Mostrar mensagens com a etiqueta Helena Botto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Helena Botto. Mostrar todas as mensagens

21.11.08

O ÁLBUM, uma criação de Helena Botto

ATÉ 23 DE NOVEMBRO, 22H

O Álbum é uma criação híbrida que entrecruza os universos da performance, da fotografia, do vídeo, da imagem em tempo real, da música e utilizando como fio dramaturgico condutor alguns fragmentos de textos de Câmara Clara de Roland Barthes e de Crave de Sarah Kane. Há nesta amálgama de linguagens um elemento que as contrapõe: a questão da imobilidade e do devir. Tal como a fotografia, a música, as imagens de vídeo e os textos, não estão sujeitos à mudança e ao desgaste (a menos que deliberadamente neles intervenhamos aposteriori da sua concepção), no entanto o corpo (performance) esse estará irremediavelmente sujeito ao desgaste, à perda, à transformação. É talvez a cruel fatalidade a que não poderemos escapar e sobre a qual nos propomos reflectir.

Um corpo emerge do Álbum da Memória, um espaço constituído por cerca de 2000 fotografias pessoais. Este aglomerado de imagens privadas, constitui aquilo a que se chamou o Álbum da Memória. São fotos de infância misturadas com fotos recentes, fotos de trabalho, fotos de férias, fotos de festas, fotos de pessoas, instantâneos recolhidos à socapa, fotos roubadas de outras pessoas, de outras vidas, outras vidas partilhadas, outras vidas cruzadas.

É então a partir desta mancha de imagens paralizadas, fixadas em papel fotográfico, que todo o processo performativo se vai construindo. Diante da unicidade de uma imagem, há determinados pormenores (o punctum de que nos fala Roland Barthes) de algumas fotos que subjectivamente foram destacados e que provocaram associações psico-fisicas e comportamentos que se foram construindo. Diante da unicidade do Álbum da Memória, houve determinadas fotografias que se destacaram talvez porque tenham causaram uma vertigem temporal, porque remeteram o corpo para um universo de memórias, porque cruelmente afirmaram aquilo que foi e não aquilo que imaginámos ter sido…

Estes pormenores imutáveis de fotografias e estas fotografias imutáveis, estes fragmentos da realidade são destacados e instalados na tela vazia, orgânica e sujeita ao desgaste que é o corpo da performer, este corpo reage através de uma linha de comportamentos também ela fragmentária a estes estímulos, criando e construindo à medida que a performance se desenvolve um novo álbum, talvez ainda mais privado e pessoal, O Álbum Interior.

E porque este novo álbum é corpo (corpo-memória) está ele próprio sujeito ao devir, à transformação, à perda, urge a necessidade de o guardar, de o gravar, talvez numa tentativa cruel (?) de paralização temporal. Um registo fotográfico deste álbum interior vai sendo feito à medida que a performance decorre. Estas novas fotografias impressas originarão um novo álbum, a Memória do Álbum Interior.

Barthes diz-nos, “a fotografia é violenta, não porque mostre violência mas porque nela nada pode recusar-se ou transformar-se”… a paralização e a fragmentação temporal é violenta, sem dúvida a incapacidade do devir é monstruosa… mas o tempo que passa, e as alterações que vamos sofrendo, as pessoas, os momentos, todo um conjunto de inefabilidades que se vão perdendo, e que serão sempre irrecuperáveis, não serão elas ainda mais violentas? O que são as nossas fotografias quotidianas senão o registo de momentos que queremos por alguma razão fixar… não será a perda desses momentos e o seu devir ainda mais violento? Contra argumentando, diriamos que a passagem do tempo, as transformações a que vamos estando sujeitos acabarão por nos trazer outras vivências e por eliminar gradualmente os sentimentos de perda… Quanto à primeira parte de acordo, quanto segunda só posso concordar com Barthes: “(…) o luto com o seu trabalho progressivo elimina lentamente a dor. Eu não podia nem posso acreditar nisso, porque para mim o tempo elimina a emoção da perda (não choro), é tudo. Quanto ao resto, tudo ficou imóvel.”

Helena Botto



Conceito, direcção artística, concepção plástica e instalação espacial, dramaturgia, e performance: Helena Botto
Composição musical original e sonoplastia: João Figueiredo
Captação de imagem e videoplastia: João Raposo
Performers no vídeo: Helena Botto e Pedro Bastos
Texto: fragmentos de “Câmara Clara” de Roland Barthes e de “Crave” de Sarah Kane
Desenho de luz: José Nuno Lima
Operação de luzes: João Teixeira / Hugo Martins
Design: Joana Ivónia /Look Concepts
Produção executiva: Helena Botto / Projecto Transparências – criação de objectos performativos - associação

