... e não assistência a pacientes com doenças agudas (percebi a nomenclatura!).
I. Dia 21 de Dezembro de 2007, Hospital Infante D. Pedro, Aveiro
Chego ao Hospital com tensão 8/5, depois de uma semana de vómitos sistemáticos antes/durante/após refeições. Deixei passar tempo demais, convencida de que os sintomas desapareceriam por si ao fim de algum tempo. Entro às 14h nas urgências, passo pela triagem e fico com a fita amarela. É um dia mau. O Hospital está equipado com um novo sistema informático e há uma pane. Tiram-me uma fotografia à chegada e é com dificuldade que a registam na minha ficha e que conseguem "linkar-me" à cor amarela. Pior, não conseguem aceder aos resultados das análises dos pacientes - e, por isso, o número de pessoas à espera de um diagnóstico e de ter ou não ter alta, é muito elevado.
Espero 4 horas até ser atendida. A dada altura dizem-me que só tenho 3 pacientes à minha frente mas que estão constantemente a chegar casos laranja ou vermelhos. Aceito o princípio da triagem, resigno-me, e faço exercícios de respiração quando me sinto próxima do desmaio. Vou observando as misérias do mundo. À minha volta estão pessoas de todas as idades mas a maioria são idosos. Um deles teve um acidente de automóvel e queixa-se de uma dor no peito. Quando finalmente saí do Hospital ele continuava à espera. A morte da senhora com 85 anos - que foi tão mediatizada nos últimos dias - não me surpreende de todo. Uma enfermeira explica-me que a especialidade "Cirurgia" tinha três médicos; dois saíram para operar, ficou um a atender dezenas de pessoas. Tenho sorte por estar destinada à "Medicina".
Finalmente chamam o meu nome. Parece-lhes claro o procedimento. Suspeitam de gastrite ou úlcera, devo fazer uma endoscopia. Meia hora de espera pelo gastroenterologista (mais uma vez tenho sorte: vou ter um médico especializado a atender-me). O médico é uma simpatia mas precisa de alguém que o acompanhe para me fazer o exame. No corredor, comigo ao lado, vai suplicando ajuda. Se fulano de tal está livre, não está. E fulano? Vão ver. Ele não pede um enfermeiro, apenas um maqueiro, um auxiliar. A dado momento olha para mim e pergunta-me: aguenta fazer a endoscopia sem se mexer nem tirar os tubos? Aguento! Lá vamos e no último momento cruzamo-nos com alguém que até pode vir assistir o médico.
O exame é claro, afinal trata-se de um problema na vesícula. Passa-me a prescrição médica e vou à minha vida. Saí do Hospital às 19 horas.
II. Dia 2 de Janeiro de 2008, Hospital Eduardo dos Santos Silva, Gaia
Depois de um acidente (choque em cadeia) na A1, a minha cunhada é transferida de ambulância para o Hospital de Gaia. Está em estado de choque mas, milagrosamente, não ficou gravemente ferida. Dada a violência do embate deve, no entanto, ser radiografada e suturada em algumas partes do corpo. Viajava de táxi em direcção ao aeroporto quando ocorreu o acidente. A viatura em que seguia ficou neste estado. Entrou por volta das 7h30 no Hospital, saiu às 19 horas. Fizeram-lhe os raios X da praxe, foi vista rapidamente por um otorrino e por um oftalmologista. Por que ficou retida no Hospital durante um dia inteiro (sem que ninguém a alimentasse - até ela desmaiar e a porem a soro)? Porque lhe atribuíram a cor amarela e ela teve que aguardar, aguardar, aguardar. Porque não saiu ainda mais tarde? Porque a dada altura foi accionado o factor "conhecimentos pessoais" - e vivemos num sistema (supostamente reformado) em que o mais importante ainda é conhecer alguém que trabalhe no hospital. O motorista do táxi em que a minha cunhada seguia fez traumatismo craniano e foi atendido posteriormente! Também lhe fora atribuída fita amarela.
Não faço comentários relativos às instalações da urgência do Hospital em causa: era suposto já não ser assim, mas ainda é - trata-se de contentores!
