Descobri uma jóia no ano em que se comemoram os 250 anos de elevação de Aveiro a cidade! E este é um daqueles tesouros que se quer partilhar...
Aveiro Berço da Liberdade - O Coronel Jeronymo de Moraes Sarmento,
por João Augusto Marques Gomes, Porto, Imprensa Portuguesa, 1900
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Aveiro foi a primeira cidade onde appareceu de facto o primeiro grito de guerra contra as pretensões de D. Miguel, levantado na manhã do dia 16 de maio pelo ba-
talhão de caçadores 10 e por vários cidadãos com elle associados.
Soriano — Historia do cerco do Porto.
Lisboa, 1S46. Tomo i, pag. 240.
talhão de caçadores 10 e por vários cidadãos com elle associados.
Soriano — Historia do cerco do Porto.
Lisboa, 1S46. Tomo i, pag. 240.
ENTHUSIASMO pela liberdade, em
Aveiro, vem de longe, data de 1820.
Os trabalhos do synhédrio portuense
tinham ramificações n'esta cidade. Uma parte da
officialidade de caçadores 10, o tenente-coronel
de engenheria Luiz Gomes de Carvalho, e o
desembargador Fernando Alfonso Geraldes, que
ambos então aqui residiam; o juiz de fora José
de Vasconcellos Teixeira Lebre, alguns vereado-
res e outras pessoas mais, estavam no segredo
da revolução; e, se não se secundou logo o mo-
vimento de 24 d'agosto, foi isso devido unica-
mente á intransigência do commandante d'aquel-
le batalhão, um official inglez, aliás muito dis-
tincto e disciplinador, o major Linstow.
No dia 26 chegou a Aveiro, vindo de Lisboa,
o marechal de campo Manuel Pamplona Carneiro
Rangel, que, pela regência, havia sido encarrega-
do do commando militar do Porto e que para ali
se dirigia. Novo embaraço para a revolução que
se preparava. Pamplona, informado dos succes-
sos do Porto, e vendo que não podia confiar em
que Aveiro se conservasse fiel ao governo de Lis-
boa, attenta a exaltação de espirito que se prin-
cipiava a notar em muitos dos seus habitantes,
retrocedeu para Coimbra no dia 29, levando com-
sigo caçadores 10. N'esta cidade ficou apenas
uma parte do regimento de miilicias e uma com-
panhia de veteranos. Ao tempo já o juiz de fora
Teixeira Lebre, havia sido informado do Porto,
por Luiz Gomes de Carvalho, que se dirigia para
aqui com o batalhão de caçadores 11, o coro-
nel Bernardo de Castro Sepúlveda, afim de au-
xiliar o pronunciamento da cidade.
Logo que sahiu Pamplona para Coimbra,
aquelle magistrado assentou com a camará, de
que fazia parte como vereador Manuel Sebastião
de Moraes Sarmento (chefe da familia que de-
pois em Aveiro mais padeceu pela liberdade, e
pae de Jeronymo de Moraes Sarmento, cuja bio-
graphia é o assumpto principal d'este trabalho),
que a proclamação do novo governo se fizesse
na manhã do dia 30, e que ella coincidisse com
a chegada do coronel Sepúlveda.
Assim se fez. Pelas dez horas da manhã
d'aquelle dia — ao apparecer aquelle valente cau-
dilho da liberdade, vindo de Albergaria-a-Velha
e Angeja, onde acabava de levantar o grito da
revolta, ouviram-se enthusiasticos «vivas á santa
religião, a el-rei D. João vi, ás cortes e á consti-
tuição», dados pelo regimento de milicias de
Aveiro, e companhia de veteranos, e povo, que
estacionava em frente da casa da camará, onde,
ao tempo, se achavam já reunidos todos os ve-
readores, as auctoridades da comarca, e o clero,
nobreza e povo.
Pelo juiz de fora foi proposto, que esta cida-
de devia adherir ao movimento iniciado no Por-
to, reconhecendo a «Junta provisória do supre-
mo governo do reino» que ali se acabava de es-
tabelecer, o que foi approvado por- acclamação
no meio de calorosos vivas.
