Páginas
▼
30.9.05
hang on
Uma mesa pequena para um grande assunto
Estes são nomes de capítulos de um livro escrito em 1925. Quem adivinha qual é o livro e quem é o seu autor?
As pessoas põem nomes a tudo e a si próprias também
A sociedade só tem que ver com todos, não tem nada que cheirar com cada um
Às vezes o dia começa à noite
Onde se mostra que quem complica as estreias são os experimentados
Quando as ajudas desistem, pega a conspiração
À segunda vez que se nasce, assiste-se ao próprio nascimento
Cada qual vê Eva pela primeira vez
Cada um vai atrás da sua ideia, ou é a sua ideia que vai atrás de cada um?
Não sabendo bem por onde anda a realidade, o protagonista começa a fazer fotografias com a imaginação
Onde se começa a ver que numa mesma vida mal cabe um quanto mais dois
Nem todos os que acabam de dormir ficam logo acordados
Quem não responde às cartas que lhe mandam, ao menos leia-as
Quando se passa de um lugar para o outro, levamos em geral o primeiro lugar connosco
Os olhos da nossa memória vêem melhor do que os nossos
Os palermas que não percebem nada da vida são piores que os malandros
Solução: Nome de Guerra, de Almada Negreiros
three or four hundred days a year
"Humans From Earth" - T-Bone Burnett
(ouvir)
We come from a blue planet light-years away
Where everything multiplies at an amazing rate
We're out here in the universe buying real estate
Hope we haven't gotten here too late
We're humans from earth
You have nothing at all to fear
I think we're gonna like it here
We're looking for a planet with atmosphere
Where the air is fresh and the water clear
With lots of sun like you have here
Three or four hundred days a year
Bought Manhatten for a string of beads
Brought along some gadgets for you to see
Heres a crazy little thing we call TV
Do you have electricity?
I know we may seem pretty strange to you
But we got know-how and a golden rule
We're here to see manifest destiny through
Ain't nothing we can't get used to
We're humans from earth
You have nothing at all to fear
I think we're gonna like it here
(rjm)
(ouvir)
We come from a blue planet light-years away
Where everything multiplies at an amazing rate
We're out here in the universe buying real estate
Hope we haven't gotten here too late
We're humans from earth
You have nothing at all to fear
I think we're gonna like it here
We're looking for a planet with atmosphere
Where the air is fresh and the water clear
With lots of sun like you have here
Three or four hundred days a year
Bought Manhatten for a string of beads
Brought along some gadgets for you to see
Heres a crazy little thing we call TV
Do you have electricity?
I know we may seem pretty strange to you
But we got know-how and a golden rule
We're here to see manifest destiny through
Ain't nothing we can't get used to
We're humans from earth
You have nothing at all to fear
I think we're gonna like it here
(rjm)
Voice Mail
"hello you've reached the astrocall message center
the god you've tried to reach is not available to take you call"
rjm
the god you've tried to reach is not available to take you call"
rjm
A verdade, essa bela localidade
Hã?
Bom dia, Vietnam! Cigarros apertados? OK, vamos lá então, não vai custar nada...
... --- ... ... --- ... ...---...
rjm Says:
mas sobre que arquitectura, x86?
rjm Says:
x86: pentium, AMD, etc.
[xxxxx] says:
pois vai ter que ser
rjm Says:
ah, fala com os gajos
[xxxxx] says:
AMD
rjm Says:
boa escolha
[xxxxx] says:
é melhor
rjm Says:
sem duvida
rjm Says:
fala com eles
rjm Says:
devem ter!
rjm Says:
eu ia la
[xxxxx] says:
tenho que ver isso
[xxxxx] says:
tens que ir lá
rjm Says:
lá? aonde?
rjm
... --- ... ... --- ... ...---...
rjm Says:
mas sobre que arquitectura, x86?
rjm Says:
x86: pentium, AMD, etc.
[xxxxx] says:
pois vai ter que ser
rjm Says:
ah, fala com os gajos
[xxxxx] says:
AMD
rjm Says:
boa escolha
[xxxxx] says:
é melhor
rjm Says:
sem duvida
rjm Says:
fala com eles
rjm Says:
devem ter!
rjm Says:
eu ia la
[xxxxx] says:
tenho que ver isso
[xxxxx] says:
tens que ir lá
rjm Says:
lá? aonde?
rjm
Apaguem os cintos! Apertem os cigarros!
