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31.3.06

Não sei se já sabes...

S: ...é o Jesus que escolhe se nasce uma menina ou um menino, e se fala brasileiro...
S: As nuvens no céu estão tão juntas! Elas são fofinhas?
- São, lembras-te de as atravessar de avião?
S: Onde é que vivem os mortos que nunca os vejo?
- Há o corpo e o espírito. O corpo fica na terra...
S: ... naquelas casinhas...
- Sim, no cemitério. E depois talvez haja um espírito que nunca morre...
S: Como é o espírito?
- Unh, é difícil explicar...
S: Não me interessa, não gosto de morrer. Oh, por que é que sou uma pessoa? Preferia ser um carro! Não, uma casa! O que é que dura mais?

O Escritor Famoso V Edição - dia 4

Nenhuma ocorrência ao quarto dia, para além do gesto infeliz de um anónimo frustado que usou a password livre d' O Escritor Famoso para editar um texto pouco original. O texto até perdoávamos, o anonimato é que não. É a primeira vez que isso acontece (desde Julho de 2005) mas se alguém repetir a graça, alteramos o sistema de acesso ao blog.

Mas o mais importante é avisar quem não esteve cá que deve ler este post... porque falta sempre uma cena à nossa maneira em todos os filmes! ;)

30.3.06

Casanova


Quando olhei para o cartaz, convenci-me que o meu Casanova seria o Russel Crowe. Afinal era Heather Ledger, o cowboy gay do filme mais polémico do ano. Como todas as vítimas do Casanova, bem, aceitei esse pequeno transtorno. Que importância poderia ter uma troca de identidade! E o Ledger tem piada e uma voz ..., unh, ...de cowboy, máscula! :))

O filme é delicioso, como Chocolat, lembram-se? Mas, neste filme, Lasse Hallström fusiona assumidamente vários estilos, da aventura à commedia dell'arte. É brilhantemente assistido por Oliver Stapleton na fotografia. Na verdade, é a qualidade da imagem (no trailer poderão já ficar com uma ideia) e de todas as participações (podemos matar saudades de Jeremy Irons, Lana Olin, Oliver Platt, admirar Sienna Miller) que tornam este filme uma boa diversão.
Ah, este Casanova é tão juvenil, amoroso e afinal! bem comportado que, nesta ida ao cinema, podem levar toda a família!

O Escritor Famoso V Edição - dia 3

Ao blog d'O Escritor Famoso chegaram mais dois Actos de Cinema. Até dia 9 de Abril, o Concurso continua!

Entretanto, nos bastidores, apura-se a composição definitiva do júri e transpira-se para a obtenção de um prémio original e muuuuuuuito estimulante. Num dos próximos diários de bordo, divulgarei todas as novidades. Por agora, fiquem só a saber que o escritor Paulo José Miranda fará parte do grupo que terá o prazer de apreciar os vossos textos... e isso deixa-me muito feliz!

Não se esqueçam de ler:

3. Pirata Vermelho, sem título

O cheiro de terra molhada e escura, envolta em neblina quente, acentuava a expressão divina. O sangue borbulhava-lhe na garganta, aberta à frente, marcando o tom grave e arrastado do que dizia e matando-o devagar, num misto de sufoco e pasmo.
De repente pôs-se de pé e fazendo cessar o engasgo que lhe misturava as palavras, interrompeu o que restava de Conrad, olhou em transparência o soldado-carrasco e exclamou ‘You are a hero, boy!’ (contin.)

4. J.P., sem título

Olhos esbugalhados, o peito arquejante, as mãos crispadas. E ora corria, ora caminhava, fixa naquele ponto preto adivinhado de longe. A água gelada fustigou-lhe a alma, e nem sentiu. A saia levantada sobre o corpete, os colotes ensopados em sal e areia, e aquela vontade férrea de prosseguir na recusa da perca daquele bocado de passado.(contin)


Nota: o Wilson T do Escrita Solta deixou lá um desabafo. As palavras dançando harmoniosamente ao som da vida. Escrever é um desespero da alma?

29.3.06

À escuta #23

É a arte que deriva da vida, e não o contrário. Como não sei qual é o sentido da vida, também não sei qual é o sentido da minha arte.

Os artistas não criam nada, eles apenas recriam o que já foi criado pela vida.

O silêncio existe entre dois barulhos ou duas vozes. Só com o silêncio não sobrevivíamos. O silêncio mais profundo é o da morte. O silêncio da morte é também o mais enigmático, o mais curioso, o que desperta mais curiosidade. (...) O espírito sobrevive depois da morte, mas garantia disso não posso apresentar, por agora.

A morte já nos ultrapassa, porque é do lado de lá. Antes disso está-se moribundo, e esse é um estado interessante. Espera-se pelo sono.

A vida propriamente não existe, a vida é teatro. A vida é um conjunto de convenções e o teatro não faz a vida, mas representa as mesmas convenções da vida. Por isso não se pode filmar sem actores. Porque a arte representa a vida, a condição humana.

Não, a minha vida não é um filme. Ela foi apenas feita de filmes.

Uma coisa é certa, com os planos longos não pretendo chatear o público. Porque coloco planos longos? Não sei bem, mas gostava que esse tempo servisse para qualquer coisa.

As vitórias são enganadoras. (...) O artista não tem glória.

Manoel de Oliveira
Dia 27 de Março 2006
Programa Prós e Contras, RTP1

O Escritor Famoso V Edição - dia 2

Começaram a chegar os primeiros Actos de Cinema, respondendo à proposta feita aqui. Até ao dia 9 de Abril, as portas do Escritor Famoso continuam abertas à vossa imaginação!


1. Ivar Corceiro, a morte de olhos abertos

Um corpo nu entardece na ponta nervosa de um cigarro. Linda mastiga sorrisos e depois diz-me que posso dormir com ela. Dormir mesmo, insiste, que sou o último desta noite, a não ser que apareça um taxista em fim de turno, e encosta-se para trás sobre o sórdido divã. Os seios abatem em godé e servem de cinzeiro a algumas cinzas esvoaçantes. (contin.)


