31.10.05
IV Edição do Escritor Famoso
Luis Quinta
Agora descobri Além do Azul.
Cepos romanos no fundo do mar na zona da Baleeira? E o que são bodiões, blénios, cabozes ou nudibrânquios?
Luis Quintas nasceu em 1965. Aos 14 anos começou a mergulhar e iniciou a sua actividade como fotógrafo submarino no Verão de 1988. A sua experiência nas actividades subaquáticas levaram-no já a mergulhar em quase todas as águas do Globo. Já publicou centenas de artigos, reportagens e trabalhos fotográficos na imprensa nacional e estrangeira. Para além de Além do Azul, também editou Instantes de Luz no Oceano.
Desejo-vos muitos entelerus aequoreus, anemonias sulcata, sepias officialis, octopus vulgaris, parazoanthus sp., alcyonium glomeratum, haliotis tuberculata, cypraea pyrum, catostylus tagi, delphinus delphis, lepadogaster, serranus cabrilla, sepiola rondeleti, cetorhinus maximus, trigloporus lastoviza, tursiops truncatus, etc.. E SE ME SOUBEREM DIZER quais destas espécies dariam um bom grelhado, façam o favor... (eu sei, que falta de poesia!)
30.10.05
29.10.05
Mergulha-se. Neste crescendo de dor. sem escapatória pausa respirar tranquilo. O fim (da esperança): cruel. Nuno Lopes numa entrega total, impecável. Música de Bernardo Sassetti, subtil, intensa. O primeiro, e muito bom filme, de Marco Martins.
Concerto para Violino e Orquestra em Ré, Op. 35 de TCHAIKOVSKY
1. Allegro Moderato
2. Canzonetta (Andante)
3. Finale (Allegro vivacissimo)
Hoje começamos com o primeiro andamento.
Descobri este concerto há muitos anos e continuo fiel amantíssima. Deixem-se levar pelos humores do violino, escutem as várias frases e o diálogo com a orquestra. Eu já torci um pé depois de uma pirueta seguida de deslizamento em tapete de sala. Foi no tempo em que dançava ao som de qualquer música. E em que imaginava cenários que justificassem tanto sentimento.
Se quiserem comprar, aconselho a versão da BBC Symphony Orchestra, com Salvatore Accardo como solista e direcção de Sir Colin Davis. Mas este Paul Galluzo não é nada mau.
28.10.05
Para o Voz em Fuga, que lançou um desafio
TARDE
O pai apresentou-me. Esta é a Alice. Ela parou um segundo, olhou para mim de lado e depois continuou a brincar. Eu já a conhecia, ou quase. Quando ele decidiu chamar-lhe Luz, pensei que o tinha perdido para sempre. Esperei tantos anos, Luz. Confesso que só nos últimos meses comecei a amar-te. Amar-te por seres a Luz do homem que já posso amar. E quero amar-te mesmo depois dele. Depois do cansaço ou da indiferença que sei que vai acontecer.
E de repente, aproximaste-te de nós. O teu pai ali, a observar-nos. O fato de banho molhado. Ser mãe é perguntar Vamos mudar de roupa, querida? Foi com ternura que te despi e te disse para ficares ali a apanhar sol. para te aqueceres. Bebe um bocadinho de sumo enquanto vou buscar uma roupa seca.
- Não, e quero ficar nua.
Ficaste nua toda a tarde. deitada na cadeira de lona. e não disseste mais nada. O teu pai afastou-se encolhendo os ombros. Sabes Luz, tenho a impressão de que te conheço há muito tempo. Ainda estavas na barriga da tua mãe e já sabia que te ias chamar assim. E às vezes via-te passar com ela. Deves ter muitas saudades. Queres antes este sumo?
Luz, achas que podemos ser amigas?
Porque estás triste? Este sol é tão quentinho, já te dei o sumo de laranja que pediste. Eu queria ajudar-te a esquecer.
- A mãe deitava-se aqui comigo. eu adormecia deitada no corpo dela.
E então levantaste-te, foste à tua mochila, tiraste um molho de fotografias que começaste a ver. e depois mostraste-me apenas uma. O teu corpo sobre o de tua mãe, que te pertencia, que te acomodava.
Esta tarde passada contigo. e tu ainda no colo dela. toda esta tarde com ela. E não comigo.
Como ponho música no meu blog
Para colocar ou no post ou no template:
embed src="http:AMUSICASELECCIONADA.mp3" autostart="true" loop="FALSE" type="audio/mpeg" volume="90" controls="console" align="right" height="40" width="200"
(coloquem os sinais: no início<>no fim)
Para começar a tocar automaticamente, deixem o autostart="true"; para que
sejam os visitantes a accionar o play, deixem o autostart="false".
