Era um escritor famoso. Quando alguém com ambições na escrita se aproximava com a intenção de lhe deixar um manuscrito para que o lesse e avaliasse, ele respondia: não, muito obrigado!
… … …
Mas porquê?
Nada se passa sem que um porquê esteja a servir de pano de fundo…
… … …
Pois bem, a Mariazinha, mulher de uns quarenta anos, anafada e de faces sempre ruborizadas, muito atarefada nas suas lides domésticas após o regresso do escritório, onde trabalhava como ajudante de contabilidade, apaixonou-se pelo jovem paquete do escritório e porque ele era mesmo mais jovem, não disse nada, mas foi escrevendo e reescrevendo textozitos e poesias que ia guardando no fundo da gaveta das cópias das facturas pró-forma…
O mocetão despediu-se alguns anos depois, porque entretanto era estagiário num escritório de advogados, onde ficaria posteriormente, depois de ter o “canudo” na mão… e a Mariazinha, com a gaveta atulhada de manuscritos, resolveu empacotá-los e levá-los para casa, para chorar a reler a desdita do seu amor frustrado…
Nas férias do ano seguinte, uma prima da Madeira, que vinha dos Estados Unidos para matar saudades da família, deu por acaso com o pacote dos escritos da Mariazinha e vai de lê-los de fio a pavio e achou que eram uma obra de arte escrita…
Desculpando-se pela bisbilhotice, foi dizendo à Mariazinha que deveria publicar tudo aquilo, pois era um dó não serem lidos textos tão românticos… dignos de um qualquer bom escritor…
Ora aqui o nosso amigo escritor entra na história.
Reginaldo, homem famoso pela escrita, de livros publicados e premiados, vivia na mesma rua, uns quarteirões abaixo e era cliente do mesmo talho que a Mariazinha. Era conhecido pelo filantropo e poucos já o haviam ouvido a falar, pois era homem de poucas palavras…Depois ainda ficou mais acabrunhado e sempre com um “não” pronto a sair da sua boca, sempre que via um qualquer papel estendido em sua direcção…
Pois em conversa de balcão, enquanto esperavam ser aviados, a Mariazinha meteu conversa com o afamado escritor, pedindo-lhe um grande favor. Primeiro, o solicito cavalheiro, foi todo atenções e foi dizendo que estava ao dispor para o que fosse necessário…mal sabia que eram os escritos da Mariazinha…
Passados dois dias, de pacote debaixo do braço, a nossa heroína foi ter com o escritor e deu-lhe a sua preciosidade…
O Reginaldo, no sossego da sua casa leu algumas folhas e ficou triste. Como haveria ele de dizer àquela mulher de rosto bonacheirão que o que escrevera apenas poderia dizer respeito a um tal Francisco? Mas, encheu-se de coragem e deixou no talho um recadinho, dizendo que a Dona Mariazinha deveria ir falar com ele no Café da esquina, ao fim da tarde.
Meu dito e meu feito. À hora combinada, ambos sentados em frente a uma mesa redonda do dito café e com o embrulho dos papéis entre as duas chávenas de descafeinado, trocaram algumas simples palavras. A Mariazinha de agradecimentos múltiplos e ele, muito embuchado, dizia que ela deveria continuar a escrever, melhorando sempre, para poder vir a ser publicada a sua obra…
Mariazinha, gorducha, bonacheirona e de faces ruborizadas, percebeu logo o que o escritor queria dizer e agradecendo sempre, levantou-se e foi para casa.
Quando Reginaldo voltou ao talho uns dias depois, para comprar o seu bifezinho picado, recebeu a notícia da morte trágica de Mariazinha… Foi um duro golpe!
Pois a verdade é que aquela mulher, que vivera sempre de sonhos irrealizáveis, não resistira a mais um e pusera termo à vida vazia e desiludida, com uma dose de comprimidos para dormir, que vinha tomando desde que o seu apaixonado saíra lá do escritório.
O Reginaldo, escritor afamado, que também escrevera durante décadas e que também havia escondido a sua obra, nunca lhe passara pela cabeça que ao entrar na ribalta, havia de causar tamanho desgosto em alguém… por isso, a partir dessa data, nunca mais aceitou opinar fosse sobre o que fosse, escrito fosse por quem fosse…
Joaninha
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Mas porquê?