2. Fatyly, sem título

De mãos crispadas no volante da sua Harley, olhar fixo na estrada seguia sem sentir a chuva que caía copiosamente. Na mente bailava aquele corpo que tão bem conhecia e que percorreu vezes sem fim! Um breve trejeito com o cruzar de outros faróis, transformou-se num sorriso ao lembrar-se da sua voz, das suas mãos, da sua boca. (contin.)


Entretanto, ao estilo de programação paralela, a Hipátia inaugurou um outro Ciclo Temático, a que chamaremos Grandes Homenagens.


I. Hipátia, The Tramp

Um bigode pequenino, um casaco apertado, umas calças largas, uns sapatos enormes, uma cartola estafada. Um olhar cândido e um sorriso. Um corpo franzino. Ai está: the tramp. (contin.)

28.3.06

V Edição do concurso O Escritor Famoso - Actos de Cinema


L'image-mouvement e L'image-temps em particular - ajudaram-me a perceber alguma coisa dos actos de cinema: do que vou fazer ao cinema e do que o cinema faz. Em que consistem estes actos? Consistem, digamo-lo com Deleuze, em "cortes que adquirem valor absouluto". Vou lá fazer cortes e o cinema faz cortes, ele que é feito de cortes. Que cortes são esses? São "blocos" ou "cristais" de tempo, quer dizer, de pensamento e de vida, a cujos actos podemos chamar: enquadrar, interiorizar, exteriorizar, simultaneizar, intensificar, (...). Mas é evidente que cada qual vive como pode: por isso, nem as imagens são (feitas) da mesma maneira nem se vivem da mesma maneira.

in Actos de Cinema - Crónica De Um Espectador,
Edmundo Cordeiro


As imagens de cinema têm esse poder extraordinário de criar sensações-pensamentos. Elas são sensações-pensamentos! Louco, o Escritor Famoso sugeriu-me que vos desafiasse a imaginar um acto de cinema... sem câmara. Diz-me que, de qualquer forma, os cineastas só se servem da câmara para a "suprimir".

Eu sei que é impossível escrever imagens sonoras. Mas peguem na vossa experiência mágica de ser espectador de cinema, e ofereçam-lhe o vosso acto de cinema possível. Sem audio-visual, como criar actos de cinema? Pensando imagem, amando imagem, esperando imagem, dirigindo os olhos.
Seleccionem o filme da vossa vida e acrescentem-lhe um novo acto. Envolvam-se com aqueles heróis de cinema que ousaram piscar-vos o olho. Façam-nos sair da tela, qual Cecilia na Rosa Púrpura do Cairo, para voltarem a lá entrar diferentes, ou mergulhem vocês no universo deles e deixem que eles vos transformem em radiação.
Imaginem realidades e imagens e fusionem-nas. Criem sentidos. Inventem diálogos.

Mas não esqueçam que se trata de um acto de cinema. A câmara fixa a personagem, de frente, de lado, de um ângulo de cerca de 45°, ou de costas. O olhar da câmara em relação com o olhar da personagem. Qual destes olhares será mais nítido? (a personagem pode sempre tentar furtar-se a que a expiem e captem)

Sintam-se livres. Experimentem. Criem (ou, pensando nas palavras de Manoel de Oliveira, recriem) o vosso Acto de Cinema de Autor.


O regulamento completo do Concurso será publicado brevemente. O Prazo para entrega dos textos-scripts termina a 9 de Abril (24h00). Os textos não poderão ter mais que 30 linhas (Fonte: Trebuchet, tamanho 12/normal).

Todos poderão participar (bloggers, não bloggers), podendo cada autor enviar 3 textos. Os bloggers que têm mais que um blogue, poderão usar diferentes nick names, mas agradecemos que respeitem o número limite de textos por autor.

Todos os concorrentes devem editar o seu próprio texto no blog O Escritor Famoso. A organização do Concurso será responsável pela uniformização da edição (e terá todo o prazer em esclarecer e apoiar aqueles que sintam alguma dificuldade). O login e palavra-passe são os mesmos: efamoso.

Nota extra: A organização ainda anda a pensar no prémio para o/s vencedor/es :))

Amigos, deslumbrem-nos!



Adenda: A organização deste concurso, considerando a petição que ilustríssimos amigos do Escritor Famoso subscreveram, aumenta para 60 o número máximo de linhas por texto.

27.3.06

E se fosse assim, simples como isto?

(Uma reflexão que passa da caixa de comentários para o altar dos posts)

Ando também com um pensar leviano.
De viagens ao mundo sem fim. Pela evasão simplista ou em procura do outro, mais fácil, que há em mim. Aparências que invariavelmente me repõem num lugar atípico de cidadão especulativo e apoquentado. Também apoucado; pelo desenrolar de impunidades a que nos sujeita a pública inversão dos papéis.
A governanta não era aquela senhora cheia de responsabilidade e muito consciente da sua missão e do seu lugar lá em casa? Era! Era escolhida para governar e governava. Nela se depositava grande confiança e dela se tinha, em contrapartida, o apreço merecido. Tornava-se frequentemente uma amiga, como se fosse da família.
Referências pouco um tanto provincianas e distanciadas...

Por cá, o desfile de modelos eróticos é mais feérico e deslumbrante. Dos propriamente ditos, na publicidade e na moda, aos galantes governantes, que parece terem esquecido a quem deveriam mostrar serviço competente. Acham-se porém com ‘cargos de chefia’; dignos de escolta...
Os governantes são o modelo picaresco da sua própria deturpação e de uma política, consolidada, oportunista e invertida, que se queria industriosa nos intuitos, equitativa nos preceitos e corajosa nos momentos. Nunca se tornam amigos! Nem de si próprios; atormentados por inúmeras tropelias arrivistas, pela sombra de impotências várias e auto-apunhalados nas costas, num acto de contorcionismo grotesco.
Ou seremos nós, senhorios, que não sabemos designar e vigiar a tarefa de quem escolhemos para governar a casa? De facto, deste lado, nem um vislumbre de consciência do abuso de confiança ou da usurpação de lugares; nem um resquício de reflexão e de inventividade. Tudo terra-a-terra, na alegria sintética e triunfalista de uma pequenez compulsivamente disfarçada de abundância!
E com que sacrifícios!... De gerir a vidinha suburbana, a ida semanal ao cinema, a mensalidade a pagar, a imagem a manter, o ginásio, o supermercado, o carro novo, a fatiota, a mota d’água! Como se por aí passassem as condições da salubridade mental...