A Administração deste blog decidiu recrutar novos colaboradores. Depois de um longo processo de recrutamento, o primeiro candidato já foi selecionado. Vão conhecê-lo ainda hoje. Deixamos esta imagem para que os novos candidatos conheçam o primeiro teste a que são submetidos. Existe uma segunda fase que consiste na execução de uma peça em contrabaixo. Finalmente, os candidatos são sujeitos a provas escritas e criativas. A grelha de análise desta última fase é secreta mas, nesta primeira selecção, só foi aceite o candidato que revelou capacidades superiores às da própria Administração. Chama-se rjm. E esta casa deseja-lhe as boas vindas! ;)
Por favor, não fiques já zangado! eu sou assim, eu nasci assim, vou ser sempre assim ...:lol:
Por favor, não fiques já zangado! eu sou assim, eu nasci assim, vou ser sempre assim ...:lol:
28.9.05
Tem a palavra cultura no seu programa eleitoral?
Realizou-se ontem um debate/tertúlia centrado na política cultural municipal na livraria O Navio de Espelhos (Aveiro). Estiveram presentes representantes das várias forças políticas, a saber:
Pedro Silva - actual vereador da Cultura, Planeamento e Gestão Urbanística (PS)
Susana Esteves (número 7 da lista da coligação PSD/CDS à CM)
António Regala (CDU/candidato à AM)
Francisco Vaz da Silva (presidente da ACAV - Assoc. Arte e Cultura de Aveiro, cabeça de lista do BE à CM)
Para além destas presenças (confirmadas previamente), assinalo a participação de:
- Carlos Fragateiro (fundador da Efémero, Director do Teatro da Trindade)
- Rui Sérgio (actor, fundador da Efémero, Director-Adjunto do Teatro da Trindade, n° 4 da lista do BE à CM)
- José Luís Martins Pereira (Director da Companhia de Dança de Aveiro)
- Celso Cruzeiro (advogado)
- Doutor Manuel António Coimbra (professor universitário/projecto Ciência Viva, n° 3 da lista da colig. PSD/CDS à AM)
- Arsélio Martins (professor de Matemática, n° 2 do BE à AM)
- João Martins (músico, n° 2 do BE à CM)
- D. Maria Helena Costa e Melo
- Pedro Ferreira (n°4 da lista da Coligação PSD/CDS à CM)
- Maria João Regala (psicóloga)
O Presidente da CMA e candidato a novo mandato, Alberto Souto, Paula Barros e Jorge Afonso (n° 1 e 3 pelo BE à AM) marcaram também presença, numa noite que foi de resto dominada pelas intervenções dos representantes e simpatizantes do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda. Não obstante, Susana Esteves fez a (primeira) apresentação pública do programa da Coligação PPD-PSD/CDS-PP para a área da cultura.
Tópicos de discussão:
- definição do conceito de Política Municipal de Cultura
- papel histórico das associações e colectividades na dinamização da vida cultural
- avaliação do desempenho da Edilidade em termos de coordenação e apoio a todos os agentes culturais
- (in)cumprimento dos protocolos estabelecidos com as assoc. culturais por parte da CMA
- necessidade de apoio a micro-projectos (iniciativas culturais individuais)
- estratégias de gestão para o Teatro Aveirense (programação, sinergias com agentes locais)
- gestão de equipamentos; modelo de gestão - número de empresas municipais (dispersão versus maximização de recursos; objectivo: optimizar competências; em causa Tema e Aveiro Expo).
- gestão de equipamentos; a questão da propriedade (CM ou associações)
- criação de públicos
- divulgação da cultura/política de informação
- conceito Aveiro cidade da Música
- conceito Aveiro cidade do Conhecimento
- ligação da cidade à UA (universidade)
- democratização da cultura
- cinema na cidade; Cineclube, Festivais de cinema
- ...
