16.6.12

Incompreensão inteligente



Lembrei-me de mim, com 18, 20 anos. Muita curiosidade por tudo e, não sei se era armanço, mas havia avidez. Uma vez fui ver O Público, peça de Garcia Lorca, no Teatro da Cornucópia (encenação de Luís Miguel Cintra). Não estava a perceber patavina mas olhava à minha volta e todos pareciam seguros de uma particular compreensão. Eu começava a gostar de uma personagem e ela desaparecia. Fixava os movimentos dos actores. Lembro-me com nitidez do rosto do LMC iluminado de-baixo-para-cima. Daria uma bela fotografia. Mas qual o sentido daquela fala? Perguntei à minha amiga: "estás a perceber?" - Ela respondeu-me simplesmente: "não". Depois a peça acabou e fui ler as críticas da imprensa fixadas nas paredes do Teatro. O conceito do teatro egoísta de Lorca. O surrealismo a centrar o teatro em si mesmo. Queriam lá saber do público e da sua necessidadezinha de entender tudo! Fiquei mais tranquila. Fui tão bom público daquela peça. Quão eficaz o Lorca e o encenador na provocação de uma agitação interior!

Mas outras vezes, só a sensação do bom. e olha, vai ver. ou ouve, ou lê. Não te sei explicar, é bom.

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