Em resultado da implantação massiva de uma atitude íntima acrítica, não se discute hoje a consistência do modelo – nem a sua aplicação imediata – não se discute a estética da atitude pública – nem a sua função intrínseca – e não se discute a fachada das arquitecturas – nem a sua radiante mediocridade. Não se discute nada! Por falta de tempo. E de alento.
Nestas condições, a genérica imitação de modelos epistemológicos importados apressadamente só o pode ser ‘por baixo’. Tanto porque, sendo produzidos por delegação e em grande quantidade, são mais baratos, como porque, sendo de discurso imobilizado e repetitivo, são mais viáveis e frequentes.

O Clube Grand Avenue, os que o enformam, encabeçados por políticos, manequins, futeboleiros, polichinelos de ventríloquo e outras estrelas de ocasião, perpetua assim o seu encanto na vacuidade folclórica, lasciva e violenta dos variados figurinos que nos impinge, indiscutivelmente aceites como suporte de um estado-feira-popular.

Pirata Vermelho

Começa amanhã
a V Edição do Concurso
O Escritor Famoso

25.3.06

A History of Violence


Esperava por este filme desde Outubro. O último filme de David Cronemberg. Com Viggo Mortense, Maria Bello, Ed Harris, Willian Hurt and so on. Entrem no site, ouçam a música. Saí da sala assim, com vontade de vaguear, perseguida por ecos de imagens. das primeiras às últimas cenas. a última imagem. aquele olhar. e a pensar que os personagens de Patricia Highsmith têm qualquer coisa a ver com o filme. ou o contrário. ou não. por causa da pastoral americana. mas não digo mais nada. digam-me vocês. se o que fica é a violência ou o amor.

24.3.06

cantem...

O dia está a chegar ao fim. Mas se calhar ainda é um bocado cedo para a minha canção. Cantar cedo demais é funesto, sempre achei. Por outro lado, às vezes deixa-se passar a altura. Toca para dormir sem se ter cantado. O dia acaba por passar completamente, para sempre, e não houve canção, seja de que espécie for.

in Dias Felizes, de Samuel Beckett



Cantem! Desta vez, com a Sinéad O'Connor. E há mais no Music Hall.

e façam amor... mas vejam lá aonde! :))

Do Brasil chega também uma nu-tícia muito peculiar. Dois soldados vão ser julgados por fazer amor dentro do quartel, um crime classificado no Código Penal Militar como "pederastia ou acto de libidinagem". A lei prevê prisão de seis meses a um ano para quem pratica sexo dentro de uma unidade militar. Como a dupla estava de serviço, a pena deve ser aumentada em caso de condenação.

Os réus admitiram o acto. Só que o mais velho (25 anos) disse que foi forçado a fazer sexo, enquanto o mais jovem (20 anos) declarou que seu colega de farda estava se insinuando para ele. Que pena eles não se entenderem! Eu acho que é só por isso que merecem castigo! ;)

23.3.06



Melhor comentário: Será um problema genético da espécie? - Ikivuku

e para não falar dos iraquianos...

Imagem de George W. Bush
composta com rostos de soldados norte-americanos mortos no Iraque


Para além do elevado número de soldados mortos, existem cerca de 17000 mutilados de guerra. Aqui, imagens impressionantes que os media não editam. E a ocupação americana eterniza-se! G.W. Bush afirmava há dias que caberá aos próximos presidentes dos EUA decidir sobre a retirada!

22.3.06

O novo lugar das palavras

Minha amiga Simone continua a mandar-me notícias do Brasil. Na verdade, entre as duas, criámos uma espécie de pacto de lusofonia. Desta vez ela informa-me que foi inaugurado no dia 20 de Março, em São Paulo, um Museu da Língua Portuguesa. Em exposição temos um acervo imaterial, sensorial, sonoro e afectivo. É o primeiro museu do mundo dedicado a uma língua.
Para compreenderem melhor, anexo o artigo de Norma Curi, publicado no Jornal do Brasil.

SÃO PAULO - Caetano Veloso gosta de sentir a sua língua roçar a de Camões e Fernando Pessoa dizia que sua pátria era a língua portuguesa. Que língua é essa? José de Alencar afirmava em 1872 que o povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba não pode falar uma língua com o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pêra, o damasco, a nêspera. Mas, aos ouvidos da poeta lusa Sophia de Mello Breyner, o coqueiro, na boca de uma brasileira, fica mais vegetal. Que português é esse? De onde veio, perdido entre 6 mil idiomas no mundo e mesclado de heranças indígenas, africanas, europeias, asiáticas e reciclado? Recheado de doações dos Tupinambá, como o sabiá que Gonçalves Dias e Chico Buarque cantaram, e legados africanos, como a capoeira, a babá, o beleléu?
Esqueça os livros, a gramática, os erros e os acertos e venha penetrar surdamente no reino das palavras, como Carlos Drummond de Andrade propôs em Rosa do povo. Entre num dos museus mais bonitos de São Paulo e não procure objetos, pois o acervo é imaterial, sensorial, sonoro, afetivo, argamassa mutante, senha e signo. No Museu da Língua Portuguesa que inaugura hoje na Estação da Luz, a de trens, o acervo é a palavra lúdica, púdica, erótica, culta e inventada, da boca erudita para a boca do povo. Esqueça as monótonas aulas de português e deixe a palavra grudar em você, feito fetiche.
Já na subida do elevador panorâmico, com vista para a Árvore da Palavra, de 16m, erguida com fibra de vidro, Arnaldo Antunes faz um jogo com os vocábulos ''língua'' e ''palavra'' e a sonoridade de um mantra. Depois alcança-se a Praça da Língua, que um basculante transforma em planetário único, um céu de palavras e um chão de estrelas vocabulares onde o público pisa, distraído. Ouvindo poemas, o canto de Dorival Caymmi, a voz do diretor Zé Celso Martinez Corrêa.
No andar de baixo, o telão ganhou 106m com 11 filmes simultâneos para explicar que festa é galhofa, gandaia, rega-bofe, tem canjica, mugunzá e pamonha, gente tocando mambembe e agogô. Ali, a danada da cachaça engasga-coração.
Anho, inho, na Sala das Palavras Cruzadas. Elas saltam das lanternas interativas. Basta tocar que as telas falam, dão o som e a origem, as culturas que geraram nosso maior patrimônio, o português. Uma linha do tempo que acaba no Mapa dos Falares explica tudo, a raiz indo-européia, que encontrou a língua tupi em 1500, quando Pero Vaz de Caminha tentou contar tudo ao rei de Portugal. Dos Sermões de Vieira, em 1638, ao ''quem não se comunica se trumbica'', de Chacrinha, muita língua rolou. E quem não ficar satisfeito que invente outra nas mesas do Beco das Palavras, feito para ensinar a etimologia dos termos e criar neologismos.
É imperdível a exposição temporária dedicada aos 50 anos de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Dentro do museu tecnológico, a artista plástica Bia Lessa escolheu tecnologia rudimentar e orgânica para espalhar pelo teto bandeiras de algodão onde imprimiu o original das 400 páginas da primeira edição do livro, com as correções de Rosa, uma relíquia da biblioteca de José Mindlin. Para baixar as 200 ''bandeiras'', basta acionar o contra-peso de saquinhos com terra de Minas, onde nasceu o escritor.
São sete veredas dedicadas a Diadorim, Riobaldo, ao diabo, ao interlocutor, e pontos-chave da obra, feitos de latões que são decifrados com leitura espelhada. Ou de painéis de letras que só fazem sentidos se vistos do ângulo certo, através de lupas vazadas, monóculos embutidos na parede. O resto dos textos está escrito sobre terra, no chão, em tijolos fragmentados bordados em vermelho sobre madeira e espalhados pelas pastilhas vitrificadas de um banheiro de cujas torneiras jorra tinta vermelha, sangue da luta no sertão.
Num telão Bethânia respira e lê as 14 últimas páginas do livro, que vai ser reeditado em forma de caixa dobrável pela José Olympio, em maio, com capa bordada, CD com voz da cantora baiana e sons do sertão, por R$ 110.
- Rosa dizia que o indivíduo só existia a partir da linguagem. Não podia ser melhor o tema de abertura desta exposição - diz Bia Lessa.
O visitante vai sair se perguntando por que ele achava Guimarães Rosa tão difícil e a língua portuguesa tão maçante. E vai concordar que foram muito bem gastos os R$ 37 milhões investidos na realização do projeto, realizado pela Fundação Roberto Marinho e a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Leia mais aqui ou aqui.
dizes ao senhor qual é o gelado que queres, mas não te esqueças de pedir "por favor".


- queria um perna de pau. e "por favor".

21.3.06

dos gases à origem do homem



ontem, antes de adormecerem. fiquei a saber que uma, quando bebe Coca-Cola, dá sempre um arroto e um pu ao mesmo tempo.
acontece-me sempre, disse. e digo perdão porque se deve dizer perdão quando arrotamos mas não peço desculpa pelo pu porque tenho vergonha e depois porque ninguém o ouve. e logo a seguir perguntou-me como e quando nasceu a primeira pessoa. a ideia de uma criança nascer do nada e ainda por cima crescer sem pais não lhe parecia muito viável. quem deu o biberão ao primeiro bébé do mundo?
ao lado, a irmã lembrou-se de qualquer coisa que ouviu, e respondeu-lhe cheia de sapiência: os pais do bébé eram macacos! e que maravilhosa lhes pareceu a teoria da evolução, mesmo se a (falta de) noção do tempo as confundisse um pouco. antes de mim eram macacos? antes da vóvó?
e depois, para acabar, e porque não há tema melhor, a grande dúvida: os macacos arrotam? e dão pus? e os gatos? e os cães?
lá fui respondendo ou inventando respostas com elas. para se rirem mais um bocadinho, disse-lhes que os cães quando envelhecem dão uns pus muito mal cheirosos. e isso também acontece às pessoas? o que vale é que o Chico, que era o cão velhinho dos avós, tinha um grande jardim, senão a casa ficava a cheirar mal! e ele agora morreu, coitadinho, e está no céu, e os donos dos cães encontram-nos no céu quando morrem também? e no céu, arrota-se? o Jesus se calhar até se ria!

dos gases à origem do homem e mais gases e depois Deus. vá, meninas, temos que dormir agora! mas isto vai continuar, porque deus viu que era bom.

20.3.06

Convite para um jantar muito especial

À mesa com Júlio Verne
21 de Março
20h00

…Pelas onze horas sucede um caso feliz. O mestre, que logo pela manhã deitou as linhas ao mar, não se enganou desta vez. Com efeito, apanhou três peixes. São três grandes, de oitenta centímetros de comprimento, pertencentes à espécie que, depois de seca, é pelos Ingleses chamada stockfish.
Mal o mestre tira os peixes da água, logo os marinheiros se deitam a eles. O capitão Kurtis, Falsten e eu corremos em auxílio do mestre e logo se restabelece a ordem. Três bacalhaus pouco é para catorze pessoas, mas todos recebem o seu quinhão. Uns, e são os mais, devoram o peixe cru, bem se pode dizer vivo. Robert Kurtis, André Letourneur e miss Herbey conseguem dominar a fome. Acendem um punhado de aparas a um canto da jangada e assam o peixe. Por mim não tive ânimo para tanto e comi-o ainda sangrento!

VERNE, Júlio – A Galera “Chancellor”. Barcelona:
RBA Coleccionables, S.A., 2003. p. 174 e 175


No dia 21 de Março, terça-feira pelas 20h00, no Restaurante do Crasto no Campus da Universidade de Aveiro, realiza-se mais um “À mesa com Júlio Verne”.
Pretendemos com esta iniciativa juntar o ambiente literário das aventuras descritas por Júlio Verne à mestria da culinária inspirada do Chef Michel com as razões culturais e científicas que levam a juntar alimentos e especiarias para conseguir o sabor que irá proporcionar o prazer gustativo e o apetite pela conversa à volta das questões culinárias, químicas e literárias.
A Cozinha é um Laboratório da Fábrica alia-se à arte culinária e à literatura para, de uma maneira diferente, transmitir e proporcionar o gosto pela Comunicação de Ciência.

O jantar, confeccionado e apresentado pelo Chef Michel, é servido com informação sobre os produtos confeccionados. Os monitores da Fábrica Ciência Viva servem à mesa com informação que ajudará na completa degustação deste jantar.
Ao longo da noite são várias as razões para as atenções se levantarem da mesa e enriquecerem com outros prazeres. Nomeadamente, a leitura de trechos do livro A Galera “Chancellor” e a apresentação O Bacalhau – Diferentes formas de conservação pelo Engenheiro João Vieira da empresa Pascoal &Filhos onde ficarão claras as diferenças entre stockfish e bacalhau, e modos de produção.

Este evento, promovido pela Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro, obteve o apoio entusiasmado das empresas Pascoal e Filhos Lda. e Caves Aliança.



Ementa
Entrada
Mesclin de saladas com lascas de bacalhau fresco salteadas com uma composição de alcaparras, cubos de limão e cubinhos de pão frito
Espumante Bairrada Reserva Bruto 2000

Prato
Guisadinho de feijoca com Stockfish e mariscos e o seu arroz de sustância
Aliança Galeria Branco 2005

Sobremesa
Folhado de maçã e sua mousse de hortelã acompanhado de gelado de baunilha e coulis de morangos
Aliança Particular Bruto 2000


Tel. +351 234 427 053 (859) | Fax. +351 234 426 077

mailto:fabrica.cienciaviva@gabs.ua.pt
http://www.fabrica.ua.pt/cienciaviva/

Terapia do Amor



Quando entrei na sala, a sessão já tinha começado. Uma questão de 2 ou 3 minutos. Dois teenagers estão a ter uma conversa de débeis mentais enquanto andam de carro. Depois, o que tem a cara mais ridicula toca a uma campainha e espeta com uma tarte cheia de creme na cara de uma miúda. Pensei que me tinha enganado na sala e saí. Olhei para o bilhete e para o écran por cima da porta. Não, era mesmo a Terapia do Amor de Ben Younger. Voltei a entrar na sala.
Primeiro conselho (genérico): nunca cheguem atrasados ao cinema. Segundo conselho (relativo a este filme): não desistam, esperem pela entrada em cena de Uma Thurman (quer dizer, também podem esquecer os primeiros minutos da sua actuação, quando Rafi Gardet é apresentada ao jovem David Blooberg). A coisa compõe-se de vez com a entrada em cena de Meryl Streep (a actriz que todos-adorámos-e-de-quem-nos-fartámos-depois-e-que-agora-adoramos-novamente-e-com-razão).
Passados 20 minutos já esqueceram o início do filme e estão bem dispostos. Passam um bom momento. Riem-se. Se gostam de homens é muito provável que acabem por ficar pelo beicinho, como a Uma, pelo 23 years old boy. Se forem homens, já entraram na sala a fazer beicinho pela Uma Thurman. Os mais novos nem vão acreditar que uma mulher mais velha possa ser tão interessante apesar de já-desconfiarem-e-de-na-verdade-o-filme-ser-igualzinho-a-uma-das-suas-fantasias-românticas-e-sexuais-mais-antigas.
Os mais velhos vão recordar-aquele-caso-ou-por-que-raio-fui-tão-parvo-que-não-aproveitei-porque-era-óbvio-que-ela-queria-a-safada. Enfim, quando o filme está quase a acabar todos concluimos que ainda-bem-que-ainda-fazem-umas-comédias-românticas-bem-feitas. Mas depois vem o fim. E eu fiquei furibunda!
Estou aqui vai não vai conto-vos o fim... , pois, ok, não conto. Digo-vos apenas que vivemos numa sociedade-subtil-ou-desavergonhadamente-machista-que-tem-visões-distintas para-os-casos-das-rapariguinhas-e-dos-rapazinhos-de-vinte-e-três-anos-que-se-apaixonam-por-pessoas-bastante-mais-velhas. E que vê as mulheres com trinta e sete anos como desesperadas-que-querem-ter-filhos-logo-castradoras-de-jovens-com-futuros-fantásticos e os homens da mesma idade como aqueles que naturalmente-desejam-ser-pais-até-porque-é-sinal-que-querem-assentar sendo-pois-natural-que-as-jovens-com-quem-se-envolvam-fiquem-muito-felizes-e-façam-tudo para-não-os-perder-porque-isso-é-que-é-o-futuro-fantástico-para-elas.

Dúvida extra: O título original do filme é Prime. Porquê? O meu inglês revelou-se insuficiente. Mas se é Prime, é Prime, e não Terapia do Amor! (mesmo se os franceses traduziram Prime por Petites confidences à ma psy)

19.3.06

isto é só para dizer que gosto muito de ti

o meu pai é homem para poucas mas intensas paixões. plantar espécies mais ou menos exóticas de todos os cantos do globo é uma delas. a "selva" não agrada lá muito à minha mãe. porque é demais, uma pessoa não consegue andar pelo jardim sem ser atacada, arranhada, (eu digo seduzida), por uma planta. mas ele não quer saber de queixumes. é só fazer outra viagem e recomeçam os testes. eu gosto desta sua paixão. se já tivessem inventado os aromaposts, vocês conheceriam melhor a ilha em que ele decidiu viver.

17.3.06

Depois do momento elevado que o Contrabaixo Batatas nos ofereceu ontem, passemos a outros festivais e concursos. Aproximam-se novas edições.

I.
FAMAFEST

o que é? - qual a cidade onde decorre este evento? - quem é o Director do Festival?

II

ESCRITOR FAMOSO
e se ele tivesse andado a reflectir sobre cinema? - quem seriam os seus realizadores ou filmes preferidos? - por que personagem da tela se enamoraria?


