21.3.05

Contra Divas: Chorar em casamentos


Theo Jennissen

Não chorei no dia do meu casamento. mas chorei no dia em que todas as minhas amigas se casaram. Não sei bem como, mas de repente sou invadida por uma enorme emoção. A constância da reacção fez-me perceber que as lágrimas não nascem das circunstâncias particulares de cada romance. É algo que se forma ali e que pode começar com a minha fixação num pormenor - o cuidado no penteado, o estilo romântico do vestido, o pressentimento de um qualquer nervosismo ou de uma enorme alegria, um olhar sério ou terno. tanto faz.

Devo dizer-vos que escrevo, ainda embalada pelo Sideways. O casamento é, nesse filme, um princípio de script, um pretexto. Mas fixei o momento em que os dois amigos se entreolham, um como noivo, o outro como testemunha. Dada a carga simbólica do rito, testemunhar o casamento de uma amiga, faz com que a coloque no centro de um filme. O meu olhar é maternal e cúmplice. De repente estou a vê-la crescer, invento uma versão da sua história pessoal e talvez chore porque naquele momento ela tem certezas. e por todas as incertezas.

Nesse filme, de Alexandre Payne, as noivas são colos. colos, abrigos, mães, o amor que se quer incondicional. que salva os homens. Os dois protagonistas fecham portas, que afinal já estão fechadas, para abrir outras, que têm de aprender a abrir. Os papeis femininos/masculinos podiam ser trocados (ou não). Eles são quarentões. Chegaram à idade da razão, conhecem a certeza da imperfeição, das nossas terríveis limitações, do tempo que já passou, e ainda o medo de pertencer e de perder, misturados. Mas sempre a esperança de tudo o que a vida nos pode dar, perdidos a sonhar, iludindo o fracasso com sensações de conquista e orgasmos ("mas não percebes a minha luta"). ou mergulhando em ternura.
Escolhas aparentemente diferentes.

No dia do casamento todos parecemos crianças. prometemos responsabilidade, fidelidade, lealdade, amar em todas as circunstâncias. dizemos Sim a tudo. Participando nesse Sim absoluto, no espírito de toda a comunidade está o desejo e a crença de que aqueles dois vão ser felizes. E não imagino o mundo sem esse ideal.

Chorar porque às vezes não vão ser felizes, porque às vezes vão mesmo ser muito infelizes. É patético. É chorar a vida. Por isso esta comoção é insensata.

(desconcerto: se a aliança cair, o padre gaguejar, o noivo pisar a noiva, o altar começar a arder, alguém praguejar, uma solista desafinar..., de volta à realidade, ao que é contingente, posso ter um ataque de riso!?)
(acerto: desejo a todos a memória de um dia feliz de casamento)
(sideways: o mais importante são os dias e anos que se seguem)

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