MÁRIO DE CESARINY DE VASCONCELOS
1923-2006
Foto: Manuel Luis Cochofel
Série Pessoas, 2004
1923-2006
Foto: Manuel Luis Cochofel
Série Pessoas, 2004
O navio de espelhos
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
(O seu porão traz nada
nada leva à partida)
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
(O seu porão traz nada
nada leva à partida)
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
O Navio de Espelhos, 1965
in A Cidade Queimada
Ed. Assírio & Alvim, 2000
in A Cidade Queimada
Ed. Assírio & Alvim, 2000
Voz de Cesatiny: no álbum Os Poetas - Nós e as Palavras com música de Rodrigo Leão, Gabriel Gomes, Margarida Araújo e Francisco Ribeiro.
3 comentários:
Partiu um dos grandes génios da cultura portuguesa. estamos mais pobres.
Boa tarde, Maria
Boa noite, Unicus! Vi o poema do Cesariny que deixaste, é belíssimo, obrigada.
Muito mais pobres...
Até sempre, Mário!
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