3.11.07

A Espera


Uma sugestão absurda: ___ ler absurdo, antes de ver absurdo, A Espera, uma criação performativa livremente inspirada em «À Espera de Godot».
Helena Botto e Jorge Neto são Vladimir e Estragon, vagabundos (atletas) subservientes e cegos ao interminável preenchimento do tempo da vida, escravos do peso de carregar os dias como uma espera sem qualquer sentido; e são Pozzo e Lucky, as duas outras personagens, que criam uma forma de jogo (original, nesta peça), na qual se defrontam com igual indiferença e consciência de inutilidade, no espectáculo do servilismo à sua condição (belíssimo, o recurso ao símbolo da gaiola, e o adereço de per se). Bruno Pinho é a música, o circo, a pantomina, e participa também na acção passando desesperados charming days and evenings esperando por Godot. Quem é, o que é Godot? A incerteza ou Deus, a esperança ou o nada, tudo o que nunca aparece a horas certas, ou que nunca veremos, mas que estamos convencidos de que pode aparecer, vai aparecer, vai acontecer, convém não acontecer. Entretanto, (re)pousamos as nossas vidas nos mesmos lugares todos os dias, ou movemo-nos. Porque há sempre uma escolha. Let's Go? Estes performers movem-se___e já
ressuscitaram um Teatro.

VLADIMIR: When I think of it . . . all these years . . . but for me . . . where would you be . . . (Decisively.) You'd be nothing more than a little heap of bones at the present minute, no doubt about it.

(...)
ESTRAGON: Let’s go.
VLADIMIR: We can’t.
ESTRAGON: Why not?
VLADIMIR: We’re waiting for Godot

(...)
VLADIMIR: I felt lonely.
ESTRAGON: I had a dream.
VLADIMIR: Don't tell me!
ESTRAGON: I dreamt that—
VLADIMIR: DON'T TELL ME!
ESTRAGON: (gesture toward the universe). This one is enough for you? (Silence.) It's not nice of you, Didi. Who am I to tell my private nightmares to if I can't tell them to you?
VLADIMIR: Let them remain private. You know I can't bear that.
ESTRAGON: (coldly.) There are times when I wonder if it wouldn't be better for us to part.
VLADIMIR: You wouldn't go far.

(...)
ESTRAGON: Let's hang ourselves immediately!
VLADIMIR: From a bough? (They go towards the tree.) I wouldn't trust it.
ESTRAGON: We can always try.
VLADIMIR: Go ahead.
ESTRAGON: After you.
VLADIMIR: No no, you first.
ESTRAGON: Why me?
VLADIMIR: You're lighter than I am.
ESTRAGON: Just so!
VLADIMIR: I don't understand.
ESTRAGON: Use your intelligence, can't you?
Vladimir uses his intelligence.
VLADIMIR: (finally). I remain in the dark
(...)
VLADIMIR: Well? What do we do?
ESTRAGON: Don't let's do anything. It's safer.
VLADIMIR: Let's wait and see what he says.
ESTRAGON: Who?
VLADIMIR: Godot.
ESTRAGON: Good idea.

(...)
VLADIMIR: One is what one is.
ESTRAGON: No use wriggling.
VLADIMIR: The essential doesn't change.

(...)
POZZO: Ah yes! The night. (He raises his head.) But be a little more attentive, for pity's sake, otherwise we'll never get anywhere. (He looks at the sky.) Look! (All look at the sky except Lucky who is dozing off again. Pozzo jerks the rope.) Will you look at the sky, pig! (Lucky looks at the sky.) Good, that's enough. (They stop looking at the sky.) What is there so extraordinary about it? Qua sky. It is pale and luminous like any sky at this hour of the day. (Pause.) In these latitudes. (Pause.) When the weather is fine. (Lyrical.) An hour ago (he looks at his watch, prosaic) roughly (lyrical) after having poured forth even since (he hesitates, prosaic) say ten o'clock in the morning (lyrical) tirelessly torrents of red and white light it begins to lose its effulgence, to grow pale (gesture of the two hands lapsing by stages) pale, ever a little paler, a little paler until (dramatic pause, ample gesture of the two hands flung wide apart) pppfff! finished! it comes to rest. But– (hand raised in admonition)– but behind this veil of gentleness and peace, night is charging (vibrantly) and will burst upon us (snaps his fingers) pop! like that! (his inspiration leaves him) just when we least expect it. (Silence. Gloomily.) That's how it is on this bitch of an earth.
Long silence.

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let’s go.
They do not move.

(...)
VLADIMIR: Say, I am happy.
ESTRAGON: I am happy.
VLADIMIR: So am I.
ESTRAGON: So am I.
VLADIMIR: We are happy.
ESTRAGON: We are happy. (Silence.) What do we do now, now that we are happy?
VLADIMIR: Wait for Godot. (Estragon groans. Silence.) Things have changed here since yesterday.
ESTRAGON: And if he doesn't come?

(...)
POZZO: I am blind.
Silence.
ESTRAGON: Perhaps he can see into the future

(...)
ESTRAGON: We always find something, eh Didi, to give us the impressione we exist?

(...)
VLADIMIR: Well? Shall we go?
ESTRAGON: Yes, let's go.
They do not move.


A Espera vai voltar a acontecer nos dias 8, 9 e 10 de Novembro, pelas 22 horas, no Estúdio PerFormas.

25.9.07

Transparências

Helena Botto em Medeia


O Projecto Transparências, dirigido por Helena Botto, tem um blogue. Vale a pena passar por lá, vale a pensa sair e atravessá-los ao vivo.