De tudo se lavrou auto no livro das verea-
ções que depois, por ordem da secretaria dos
negócios do reino de 21 de agosto de 1823, foi
aspado de sorte que se não lê. Contém o auto
approximadamente cento e vinte assignaturas,
entre as quaes se lêem, ainda que a custo, as
de Fernardo de Castro Sepúlveda (è a primei-
ra), José de Vasconcellos Teixeira Lebre, juiz de
fora; Manuel José de Freitas, João Nepumoceno
da Silva, António José de Freitas, Fernando
Affonso Geraldes, Luiz Gomes de Carvalho, An-
tónio José Gravito da Veiga e Lima, tenente-co-
ronel de milicias de Oliveira d'Azemeis ; João
Rangel de Quadros, Dionysio de Moura Couti-
nho, capitào-mór de Esgueira ; Miguel Rangel
de Quadros, capitão-mór de Aveiro; Francisco
Rodrigues de Figueiredo, capitão-mór de Eixo;
António Rangel de Quadros, Francisco António
de Castro, Joaquim António Rodrigues Galhar-
do, Alexandre Ferreira da Cunha, Gabriel Lo-
pes de Moraes Picado de Figueiredo Balacó,
Manuel José Alves Ribeiro, capitão de vetera-
nos; Francisco José d'0liveira, cirurgião-aju-
dante de caçadores 10; Joaquim António Plá-
cido, cidadão advogado; José Lucas de Sou-
sa da Silveira, José Pereira da Cunha, cidadão
medico do partido da camará; Bazilio d'0liveira
Camossa, sargento-mór; Lourenço Justiniano da
Costa, Manuel Rodrigues Tavares de Araújo
Taborda, António Dias Ladeira de Castro, Joa-
quim Leite de Faria, Bento José Mendes Gui-
marães, José António Rezende, Agostinho de
Sousa Lopes, Evaristo Luiz de Moraes, padre
José Bernardo Mascarenhas, João António Mo-
niz, alferes; Francisco Thomé Marques Gomes,
fr. Joaquim Xavier de Campos, fr. João Ribeiro
Guimarães.
Deprehende-se d'esta lista que esteve presente ao acto tudo
Aveiro, vem de longe, data de 1820.
Os trabalhos do synhédrio portuense
tinham ramificações n'esta cidade. Uma parte da
officialidade de caçadores 10, o tenente-coronel
de engenheria Luiz Gomes de Carvalho, e o
desembargador Fernando Alfonso Geraldes, que
ambos então aqui residiam; o juiz de fora José
de Vasconcellos Teixeira Lebre, alguns vereado-
res e outras pessoas mais, estavam no segredo
da revolução; e, se não se secundou logo o mo-
vimento de 24 d'agosto, foi isso devido unica-
mente á intransigência do commandante d'aquel-
le batalhão, um official inglez, aliás muito dis-
tincto e disciplinador, o major Linstow.
No dia 26 chegou a Aveiro, vindo de Lisboa,
o marechal de campo Manuel Pamplona Carneiro
Rangel, que, pela regência, havia sido encarrega-
do do commando militar do Porto e que para ali
se dirigia. Novo embaraço para a revolução que
se preparava. Pamplona, informado dos succes-
sos do Porto, e vendo que não podia confiar em
que Aveiro se conservasse fiel ao governo de Lis-
boa, attenta a exaltação de espirito que se prin-
cipiava a notar em muitos dos seus habitantes,
retrocedeu para Coimbra no dia 29, levando com-
sigo caçadores 10. N'esta cidade ficou apenas
uma parte do regimento de miilicias e uma com-
panhia de veteranos. Ao tempo já o juiz de fora
Teixeira Lebre, havia sido informado do Porto,
por Luiz Gomes de Carvalho, que se dirigia para
aqui com o batalhão de caçadores 11, o coro-
nel Bernardo de Castro Sepúlveda, afim de au-
xiliar o pronunciamento da cidade.
Logo que sahiu Pamplona para Coimbra,
aquelle magistrado assentou com a camará, de
que fazia parte como vereador Manuel Sebastião
de Moraes Sarmento (chefe da familia que de-
pois em Aveiro mais padeceu pela liberdade, e
pae de Jeronymo de Moraes Sarmento, cuja bio-
graphia é o assumpto principal d'este trabalho),
que a proclamação do novo governo se fizesse
na manhã do dia 30, e que ella coincidisse com
a chegada do coronel Sepúlveda.
