Joris Van Daele
Em casa da minha avó todos se sentavam à mesma mesa. Não havia patrões e empregados, adultos e crianças, homens e mulheres. Havia todos à mesa! porque todos trabalhavam.
Eu era a mais nova e tinha um estatuto um bocado diferente porque também estudava e era provável que continuasse a estudar por muito tempo.
Pelo menos era assim que eu sentia que o Narciso pensava.
O Narciso tinha os olhos bonitos verdes bonitos mais do que eu jamais vira e no Verão tirava a camisola e ficava em tronco nú. Era tímido e baixava muitas vezes os olhos quando falava. Amava-me e amava-o. Em surdina. Contra todas as barreiras sociais dramas injustiças azares misérias que inventava. Os olhares meios largos fugidios intensos e ternos davam-nos certezas.
Para poder estar com ele interessei-me por cimento areia água enxada, como fazer um círculo no meio e ir misturando os ingredientes da massa que colava os tijolos nos muros que era necessário construir por ali, galinheiro curral eira pátio quintal e fim do quintal e o outro terreno.
E depois íamos trocando palavras, cautelosamente. Ovídio poeira menina não se suje entrei na desfolhada saiu-lhe o milho-rei? uvas e ramadas vinho americano a massa tem água a mais já me distraí! vou buscar bebidas. Um dia ele pediu-me que o ensinasse a falar francês. A irmã, que tinha ido apanhar laranjas para a Bélgica, acabara colhendo noivo e bilhete de ida sem volta. E o Narciso queria fazer boa figura no casório. Je suis Nicole Robert le chien Patapouf comment allez vous merci na pas de quoi.
Lições de cimento e de francês. que duraram algumas semanas. Só isso. mas nunca mais me esqueci.
Em casa da minha avó todos se sentavam à mesma mesa. Não havia patrões e empregados, adultos e crianças, homens e mulheres. Havia todos à mesa! porque todos trabalhavam.
Eu era a mais nova e tinha um estatuto um bocado diferente porque também estudava e era provável que continuasse a estudar por muito tempo.
Pelo menos era assim que eu sentia que o Narciso pensava.
O Narciso tinha os olhos bonitos verdes bonitos mais do que eu jamais vira e no Verão tirava a camisola e ficava em tronco nú. Era tímido e baixava muitas vezes os olhos quando falava. Amava-me e amava-o. Em surdina. Contra todas as barreiras sociais dramas injustiças azares misérias que inventava. Os olhares meios largos fugidios intensos e ternos davam-nos certezas.
Para poder estar com ele interessei-me por cimento areia água enxada, como fazer um círculo no meio e ir misturando os ingredientes da massa que colava os tijolos nos muros que era necessário construir por ali, galinheiro curral eira pátio quintal e fim do quintal e o outro terreno.
E depois íamos trocando palavras, cautelosamente. Ovídio poeira menina não se suje entrei na desfolhada saiu-lhe o milho-rei? uvas e ramadas vinho americano a massa tem água a mais já me distraí! vou buscar bebidas. Um dia ele pediu-me que o ensinasse a falar francês. A irmã, que tinha ido apanhar laranjas para a Bélgica, acabara colhendo noivo e bilhete de ida sem volta. E o Narciso queria fazer boa figura no casório. Je suis Nicole Robert le chien Patapouf comment allez vous merci na pas de quoi.
Lições de cimento e de francês. que duraram algumas semanas. Só isso. mas nunca mais me esqueci.
1 comentário:
História bonita pra caraças.
Lembra-me algumas minhas histórias da adolescência.
De facto, nunca mais se esquece.
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