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30.12.06

29.12.06

Rol de leituras de 2006

Janeiro
Comecei com Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica, um livro que confirma a teoria da transmissão dos genes culturais! Dei uma revisão ao L'arrache-coeur de Boris Vian. Sim, esse, esse mesmo. Mas o primeiro baque do ano veio com Predadores de Pepetela. À míngua de edições traduzidas, ou nem isso, de Júlio Cortázar, experimentei, acho que pela primeira vez, ler uma obra via net: Rayuela. Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo... (aqui). O ano terminou sem que tivesse notícias que pudessem alterar esta desolação. Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío.(aqui)

Fevereiro
Autor, Autor de David Lodge, a que se seguiu A Volta no Parafuso de Henri James.

Março
O dia está a chegar ao fim. Mas se calhar ainda é um bocado cedo para a minha canção. Cantar cedo demais é funesto, sempre achei. Por outro lado, às vezes deixa-se passar a altura. Em Os Dias Felizes de Samuel Beckett. Uma das leituras feitas a pensar nisto. E apenas porque era outro dos autores celebrados no Famafest '06, fica o pensamento: depois de conhecer o "seu" cinema, era tempo de ler Harold Pinter!

Abril
De Haruki Murakami, Kafka à Beira-mar. Seguiu-se Norwegian Wood do mesmo autor. Foi a minha revelação do ano e quase não disse nada.
Este foi também "o mês" de Paulo José Miranda. Oficialmente li apenas A Voz Que Nos Trai. Para quando a publicação de outras obras, Paulo?

Maio
Visões de Cristo no Cinema foi um dos vários livros que Lauro António escreveu e que foram editados pela Biblioteca Museu República e Resistência. É bom tê-los na nossa biblioteca.
Ah, afinal referi o Murakami e o Paulo José Miranda e tantos outros. Mas este foi o mês de Philip Roth. Li Pastoral Americana e A Conspiração Contra A América, continua a faltar-me Casei Com Uma Comunista. E já tenho o último dele, O Animal Moribundo. Serão leituras para 2007.
De assinalar como um dos meus melhores livros do ano, Dias Exemplares, de Michael Cunningham. A primeira parte do livro, Dentro da Máquina, deixou-me uma marca (que espero seja) indelével.

Junho
As leituras continuaram até porque "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler". Mas não referi nenhum livro. Oh não, também me deixei ir na onda do Mundial! E nem li Kenzaburo Oe, apesar de ter anotado o seu nome.

Julho
A Possibilidade de uma Ilha, de Houellebecq, aparece finalmente nas nossas livrarias. Mas esse livro do meu autor de culto já tinha sido devorado e partilhado aqui no ano anterior. Traduzi algumas páginas para despertar o vosso desejo. Houllebecq é (possivelmente) um homem execrável e um escritor maravilhosamente inteligente. (...) o ciúme, o desejo e a vontade de procriação têm a mesma origem, que é o sofrimento de ser. É o sofrimento de ser que nos faz procurar o outro, como um paliativo; devemos ultrapassar esse estádio a fim de alcançar o estado em que o simples facto de existir constitui por si mesmo um motivo de alegria permanente ... (aqui). Eu não queria tornar-me um autómato, e foi isso, essa presença real, esse sabor de vida viva, como teria dito Dostoïevski, que Esther que ofereceu. De que serve manter em estado de marcha um corpo que não é tocado por ninguém? (aqui)
Em Julho li O Fim da Aventura, de Graham Greene. De vez enquando é bom reler um clássico para saber que (quase) tudo já foi inventado e demonstrado com mestria. Na escrita de um romance, isso significa perceber a sensibilidade de hoje igual à de ontem. ou o contrário.

Agosto
O que li eu estas férias? Peguei no Cuidado com a Doçura das Coisas de Raphaëlle Billetdoux, para descobrir que já o tinha lido. Li La Poursuite du Bonheur, e não gostei pela primeira vez de um livro do Michel Houellebecq. enfim, vou dizer não à sua poesia. Comprei vários outros livros, aproveitando a estadia em França, em que ainda não peguei. Comecei a ler Arno Gruen, e continuo. Agora é A Traição do Eu que está pousado na mesa de cabeceira. E li O Mar de John Banville! Leitura que inspirou vários posts em Setembro. vários. uns três ou quatro, ou cinco ou seis.

Setembro
... foi o mês em que eu nunca mais acabava de ler A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón. Quando acabei a leitura não me apeteceu dizer-vos nada. Mas parece que são poucas as pessoas que não ficaram "apanhadas" por esta obra, um cruzamento de romance histórico e policial, bem escrito e... pueril.

Outubro
ah, Villa Amalia, de Pascal Quignard!

Novembro
Bom mês! A descoberta de Flannery O'Connor e a leitura do assombro que é A Invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares. E poesia, muita.

