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8.12.06

À escuta #25

Almada Negreiros
Maternidade, 1935




Este deve ser o último ano em que as minhas filhas acreditam no Pai Natal. Provavelmente a dura verdade nem vai resistir ao mês de Janeiro, com o recomeço das aulas. Mas, por agora, antes de se deitarem, temos a tarefa "carta ao Pai Natal". Cada dia, com os rudimentos de três meses de escola, o lápis regista o desejo de mais um presente. A escrita é esforçada, a borracha apaga e volta a apagar até ficar perfeitinho. Ele usa óculos, talvez não consiga ler as letras mal escritas - digo eu, resistindo aos novos métodos de aprendizagem da escrita que apelam à liberdade criativa. É uma estopada mas a antevisão dos presentes compensa toda a dedicação. Já lhes disse que "quem muito quer..." e elas terminam: "tudo perde". Mas logo contrapõem que o ano passado o Pai Natal até lhes deu coisas que elas nem tinham pedido. Se calhar tinha a mais. Pois, por isso vai-se acrescentando ideias à lista e depois o Pai Natal que escolha. Até porque se estiver esta chuva, se calhar nem pode trazer livros nem bonecas, só presentes que não se estraguem com a água. Pois. Mas, e a bicicleta também se estraga? E a Winx miniatura? Há magia no ar e a alegria não se deve apenas ao ritual dos presentes. Ouço-as no quarto a cantar canções de Natal já com a luz apagada. Nem o vento que zumbe lá fora as assusta.

P.S.: O ano passado era assim.

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