30.12.04

Se eu fosse uma palavra



Depois de quilómetros a ouvir o Existir dos Madredeus, acabei por adormecer ao volante. Não sei se foi a voz doce da Teresa Salgueiro se o violoncelo do Francisco Ribeiro. Mas quando começou A Sombra, mais uma melodia a saber a saudade, foda-se, fechei mesmo os olhos. O Abuláfia estava comigo. Ainda gritou: esquerda volver! mas não foi a tempo.
Estavamos numa encruzilhada. A questão que colocava era se devia deixar o meu bólide de colecção no descampado ou aguardar que passasse alguém que chamasse um pronto-socorro. Este carro é a minha vida. Decidi ir apanhando as peças todas, mesmo sabendo que o meu pé de meia não ia dar para pagar o conserto. O Abuláfia diz que tenho uma maneira de ser muito especial. Mas no que diz respeito a paixões, é ele o obcecado. Deitou-se no chão e começou a ler Angústias de um Professor. Só falava desse livro! É sobre um homem do espaço, que tem a alcunha de Cosmic e que tem uma grande paixão por uma tal de Space, sua aluna.
E nisto, não queria acreditar. Passa a mulher dos meus sonhos mais antigos. Digo-lhe Olá! e ela nada. Grito-lhe "és tu aquela a quem sempre quis dizer Amo-te". Empinou o nariz de uma maneira que parecia querer dizer SIM! mas o rabo mexia-se com um jeito de não. E só nesse momento me caiu uma gotinha do olho. Precisava de algum amparo. Mas nem farinha dele. Até que pensei, se eu fosse uma mulher, que palavras gostaria de ouvir? Corri atrás dela e disse-lhe: Diva, posso ser o teu contrabaixo?
Até hoje.

1 comentário:

mfc disse...

É como tudo na vida... há quem ligue e quem...desligue!
Eu ligo...!
Olha, um grande (enorme) 2005.
...com tudo de bom !