Gostei deste debate em que, para além das naturais picardias políticas, se confrontaram ideias e projectos e se recolheram sugestões (que não se devem esquecer). Apreciei o envolvimento de todos os presentes e, ainda estrangeira em Aveiro, apercebi-me de laços (quase) afectivos entre adversários que certamente já percorreram e cruzaram os mesmos caminhos muitas vezes. Gostei de ouvir aqueles que há muitos anos estão ligados à direcção de associações culturais e a nova geração que intervém na cidade trazendo mais-valias culturais inquestionáveis. Finalmente uma palavra para a minha livraria de estimação, O Navio de Espelhos. Pedro Silva comparava a acção da livraria na cidade com a da Gulbenkian no país. Um exagero (simpático) obviamente, tanto mais que não existe nenhum milionário arménio a financiar este projecto. Mas é verdade que, mais uma vez, este espaço sobressai com uma iniciativa própria que veio colmatar uma lacuna grave - em ano de eleições este debate sectorial, centrado na cultura, não tinha ainda ocorrido!
P.S.: A imprensa local não compareceu
P.S.(2): No próprio momento foi-me pedido que mediasse este encontro e, como sou mais ou menos (mais para o mais) inconsciente e entusiasta, aceitei, relativizando esse papel. Penso que todos tiveram oportunidade de se expressar apesar de ter sido difícil controlar os "tempos de antena". Agradeço a todos o bom ambiente neste serão tão particular. E declaro-me mais aveirense do que nunca! :)
Pedro Silva - actual vereador da Cultura, Planeamento e Gestão Urbanística (PS)
Susana Esteves (número 7 da lista da coligação PSD/CDS à CM)
António Regala (CDU/candidato à AM)
Francisco Vaz da Silva (presidente da ACAV - Assoc. Arte e Cultura de Aveiro, cabeça de lista do BE à CM)
Para além destas presenças (confirmadas previamente), assinalo a participação de:
- Carlos Fragateiro (fundador da Efémero, Director do Teatro da Trindade)
- Rui Sérgio (actor, fundador da Efémero, Director-Adjunto do Teatro da Trindade, n° 4 da lista do BE à CM)
- José Luís Martins Pereira (Director da Companhia de Dança de Aveiro)
- Celso Cruzeiro (advogado)
- Doutor Manuel António Coimbra (professor universitário/projecto Ciência Viva, n° 3 da lista da colig. PSD/CDS à AM)
- Arsélio Martins (professor de Matemática, n° 2 do BE à AM)
- João Martins (músico, n° 2 do BE à CM)
- D. Maria Helena Costa e Melo
- Pedro Ferreira (n°4 da lista da Coligação PSD/CDS à CM)
- Maria João Regala (psicóloga)
O Presidente da CMA e candidato a novo mandato, Alberto Souto, Paula Barros e Jorge Afonso (n° 1 e 3 pelo BE à AM) marcaram também presença, numa noite que foi de resto dominada pelas intervenções dos representantes e simpatizantes do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda. Não obstante, Susana Esteves fez a (primeira) apresentação pública do programa da Coligação PPD-PSD/CDS-PP para a área da cultura.
Tópicos de discussão:
- definição do conceito de Política Municipal de Cultura
- papel histórico das associações e colectividades na dinamização da vida cultural
- avaliação do desempenho da Edilidade em termos de coordenação e apoio a todos os agentes culturais
- (in)cumprimento dos protocolos estabelecidos com as assoc. culturais por parte da CMA
- necessidade de apoio a micro-projectos (iniciativas culturais individuais)
- estratégias de gestão para o Teatro Aveirense (programação, sinergias com agentes locais)
- gestão de equipamentos; modelo de gestão - número de empresas municipais (dispersão versus maximização de recursos; objectivo: optimizar competências; em causa Tema e Aveiro Expo).
- gestão de equipamentos; a questão da propriedade (CM ou associações)
- criação de públicos
- divulgação da cultura/política de informação
- conceito Aveiro cidade da Música
- conceito Aveiro cidade do Conhecimento
- ligação da cidade à UA (universidade)
- democratização da cultura
- cinema na cidade; Cineclube, Festivais de cinema
- ...
