29.11.04

A Condição Humana I

Privacidade

" O amor é, pela sua própria natureza, não verbal, e é por essa razão que ele é não só apolítico como também anti-político. O amor é talvez a mais poderosa de todas as forças humanas anti-políticas"

"O amor, por exemplo, em contraposição à amizade, morre ou, antes, extingue-se assim que é trazido a público." p. 66

"Sempre que falamos de coisas que só podem ser experimentadas na privacidade ou na intimidade, trazemo-las para uma esfera na qual assumirão uma espécie de realidade que, apesar da sua intensidade, jamais poderiam ter tido antes." pp 64-65

"O sentimento mais intenso que conhecemos - intenso ao ponto de eclipsar todas as outras experiências, ou seja, a experiência de grande dor física - é, ao mesmo tempo, o mais privado e menos comunicável de todos." p. 65

" O primeiro eloquente explorador da intimidade - e até certo ponto, o seu teorizador - foi Jean-Jacques Rousseau; e é significativo que ele seja o único grande autor ao qual ainda hoje nos referimos frequentemente pelo primeiro nome. (...) A intimidade do coração, ao contrário da intimidade da moradia privada, não tem lugar objectivo e tangível no mundo..." p. 53

"[Ascenção do Social] O surpreendente florescimento da poesia e da música, a partir de meados do século XVIII até quase ao último terço do século XIX, acompanhado do surgimento do romance, a única forma de arte inteiramente social, coincidindo com um não menos surpreendente declínio de todas as artes mais públicas, especialmente a arquitectura, constitui testemunho suficiente de uma estreita relação entre o social e o íntimo." p. 53

" Finalmente, a actividade de pensar (...) ainda é possível, e sem dúvida ocorre, onde quer que os homens vivam em condições de liberdade política. Infelizmente, e ao contrário do que geralmente se supõe quanto à proverbial torre de marfim dos pensadores, nenhuma outra capacidade humana é tão vulnerável; de facto, numa tirania, é muito mais fácil agir que pensar." p. 395


in Arendt, Hannah, A Condição Humana, Relógio d' Agua, 2001


Ao Gonçalo Tavares, defensor da intimidade do coração, da moradia privada, e da linguagem privada (Wittgenstein).

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