I.
Amanhã vou fazer um lanche-festa cá em casa para as minhas filhas e algumas amigas, todas com 5-6 anos. Este hábito de fazer pequenas festas começou porque ninguém nos conhecia quando chegámos a Aveiro e por isso elas raramente eram convidadas para os aniversários dos coleguinhas! Um dia cheguei ao infantário e percebi que a turma estava reduzida a meia dúzia de miúdos porque a Margarida fazia anos e mamã, ela não me convidou para a festa dela. Nas grandes cidades há uma situação de igualdade à partida, garantida pelo facto de ninguém conhecer ninguém. Nas pequenas cidades, facilmente se encontra o filho da amiga de infância, do vizinho, do colega de trabalho, no mesmo infantário, e priveligia-se esse relacionamento. Vai daí, e irritada com a situação, comecei eu a fazer festas, inventando motivos, para que os pais dos amigos delas nos conhecessem (e deixassem de recear o que quer que fosse), e elas tivessem a oportunidade de criar mais facilmente laços de amizade com todos. E assim, sem me aperceber, acabei por criar uma espécie de hábito naquela escola. É que os miúdos gostaram tanto das festas temáticas que começaram a pedir o mesmo aos pais. Agora até é demais! Não há semana sem um convite e, sem qualquer dúvida, elas têm uma vida social bastante mais agitada que a minha! Dissolvidas as resistências iniciais, a estranheza face aos "paraquedistas" aveirenses, acho mesmo que elas ficam a ganhar por viver numa pequena comunidade.
II.
Para que as crianças possam andar mascaradas mais um dia, o que as diverte imenso, costumo fazer uma festa na altura do Carnaval. O ano passado, já mais crescidas, elas e as amigas trocaram os disfarces, inventaram peças de teatro e durante toda a tarde andaram tão felizes que foi mesmo um prazer assistir a tudo. Este ano foi-me impossível organizar a festa nessa altura (chamo festa a um lanche colorido!). Foi por isso que tivémos de inventar outro pretexto para o encontro. E assim, a festa de amanhã vai ser dedicada ao Dia Internacional da Mulher.
III.
Como explicar o que é o Dia Internacional da Mulher a meninas de 5 (quase 6) anos? Pois, é um desafio engraçado. Percebi que elas não tinham nenhuma noção do que era a desigualdade entre sexos (era o que mais faltava!). A única coisa que tinham percebido era que, normalmente, os homens são maiores que as mulheres, e, consequência natural, têm mais força física. Bem, na primeira semana de Março de 2006, as minhas filhas foram iniciadas na História das Lutas Feministas.
IV.
Pareceu-me mais simples começar pelas sufragistas. Houve eleições há pouco tempo em Portugal, elas foram ver as assembleias de votos e as cabines (onde não puderam entrar porque o voto é secreto, e por isso eu contei-lhes um segredo muito importante quando lhes disse quem tinha escolhido para Presidente da República - segredo que uma soube guardar e que a outra espalhou a quatro ventos). Acho que com essa informação começaram a compreender qualquer coisa. Afinal, a ideia de elas próprias não poderem votar por terem apenas cinco anos já lhes parece uma enorme injustiça!
E depois contei-lhes o episódio-metáfora dos movimentos feministas nos anos 60, a queima dos soutiens. Mas com essa ficaram confusas. É que se há peça que adorem, é o seu único e espantoso soutien azul. Fizeram um sorrisinho como quem pensa que essas eram malucas.
V.
Um pouco perdida, decidi ir à net, fazer umas pesquisas, encontrar até umas fotos de mulheres famosas. Uma das actividades previstas para amanhã é também a feitura de um cartaz com colagens sobre o tema. Pois bem, vou ao Google e pesquiso "mulheres famosas": primeira resposta: Fotos de Mulheres Famosas Portuguesas Nuas; segunda resposta: Sexo: Mulheres Famosas Nuas; terceira resposta: Fotos das Mais Belas Mulheres Famosas do Brasil Nuas. Tento ser mais precisa e pesquiso "feministas famosas +Portugal", está melhor, mas não é por esta via que vou encontrar imagens para recortarem.
VI.
Decidi não lhes falar já da situação das mulheres no Islão, acho este tipo de imagens muito forte e redutor, mesmo se real. Vou centrar-me no Portugal do antes 25 de Abril. A ideia de que a avó tinha que pedir autorização ao avô para andar de avião ou para comprar um carro é capaz de bastar para uma introdução ao tema. O Portugal pós 25 de Abril também daria bons (maus) exemplos (níveis salariais, violência doméstica, taxa de ocupação com tarefas domésticas, atitude face ao aborto, ainda visto como uma questão feminina, etc.) mas eu quero que elas cresçam optimistas.
VII
Depois digo-vos como correu a festa e prometo editar uma foto do cartaz que as meninas vão criar.
VIII
Como reproduzir modelos? Uma vez que tenho que restringir o número de crianças (a regra agora é que a turma inteira só é convidada para os aniversários), tento sempre arranjar um critério de selecção mais ou menos objectivo. Normalmente são os meninos e meninas da "mesa" delas, ou seja, os que têm a mesma idade. Desta vez, e para conseguir incluir umas meninas mais pequeninas que elas adoram, porque é o Dia Internacional da Mulher, só vêm raparigas. Está mal, eu sei, mas ser sempre coerente é muito difícil!
