6.7.08

Ser português é também uma arte #2

«... O génio lusíada é mais emotivo que intelectual. Afirma e não discute. Quando uma ideia se comove, despreza a dialéctica; e é sendo e não raciocinando que ele prova a sua verdade.
A emoção afoga a inteligência, ultrapassando-a como força criadora. E assim, corresponde à nossa superioridade poética, uma grande inferioridade filosófica. O português não é nada filósofo; a luz do seu olhar alumia mais do que vê; não abrange, num golpe de vista, os conhecimentos humanos, subordinando-os a uma lógica perfeita e nova que os interprete num todo harmonioso. O português não quer interpretar o mundo nem a vida, contenta-se em vivê-la exteriormente; e tem, por isso, um verdadeiro horror à Filosofia, imaginando encontrá-la em tudo o que não entende.
Daí a sua incapacidade construtiva de novas verdades que representam o móbil superior do Progresso.»

Teixeira de Pascoaes, in Arte de Ser Português
Assírio & Alvim, BI - Biblioteca editores Independentes, 2007, pp 91-92


1 comentário:

Fernando Vasconcelos disse...

É uma opinião interessante. Numa altura em que fala muito de "inteligência emotiva" só não sei que concordo com a conclusão. Será que o progresso hoje está mesmo na versão enciclopédica de Diderot, na classificação, na lógica da análise de dados catalogados em hierarquias de acções e efeitos ou na livre associação de ideias aparentemente dispares?