Nada se passa sem que um porquê esteja a servir de pano de fundo…
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Pois bem, a Mariazinha, mulher de uns quarenta anos, anafada e de faces sempre ruborizadas, muito atarefada nas suas lides domésticas após o regresso do escritório, onde trabalhava como ajudante de contabilidade, apaixonou-se pelo jovem paquete do escritório e porque ele era mesmo mais jovem, não disse nada, mas foi escrevendo e reescrevendo textozitos e poesias que ia guardando no fundo da gaveta das cópias das facturas pró-forma…
O mocetão despediu-se alguns anos depois, porque entretanto era estagiário num escritório de advogados, onde ficaria posteriormente, depois de ter o “canudo” na mão… e a Mariazinha, com a gaveta atulhada de manuscritos, resolveu empacotá-los e levá-los para casa, para chorar a reler a desdita do seu amor frustrado…
Nas férias do ano seguinte, uma prima da Madeira, que vinha dos Estados Unidos para matar saudades da família, deu por acaso com o pacote dos escritos da Mariazinha e vai de lê-los de fio a pavio e achou que eram uma obra de arte escrita…
Desculpando-se pela bisbilhotice, foi dizendo à Mariazinha que deveria publicar tudo aquilo, pois era um dó não serem lidos textos tão românticos… dignos de um qualquer bom escritor…
Ora aqui o nosso amigo escritor entra na história.
Reginaldo, homem famoso pela escrita, de livros publicados e premiados, vivia na mesma rua, uns quarteirões abaixo e era cliente do mesmo talho que a Mariazinha. Era conhecido pelo filantropo e poucos já o haviam ouvido a falar, pois era homem de poucas palavras…Depois ainda ficou mais acabrunhado e sempre com um “não” pronto a sair da sua boca, sempre que via um qualquer papel estendido em sua direcção…
Pois em conversa de balcão, enquanto esperavam ser aviados, a Mariazinha meteu conversa com o afamado escritor, pedindo-lhe um grande favor. Primeiro, o solicito cavalheiro, foi todo atenções e foi dizendo que estava ao dispor para o que fosse necessário…mal sabia que eram os escritos da Mariazinha…
Passados dois dias, de pacote debaixo do braço, a nossa heroína foi ter com o escritor e deu-lhe a sua preciosidade…
O Reginaldo, no sossego da sua casa leu algumas folhas e ficou triste. Como haveria ele de dizer àquela mulher de rosto bonacheirão que o que escrevera apenas poderia dizer respeito a um tal Francisco? Mas, encheu-se de coragem e deixou no talho um recadinho, dizendo que a Dona Mariazinha deveria ir falar com ele no Café da esquina, ao fim da tarde.
Meu dito e meu feito. À hora combinada, ambos sentados em frente a uma mesa redonda do dito café e com o embrulho dos papéis entre as duas chávenas de descafeinado, trocaram algumas simples palavras. A Mariazinha de agradecimentos múltiplos e ele, muito embuchado, dizia que ela deveria continuar a escrever, melhorando sempre, para poder vir a ser publicada a sua obra…
Mariazinha, gorducha, bonacheirona e de faces ruborizadas, percebeu logo o que o escritor queria dizer e agradecendo sempre, levantou-se e foi para casa.
Quando Reginaldo voltou ao talho uns dias depois, para comprar o seu bifezinho picado, recebeu a notícia da morte trágica de Mariazinha… Foi um duro golpe!
Pois a verdade é que aquela mulher, que vivera sempre de sonhos irrealizáveis, não resistira a mais um e pusera termo à vida vazia e desiludida, com uma dose de comprimidos para dormir, que vinha tomando desde que o seu apaixonado saíra lá do escritório.
O Reginaldo, escritor afamado, que também escrevera durante décadas e que também havia escondido a sua obra, nunca lhe passara pela cabeça que ao entrar na ribalta, havia de causar tamanho desgosto em alguém… por isso, a partir dessa data, nunca mais aceitou opinar fosse sobre o que fosse, escrito fosse por quem fosse…
Joaninha
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