Assim se fez. Pelas dez horas da manhã
d'aquelle dia — ao apparecer aquelle valente cau-
dilho da liberdade, vindo de Albergaria-a-Velha
e Angeja, onde acabava de levantar o grito da
revolta, ouviram-se enthusiasticos «vivas á santa
religião, a el-rei D. João vi, ás cortes e á consti-
tuição», dados pelo regimento de milicias de
Aveiro, e companhia de veteranos, e povo, que
estacionava em frente da casa da camará, onde,
ao tempo, se achavam já reunidos todos os ve-
readores, as auctoridades da comarca, e o clero,
nobreza e povo.
Pelo juiz de fora foi proposto, que esta cida-
de devia adherir ao movimento iniciado no Por-
to, reconhecendo a «Junta provisória do supre-
mo governo do reino» que ali se acabava de es-
tabelecer, o que foi approvado por- acclamação
no meio de calorosos vivas.
De tudo se lavrou auto no livro das verea-
ções que depois, por ordem da secretaria dos
negócios do reino de 21 de agosto de 1823, foi
aspado de sorte que se não lê. Contém o auto
approximadamente cento e vinte assignaturas,
entre as quaes se lêem, ainda que a custo, as
de Fernardo de Castro Sepúlveda (è a primei-
ra), José de Vasconcellos Teixeira Lebre, juiz de
fora; Manuel José de Freitas, João Nepumoceno
da Silva, António José de Freitas, Fernando
Affonso Geraldes, Luiz Gomes de Carvalho, An-
tónio José Gravito da Veiga e Lima, tenente-co-
ronel de milicias de Oliveira d'Azemeis ; João
Rangel de Quadros, Dionysio de Moura Couti-
nho, capitào-mór de Esgueira ; Miguel Rangel
de Quadros, capitão-mór de Aveiro; Francisco
Rodrigues de Figueiredo, capitão-mór de Eixo;
António Rangel de Quadros, Francisco António
de Castro, Joaquim António Rodrigues Galhar-
do, Alexandre Ferreira da Cunha, Gabriel Lo-
pes de Moraes Picado de Figueiredo Balacó,
Manuel José Alves Ribeiro, capitão de vetera-
nos; Francisco José d'0liveira, cirurgião-aju-
dante de caçadores 10; Joaquim António Plá-
cido, cidadão advogado; José Lucas de Sou-
sa da Silveira, José Pereira da Cunha, cidadão
medico do partido da camará; Bazilio d'0liveira
Camossa, sargento-mór; Lourenço Justiniano da
Costa, Manuel Rodrigues Tavares de Araújo
Taborda, António Dias Ladeira de Castro, Joa-
quim Leite de Faria, Bento José Mendes Gui-
marães, José António Rezende, Agostinho de
Sousa Lopes, Evaristo Luiz de Moraes, padre
José Bernardo Mascarenhas, João António Mo-
niz, alferes; Francisco Thomé Marques Gomes,
fr. Joaquim Xavier de Campos, fr. João Ribeiro
Guimarães.
Deprehende-se d'esta lista que esteve presente ao acto tudo
que em Aveiro havia de mais distincto, e que, se
alguém faltou, foi involuntariamente, por que depois, successiva-
mente, vieram prestar juramento ás novas insti-
tuições os que então não tinham comparecido,
a principiar pelo bispo da diocese D. Manuel
Pacheco de Rezende.
O espirito da liberdade radicou-se bem de-
pressa no animo da maioria dos aveirenses, mas
isto não obstou a que o systema absolutista
contasse também aqui adeptos fervorosos.
mente, vieram prestar juramento ás novas insti-
tuições os que então não tinham comparecido,
a principiar pelo bispo da diocese D. Manuel
Pacheco de Rezende.
O espirito da liberdade radicou-se bem de-
pressa no animo da maioria dos aveirenses, mas
isto não obstou a que o systema absolutista
contasse também aqui adeptos fervorosos.
Continua
1 comentário:
Olá, Maria do Rosário!
Obrigada pela partilha! E pela foto de Mostar - "juro que estes meus olhos também viram"... e quase cegaram na reverberação da luz do céu e da água da Agosto...e que os meus passos se perderam naquele empedrado - muitas vezes!
Mostar, Mostar! Impossível não deixar lá um pedaço do coração, não é?
marialice
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