2.8.06

Cuidado com a doçura das coisas

Entretanto, no andar de baixo, na cozinha, Catherine tinha trazido a cadeira para comer um cacho de uvas ao lado do marido.
- Hoje estás com a tua cara larga, hein? - disse ele esticando o queixo.
Catherine ocultou a vontade de rir sob um ar de criança repreendida. Henri tinha reparado que aquela pequena cara de mulher, ainda imprecisa, podia alongar-se ou alargar-se de um dia para o outro, sob o efeito do fígado ou do humor. Pegou nela ao colo, enquanto ela fingia só prestar atenção ao seu cacho de uvas.
- A minha mulher tem três tipos de cara: a cara comprida, a cara larga e... Qual é a terceira, afinal?
Catherine não queria responder. Pretensamente confusa, pestanejava e fazia trejeito de amuo.
- Diz lá qual é a tua terceira cara, franganita.
-... É a minha cara horrorosa, balbuciou Catherine.
Desataram a rir, beijando-se e batendo-se como sempre que ele a obrigava a confessar a existência dessa terceira cara. Acabou tudo num longo beijo, ali, no meio da cozinha, e Catherine transformou-se em hera, com pequenas mãos por todo o lado.
(pp 72)

Sem comentários: