9.2.05

Allah n'est pas obligé


Ahmadou Kourouma


Em 2000 vivia em Paris. Foi aí que um dia comecei a ouvir falar de Allah n'est pas obligé. O título do livro chamou-me a atenção e depois foi atribuido o prémio Renaudot ao seu autor. Numa entrevista ouvi Ahmadou Kourouma dizer que romanceava a verdade e que a verdade, com frequência, não era mais do que uma segunda maneira de redizer uma mentira. Ouvia-o com atenção. Afinal, o protagonista do seu livro era uma criança-soldado. E Kourouma inspirava confiança.
Soube há pouco tempo que morreu (em 2003). Em França era considerado um dos mais destacados, talvez até o mais notável escritor africano de expressão francesa. Ahmadou Kourouma nasceu na Costa do Marfim em 1927.
Tinha de vos falar desse livro que me comoveu, abalou, torceu por dentro e nunca vou esquecer. Trata-se de uma visão particular da guerra em África - a visão de uma criança-soldado da Costa do Marfim, Birahima, que tem dez ou talvez doze anos. Depois da morte da mãe, ele parte com um gri-griman (feiticeiro) à procura de uma tia que vive na Libéria. Pelo caminho - que é todo o romance - ele erra entre campos de guerra, cidades ocupadas, salta de bando em bando de bandits de grand chemin (grupos de rebeldes, facções tribais da Costa do Marfim, Serra Leoa, Libéria). O que aumenta a singularidade deste livro é o uso de uma linguagem de rudimentos (a do personagem) na narração de situações de extrema violência e desespero. Foi esta criatividade, a invenção de um novo código literário, e a sensibilidade audaz (e cheia de ironia) de Kourouma a retratar uma realidade social e política, o que o notabilizou.
Deixo-vos um fragmento de Allah n'est pas obligé aqui (a leitura é simples).


13 comentários:

ana.in.the.moon disse...

No meu filofax há uma página destinada a apontar os livros ou discos que gostaria, um dia, de ter mais perto de mim. Tenho a impressão que este blog é capaz de lhe acrescentar umas quantas entradas...

Bastet disse...

Angola é também a minha terra que, apesar de ter conhecido apenas em miúda, me deixou marcas para sempre. Vou acrescentar este livro às próximas aquisições :)

armando s. sousa disse...

Este pequeno excerto do livro, através do pequeno Birahima, vai-me obrigar a ler o livro. Não que eu não possa ler em francês, mas não há uma edição portuguesa?

Didas disse...

Obrigada. Até acredito que a leitura seja cativante (tudo indica), mas simples, depende... se visses (ouvisses) o meu francês! :-)

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Armando, Didas, tout le monde, tentei encontrar uma versão em português do livro e não consegui. A que tenho é das Éditions du Seuil, e sei que tb está traduzido em inglês. Se entretanto a encontrar, logo vos direi. Um abraço a todos

Anónimo disse...

Querida Maria, obrigado pela dedicatória, não conhecia este autor. Depois com mais tempo vou enviar-te alguns também.

bj

Bin_tex

Francis disse...

Bem lembrado, Divas. Com certeza concordarás comigo; Roubar a infância a uma criança é um dos mais horrendos crimes que se podem cometer.

Anónimo disse...

Maria já visitaste o meu outro blog?
http://imagensdemarrocos.blogspot.com/

Abraço,

Bin_Tex

Anónimo disse...

Sou tradutora. Se alguém quiser, posso traduzir a obra a bom preço! Muito bom mesmo!

Celine (Vox Populi) - celine_godinho@yahoo.fr

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Celine, por acaso andam por aí muito boas obras a precisar de tradução. e boas tradutoras a precisar de trabalho. Anda tudo virado ao contrário neste mundo!

Bin Tex, já conheço o site!

Francis, o próximo post é mais claro sobre essa questão.

Webabraços a todos

r.e. disse...

Diva. Há uma tradução portuguesa, sim. Da Asa. É impressão minha ou tu andas a seguir-me??? é o 3º ou 4º livro que mencionas, que por uma ou outra razão estavam no meu pensamento nesse dia ou perto. Hoje estive com esse livro na mão. E ontem já tinha estado também. É da Asa, e soube da sua existência porque vem publicitado no "Almas Cinzentas" do Philippe Claudel, da mesma editora. Por isso, aqui fica a referência da edição. E deixo também a recomendação do "Hora de Saída" de cujo autor não me recordo agora o nome. Depois digo. Beijinho. Jorge

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

1. Jorge, OBRIGADA! Ouviram todos que há uma edição da ASA?
2. Jorge, é telepatia entre dois estranhos. Sabes que a realidade supera a ficção? (big smile)

3. Não fiz nada para esta caixa de comentários mudar de look mas prefiro assim. Será que se vai manter?(gracias blogspot!)

Anónimo disse...

I read an interesting article on it I would like to share with you...