Amanhã vou fazer um lanche-festa cá em casa para as minhas filhas e algumas amigas, todas com 5-6 anos. Este hábito de fazer pequenas festas começou porque ninguém nos conhecia quando chegámos a Aveiro e por isso elas raramente eram convidadas para os aniversários dos coleguinhas! Um dia cheguei ao infantário e percebi que a turma estava reduzida a meia dúzia de miúdos porque a Margarida fazia anos e mamã, ela não me convidou para a festa dela. Nas grandes cidades há uma situação de igualdade à partida, garantida pelo facto de ninguém conhecer ninguém. Nas pequenas cidades, facilmente se encontra o filho da amiga de infância, do vizinho, do colega de trabalho, no mesmo infantário, e priveligia-se esse relacionamento. Vai daí, e irritada com a situação, comecei eu a fazer festas, inventando motivos, para que os pais dos amigos delas nos conhecessem (e deixassem de recear o que quer que fosse), e elas tivessem a oportunidade de criar mais facilmente laços de amizade com todos. E assim, sem me aperceber, acabei por criar uma espécie de hábito naquela escola. É que os miúdos gostaram tanto das festas temáticas que começaram a pedir o mesmo aos pais. Agora até é demais! Não há semana sem um convite e, sem qualquer dúvida, elas têm uma vida social bastante mais agitada que a minha! Dissolvidas as resistências iniciais, a estranheza face aos "paraquedistas" aveirenses, acho mesmo que elas ficam a ganhar por viver numa pequena comunidade.
II.
Para que as crianças possam andar mascaradas mais um dia, o que as diverte imenso, costumo fazer uma festa na altura do Carnaval. O ano passado, já mais crescidas, elas e as amigas trocaram os disfarces, inventaram peças de teatro e durante toda a tarde andaram tão felizes que foi mesmo um prazer assistir a tudo. Este ano foi-me impossível organizar a festa nessa altura (chamo festa a um lanche colorido!). Foi por isso que tivémos de inventar outro pretexto para o encontro. E assim, a festa de amanhã vai ser dedicada ao Dia Internacional da Mulher.
III.
Como explicar o que é o Dia Internacional da Mulher a meninas de 5 (quase 6) anos? Pois, é um desafio engraçado. Percebi que elas não tinham nenhuma noção do que era a desigualdade entre sexos (era o que mais faltava!). A única coisa que tinham percebido era que, normalmente, os homens são maiores que as mulheres, e, consequência natural, têm mais força física. Bem, na primeira semana de Março de 2006, as minhas filhas foram iniciadas na História das Lutas Feministas.
IV.
Pareceu-me mais simples começar pelas sufragistas. Houve eleições há pouco tempo em Portugal, elas foram ver as assembleias de votos e as cabines (onde não puderam entrar porque o voto é secreto, e por isso eu contei-lhes um segredo muito importante quando lhes disse quem tinha escolhido para Presidente da República - segredo que uma soube guardar e que a outra espalhou a quatro ventos). Acho que com essa informação começaram a compreender qualquer coisa. Afinal, a ideia de elas próprias não poderem votar por terem apenas cinco anos já lhes parece uma enorme injustiça!
E depois contei-lhes o episódio-metáfora dos movimentos feministas nos anos 60, a queima dos soutiens. Mas com essa ficaram confusas. É que se há peça que adorem, é o seu único e espantoso soutien azul. Fizeram um sorrisinho como quem pensa que essas eram malucas.
V.
Um pouco perdida, decidi ir à net, fazer umas pesquisas, encontrar até umas fotos de mulheres famosas. Uma das actividades previstas para amanhã é também a feitura de um cartaz com colagens sobre o tema. Pois bem, vou ao Google e pesquiso "mulheres famosas": primeira resposta: Fotos de Mulheres Famosas Portuguesas Nuas; segunda resposta: Sexo: Mulheres Famosas Nuas; terceira resposta: Fotos das Mais Belas Mulheres Famosas do Brasil Nuas. Tento ser mais precisa e pesquiso "feministas famosas +Portugal", está melhor, mas não é por esta via que vou encontrar imagens para recortarem.
VI.
Decidi não lhes falar já da situação das mulheres no Islão, acho este tipo de imagens muito forte e redutor, mesmo se real. Vou centrar-me no Portugal do antes 25 de Abril. A ideia de que a avó tinha que pedir autorização ao avô para andar de avião ou para comprar um carro é capaz de bastar para uma introdução ao tema. O Portugal pós 25 de Abril também daria bons (maus) exemplos (níveis salariais, violência doméstica, taxa de ocupação com tarefas domésticas, atitude face ao aborto, ainda visto como uma questão feminina, etc.) mas eu quero que elas cresçam optimistas.
VII
Depois digo-vos como correu a festa e prometo editar uma foto do cartaz que as meninas vão criar.
VIII
Como reproduzir modelos? Uma vez que tenho que restringir o número de crianças (a regra agora é que a turma inteira só é convidada para os aniversários), tento sempre arranjar um critério de selecção mais ou menos objectivo. Normalmente são os meninos e meninas da "mesa" delas, ou seja, os que têm a mesma idade. Desta vez, e para conseguir incluir umas meninas mais pequeninas que elas adoram, porque é o Dia Internacional da Mulher, só vêm raparigas. Está mal, eu sei, mas ser sempre coerente é muito difícil!
Sem comentários:
Enviar um comentário