Na edição de posts, quando querem gravar, aparece normalmente um aviso de
"códigos fonte" errados; assinalem que querem ignorar o aviso. E já está!
Espero ter ajudado. Os experts complementem p.f. esta informação.
E já agora, qual é a fórmula para vídeo?
Adenda: o papo-seco sugeriu a consulta deste blog.
27.10.05
Mas que ventania
Nem dá vontade de sair da cama. Mas o que tem de ser tem muita força, e cá estamos nós.
Vamos ver umas figurinhas, para ver se o
Nós nascemos na Sbornia? I
Nós nascemos na Sbornia? II
Nós nascemos na Sbornia? III
26.10.05
anel de moebius
como tudo isto é uma projecção: como
tudo um símbolo: como tal: uma maneira
de dizer: uma dejecção: ou seja: medo
de que a pele inche: estoure: não suporte
mais: isto que está dentro: o correr
do tempo: dito: como tal: como tudo
Alberto Pimenta
Obra Quase Incompleta
O olho fundo do boi do sertão ou a nossa Pasárgada
Podemos chamar-lhe também Pasárgada 2, porque me seduz a ressonância desse outro formidável poeta brasileiro, Manuel Bandeira (Itinerário de Pasárgada, Testamento de Pasárgada, Vou-me embora p'ra Pasárgada). Observemos pois, bem fundo, este olho.. mesmo que não seja de boi nem venha do sertão... e observemos os lugares sagrados e profanos que projecta. :))
25.10.05
Para não esquecer
Neste artigo, podemos ler alguns dados interessantes sobre as receitas que os sequestros, furto de gado e comercialização de drogas ilícitas garantem às FARC.
A ex-senadora e candidata à presidência Ingrid Betancourt foi raptada em 23 de Fevereiro de 2002, já lá vão três anos e meio. Esta mulher política envolveu-se intensamente na luta contra a corrupção no seu país, um país que supostamente vive em "democracia", a Colômbia.
Ingrid Betancourt tem também nacionalidade francesa, pelo que neste país foram lançadas várias iniciativas por parte do governo e da sociedade civil. Mas esta é, antes de mais, uma questão de defesa dos Direitos Humanos, e por isso diz respeito a todos.
Renaud Séchan criou uma canção para Ingrid Betancourt que foi traduzida para inglês e espanhol, e será interpretada por vários músicos em todo o mundo. A versão espanhola será de Daniel Melingo e o comité de apoio já conseguiu que várias rádios colombianas passem a música. Na esperança de que, algures na selva, Ingrid perceba que não foi esquecida.
Mas e nós, esquecemos?
Civilidade
reprima a tosse
não espirre madame
reprima o espirro
não soluce madame
reprima o soluço
não cante madame
reprima o canto
não arrote madame
reprima o arroto
não cague madame
reprima a merda
e quando estourar
que seja devagarinho
e sem incomodar, ok madame?
ok, monsieur.
Alberto Pimenta
Obra Quase Incompleta
Tout le Monde en Parle
History of Violence de Cronemberg. Nothing ever happens in Millbrooks, Indiana. Until today... (vale a pena ver o site oficial do filme)
Combien tu m'aimes? de Bertrand Blier. Dans le Pigalle des boîtes de nuit, la Beauté professionnelle, c’est Elle. Quand le client la voit, il a le souffle coupé. Le Client, il vient de gagner gros au Loto. Il lui demande : "Combien tu prends ?" et lui propose immédiatement de devenir sa femme. Elle accepte.
Depois, para reflexão, o testemunho de uma vida, a vida de Khady, e para a posteridade, este livro:
24.10.05
E porque o Blogger Day é quando quisermos, vejam...
3. Às vezes (des)organizo-me em palavras, de uma angolana muito especial, Pwo.
4. As Jóias de Família, para reflectirmos sobre os nossos tesouros. Seremos ladrões de tesoiros?
5. E alguém que desenha com traços, números, palavras, logo existe. o lado esquerdo de Arsélio.
6. ...e depois de acabar de o re-visitar, o Absorto, cada vez melhor!
23.10.05
22.10.05
Os resultados da RM - Ressonância Magnética e da Ecografia não deixaram margens para dúvidas. O (ex) candidato presidencial não tem condições físicas para empreender a campanha eleitoral e para exercer o mandato presidencial, devido a problemas de coluna. Todos conhecem a postura habitual de Cavaco Silva, sempre rígida, o que lhe valeu já o cognome de Pau de Vassoura. O que estes exames prevêm é que, se submetido a duras provas de esforço, o ex-primeiro ministro e agora ex-candidato à Presidência da República, poderá começar a ter espasmos de forma desgovernada. O início de sessões espasmódicas em cerimónias públicas afectaria para sempre a imagem da figura pública. Como acreditar nas suas principais premissas - que nunca tem dúvidas e que nunca se engana, se à frente das câmaras começar a contorcer-se e a babar-se?