Dezembro
Começou com O Mesmo Mar de Amos Oz, outro nomeado para a secção dos meus livros do ano. Li o último do Gonçalo M. Tavares. Depois fui forçada a permancer em repouso e rejubilei, lembram-se? António Franco Alexandre, Maria Teresa Horta, Al Berto, António Ramos Rosa e Possidónio Cachapa foram os eleitos. Além de Süskind.
Neste momento tenho em mãos "Romance Negro e Outras Histórias" de Rubem Fonseca.


Muita coisa escapou. Mas não me apetece levantar e procurar. mesmo não confiando totalmente neste auxiliar de memória que é o blogue. De repente lembrei-me de uma agenda pequenina que eu tive (e ainda tenho. aonde?) e onde comecei a apontar os livros lidos. Teria uns 12 ou 13 anos. Nele constavam partes da Bíblia, Enid Blyton, cada número da colecção discriminado, Memórias de uma Menina Bem Comportada de Simone du Beauvoir (que li, à espera de que a menina fosse mal comportada, mas sem nenhum conhecimento sobre a autora), Michel Vaillant, e tantos outros, numa amálgama deliciosa que chegou aos 300 e tal livros. Depois dessa lista, acho que não voltei a fazer outra. até hoje. Mas dou-me conta de que a falta de critério se mantém, ou é um critério em si. Pegar num livro e partir. para um novo dia, ou noite. ou ano. "ler bem é também aproveitar a felicidade de ler"

Colecção particular. Objecto: referrer #2

28 Dec, Thu, 21:21:42 Google: desejo ler o livro de mãos atadas

Então lê.

28.12.06

Carolina, George e o Papa


Todos os Natais, entre 24 e 25, quando já todos dormem, leio um livro que se ofereceu a alguém, meio a brincar (é sempre um livro polémico), meio a sério (porque vai ao encontro do gosto, mesmo que envergonhado), e leio-o rapidamente porque depois cada um regressa a sua casa e o legítimo dono captura o que é seu.

O ano passado, a leitura estendeu-se até dia 26, este ano bastaram umas horitas. Li o livro do momento ou uma revista de capa dura, Eu, Carolina. Tinha que ler o dito, para me rir (os extractos lidos pelos Gatos Fedorentos prometiam uma boa sessão humorística) e para compreender minimamente as implicações jurídicas de que tanto se fala.

Fiquei muito decepcionada. Eu queria sangue. Dentro do género, é muito low profile. Na família convenceram-se de que eu era muito ingénua, mas fiquei com a impressão de que a pobre Carolina é apenas uma mocinha vítima de deslumbramentos e vingativa. Gosta de homens mais velhos, a ponto de fugir de casa aos 16 anos por causa de um quarentão de dúbias (ou evidentes) qualidades, o pai dos seus dois filhos, e de, aos 22, iniciar uma relação com outro que tinha mais quarenta anos do que ela, o "George".

O "George" ofereceu-lhe depois a qualidade de vida com que sonhava, mas a moça fez e desfez tudo por ele. Contratou uns gangsters para dar uma sova a Ricardo Bexiga, antigo deputado da Assembleia da República e vereador da Câmara Municipal de Gondomar, a mando do seu amor. Mas isso é pouco. Mais pungente é imaginá-la com pouco mais de 20 anos a cortar as unhas dos pés e os pêlos das orelhas ao seu "George". Ser largada depois porque "eu mudei, tu mudaste" deve ser mesmo traumatizante. Mas a vingança foi doce. O que é que Carolina narra que não pudéssemos imaginar? Nada. Cita alguns nomes. Ficamos a saber que Jorge Nuno Pinto da Costa foi informado previamente da busca da PJ ao seu apartamento, que arquitectou uma fuga para Espanha, que tramou um dos pandilhas do seu clube
(António Araújo) para se livrar de pior, etc.. "Carol", despeitada, tramou "George" junto dos seus amigos, mas dúvido que o livro seja uma mais-valia para a Polícia ou para qualquer um de nós que gostaria de viver num país onde personagens como o "George" ou o "Major" fossem enjaulados.

Para além do livro, em inquérito, espero que esta "arrependida" possa efectivamente fornecer informações úteis à PJ. Fosse esse o caso e daria por bem empregue a benção de João Paulo II. O episódio que mais me divertiu foi esse mesmo, o da benção do Papa à comitiva do FCP, com o "George" à cabeça. E nunca vou esquecer o presente que o clube ofereceu ao representante de Deus na Terra: uma bola autografada pelos jogadores!
Há Papas com muita sorte!

26.12.06

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

XVIII


A borboleta pousada ou é Deus ou é nada.
Adélia Prado


Comecei a ler sobre Darwin por causa de um filme.
Apaixonei-me por causa de um filme.
Provavelmente casei, tive filhos, fugi, por causa de um filme.
Queria ser uma deusa ou nada.

A evolução da espécie implodiu. mas a neurobiologia recuperou o conceito.
Meu amante curvou-se a uma sorte tirada com tanto cálculo e batota que sobrou pouco para o factor aleatório. mas peguei nele, refi-lo e saiu um quase homem.
Pouco tempo depois, perdi a aliança, símbolo de nosso jogo inter pares. mas no dia em que parti com as crianças, ela apareceu no fundo do armário.
Ser deusa pode ser ficar pousada. mas só depois de esvoaçar.

Eu acho que quando uma borboleta pousa, temos que ver primeiro donde vem. E depois decidimos se é deus.

*

Um leitor é uma borboleta pousada. Aquele lê...






Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.

Todas as semanas saiem novos textos:
Às segundas, n' O Afinador de Sinos
Às terças, aqui
Às quartas, no Ponto.de.Saturação

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (blogue)

24.12.06

À escuta #27

Estado de situação: só existe um Pai Natal, o que vive no pólo Norte; os outros são homens mascarados. A ideia do Santo Nicolau não pegou e essa das vestes do Pai Natal terem sido inventadas pela Coca-Cola não é crível. Mas a excitação é grande, é hoje à meia-noite que ele vai aparecer. ele quem? logo se verá, vão estar atentas. Não adianta pedir para se portarem bem, só o menino Jesus vê tudo, e Ele também já não é a entidade que dá prendas. Estamos assim a tentar seguir, sem nos desorientarmos, o corropio das meninas. Agora gostam do blogue e vêm cá dezenas de vezes ver os filmes. Aproveitam para ver a hora no computador e fazem countdown. Uma delas também fez um calendário pessoal, que começava no dia 11 (e termina a 25), e está muito feliz porque já quase todos os números estão riscados. Uma vez que afinal o Natal é hoje, não percebe porque é que dizem que é no dia 25, mas lá chegaremos. Já telefonaram à avó n vezes. É conquista recente poderem utilizar o telefone fixo. Escrevi um papel com os números de telefone mais usados e elas adoram a iniciativa de telefonar sozinhas. Tenho duas secretárias-telefonistas muito motivadas. À avó perguntam a partir de que horas podem aparecer, se podem levar o ursinho, se ela tem Champomix, informam que já comprámos o bolo rei, o pão-de-ló-de-Ovar de Aveiro, e tudo o mais que lhes vai ocorrendo. Mas estão numa de nada falhar no momento do grande acontecimento. Entretanto, o verdadeiro Pai Natal anda às voltas a ver como é que esconde os presentes...

[Depois dos 12 postais natalícios, podíamos ficar por aqui, mas reitero os votos: FELIZ NATAL!]

Colecção particular. Objecto: referrer

Divas & Contrabaixos, ou o blogue do cupido natalício:

23 Dec, Sat, 10:32:22 Google: mensagem de natal para namorada
23 Dec, Sat, 11:04:07 Google: mensagem namorada natal
23 Dec, Sat, 11:31:48 Google: mensagens de natal para uma namorada
23 Dec, Sat, 11:40:54 Google: winx.com.
23 Dec, Sat, 11:58:29 Google: mensagens de natal para namorada
23 Dec, Sat, 12:08:17 Google: africanos
23 Dec, Sat, 12:35:55 Google: Feliz Natal
23 Dec, Sat, 12:40:41 Google: natal triste sem ti avó


23 Dec, Sat, 14:31:56 Google: plural hannah arendt homens
23 Dec, Sat, 14:36:28 Google: voz do pai natal
23 Dec, Sat, 14:45:54 Google: eu acredito no pai natal
23 Dec, Sat, 14:56:30 Google: mensagens de natal pra namorada
23 Dec, Sat, 15:18:55 Google: "o dia da criaçao"
23 Dec, Sat, 15:24:08 Google: mensagem de natal para namorada

Mensagem especialmente dirigida II

... ao A. Pedro Correia que expõe actualmente no Museu de Física em Coimbra (eu espero passar por lá estas férias)(obrigada, Ivamarle, pela tua reportagem) e com quem tem sido um prazer colaborar n'O Livro dos Bons Princípios. Feliz Natal!


(para ti também, S.!)

Mensagem especialmente dirigida

... ao António Pires, do excelente RAÍZES E ANTENAS, por ser o meu único leitor no D&C Music Hall: FELIZ NATAL e muito obrigada pelas tuas visitas, mas sobretudo, obrigada pelos teus dossiers especiais (vejam o dossier sobre Guitarra Portuguesa) e pelas novidades que apresentas!


[O tsiwari, do 4thefun (pois é, esqueci-me dessa), aparece mais por aqui]

22.12.06

Bonequinhos para o Natal

Antes do Vasco Granja, acho que até os adultos falavam de "bonequinhos". E havia muitos no Natal. Hoje, o Divas vai encher-se de animação para a pequenada (e irmãos mais velhos, e pais, e avós).

[ver: #8, #9, #10]

#9

How the Grinch stole Christmas! (1966)



Realização: Chuck Jones
Argumento (e livro): Dr. Seuss
Voz do Grinch e narração: Boris Karloff
[Versão de Ron Howard, 2000]

Ponto G*

Vi:
1. Uma livraria que faz descontos para professores
2. Um professor apresentar cartão na compra de O Meu Ponto G. (Felina, talvez te interesse saber que ele tinha 45-50 anos e que agarrava esse seu único livro com muita ternura)

Não vi: mas tenho a certeza:
1. editoras e livreiros revelam cada vez mais o seu sentido de missão
2.
os professores devem estar a par das novidades editoriais
3. os alunos vão certamente beneficiar com aquela leitura (as alunas é que já duvido)


* com este título, o sitemeter vai rebentar!

20.12.06

#7 Feliz Natal



Frank Capra - It's A Wonderful Life
Em 1947 ganhou 5 Oscars.

This Christmas
Learn To Truly Appreciate
The Things You Hold Dear

De esquerda ou de direita

1° Cartaz para as Presidenciais de 2007


Désirs d'Avenir é o site oficial. Ando a seguir a campanha eleitoral de Ségolène Royal. Mas eis que encontro uma entrevista feita a Pierre Bourdieu, meu guru, desaparecido em 2002, em que ele afirma que Ségolène não é de esquerda. Sim, ela é conservadora em várias matérias. Diz coisas como "la famille c’est un père et une mère" e não é favorável ao casamento entre homossexuais, mesmo se a posição dominante no PS francês é mais progressista. É um exemplo. Mas isso é ser de direita? Vá lá, Bourdieu, sê mais claro..., forma de estar, maneira de falar, não chega!

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

XV

um dia
num passeio outonal depois de me ter des
florado toda em amena conversa com o Alberto Pi
menta perguntei a mim mesma qual a sorte do outo
no? a nossa vida é
como uma estação do ano ou como as quatro
estações ou as estações são como a nossa vida? O outo
no nem sabe porque começa mesmo naquele dia e não no dia
seguinte e não depende
muito dele se os dias são amenos ou chuvosos
sendo no entanto certo que vão ficando mais curtos
e que há sempre um ventinho a fustigar (sentirá o outono quando está
quase a terminar?)
absorta me deixei assim ir à deriva até que as folhas caí
das no chão e que eu ia triturando ganharam voz e essa voz era um murmúrio
tão doce que me apeteceu deitar
-me com elas
e ouvir as suas histórias sobre cama
leões e cores que iam conhecendo à flor da pele
(todos conhecem algumas das tonalidades das folhas outonais) e destas
histórias tão puras
fui percebendo que também podia ser uma folha (mas
é claro que não sou) e estava quase a adormecer quando o Alberto abriu um
afluente do seu largo rio e morri com elas antes do fim do outono
que balada exultante
ah!

no dia seguinte
...

Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.

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O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (blogue)

Absorto

Andei à procura desta passagem.

"Foi então que leu na sepultura a data de nascimento do pai e descobriu ao mesmo tempo que até agora o ignorara. Em seguida, leu as duas datas, 1885-1914, e procedeu a um cálculo mental: vinte e nove anos. Surgiu-lhe de súbito uma ideia que o fez estremecer. Tinha quarenta anos. O homem sepultado sob aquela pedra, e que fora seu pai, era mais jovem do que ele."
(pp 29-30)

Li este livro duas ou três vezes, primeiro em francês, depois em português. O Primeiro Homem, a obra em que Albert Camus trabalhava no momento da sua morte. O manuscrito só foi encontrado em 1960. Comove-me sempre. Tem contornos auto-biográficos. Centra-se na sua infância passada em Argel. A figura da mãe. não se esquece.

Lembrei-me dele porque conheço alguém que cultiva Camus com uma enorme paixão. Anda Absorto há três anos. e queria dizer-lhe que ainda não me cansei de o visitar (quase) todos os dias.

18.12.06

#5 Feliz Natal

Acho que foi um dos filmes que mais me marcou. Lembro-me de cenas completas e já não o revejo há anos. David Bowie actor, sublime. A banda sonora, excelente. Confirmem agora, o compositor interpreta.


Sakamoto Ryuichi - Merry Christmas Mr. Lawrence (Live)

[Sites de RS: 1, 2, 3]

A autarquia e o sexo pago



Não sei se a legalização da prostituição seria um enorme recuo nos direitos e estatuto social da mulher. Talvez seja. Não sei se a adopção dessa medida poderia contribuir para uma melhoria da saúde pública, por permitir uma intervenção mais eficaz no domínio da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Talvez não. Hesito.

Argumentos
de natureza comercial e fiscal não aceito! Eu gosto muito de pragmatismo e pouco de hipocrisias colectivas mas, em relação a esta matéria, sou muito marxista. Preocupam-me apenas os operários da indústria.

Não tem nenhuma importância o nosso julgamento sobre a prática em si. A prostituição existe e nunca será erradicada. É difícil intervir sobre o que é basilar: há oferta porque há procura, há oferta e procura porque (todas) as sociedades fabricam condutas ditas desviantes (sendo que o conceito de desvio sempre teve, tem, uma elevada carga moralista). A prostituição sobreviveu a séculos de prática na clandestinidade. As causas conjunturais variam mas existirão sempre novas causas.

Numa frase: a prostituição não se regula por decretos.

Por isso, na minha opinião, todas as posições de defesa ou rejeição da legalização da prostituição não são, em si, muito relevantes. Reflectem crenças e valores pessoais, mas isso não basta. Mais importante é perceber qual a melhor forma de proteger os que trabalham na indústria. Inês Fontinha, directora da associação O Ninho discorda da legalização.
Para ela, não é aceitável que uma lei torne lícito o comércio de favores sexuais. Sempre que a ouço, volto a hesitar. Sinto um enorme respeito pela sua obra.

A verdade é que, com a lei vigente, existem poucos (e fracos) programas de apoio às mulheres e homens que se prostituem. Normalmente estes reduzem-se a acções de distribuição de preservativos. É pouco. É quase nada. É urgente mais. Ao nível autárquico, por exemplo, não deverá ser da responsabilidade do poder executivo desenvolver acções coordenadas visando a identificação e mapeamento das actividades ligadas à prostituição? Não deveria cada município desenvolver projectos de assistência e de orientação dirigidos a este grupo social (ou grupos)?

Uma coisa é certa: é preciso debater a questão. Ignorar realidades por constrangimento ou por fraco ganho político, não é aceitável.


Aqui em Aveiro, houve alguma polémica__ um pouco saloia, se me permitem, na sequência da apresentação das Propostas do BE ao Orçamento da Câmara Municipal de Aveiro para 2007. Nelson Peralta indignou-se e, depois de um comentário meu, esclareceu a sua posição, no que diz respeito à legalização da prostituição e sobre o que deve ser uma intervenção ao nível da autarquia. Confrontem a vossa visão com a do NP em A Ilusão da Visão. com, ou sem opinião formada, como eu.

16.12.06

#4 Feliz Natal

É espantoso este The Junky's Christmas!

William S. Burroughs narra um conto seu nesta animação produzida por Francis Ford Coppola. Conheçam a história de Danny the Carwiper.

I

II


III


IV

Os sinos dobram



Exposição de Escultura de A. PEDRO CORREIA

MUSEU DE FISÍCA - Universidade de Coimbra

Inauguração a 19 de Dezembro de 2006 (17h)


À escuta #26

S - Mamã, há uma menina na minha escola que é mesmo pobrezinha.
- Mas como é que sabes que ela é pobrezinha?
S - Não sei, é só que ela tem mesmo cara de pobrezinha.
- As pessoas não têm cara de pobrezinha...
S - Têm, ela tem, mas não te sei dizer porquê.
A - Eu sei quem é, é a xxxxxx!
- É da tua turma?
A - Não, é da turma B, mas ela é muito simpática com toda a gente, fala muito com toda a gente, e eu já brinquei com ela.
S - Se ela tivesse cara de muito rica, não ia ser muito simpática.

(...)
- Eu continuo a achar que a cara de uma pessoa pode não querer dizer nada...
S - Então vou deixar de lavar a minha cara, e também não vou lavar os dentes, e nunca mais me penteio.
- Bem, assim ficas a parecer uma menina muito porquinha, mesmo não sendo.
S - As pessoas iam dizer que eu era porca?
- Iam.
S - Mas estavam erradas...
- Estavam...
S - Então o que é que interessa o que elas dizem?

(...)
- O que eu quero que percebam é que não se pode olhar para uma pessoa e dizer que ela é isto ou aquilo, é preciso conhecê-la. e depois, pobres somos todos, porque todos precisamos de trabalhar para ter dinheiro, para depois podermos comprar as coisas de que necessitamos.
S - Então quem não trabalha é o quê?
- É o quê! Quem não tem trabalho ou emprego, está "desempregado". E cada vez há mais pessoas sem emprego, a viver muito mal.
S - Então os pais da xxxxxx não devem ter emprego...

(...)
A - O Pai Natal hoje foi à minha sala.
- O Pai Natal?
A - Era o pai do xxx vestido de Pai Natal, e deu-nos bombons.
- Ah, deve ter sido divertido!
A - Foi, mas sabes, eu mudei de ideia.
- Mudaste de ideia?
A - Mudei. Primeiro pensei esperar pelo Natal para comer os bombons, mas depois decidi comê-los todos hoje. Querias um?
- Não, não faz mal. E à tua sala, S., o Pai Natal também foi lá?
S - Não, vai amanhã. Mas eu sei que não é o Pai Natal. E o Pai Natal não existe, pois não?
- Não existe?
S - Não, mas já existiu..., há muito tempo.

(...)
S - O Pai Natal não podia mesmo existir... Com tantas crianças, ele ia logo esquecer-se das mais pobres! É mentira, são os pais que dão. E também não existem fadinhas dos dentes, são os pais. E todos os adultos mentem!

(...)
A (a chorar) - O Pai Natal não vai a casa da vóvó?
S - Não vai, mamã?
- Eu espero que vá..., mas dizes que ele não existe...
S - Mas existe?



[subtítulo: Idealismo, Materialismo, Moralismo, Ética, Coerência, Negação, Inteligência, Inocência, Irreverência, Ordem, Paciência, Humor, Política, Demagogia, Pedagogia_____ ou "à deriva"]

Elipse II

O multiculturalismo que a Europa sempre "promoveu" tende a vir a ser uma coisa complicada no futuro. O défice populacional europeu "chama" o não europeu, mas depois encerra-o numa discriminação que se avoluma...
[nos comentários, aqui]

Sobre o amor e a morte

Deve dizer-se que o discurso de Orfeu se distingue agradavelmente do tom bruto e de comando de Jesus de Nazaré. Jesus era um pregador fanático, não pretendia convencer, queria que o seguissem, e sem condições. As suas falas são entremeadas de ordens, de ameaças e desta forma recorrente e apodíctica: "Mas em verdade vos digo..." É assim que falam em todas as épocas, aqueles que pretendem amar e salvar, não um ser humano, mas a humanidade. Quanto a Orfeu, apenas ama uma mulher e é apenas essa mulher que ele quer salvar: Eurídice. É por isso que o seu tom é conciliador, mais amável: ele pleiteia - a raíz da palavra é o provençal plait e significa que ele quer agradar e quer que sejam agradáveis para com ele. E pronto, o seu discurso é um êxito! Os soberanos do reino dos mortos entregam-lhe a mulher que ele ama - mas com a condição bem conhecida de que, no caminho de volta ao mundo do alto, ele não volte uma única vez a cabeça para ela, que seguirá atrás dele.
É aqui que Orfeu comete um erro. (O Nazareno nunca os comete. E mesmo quando comete erros evidentes - por exemplo, quando recruta um traidor para o seu grupo -, é um erro calculado e faz parte do plano escatológico.)

(...)
Lembremos que Orfeu é um artista e, como todos os artistas, não deixa de ter vaidade, ou antes: orgulho na sua arte. (...) enquanto subia, numa paisagem escarpada e cheia de ravinas, já muito longe dos mortos e ainda insuficientemente perto dos vivos, ninguém o ouvia. Excepto a pessoa que seguia atrás dele. E ela não dizia nada. Porquê? Tê-la-iam proibido de falar? Não poderia ela gritar uma vez "Bravo!" ou "Que lindo!"? Não poderia ela, pelo menos, bater as palmas, movida pela alegria e entusiasmo?
(...)
Porém, quando se voltou, para seu grande espanto, para seu grande terror, ela estava mesmo lá, apenas a dois passos, mas ainda do outro lado da fronteira, e assim a perdia por sua própria culpa. Ela olhou-o, tão espantada como ele, e também infinitamente triste, mas sem uma censura; disse-lhe "adeus" num sopro de voz que mal se ouvia, e caiu para sempre no Orco.
A história de Orfeu ainda hoje nos comove porque é uma história de fracasso. Acaba por falhar a prodigiosa tentativa de reconciliar as duas forças primitivas e misteriosas da existência humana, o amor e a morte, e de obrigar a mais cruel das duas a, pelo menos, um pequeno compromisso. A história de Jesus, pelo contrário, no que toca à confrontação com a morte, é triunfante desde o princípio até ao seu triste final. (...)
E o amor? O Eros cheio de pulsões e de desejos de que falámos? Pois bem, é desconhecido nesta morada. Em Jesus, o Eros está ausente.


in Süskind, Patrick, Sobre o Amor e a Morte, Ed. Presença, 2006, pp. 54-60

BOCA

"O que é que se passa?
As palavras já não sabem a nada?
Já não há saliva?
Já não há música?
Já não há ouvidos?
Já não há o direito de pôr as palavras na BOCA antes de as meter na cabeça?"

Daniel Pennac
in Como um romance, Lisboa, Edições Asa, 2002




Elipse

Ela já chegou e promete falar de migrações. e de "europas". In the world there are two kinds of people: those who stay and those who leave.

Poemas

O Blogue Poemas do Mundo lançou um concurso de poesia. Os amigos do Escritor Famoso e da escrita estão a par desta iniciativa? Até 15 de Dezembro, podem enviar os vossos poemas. Just do it!

12.12.06

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS

XIII

O Pierre era gay mas eu não sabia. Pouco importa, apaixonei-me por ele e deixei-o ensinar-me o que podia. Ensinou-me Mahler.
O Pierre era judeu. traço de ainda menor interesse, não fosse ele só ter mãe, porque avós e tios haviam sido mortos por nazis, e o pai desaparecera por não aguentar o porta-destroços que era a mulher.
À míngua de sexo, não faltavam palavras. e hoje voltou o eco daquela voz grave, quase desencarnada.
Da ignorância passei ao conhecimento e deste novamente para a ignorância. uma ignorância lúcida, se isso existir. que é o que sentimos também quando lemos poesia chinesa, Li Bai, a moda na Viena de 1900, de Mahler.
Sempre Mahler. Mas depois da Canção da Terra, confesso, não quis ouvir mais nada. Um dia lemos juntos sobre o estado de espírito do músico enquanto compunha a Sinfonia. A morte da filha de seis anos, a profunda depressão. Devíamos ir ali pela Canção do Adeus, a última da peça. E então aconteceu. Chorámos. Juntos. Sei que começou no minuto 17. porque quando quero chorar, volto lá. e até ao minuto 31, tenho 14 minutos de lágrimas. minha catarse por todos os adeus que não pude dizer. como ao Pierre. que nesse dia beijou pela primeira vez uma mulher.



Imagine o leitor-autor que pretende escrever um livro e não sabe por onde, nem como, começar. O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS proporciona-lhe uma vasta gama de princípios para conto, novela ou romance que o leitor-autor poderá seleccionar livremente. Depois terá apenas que escrever o resto demorando o tempo que entender.

Todas as semanas saiem novos textos:
Às segundas, n' O Afinador de Sinos
Às terças, aqui
Às quartas, no Ponto.de.Saturação

O LIVRO DOS BONS PRINCÍPIOS (blogue)



Nota: Canção do Adeus, fragmento interpretado por Eiko HIRAMATSU. Sobre a obra "Das Lied von der Erde", mais informação aqui.

(Eu nem acredito que vou dizer escrever isto)

Estive a ver o Prós e Contras. É impressão minha, ou a Maria José Nogueira Pinto é a única vereadora da CML a saber o que significa fazer oposição? Chamem-lhe pragmatismo, o que quiserem, mas a senhora trabalha. não discute apenas. nem faz birras como o Manuel Maria, porque foi mais ou menos isso que ele fez, não foi?

11.12.06

Ironia II

A nossa "direita moderna" (tão "moderna" que se revê nos ditadores do século passado, quer tenham nascido em Santa Comba Dão ou em Valparaiso) não perde a oportunidade para tecer loas e branquear o ditador mais sanguinário da América Latina, ontem falecido. Com este despudorado branqueamento ainda acabam, sem querer, por elevar Fidel Castro à categoria de Santo. A "direita moderna" tem todos os tiques dos comunistas: para ambos, os ditadores classificam-se em bons e maus.

___escreve Tomás Vasques (Hoje Há Conquilhas)

Ironia

Foto de El Mercurio

O que me impressiona é que ainda seja defensável a teoria de que Pinochet deu novos horizontes ao Chile. Leiam os jornais chilenos, El Mercurio e La Tercera. A Presidente Michelle Bachelet autorizou a bandeira a meia haste. O ex-ditador não terá um funeral com honras de Estado mas terá honras militares. A maior parte da população exulta mas alguns choram (ouçam o discurso do presidente da Fundação Pinochet). Na Europa, Margaret Thatcher declarou que está profundamente triste!

Por via das dúvidas, fiquem com uma ideia mais clara do Chile que Pinochet encontrou e deixou. Ironia: a morte de Pinochet coincidiu com o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Na ONU, o dia foi dedicado a Darfur. No seu discurso, Kofi Annan ressaltou a necessidade de acabar com a impunidade das violações dos direitos humanos. Mas a morte de Pinochet ressalta outro aspecto: a justiça deve ser célere. Sem nunca ter sido julgado, os seus apoiantes têm margem maior para chorar o herói.

foi um fim de semana

Irving Penn
Girl in Bed, 1949



... em que fiquei enclausurada graças a uma nevralgia intercostal com espasmos que é uma daquelas coisas que devem evitar a todo o custo, sobretudo se tiverem duas filhas que sonham com uma casa enfeitada assim para o Natal, ou se existirem bons programas na cidade, para não falar no tempo, ah o tempo, hoje esteve um belo dia frio de sol, bom para passear, enfim, nem falemos do fim de semana prolongado que estava reservado para uma viagem ao sul até à casa de bons velhos amigos. e que saudades que eu tenho desses amigos que nos conhecem desde sempre, pois, o tempo passa e agora parece desde sempre. sim, evitem. sobretudo os espasmos. e nunca entrem em urgências hospitalares dobrados em dois porque demoram algum tempo a recuperar a dignidade (a postura é importante para exigir que nos falem como gente que somos e não como pobres ignorantes a quem não vale a pena explicar nada). evitem. a injecção da praxe nem dói (dada por enfermeiros, que os nossos médicos ortopedistas preferem ficar sentados, dando a impressão aos pacientes de que sofrem de paralisia. talvez seja estratégico) mas o antes e o quanto-continua-a-doer-depois não compensa. enfim, daqui a uns dias estou boa. mas foi estranho não estar grávida e ter contracções. uma espécie de contracções invertidas, intercostais.
evitem. a não ser que tenham algumas leituras para pôr em dia. o meu consolo. nem a propósito, tinha-me abastecido uns dias antes nas livrarias que por esta altura parece que vão afundar-se em livros e novidades. atirei-me aos tugas e a um alemão. O Senhor Walser do Gonçalo M. Tavares foi consumido numa noite, o Duende de António Franco Alexandre (Assírio & Alvim), em algumas horas. As Feiticeiras que estavam pousadas há algum tempo na mesa de cabeceira, voaram também. O Ultimo Coração do Sonho de Al Berto (Quasi) e O Aprendiz Secreto de António Ramos Rosa (Quasi) estão ali à espera, ando a intercalá-los com Sobre o Amor e a Morte de Patrick Süskind (Ed. Presença), um ensaio. Quando acabar atiro-me ao Possidónio Cachapa, autor de belos livros, que se devoram, e que agora lançou Rio da Glória (Oficina do Livro) e há um ano O Meu Querido Titanic (na mesma editora) mas eu desconhecia.

Diz o Süskind, "os poetas não escrevem sobre aquilo de que detêm conhecimento, mas sobre aquilo de que não possuem a última palavra; não o fazem porque não sabem mais, mas porque querem a todo o custo saber com muita precisão. É este conhecimento imperfeito, é este sentimento de profunda estranheza que os leva a pegar no cinzel, na pena ou na lira.(A cólera, o luto, a exaltação, o dinheiro, etc. são completamente secundários.) De outro modo não haveria poemas, romances, peças de teatro, etc., mas tão só comunicados."
As minhas leituras têm a mesma motivação. Mesmo que também aprecie comunicados___ quando se trata de nevralgias. Vi-me grega para perceber o que era, de onde vem, para onde vai.

Aos laboratórios Viatris e Almirall agradeço os momentos de sossego que os respectivos Metanor e Airtal me vão proporcionando, e a vocês desejo uma excelente semana pré Natal!

10.12.06

Humanidade


Comecem por mergulhar nestes úteros: In the Womb (obrigada O' Sanji)

Depois tentem encontrar uma explicação para o tipo de situações descritas em Dolphin massacre in Japan (via Expresso do Oriente).

Nos dois filmes, o protagonista é o Homem. o mesmo Homem. o dos nossos tempos.








Foto: Luis Quinta

9.12.06

Sinos desafinados

Há três anos atrás, Mário Soares falou da necessidade de diálogo com a Síria e o Irão. Foi ridicularizado. Dialogar com terroristas? James Baker aconselha agora a Administração Bush a fazê-lo.

Há cerca de um ano (Janeiro 2005), Mário Soares escrevia que "Há, assim, muitas probabilidades de que a invasão e a ocupação militar do Iraque se torne, para a América, um problema extremamente crítico, um novo Vietname." Terça-feira passada, no Senado, frente ao Comité das Forças Armadas, o novo secretário da defesa, Robert Gates, utilizou (quase) estas mesmas palavras.

Há mais de três anos atrás, aconteceu a Cimeira das Lajes. Dos quatro governantes presentes, só um, o que nem sempre apareceu nas fotografias de grupo, não foi penalizado. Para o ex-primeiro-ministro, Portugal "não perdeu nada", pelo contrário, "só ganhou credibilidade na ocasião". Exemplificou com o facto de, pouco tempo depois, ter sido convidado para o cargo que ocupa agora na UE...

Parece-me que os sinos estão mesmo desafinados!

8.12.06

À escuta #25

Almada Negreiros
Maternidade, 1935




Este deve ser o último ano em que as minhas filhas acreditam no Pai Natal. Provavelmente a dura verdade nem vai resistir ao mês de Janeiro, com o recomeço das aulas. Mas, por agora, antes de se deitarem, temos a tarefa "carta ao Pai Natal". Cada dia, com os rudimentos de três meses de escola, o lápis regista o desejo de mais um presente. A escrita é esforçada, a borracha apaga e volta a apagar até ficar perfeitinho. Ele usa óculos, talvez não consiga ler as letras mal escritas - digo eu, resistindo aos novos métodos de aprendizagem da escrita que apelam à liberdade criativa. É uma estopada mas a antevisão dos presentes compensa toda a dedicação. Já lhes disse que "quem muito quer..." e elas terminam: "tudo perde". Mas logo contrapõem que o ano passado o Pai Natal até lhes deu coisas que elas nem tinham pedido. Se calhar tinha a mais. Pois, por isso vai-se acrescentando ideias à lista e depois o Pai Natal que escolha. Até porque se estiver esta chuva, se calhar nem pode trazer livros nem bonecas, só presentes que não se estraguem com a água. Pois. Mas, e a bicicleta também se estraga? E a Winx miniatura? Há magia no ar e a alegria não se deve apenas ao ritual dos presentes. Ouço-as no quarto a cantar canções de Natal já com a luz apagada. Nem o vento que zumbe lá fora as assusta.

P.S.: O ano passado era assim.