7.4.06

Algodão.


disse logo: algodão. algodão é uma palavra bela. e deve haver uma razão__ ou várias, para que esta palavra, e não outra qualquer, tenha saltado logo do topo da minha mente. é verdade que se chama por ela facilmente: [á]____lgodão. olho outra vez para a palavra. vou olhar imensas vezes para descobrir sentidos____ os que me são familiares e outros estranhos que aparecem sempre que olhamos muito para uma coisa. al__godão alkutum é árabe e gosto de Bi Kidude, rei do taarab. a generosidade de algo__dão contraria o vício capitalista de estimar um preço para tudo. quem dá vai ser____ a senhora da roulotte no parque de diversões, às escondidas do marido que pede 5 euros por algodão azul, rosa ou branco. doce. tenho cinco anos e lambuzo-me de algodão. e trinta anos depois, também. estico o algodão, arranco um pedaço enorme e meto-o na boca. as cores são as da infância. a roupa dos meus bebés. e os tecidos! laváveis a mais de 30°, hipoalergénicos, saudáveis. mas esses não são doces, são macios. estes e os que desmaquilham e lavam feridas.

o que há de universal no algodão: em todos os sentidos da palavra, estica-se na mão. depois de deixar de ser semente. desde a colheita. sendo certo que é melhor evitar falar das plantações. o passado do algodão é negro de escravidão, o presente é tranogânico! por outro lado, se o algodão é História, o algodão é rico. oh, nada desvirtua a beleza da palavra! cor, sabor, textura, filamento de sentidos que não se desvanecem com este saber em rama.



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Bi Kidude, 93 anos, canta Beru

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