Vão pensando nas respostas. E depois falamos ;)

16.3.06

São Francisco sem rab*ta,
Pornô sem p*nh*t*
assim, sou eu sem você
"festa sem abraço
trabalho sem palhaço
assim, sou eu sem voooocê!"

factos da vida II

diz o F., já viste que para elas a forma de concepção mais natural é a da inseminação artificial?

15.3.06

factos da vida

Viktor Ivanovski

ontem, à mesa, as duas confessaram uma vontade profunda de se tornarem mães. e culparam-me por não lhes ter dado um irmão ou irmã (que, suspeito, no seu imaginário, seria bébé para sempre). e então a S. disse que quando fosse mais crescida aceitava ir ao médico para ele lhe abrir a barriga e meter lá qualquer coisa que eu não sei o que é, mas que faz as sementes crescerem. para sublinhar a coragem da decisão, acentuou a ideia de que aquilo devia doer mas que achava que valia a pena.
foi assim que percebi que tinha chegado o momento de as iluminar um pouco sobre os factos da vida (adoro esta expressão). tenho adiado porque, ao contrário do que imaginava nos tempos em que sonhava apenas com estas conversas, é um tema que me custa abordar. agora já não é suficiente falar de amor, é preciso descrever o acto sexual, e isso parece-me sempre brutal face à inocência das duas meninas.
quis deixar claro que os bébés não se concebem com dor e que as mães devem ir ao médico apenas na altura da gravidez e do nascimento. voltei à história dos óvulos, acrescentando desta vez os espermatozóides e o sexo masculino. reacção: galhofa pegada. e essa é que eu não esperava! a ideia de que as pilinhas são úteis para a concepção pareceu-lhes uma anedota!
depois da surpresa, e como adoram o pai, ficaram contentes com a ideia de ele ter tido uma participação activa. tão contentes que nem quiseram saber como é que os espermatozóides chegam à barriga das mamãs! uff, ainda não é hoje, pensei, e afinal, é capaz de ser simples. divertido é, certamente. estas conversas, devia gravá-las!

Capote


Gerald Clarke escreveu o livro e o ângulo por que optou é tão genial que grande parte do sucesso do filme se deverá certamente a ele. Gerald Clarke é um escritor que se especializou em biografias - antes escreveu sobre os últimos dias de Judy Garland e depois sobre a filha desta, Liza Minnelli. Mas a forma como nos deu a conhecer Truman Capote e o processo de pesquisa para o primeiro romance documental, A Sangue Frio, é um outro romance documental.
Depois, Dan Futterman (argumentista), Benett Miller (realizador) e Philip Seymour Hoffman fizeram o resto. Hoffman ganhou o Oscar e todos os outros prémios que havia para ganhar e o filme, imensas nomeações.
Só agora fui ver Capote. Depois do visionamento repetido de excertos do filme, já não fiquei espantada com o desempenho de Philip Seymour Hoffman. Este Capote egocêntrico e lúcido, cru e terno, é delicioso, e aquela voz afectada e frágil soa como uma extensão natural da sua personalidade.
O facto de Gerald Clarke ter sido (biógrafo e) amigo de Truman Capote foi certamente importante para o traçado do perfil do escritor. Nada é linear, as contradições que servem tão bem todos os seres humanos estão lá, as relações são retratadas com realismo. Jack Dunphy (interpretado por Bruce Greenwood), com quem Capote viveu até ao fim da sua vida, aparece discretamente com o peso, influência e inseguranças de um amor que durará 35 anos. A relação com um dos assassinos do caso que investiga, Perry Smith (Clifton Collins Jr), central nesta história, é perturbadora, pela origem da atracção e pelo cálculo, pela empatia e por todos os egoísmos.
Dizem que Capote nunca mais foi o mesmo depois desta experiência intensa e deste livro (o último que concluiu). Nós saímos da sala de cinema ilesos, mas com vontade de viajar por mais mundos, como Capote, se calhar para nos destruirmos um pouco por dentro. Ou não fosse a vida isso mesmo, caos e ordem, caos e ordem.

13.3.06

Boa semana!

Chinese walk and tumble inside oxygenated ballons floating on the water in Fuzhou in China's Fujian province (AP Photo/Eye Press). Começar a semana sabendo que é possível andar sobre a água, sem a ajuda de Moisés, é bom! E assim aconteceu o oitavo dia?

12.3.06

Bon anniversaire, Dominique!

Foto MRF

Elle avait aperçu une photo de l'endroit en vitrine dans une agence de voyages. Cela lui avait suffi pour pousser la porte.
Un bien fou
Eric Neuhoff


Ma belle, garde bien tous ces trésors, plages inaccessibles par la terre, falaises à pic, rochers aux formes biscornues, déserts couleur melocoton, horizon torride, infini, blanchi de chaleur. Et bon courage pour tous les tours de l'île de la vie à pied (d'accord, tu pourras néanmoins louer une scooter :-)

Mais aujourd'hui, est-ce-que tu as remarqué? Paris a mis son robe de papillons pour te féliciter!

10.3.06

Condição Humana

René Magritte (1934)

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Ás vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

9.3.06

O grito

Lá fora-se comemora-se... isto! aaaaahhhhhhhh!

Por aqui comemora-se...

Harold t


Depois do dia internacional da mulher parece-me bem dedicar um dia pessoal aos homens! Já foi assim o ano passado... mas como ando preguiçosa, deixo-vos o mesmo texto.

No dia pessoal aos homens eu vou dizer que os admiro e amo mas que não gostava nada de ser homem.

Na verdade eu teria medo de ser homem. eu asfixiava, se fosse homem. é a barba, é o guarda-roupa limitado, as cores que não são de homem, a forma idêntica das camisas, os nós de gravata. até os perfumes, bálsamos e cosméticos têm as mesmas fragâncias a ambâr, sempre. mas isto é só o princípio.