Mário Soares já reagiu, prometendo fazer novos exames à próstata. Se a próstata do candidato também não resistir às habituais provas de esforço, o país fica sem os dois principais candidatos presidenciais. Manuel Alegre prometeu que, nesse cenário, por solidariedade, também desiste da corrida presidencial. Os candidatos da CDU e BE poderão ver-se agora confrontados com uma nova possibilidade: a de Carmelinda Pereira poder passar à segunda volta das eleições. Maria Cavaco Silva e Maria Barroso dirigiram-se de imediato a Fátima. Testemunhas locais viram-nas acender velinhas para agradecer à Virgem.
(outras notícias)
21.10.05
Un amour de legende
You are the flower.
(Repiscado ao um bigo meu depois de passar por aqui.)
Como todos os anos, passei uma parte do Verão a deambular por aquela casa. Vocês conheceram-na porque o Escritor Famoso enviou algumas fotografias. Nessa casa descubro sempre um livro - perdido por alguém - que me faz abandonar a leitura que tenho em mãos. Este ano encontrei uma obra de cariz biográfico assente na correspondência trocada entre Antoine de Saint Exupéry e Consuelo Suncin Sandoval. Consuelo foi a única esposa de Antoine (não a única mulher). "Consuelo, merci d'être ma femme. Si je suis blessé j'aurai qui me soignera, si je suis tué j'aurai qui attendre dans l'éternité, si je reviens j'aurais vers qui revenir". Andei essas semanas embalada com as cartas dos dois amantes. E fiquei a saber que a primeira edição do Petit Prince aconteceu em Nova Iorque (Março de 1943). Eugene Curtice Hitchcock, que já tinha editado o Pilote de Guerre, pediu a Exupéry que escrevesse um conto infantil. O escritor comprou então um bloco de desenho e lápis de cores. E foi em North House, Long Island, ao lado de Consuelo, que passou horas a desenhar um conto que - na verdade - já tinha escrito. "J'ai eu tort de vieillir. Voilá. J'étais heureux dans l'enfance (...) C'est maintenant qu'elle se fait douce, l'enfance."
A edição francesa saiu um mês depois, publicada pela Maison Française de New York. "Un homme qui nous enseigne à quel point nous sommes de notre enfance comme d'un pays. C'est la leçon du Petit Prince". Serão poucos os que desconhecem esta obra. Mas não serão muitos os que sabem que o personagem, a flôr, o amor, eram inspirados e dedicados a uma mulher, Consuelo. "Un jardinier de l'âme qui a su immortaliser la silhouette de l'enfance universelle et nous faire aimer la silhouette d'une femme fleur, dont la présence envahit chaque page de ce livre."
Vou confessar-vos que não foi este livro o primeiro que li de Antoine de Saint Exupéry. O primeiro foi o Vol de Nuit, quando tinha 15 ou 16 anos. Saber que o autor também tinha sido piloto de combate e que morrera como o personagem bastou para que eu criasse um herói. Foi esse herói que quis conhecer, quando peguei no livro. Descobri um homem com un grand corps lourd que tinha sempre dificuldade em se meter na carlinga dos aviões, um poeta que tinha sempre um ar infeliz quando não podia voar, que precisava de fugir à rotina desta dure vie basse, um romancista constantemente decepcionado consigo próprio, um marido imaturo emocionalmente, possessivo mas infiel, um eterno filho, um inconformado, um idealista, um patriota, um homem cheio de contradições mas corajoso. Observador e sensível, sempre. Sofredor, parce qu' il n'y a pas de verité claire à donner aux hommes. Em suma, 20 anos depois, e por isso mesmo, ele continua a ser um "meu herói".
- Merci d'avoir tenu à moi comme un petit crabe têtu. (A. S. E.)
- Ne me perds pas! Ne te perds pas. À bientôt! (Consuelo)
DE Alain Vircondelet (texte) ET José Martinez Fructuoso (archives), Antoine et Consuelo de Saint Exupéry, Un amour de légende, Ed. Les Arènes
20.10.05
A IV Edição do Escritor Famoso
Folquelore
a caminho de viseu
indo eu indo eu
a caminho de viseu
encontrei o meu amor
ai jesus que lá vou eu!
ora ZUS ZUS ZUS
ora TRÁS TRÁS TRÁS
ora ZUS ZUS ZUS
ora TRÁS TRÁS TRÁS
ora chega chega chega
ora arreda lá pra trás
ah, caraças, o portugal profundo e os prazeres nos fenos
Destaque na blogosfera nacional
!!!
Se calhar devíamos tirar o dedo do botão de "fast-forward".
O Contrabaixo está a afinar as cordas....
Devido a problemas técnicos, não vos vou poder dar música para os vossos ouvidos, esta Quinta.
