Paul RappA guerra, a orfandade, a fome, o medo, fazem crescer a sombra. Distorção que ilude. Estes guerreiros são crianças.
Num distrito do norte do Uganda (Lira), em Fevereiro de 2004, o LRA (Exército de Libertação do Senhor) levou a cabo uma matança num campo de refugiados (Abia). Morreram 80 pessoas às mãos destes rebeldes. O grupo atacante era maioritariamente composto por crianças-soldado. Uma das bases do LRA é no Sudão e calcula-se que seja aí que se encontra o seu fundador, Joseph Kony. O LRA utiliza crianças recrutadas à força e obriga-as a combater. Não se conhecem os métodos utilizados para as levar a cometer estas atrocidades. O governo sudanês deu apoio e armou este movimento anti-ugandense. O objectivo era a deposição do Presidente Yoweri Museveni que, por seu lado, durante anos, apoiara o Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA).
É possível que sejam utilizados métodos de hipnose colectiva. Em Serra Leoa, a Frente Unida Revolucionária (RUF) fundada por Foday Sankoh tinha por hábito drogar as crianças-soldado.
Muito recentemente, a 10 de Janeiro, o líder do SPLA, John Garang e o governo de Cartum (Sudão) assinaram um acordo de paz que poderá pôr fim a uma guerra civil que durou 21 anos. Relativamente a Serra Leoa, em Junho de 2004, um tribunal especial (sediado em Freetown), criado para julgar os crimes cometidos durante a guerra civil, levou pela primeira vez a julgamento o recrutamento de crianças-soldado.
Em África são vários os países onde o recrutamento/sequestro de crianças-soldado se tornou frequente: Costa do Marfim, Gana, Guiné, Libéria, Nigéria, República Democrática do Congo, Serra Leoa. A Unicef e o Cicv, bem como várias associações humanitárias e religiosas tentam combater esta prática. É necessário acolher essas crianças, escolarizá-las, reintegrá-las. Como puderem ler (link Unicef), no início deste ano, a Unicef terá convencido os chefes rebeldes dos conflitos do Sudão, RD do Congo e Serra Leoa a desmobilizar as crianças-soldado. Porém, na Libéria, mesmo as crianças que entregaram as armas não encontraram sempre estruturas que as acolhessem.
Angola é um país onde se calcula que mais de 11000 crianças estiveram envolvidas directamente no conflito armado (enquadrando forças governamentais e da Unita). Neste momento, o esforço vai no sentido de as reintegrar. Mas a situação não está ultrapassada, como poderão constatar neste relatório da Embaixada americana em Angola.
No Afeganistão, em Dezembro de 2004, 4000 crianças teriam sido desmobilizadas. Reintegração é mais uma vez a palavra-chave.
Chegamos agora à Ásia e a Myanmar, ex-Birmânia. É o país que terá o maior número de crianças-soldado do mundo. A crer nesta fonte, são mais de 75000.
Esta tragédia parece atravessar o planeta. Também existem crianças envolvidas em grupos armados em regiões que não estão em guerra, por exemplo no Brasil.
Estes dados soltos têm um único objectivo. chamar a atenção para uma realidade sobre a qual raramente se fala. Ahamadou Kourouma teve essa coragem.
"Petit Birahima, dis-moi tout,
dis-moi tout ce que tu as vu et fait;
dis-moi comment tout ça s'est passé."