O pior tem a ver com as decisões que um homem tem de tomar. Os papéis sociais evoluiram, mas a nossa maior liberdade gerou uma enorme desorientação nos homens. Há conquistas masculinas, é claro. por exemplo, agora um homem pode chorar. mas se eu fosse um homem, não choraria muitas vezes. porque as mulheres adoram embalar e confortar mas continuam a sonhar com protecção. Como elas estão mais informadas e já não são expulsas de casa se não forem virgens, agora tudo parece ser mais simples. mas se fosse homem, ainda me sentiria mal se uma miúda fosse mais experiente do que eu e no final me dissesse docemente "não te preocupes, a técnica é o menos importante".

É ao nível profissional que eu mais detestaria ser homem. Um homem não pode parar de trabalhar, nem quando os filhos nascem, mesmo que se interesse menos do que ela pelo seu trabalho. nem quando está cansado nem quando não há trabalho. e não é só pelo imperativo financeiro. é que fica mal tratar da casa e das crianças. e se os miúdos estão doentes, não dá para pedir ao chefe para sair, dizendo que a mulher tem uma reunião importante lá no trabalho dela. Eu acho que os homens têm poucos direitos no mundo laboral. e que o patronato tem de começar a encará-los como seres que têm as suas fragilidades. Além de que, é sabido, os homens têm que ser o maior contribuinte para o lar. se fosse homem, eu não me importaria que ela ganhasse mais do que eu, mas não ia confessar isso a muita gente.

Tudo isto deixa os nossos homens perdidos. Às vezes até são inteligentes, mas começam a não distinguir o chão do cesto da roupa suja, a não perceber que o papel higiénico não nasce no porta-rolos, que não foi por milagre que a loiça apareceu lavada, que não perdem a identidade se não ficarem com o comando da televisão na mão, etc., já todos ouvimos falar destas situações. Nos casos extremos começam a sofrer de atrofia cerebral, e esquecem dias de aniversário e outras datas importantes. Às vezes tornam-se impacientes e deixam de nos acompanhar aos shoppings.

Também acontece distraírem-se com muitas mulheres ao mesmo tempo. Eu compreendo, porque nenhuma de nós sozinha os consegue entender por completo. Mas inquieto-me quando os vejo acreditarem na ternura e compaixão, no fogo e atrevimento de uma fotografia de out-door.

Não, eu juro que sofreria imenso se fosse homem. Por exemplo, como me sentiria só e estranho se não gostasse de futebol. era capaz de ser pior do que ser gay mas, se fosse homem, era gay de certeza.

É por tudo isto que dedico este dia aos homens. Porque os homens são diferentes mas têm direito a tudo, como nós.

Comemorações caseiras do 8 de Março II

O prometido é devido, aqui está o cartaz com as colagens que as oito raparigas com 3 (uma), 5 (seis) e 6 (uma) anos compuseram. Bom dia feminidade! Boa noite esperanças feministas! :))

sim, ali no canto é o Figo!!!




7.3.06

Comemoração caseira do 8 de Março

I.
Amanhã vou fazer um lanche-festa cá em casa para as minhas filhas e algumas amigas, todas com 5-6 anos. Este hábito de fazer pequenas festas começou porque ninguém nos conhecia quando chegámos a Aveiro e por isso elas raramente eram convidadas para os aniversários dos coleguinhas! Um dia cheguei ao infantário e percebi que a turma estava reduzida a meia dúzia de miúdos porque a Margarida fazia anos e mamã, ela não me convidou para a festa dela. Nas grandes cidades há uma situação de igualdade à partida, garantida pelo facto de ninguém conhecer ninguém. Nas pequenas cidades, facilmente se encontra o filho da amiga de infância, do vizinho, do colega de trabalho, no mesmo infantário, e priveligia-se esse relacionamento. Vai daí, e irritada com a situação, comecei eu a fazer festas, inventando motivos, para que os pais dos amigos delas nos conhecessem (e deixassem de recear o que quer que fosse), e elas tivessem a oportunidade de criar mais facilmente laços de amizade com todos. E assim, sem me aperceber, acabei por criar uma espécie de hábito naquela escola. É que os miúdos gostaram tanto das festas temáticas que começaram a pedir o mesmo aos pais. Agora até é demais! Não há semana sem um convite e, sem qualquer dúvida, elas têm uma vida social bastante mais agitada que a minha! Dissolvidas as resistências iniciais, a estranheza face aos "paraquedistas" aveirenses, acho mesmo que elas ficam a ganhar por viver numa pequena comunidade.

II.
Para que as crianças possam andar mascaradas mais um dia, o que as diverte imenso, costumo fazer uma festa na altura do Carnaval. O ano passado, já mais crescidas, elas e as amigas trocaram os disfarces, inventaram peças de teatro e durante toda a tarde andaram tão felizes que foi mesmo um prazer assistir a tudo. Este ano foi-me impossível organizar a festa nessa altura (chamo festa a um lanche colorido!). Foi por isso que tivémos de inventar outro pretexto para o encontro. E assim, a festa de amanhã vai ser dedicada ao Dia Internacional da Mulher.

III.
Como explicar o que é o Dia Internacional da Mulher a meninas de 5 (quase 6) anos? Pois, é um desafio engraçado. Percebi que elas não tinham nenhuma noção do que era a desigualdade entre sexos (era o que mais faltava!). A única coisa que tinham percebido era que, normalmente, os homens são maiores que as mulheres, e, consequência natural, têm mais força física. Bem, na primeira semana de Março de 2006, as minhas filhas foram iniciadas na História das Lutas Feministas.

IV.
Pareceu-me mais simples começar pelas sufragistas. Houve eleições há pouco tempo em Portugal, elas foram ver as assembleias de votos e as cabines (onde não puderam entrar porque o voto é secreto, e por isso eu contei-lhes um segredo muito importante quando lhes disse quem tinha escolhido para Presidente da República - segredo que uma soube guardar e que a outra espalhou a quatro ventos). Acho que com essa informação começaram a compreender qualquer coisa. Afinal, a ideia de elas próprias não poderem votar por terem apenas cinco anos já lhes parece uma enorme injustiça!
E depois contei-lhes o episódio-metáfora dos movimentos feministas nos anos 60, a queima dos soutiens. Mas com essa ficaram confusas. É que se há peça que adorem, é o seu único e espantoso soutien azul. Fizeram um sorrisinho como quem pensa que essas eram malucas.

