"[...] os objectivos tradicionais da educação feminina tinham na sua base, como motivo central, o papel dominante das mulheres, ou seja, o casamento (e o governo da casa) e a procriação. Numa orgânica familiar como era a do Antigo Regime, entendida como decorrendo de uma «ordem natural» imutável e que tudo regia, onde cada um tinha o seu lugar preciso, eram essas as funções que a sociedade e, dentro da família, a hierarquia doméstica conferiam fundamentalmente à mulher - o que era independente do posicionamento na escala social.
(...)
Segundo Vives, a mulher cristã e virtuosa devia conhecer as Sagradas Escrituras, as boas maneiras e os preceitos morais, mas não lhe era própria a aprendizagem da ciência, da filosofia e da retórica. Rezar, ler e trabalhar eram ocupações úteis (até para preservar do ócio, espaço da tentação e do pecado desde a época medieval), que pertenciam à esfera do privado, ou seja, ao espaço doméstico, à casa. Não por acaso, os manuais destinados à instrução feminina davam um singular relevo ao governo da casa, espaço de poder indiscutivelmente pertença da mulher - de todas as mulheres, para lá da sua posição social. No exterior, o único espaço legítimo era o da Igreja; os outros domínios relativos à vida económica, social, política e intelectual eram um espaço masculino."
in Buescu, Ana Isabel, Catarina de Áustria Infanta de Tordesilhas - Rainha de Portugal, Edit. A Esfera dos Livros, Novembro de 2007. pp 57-58
in Buescu, Ana Isabel, Catarina de Áustria Infanta de Tordesilhas - Rainha de Portugal, Edit. A Esfera dos Livros, Novembro de 2007. pp 57-58
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