Mas, pelo menos, uns apontadores para algo sumarento.
Até já,
rjm, batatas, contrabaixo, etc.
Poema para o meu blog
Mulher à tarde
Ter uma mulher no meio da tarde.
Lá fora, rente à porta, o mundo se debate.
Gritam vendedores, chiam alto-falantes,
disparam carros e buzinas,
o sol martela o telhado, palmas no portão.
A mulher ali, na tarde, nua, no lençol limpo.
Cortina entreaberta para olhos curiosos,
a luz penetrando leve,
vento visível nas árvores,
dinheiro rolando nas conversas,
vizinha lavando louça,
rádio espirrando notícias.
A mulher nua e sua boca silenciosa
no sobe-e-desce lento.
Uivo de cão, ronco de motor implacável,
pálpebras frementes da cortina,
telefone soando distante,
conversa entrecortada na calçada,
homem-bomba no Irã.
O ventre arcado da mulher nua,
o denso monte, tecido de pêlos
roçado de leve pela língua.
O avião urgente, o relógio esticando os minutos,
a notícia fragmentada no ar,
riso de colegiais – alacridade,
passos ligeiros na rua,
discurso interminável dos pardais.
O desenho do gemido no rosto da mulher nua
à procura do céu do quarto.
A janela batendo na outra casa,
o vento zunindo e virando pra chuva,
o motor raivoso do carro.
De repente, num instante, o silêncio entra todo
no pacto do gozo mútuo.
O mundo acaba, lá fora.
E retém a vida dentro da mulher nua.
Rui Werneck de Capistrano
É o que se chama um post de sucesso. Foram mais os que pensaram que eu tinha ficado maluquinha do que os que leram o post! :lol: Quanto ao título, decidam! As minhas cuecas, O meu umbigo, As minhas mãos, e até o Cubembom... é melhor não, porque já existem esses blogs. Esses e estes! Mas ficaram algumas boas ideias por concretizar! ;)
19.10.05
Os nossos umbigos?
Vá lá, what do you think about it?
Soportas
Diga-me como é a sua porta e eu dir-lhe-ei quem é.
Uma penumbra onde se escondem pormenores, rasgada, no entanto, pelo rasto de luz que vem do interior. Parece um convite para entrar. Mas talvez não. A Divas confessa que tirou a fotografia, a horas tardias, "sem os vizinhos darem conta". Por isso, talvez tenha deixado a porta entreaberta, para se poder escapar rapidamente, em caso de intromissão nas suas actividades fotográficas.
Mas, a atmosfera que vem lá de dentro, é aliciante. Ali mora, certamente, gente acolhedora!"
O meu Frigo
"Segue o frigorífico da família acabado de abastecer de iogurtes. Com um marido francês,
A minha sanita
18.10.05
ainda Attitude Chapeaux...
Spam surreal
Desta vez dei-me ao trabalho de dar uma olhada no meio do lixo, e encontrei esta pérola. Para quem perceba inglês, desafio a tentar perceber o que se passa neste texto. E se me quiserem explicar, agradeço.
Hi gloria78@bigfoot.com,
In this new season, new hota stuff has come up.
This is for the ones, who need f!nance again for fixed assets.
F.rom 3 . 50 <--> 4 . 25 percent, only ref~in.
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I don't practice reading once a week..
Luke is missing jumping today..
You are always missing reading..
They aren't enjoying running..
13. Ninety six bottles of beer, three a's, three b's, one c, two d's, thirty two e's, six f's, two g's, six h's, twelve i's, one j, one k, five l's, one m, eighteen n's, fourteen o's, one p, six r's, twenty seven s's, twenty t's, two u's, seven v's, nine w's, five x's, and five y's on the wall..
The politicians weren't enjoying jogging..
The gardners regret skiing well..
That dentist is not enjoying writing near my home..
Thanks,
Sadie Sousa
Attitude Chapeaux
Agora ela tem um espaço onde, durante algumas semanas, todos poderão apreciar, comprar ou encomendar chapéus únicos e exclusivos (o preço ronda os 100 euros). É claro que esse espaço tinha de ser o da Navio de Espelhos (Aveiro). Pode o corpo servir de suporte a uma escultura? Não há nada como ver e experimentar...
Anne-Claire Goldschmid
Rua Campo dos Trambelos - Lt 20
3510-06 Viseu
Tel: 232 18 48 44
17.10.05
Uma homenagem do Escritor Famoso Lino Centelha a todos os participantes do último Concurso
O meu signo da semana passada começava assim: "Possibilidade de encetar novos caminhos; alguns assuntos e problemas serão erradicados da sua vida dando campo a novas perspectivas".
As previsões eram tão animadoras que me fizeram lançar na semana com o maior dos optimismos. Na expectativa de um tempo alegremente incerto, e apesar da poeira que tinha assentado durante a noite, levantei-me e dei passos à toa pelas veredas do jardim da minha infância, à procura de inspiração para os novos projectos que a promissora semana esperava de mim. Durante a caminhada começou a chover. Mesmo tendo um pó desgraçado à chuva, aguentei os instintos e percebi que era um sinal dos céus. Deixei a casa dos espirros e voltei à pressa para Lisboa pensando que se a chuva me livrasse do pó eu ainda tinha uma possibilidade de ser o escritor famoso.
Passei por Fátima onde deixei uma vela das caras e comprei uma mão de cera onde consegui encaixar, com alguma dificuldade, diga-se, a minha MontBlank com que assino as teses e os cheques. Aproveitei para comprar também um terço para pendurar no espelho retrovisor, junto ao DVD virgem que uso para iludir os radares da polícia, porque desde que deixei de ter seguro contra todos os riscos tenho andado mais preocupado com os loucos que andam por aí ao volante.
Cheguei a Lisboa ainda a tempo de votar mas tive alguns problemas. O presidente da assembleia recusou a minha permanência naquele local com a minha mãozinha de cera, pois podia ser entendida como um símbolo partidário e estar eu, por isso, sujeito a uma coima. Pus a mão no carro e tive que votar com uma Bic já em adiantado estado de decomposição. Uma lástima. Com uma esferográfica reles daquelas eu não poderia votar dignamente no meu partido e por isso votei noutro.
Ao chegar a casa a noite estava fria e já ia alta. Sentei-me naquela poltrona junto à janela a olhar para a televisão. Os computadores do estado tinham avariado e os jornalistas deram os resultados de há quatro anos para posteriormente se poderem retratar pelo lapso. Mas não foi preciso.
Aborrecido por estar a ver um programa repetido fui escrever uma carta à Insónia. As coisas andavam mal há muito tempo mas o meu signo dizia: "É altura de colocar um ponto final em relações afectivas que não lhe trazem estabilidade, apenas com o coração livre poderá almejar por melhores dias". Imitei o tom da carta à Sandra que tinha usado com sucesso há uns anos para me despedir da dita. Custou-me um bocadinho porque ao fim de seis meses de namoro posso dizer que já estava numa espécie de prólogo ao coito. É o que se chama desperdiçar um investimento. Mas o meu signo era muito claro.
Na manhã seguinte cheguei cedo ao trabalho. "Alguém construiu uma fábrica a muitos quilómetros daqui" era a password da semana para entrar no refeitório e conseguir ter acesso à máquina de café. Até a menina Graciete sentiu o meu ar triunfal pois durante a manhã mais não fiz que ostentar a minha pose de bafejado pela fortuna dos céus e da conjugação dos planetas. No segundo café da manhã queimei-me. O dedo não arde, apenas dói. A Graciete tira outro café e pergunta-me o que me traz tão bem disposto. Falo-lhe do meu signo que diz: "não tenha medo do futuro." Ela fica de facto interessada. A vida é bela. As coisas estão mesmo a mudar.
À tarde falei com o Profírio, um colega meu que é primo do famoso escritor Jorge Rebelo Tinto, e perguntei-lhe qual era a distância de Lisboa a Aveiro. Disse-me que era a mesma que de Aveiro a Lisboa. Também me informou que de Lisboa a Aveiro demorava quase o mesmo que de Aveiro a Lisboa. Fiquei contente porque isto já eram dados importantes para por em acção o meu plano.
Na terça-feira a Graciete trazia um perfume novo. Embebedei-me de aromas ao tocar a pedra áspera do balcão onde alinhava as chávenas acabadas de lavar. Talvez por isso quando o patrão me chamou e me perguntou porque não estavam ainda acabados os documentos da qualidade que me tinha pedido eu lhe tenha respondido enigmaticamente: Mestre, certas pessoas tem toda a legitimidade para dizer "Que puta de vida!"... Deu um urro muito estranho, mesmo para uma pessoa como ele, e eu tive que ir tomar outro café para desanuviar. Para meter conversa disse à Graciete et in Arcadia ego e ela ficou a olhar para mim com um ar semelhante ao do patrão o que me deixou preocupado com as consequências inesperadas da inclusão da literariedade nos assuntos do dia a dia.
É aborrecido dizê-lo mas no dia seguinte não consegui evitar pensar enquanto acordava com uma renovada dificuldade: mais um dia! Cheguei aqui há algum tempo e desde aí que tenho esperado que o tempo passe. Pensei como é que podia evitar ir para o trabalho. Tinha cerca de setecentos papéis, quase todos iguais, para olhar com a máxima atenção antes de seguirem para os arquivos que guardavam a esplendorosa qualidade do nosso fabrico. Resolvi arriscar. Pus-me a debitar letras naquela folha de papel. Desta vez letras ao acaso, sem nexo. O resultado final seria o mesmo. Só por muito azar alguém alguma vez haveria de olhar para aqueles papéis. Uma improvável auditoria. E havia mesmo assim a hipótese de o auditor estar com o mesmo tédio que eu e olhar com interesse para os papéis sem de facto ver nada, acenando gravemente a cabeça em sinal de assentimento. A qualidade. A qualidade. Na parte mais dramática do meu epitáfio há-de ficar descrita esta cedência da minha escrita à desonestidade.
Há momentos em que paramos. Subitamente. Desta vez foi por falta de gasolina. Cheio de pressa passei a área de serviço de Leiria com o ponteiro encostado mas pensando que ainda dava para mais quarenta quilómetros. Qual nada. Poucos quilómetros depois parei.
O dia tinha começado mal. Uma carta no correio dizia: reaviso. Prezado usuário, até a presente data não consta dos nossos registros o pagamento da sua conta/fatura do mês anterior. É mau de mais. Perseguição, pensei eu. Resolverei isso mais tarde. Tal como os problema com o patrão, com a Graciete, com o Profírio e com o auditor... Há sempre um tempo próprio para cada coisa.
Tinha pensado entrar no Navio dos Espelhos como um actor entra em cena, sem nada que me despertasse a atenção, porque tudo sempre estivera lá, nos mesmos sítios desde o início. Mas o mundo inteiro estava contra mim. O Bush ao invadir o Iraque tinha feito disparar o preço do crude e com isso o preço de gasolina e com isso a minha ideia de poupar e com isso o depósito do meu carro sempre a ser atestado no limite.
Quando cheguei, às tantas da manhã, ouviam-se Les Voix du Silence. Percorri cada espaço. Sentia-o vazio agora, um refúgio oco. Olhei os livros caiados de pó de casa. Pensava: Seila quem é que votou em mim! Quem teria Paixão pelo meu texto? É terrível estarmos na ignorância do nosso destino.
Voltei para a casa do pó. O meu retiro nada tem de novo comparado com outros, é um local tranquilo onde me encontro comigo mesmo, onde tenho o silêncio, onde me viro mais para dentro do que para fora.
Automedico-me com o signo para esta semana: "A conjuntura é muito favorável para os nativos deste signo a quem serão dadas novas oportunidades indutoras de êxito, é necessário que se empenhe e demonstre acima de tudo, força de vontade e convicção. Pode ser alvo de manifestações sentimentais surpreendentes e inesperadas, retribua todos os afectos sem reservas..."
O pó enche de novo as superfícies horizontais. O bico da caneta é uma bola de caliça azulada. Voltarei ao Navio dos Espelhos à procura de um livro que traga novos signos e que possa, ainda que por instantes, dar a impressão que há coisas que valem a pena. Como é estranho que haja entendimento mesmo que as letras sejam deixadas cair ao acaso e não seja certo que haja um lugar perfeitamente esférico onde regressar.
Ainda o meu amigo, o Escritor Famoso...
Nesta casa e nestas redondezas, há palavras coladas às paredes, ao chão, às pedras, às árvores, a tudo o que conheço como às minhas mãos. E colam-se também às memórias. Há quem se sinta acompanhado por anjos ou por espíritos. A mim, acompanham-me as palavras, sejam elas em que língua forem, maravilhosos entes invisíveis de ressonâncias difusas, ondeantes, que quase penso entrever pelo canto do olho ou no ondear das cortinas.
Talvez seja herança de minha mãe, que, ainda privilegiado na tepidez do seu ventre, me sussurrava poemas e histórias, as palavras fluindo na cadência directa das batidas do seu coração.
Calcorreio estas divisões vezes sem fim, e mesmo assim vou sempre descobrindo detalhes que a minha memória não lembra. Vê lá se isto se compreende! Dou comigo surpreendido pelo facto de o globo terrestre não reflectir o tom dos meus olhos depois das horas perdidas na infância a memorizar ao detalhe o contorno dos continentes! A idade talvez...Ou as palavras tomaram definitivamente conta de mim e estou a adquirir a natureza difusa delas.
“Nous avions cru que nous interrogions la peinture, c'est elle qui nous interroge. ", ouço Malraux dizer em surdina quando me sento na biblioteca. Sim, as palavras que consentiram em deixar-se domar pela minha pena sempre me devolveram os pontos de interrogação que coloquei à vida. Apraz-me o que penso ter aprendido, mesmo que pouco, mas o que me maravilha realmente é a sensação de mistério: mistério da vida, mistério dos sentimentos, mistério dos mundos desconhecidos de cada um. E pensar que quis tantas vezes ver a vida a preto e branco, simples, clara, taxativa. Nunca me agradaria tal vida....