V.
Um pouco perdida, decidi ir à net, fazer umas pesquisas, encontrar até umas fotos de mulheres famosas. Uma das actividades previstas para amanhã é também a feitura de um cartaz com colagens sobre o tema. Pois bem, vou ao Google e pesquiso "mulheres famosas": primeira resposta: Fotos de Mulheres Famosas Portuguesas Nuas; segunda resposta: Sexo: Mulheres Famosas Nuas; terceira resposta: Fotos das Mais Belas Mulheres Famosas do Brasil Nuas. Tento ser mais precisa e pesquiso "feministas famosas +Portugal", está melhor, mas não é por esta via que vou encontrar imagens para recortarem.

VI.
Decidi não lhes falar já da situação das mulheres no Islão, acho este tipo de imagens muito forte e redutor, mesmo se real. Vou centrar-me no Portugal do antes 25 de Abril. A ideia de que a avó tinha que pedir autorização ao avô para andar de avião ou para comprar um carro é capaz de bastar para uma introdução ao tema. O Portugal pós 25 de Abril também daria bons (maus) exemplos (níveis salariais, violência doméstica, taxa de ocupação com tarefas domésticas, atitude face ao aborto, ainda visto como uma questão feminina, etc.) mas eu quero que elas cresçam optimistas.

VII
Depois digo-vos como correu a festa e prometo editar uma foto do cartaz que as meninas vão criar.

VIII
Como reproduzir modelos? Uma vez que tenho que restringir o número de crianças (a regra agora é que a turma inteira só é convidada para os aniversários), tento sempre arranjar um critério de selecção mais ou menos objectivo. Normalmente são os meninos e meninas da "mesa" delas, ou seja, os que têm a mesma idade. Desta vez, e para conseguir incluir umas meninas mais pequeninas que elas adoram, porque é o Dia Internacional da Mulher, só vêm raparigas. Está mal, eu sei, mas ser sempre coerente é muito difícil!

6.3.06

78 edição e costura

e foi assim, a coser baínhas e botões, que vi a cerimónia dos Oscars! e devo confessar-vos que me descobri mais atenta aos alinhavos que aos discursos. e que raio de cerimónia mais sem graça, previsivelmente um bocadinho mais irreverente, menos previsivelmente sem um momento de emoção (ninguém chorou) ou de surpresas (ok, no fim, não foi o Brokeback Mountain o vencedor, valha-nos isso!)

e foi assim, dedicando-me à costura, que é coisa que acontece raramente mas que me faz sentir muito boa dona-de-casa, que passaram as 3 horas e meia de espectáculo sem que eu adormecesse. entretanto, Dolly Parton? e que raio de rap era aquele que venceu a estatueta?

mas foi assim este ano, e os filmes eram todos muito polémicos, dizem. a homossexualidade é polémica! (ehehehe, em Hollywood?) a transsexualidade ainda mais! pena que o realizador palestiniano não ganhasse o Oscar (melhor filme estrangeiro). enfim, dizem que os judeus na América não gostaram da nomeação. valha-nos que Munique, o segundo filme (depois da Lista de Schindler) da trilogia de Spielberg (aí o Jon Stewart teve piada) tenha tido 5 nomeações mas não tenha ganho nada! mas o melhor argumento não foi para Syriana e isso não quero perdoar. e o George Clooney levou apenas um prémio de consolação. já o filme que realizou e produziu foi esquecido! era polémico? não sei. mas gostei que não se esquecessem de Crash. é verdade que o racismo é um bom tema para ganhar Oscars. mas o filme era mesmo bom.

ah, e o Philip Seymour Hoffman ganhou o Oscar para melhor actor! gostei. desde o Happiness que adoro este actor! mas o Capote, confesso, ainda não vi.

e foi assim que começou uma nova semana. boa semana, minha gente! sem muitas ondas (nem ventos fortes), de preferência. e com alguns bons filmes. se puder ser.

adenda: para saber todos os detalhes mediáticos, winners, discursos e vestidos, vão ao site oficial da Academia e não se esqueçam de o ouvir (tem uns tiques mas não é burro de todo!).

4.3.06

Nuno Cabruja

duas semanas prometi que faria um post todas as sextas com um link para o blog do Nuno. Ando tão distraída que esqueci. Mas hoje ainda vai a tempo. Vão até lá!

Entretanto, adiram a esta ideia (mas qualquer dia serve para se mobilizarem nos vossos locais de trabalho) ou a esta (atenção, a data foi alterada para 6 de Maio).

Pride and Prejudice


"Orgulho e preconceito" estreou-se no cinema em 1940 com Laurence Olivier no papel de Darcy. Neste início do século XXI, a honra coube a Matthew MacFadyen, e oh god, what a chance for all of us! Matthew e a bela Keira Knightley formam um par romântico irresistível! Mas todo o casting é um luxo, temos Donald Sutherland e Brenda Blethyn como pais da liberal e justa Elisabeth Bennet, e ainda a magnífica Judi Dench!
Eu sou o que os franceses designam por "bom público". Entro no filme, deixo-me levar e assim, mais uma vez, este romance de Jane Austen, passado na austera Inglaterra georgiana, enlevou-me por completo. Saí da sala com vontade de beijar intensamente o meu Mr. Darcy!
Compreender o preconceito é tarefa simples. Estratificação e mentalidade sociais evoluiram mas o culto da diferença entre classes subsiste. Quanto ao orgulho, mantém-se a questão: é uma qualidade ou um defeito?

1.3.06

Carnaval em Aveiro

Não é um dos Carnavais mais antigos, muito menos um dos mais ricos, mas aposto que o Corso desfila numa das cidades mais bonitas de Portugal.















E nós no nosso camarote a apreciar o desfile! Um luxo! É claro que aperfeiçoamos a técnica do quem-atira-as-serpentinas-para-mais-longe! Na foto de baixo, a verdadeira cinderela com o traje das limpezas! :))



E aqui, com a irmã Bela Adormecida, um pouco antes do baile!