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29.3.06

À escuta #23

É a arte que deriva da vida, e não o contrário. Como não sei qual é o sentido da vida, também não sei qual é o sentido da minha arte.

Os artistas não criam nada, eles apenas recriam o que já foi criado pela vida.

O silêncio existe entre dois barulhos ou duas vozes. Só com o silêncio não sobrevivíamos. O silêncio mais profundo é o da morte. O silêncio da morte é também o mais enigmático, o mais curioso, o que desperta mais curiosidade. (...) O espírito sobrevive depois da morte, mas garantia disso não posso apresentar, por agora.

A morte já nos ultrapassa, porque é do lado de lá. Antes disso está-se moribundo, e esse é um estado interessante. Espera-se pelo sono.

A vida propriamente não existe, a vida é teatro. A vida é um conjunto de convenções e o teatro não faz a vida, mas representa as mesmas convenções da vida. Por isso não se pode filmar sem actores. Porque a arte representa a vida, a condição humana.

Não, a minha vida não é um filme. Ela foi apenas feita de filmes.

Uma coisa é certa, com os planos longos não pretendo chatear o público. Porque coloco planos longos? Não sei bem, mas gostava que esse tempo servisse para qualquer coisa.

As vitórias são enganadoras. (...) O artista não tem glória.

Manoel de Oliveira
Dia 27 de Março 2006
Programa Prós e Contras, RTP1

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