Talvez seja para negar o destino que tanto escrevo. Talvez com tanto discurso apenas o venha confirmar. Isso já não me preocupa. Revisitado o passado por aquilo que hoje sou, tenho a sensação nítida de que o tempo é só este momento em que te escrevo, que todos os momentos passados e futuros estão condensados neste agora, como se juntasse em mim todos os momentos que sonhei ou vivi, todas as emoções que senti pelas pessoas que cruzaram o meu caminho, todos os mundos desconhecidos que entrevi nos olhares ou sorrisos de alguém. Enfim...
Minha querida, envio-te alguns olhares destas minhas andanças e aguardo a tua visita num destes dias (próximos, atrevo-me a insinuar). Talvez, quem sabe, não seja eu o único médium de palavras por aqui.
Um abraço terno
E.F.
(Maria, Estórias do Bicho de Seda)
A Máquina do Tempo
"Não, você não leu direito o título. Ele não queria inventar a Máquina do Tempo. A perseguida por tantos e tantos cientistas sérios ou malucos. Aquela de ir e vir no tempo. De visitar a infância ou a velhice. O que ele queria mesmo era inventar a Máquina de Passar Tempo.(...)" Contin. no blog do Escritor.
15.10.05
O Escritor Famoso entrega os prémios
E assim, com poucos mas bons, passei uma noite bem divertida! Ah, e imaginem que o Manuel do Pé de Meia nos telefonou e que fiquei mesmo com vontade de o raptar um dia destes para outra noite de amena e tonta (sabe tão bem!) cavaqueira.
Mas hoje, para além de conversa, uvas, chocolate, o bolo de ananás da Joana e uns drinks, entregamos um livro aos vencedores das edições anteriores do Escritor Famoso. Ainda se lembram?
Ivar Corceiro, por Helena
Maria Heli, por O Escritor Famoso
Didas, por O Sorriso
Marquesa D'Aires, por Com Saudades de Helena
E agora vamos lá voltar ao III Concurso! O Júri votou nos 19 textos e o resultado a que chegou foi o seguinte:
Dois textos, para além de As Palavras da Memória de Palavras em Linha (já seleccionado pelos visitantes do blog), foram distinguidos com a Pena do Escritor Famoso (acabo de inventar o galardão). Esses textos são:
- Agulhas Ferventes de George Cassiel - e o autor já teve o privilégio de receber o seu prémio
- A Casa dos Espirros de Lino Centelha
Estes dois textos tiveram as pontuações médias mais elevadas.
Mas acrescento que os textos de Prólogo, de Ivo Cação, de Ivar Corceiro, de Palavras em Linha, da Mushu e de Hipatia ficaram mesmo muito próximos. A qualquer um destes textos foi mesmo atribuida a nota máxima (10) por algum membro do júri. Tivemos alguns casos de fortes paixões individuais: os textos da J.P., da Fausta Paixão ou do Manuel (mfc), mas aí o júri esteve mais dividido, o que se reflectiu na pontuação final global. Todos concordamos que a qualidade dos textos foi bastante elevada, que o nível de escrita era muito bom, variando depois, apenas, a percepção de cada um sobre o grau de originalidade ou a eficácia na defesa da ideia central do texto, por parte de cada autor. Acrescentem-se a estes, outros factores ainda mais subjectivos, como o da empatia que se estabeleceu com o texto, ou a emoção que este nos transmitiu (comoção, surpresa, humor,...).
E assim, depois de agradecer MUITO a todos os participantes a mestria, o empenho e a simpatia que revelaram ao decidirem participar neste Concurso, e de agradecer também MUITO aos meus colegas "júris" o esforço e a atenção que dispensaram a esta iniciativa (e é tão bom partilhar estas tarefas e sentir que entraram nisto com o melhor dos espíritos!), dou por terminada a terceira edição do Concurso O Escritor Famoso!
A próxima edição vai ter início no dia 2 de Novembro mas ... vai ser diferente! :)
Fiquem agora com os três textos vencedores.
- As Palavras da Memória, por Palavras em Linha
Não se trata de parar para pensar, para desbastar a ideia que anda há semanas a ocupar a mente como onda espraiando-se sobre o areal da praia em dia de Agosto. Paragens dessas tive-as amiúde. Resultaram em páginas saídas das minhas mãos como pedaços de mim e espalhadas depois pelos olhos dos outros, olhos atentos, olhos de converter palavras em coisas acabadas com desfechos estranhos à minha compreensão.
O que deixamos escrito sai de nós para não nos pertencer mais. O que conservamos na memória permanece em nós e, se não o dizemos, é como se nunca tivesse acontecido. E dizemo-lo quando paramos.
