14.11.08

Blindness - Ensaio sobre a cegueira #3



Os primeiros cinco minutos... de um filme que começa bem e não decepciona. Há inteligência na economia operada na narrativa e eficácia na gradação da densidade e da tensão. O espaço diegético é muito bem explorado. A obra de Saramago é uma parábola que Fernando Meirelles conservou em estado sólido. como se o realizador não tivesse desconstruído o romance. deixando essa parte para nós. E as leituras são forçosamente plurais. Li que a cegueira, ou quase todas as suas formas, é contagiosa. que são tão cegos os que vêem branco como os que vêem todas as formas e cores. que aqueles a quem é diagnosticada a doença têm a mesma probabilidade de salvação que os que (só) aparentemente são sãos. que as minorias são muitas vezes maiorias invisíveis, nascendo a ilusão de mero retardamento de sintomas. que qualquer forma de organização humana reproduz o modelo dominante (a teia de relações, hierarquias, ideologias, valores, aporias, evocados nesse laboratório social que é o campo de quarentena, somos nós). que, face à escassez de recursos e, sobretudo, quando se trata de sobrevivência, não predomina a solidariedade. e quem detém poder (o cego à nascença) tende a abusar desse poder, sendo raros (a heroína) os que dele se servem para servir os outros. que o absurdo é inexpugnável. que a generosidade também cega.

a minha cegueira cala-me agora. o que vos disse a vossa cegueira?

Sem comentários: