16.2.07

Não há religião natural

I
As percepções do Homem não estão limitadas aos orgãos de percepção, ele apreende mais do que os sentidos (ainda que muito agudos) são capazes de descobrir.

II
A Razão, ou o rácio de tudo o que já conhecemos, não é a mesma que há-de ser quando conhecermos mais.

III
[falta]

IV
O que é limitado é desprezado pelo seu possuidor. A fastidiosa volta, até mesmo de um universo, depressa se tornaria um engenho com rodas complicadas.

V
Se muito se torna o mesmo que pouco quando possuído, Mais! Mais! é a exclamação de uma alma enganada; menos do que Tudo não satisfaz o Homem.

VI
Se alguém desejar o que é incapaz de possuir, o desespero há-de ser o seu eterno destino.

VII
Sendo o desejo do Homem Infinito, Infinita é a posse & ele próprio é infinito.

Conclusão
Se não fosse pelo carácter Poético ou Profético, o Filosófico & o Experimental seriam em breve o rácio de todas as coisas, & ver-se-iam paralisados, incapazes de fazer fosse o que fosse a não ser repetir a mesma volta fastidiosa uma e outra vez.

Aplicação
Sendo o desejo do Homem Infinito, Infinita é a posse & ele próprio é Infinito.


Por isso Deus vem a ser o que somos, para virmos a ser o que ele é.

William Blake, 1794
in Sete Livros Iluminados, livro dois, NÃO há RELIGIÃO NATURAL, série b
Tradução de Manuel Portela
Ed. Antígona, Julho 2005, pp 53-61

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