Por isso trata-se, agora, de parar mesmo. Exercício de pacificação do espírito, memória que se acende em busca dos cheiros e dos gostos, das cores e dos brilhos que ficaram na infância e vão ressoando no tempo. Tempo de menino a combater os piratas, de espada em punho, num cantinho do quarto, herói de histórias inventadas, reais no espaço mágico do cavalinho de baloiço e da mesa redonda à volta da qual se sentavam os cavaleiros feitos de casacos sobre o espaldar das cadeiras. Tempo de mãos de mãe sobre os olhos, sobre a lágrima que molhava a face, sobre o bocejo do cansaço que sobrevinha às horas de brincadeira. E de voz de mãe a embalar nas cantigas. Tempo de janela fechada ao voo dos monstros que povoavam os pesadelos dos dias mais frios, quando o Outono derramava sombras amareladas e o cair da tarde deixava desenhos sobre o papel da parede. Tempo de colo, tempo de passos contados sobre o xadrez do ladrilho a caminho do baloiço pendurado na árvore mais robusta do jardim. E de gnomos sob a folhagem, ao fundo da sebe, aguardando a minha visita. E de línguas de sol a fazerem soar os bons dias, melodia da brisa que entreabria a copa das árvores e chegava a tempo de aquecer o gelo dos caminhos onde os homens pequeninos obedeciam às minhas ordens. Tempo de regressar a casa, ao cheiro dos livros, imponentes no couro das lombadas e nas letras que a minha infância já sabia serem tesouros. Tempo de azinho queimado em labaredas que atraíam os gatos e com eles os meus olhos que já escreviam palavras no cheiro dos veludos da sala.
Tempo em que a memória se enche de palavras. E de saudade.
- Agulhas Ferventes, por George Cassiel
bastar-me-á,
disse-o em voz alta, libertando os pensamentos. Reconheci a necessidade de uma mudança, ainda que ligeira, no pulsar da energia destruidora que me assolara no dia e na noite anterior.
Bastar-me-á.
Despi-me, escolhi roupa de entre um dos montes e deixei correr a água do duche até atingir a temperatura ideal, muito quente, quase no limite da resistência, a ferver para lavar profundamente, para me limpar de mim mesmo, para me desincarnar; entrei e deixei, durante muitos minutos, os jactos de água do duche furarem-me as costas, como agulhas ferventes, longos minutos
(…)
e o silêncio, também fervente, em longos e largos minutos, como se o tempo tivesse as medidas do espaço,
(…)
chovia em mim o calor do silêncio, num enorme volume de minutos,
(…)"
- A Casa dos Espirros, por Lino Centelha
Foi esta questão do pó e dos perdigotos que me empurrou definitivamente para a engenharia. De um ponto de vista puramente mecânico a transcendência e o pó estão muito próximos. E eu tinha uma certa tendência para os pormenores. Enquanto o catequista falava do divino e do sagrado eu fixava os olhos nos finos raios de luz que me passavam em frente ao nariz e observava os pontinhos de pó que se moviam como peixes num aquário.
Dividir um grão de pó ao meio parecia-me, já então, uma façanha científica a meio caminho entre a 'performance' artística e o êxtase religioso. "Meio grão de pó é ainda um grão de pó" - pensava eu enquanto elaborava uma trama maquiavélica capaz de dar ao pó o estatuto de sexto ou sétimo estado da matéria - "onde terminará isto?". Algo que cortado ao meio é ainda ele próprio desafia as leis da conservação, as leis do movimento e, quiçá, a lei do aborto.
Mas tudo na vida tem um preço. No meu caso, não sei o que veio primeiro se a vocação, se a alergia.
Esta casa onde agora venho ocasionalmente para uma manutenção aligeirada foi sempre uma espécie de paraíso do pó. A ideia de que tudo se transforma em pó tem aqui o seu paradigma. Os granulos infinitesimais que cobrem os chão, os móveis, todos os objectos residentes, parecem surgir do nada; materializam-se para encher sucessivos sacos de aspirador. Em criança a casa era uma sinfonia de espirros e agora começo a espirrar a trinta quilómetros daqui. Os médicos dizem que é uma alergia psicológica o que dá um certo orgulho, principalmente depois que fiz a pós-graduação em pós modernos. Sem falsa modéstia, sou internacionalmente conhecido como a maior autoridade em pós. O doutoramento, que estou a preparar, vai ser sobre pós tits - pós que resultam de uma interacção humana com a realidade, quando a memória começa a desfazer-se.
O meu pai continua a chamar a este lugar, com o azedume habitual, a casa do pó, ignorando a designação original - 'Silly cactus' - enigmático nome dado por um antepassado Centelha, de origem irlandesa, que veio para cá durante as invasões francesas.
Começa a ser difícil escrever. O bico da esferográfica está cheio de pó e a tinta não flui, o meu nariz está inflamado e já não consigo ter os olhos abertos com tanta comichão. Não fora o pó e teria sido um escritor famoso.