I. Dia 21 de Dezembro de 2007, Hospital Infante D. Pedro, Aveiro
Chego ao Hospital com tensão 8/5, depois de uma semana de vómitos sistemáticos antes/durante/após refeições. Deixei passar tempo demais, convencida de que os sintomas desapareceriam por si ao fim de algum tempo. Entro às 14h nas urgências, passo pela triagem e fico com a fita amarela. É um dia mau. O Hospital está equipado com um novo sistema informático e há uma pane. Tiram-me uma fotografia à chegada e é com dificuldade que a registam na minha ficha e que conseguem "linkar-me" à cor amarela. Pior, não conseguem aceder aos resultados das análises dos pacientes - e, por isso, o número de pessoas à espera de um diagnóstico e de ter ou não ter alta, é muito elevado.
Espero 4 horas até ser atendida. A dada altura dizem-me que só tenho 3 pacientes à minha frente mas que estão constantemente a chegar casos laranja ou vermelhos. Aceito o princípio da triagem, resigno-me, e faço exercícios de respiração quando me sinto próxima do desmaio. Vou observando as misérias do mundo. À minha volta estão pessoas de todas as idades mas a maioria são idosos. Um deles teve um acidente de automóvel e queixa-se de uma dor no peito. Quando finalmente saí do Hospital ele continuava à espera. A morte da senhora com 85 anos - que foi tão mediatizada nos últimos dias - não me surpreende de todo. Uma enfermeira explica-me que a especialidade "Cirurgia" tinha três médicos; dois saíram para operar, ficou um a atender dezenas de pessoas. Tenho sorte por estar destinada à "Medicina".
Finalmente chamam o meu nome. Parece-lhes claro o procedimento. Suspeitam de gastrite ou úlcera, devo fazer uma endoscopia. Meia hora de espera pelo gastroenterologista (mais uma vez tenho sorte: vou ter um médico especializado a atender-me). O médico é uma simpatia mas precisa de alguém que o acompanhe para me fazer o exame. No corredor, comigo ao lado, vai suplicando ajuda. Se fulano de tal está livre, não está. E fulano? Vão ver. Ele não pede um enfermeiro, apenas um maqueiro, um auxiliar. A dado momento olha para mim e pergunta-me: aguenta fazer a endoscopia sem se mexer nem tirar os tubos? Aguento! Lá vamos e no último momento cruzamo-nos com alguém que até pode vir assistir o médico.
O exame é claro, afinal trata-se de um problema na vesícula. Passa-me a prescrição médica e vou à minha vida. Saí do Hospital às 19 horas.
II. Dia 2 de Janeiro de 2008, Hospital Eduardo dos Santos Silva, Gaia
Depois de um acidente (choque em cadeia) na A1, a minha cunhada é transferida de ambulância para o Hospital de Gaia. Está em estado de choque mas, milagrosamente, não ficou gravemente ferida. Dada a violência do embate deve, no entanto, ser radiografada e suturada em algumas partes do corpo. Viajava de táxi em direcção ao aeroporto quando ocorreu o acidente. A viatura em que seguia ficou neste estado. Entrou por volta das 7h30 no Hospital, saiu às 19 horas. Fizeram-lhe os raios X da praxe, foi vista rapidamente por um otorrino e por um oftalmologista. Por que ficou retida no Hospital durante um dia inteiro (sem que ninguém a alimentasse - até ela desmaiar e a porem a soro)? Porque lhe atribuíram a cor amarela e ela teve que aguardar, aguardar, aguardar. Porque não saiu ainda mais tarde? Porque a dada altura foi accionado o factor "conhecimentos pessoais" - e vivemos num sistema (supostamente reformado) em que o mais importante ainda é conhecer alguém que trabalhe no hospital. O motorista do táxi em que a minha cunhada seguia fez traumatismo craniano e foi atendido posteriormente! Também lhe fora atribuída fita amarela.
Não faço comentários relativos às instalações da urgência do Hospital em causa: era suposto já não ser assim, mas ainda é - trata-se de contentores!
[Cartaz da Colecção de Francisco Madeira Luis, disponível no site da UA]
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