Gostei deste debate em que, para além das naturais picardias políticas, se confrontaram ideias e projectos e se recolheram sugestões (que não se devem esquecer). Apreciei o envolvimento de todos os presentes e, ainda estrangeira em Aveiro, apercebi-me de laços (quase) afectivos entre adversários que certamente já percorreram e cruzaram os mesmos caminhos muitas vezes. Gostei de ouvir aqueles que há muitos anos estão ligados à direcção de associações culturais e a nova geração que intervém na cidade trazendo mais-valias culturais inquestionáveis. Finalmente uma palavra para a minha livraria de estimação, O Navio de Espelhos. Pedro Silva comparava a acção da livraria na cidade com a da Gulbenkian no país. Um exagero (simpático) obviamente, tanto mais que não existe nenhum milionário arménio a financiar este projecto. Mas é verdade que, mais uma vez, este espaço sobressai com uma iniciativa própria que veio colmatar uma lacuna grave - em ano de eleições este debate sectorial, centrado na cultura, não tinha ainda ocorrido!
P.S.: A imprensa local não compareceu
P.S.(2): No próprio momento foi-me pedido que mediasse este encontro e, como sou mais ou menos (mais para o mais) inconsciente e entusiasta, aceitei, relativizando esse papel. Penso que todos tiveram oportunidade de se expressar apesar de ter sido difícil controlar os "tempos de antena". Agradeço a todos o bom ambiente neste serão tão particular. E declaro-me mais aveirense do que nunca! :)
Faltam dois dias ou menos que isso...
... para que tenham que apagar os cintos e apertar os cigarros.
27.9.05
Isto está a gravar?
Toc toc.
Olá terráqueos.
Era só para dizer que esta Quinta é da responsabilidade do artista formerly known as Batatas.
Por favor, apaguem os cintos e apertem os vossos cigarros.
Bejinhos,
rjm
Olá terráqueos.
Era só para dizer que esta Quinta é da responsabilidade do artista formerly known as Batatas.
Por favor, apaguem os cintos e apertem os vossos cigarros.
Bejinhos,
rjm
Faltam três dias...
... para que o Divas & Contrabaixos tenha um novo escriba. Vai ser bom partilhar este espaço com ele! E vocês... vão gostar!
Tem a palavra Fim da Corrupção no seu programa?
Tanto mar, tanto mar, ou talvez não! Chegou a hora de conhecerem este movimento e quiça, se estiverem por aí, de participarem. A ordem é esta:
E quem está por trás deste protesto contra a corrupção?
P.S.: Se quiserem perceber melhor o Mensalão, assistam a esta explicação (divertida e pedagógica) do jornal O Globo.
Dia 29, contra a corrupção!
Vamos exigir que todos os envolvidos sejam cassados!
Será uma caminhada da Cinelândia até às escadarias da Alerj.
Concentração: Cinelândia/17h
Leve nariz de palhaço e apito.
Vamos exigir que todos os envolvidos sejam cassados!
Será uma caminhada da Cinelândia até às escadarias da Alerj.
Concentração: Cinelândia/17h
Leve nariz de palhaço e apito.
E quem está por trás deste protesto contra a corrupção?
Somos do povo, somos cidadãos cansados de honrar as nossas dívidas com o país e ainda ser obrigados a votar em corruptos.
Somos professores, mecânicos, padeiros, que independente da classe social e profissão queremos uma coisa apenas: O FIM DA CORRUPÇÃO NO BRASIL.
Somos um povo calejado por promessas e mentiras deslavadas por nossos governantes , que possuem como única diferença um cargo de confiança. Mas no final, acabam sendo a pior espécie de ladrão que rouba sabendo que as leis escritas por eles o dará amparo.
Somos nós,os patrões desses políticos corruptos.
Somos nós, aquele senhor aposentado que espera na fila para receber um valor insignificante por tantos anos de trabalho.
Somos nós, as pessoas que morreram esperando em uma fila astronômica o atendimento médico.
Somos nós, aquele estudante que se submete à qualquer emprego, apenas para continuar estudando.
Somos àqueles, que choram e comemoram a vitória do Brasil em mais uma copa.
Mas somos nós que mudaremos o rumo do país, basta lutar.
Somos professores, mecânicos, padeiros, que independente da classe social e profissão queremos uma coisa apenas: O FIM DA CORRUPÇÃO NO BRASIL.
Somos um povo calejado por promessas e mentiras deslavadas por nossos governantes , que possuem como única diferença um cargo de confiança. Mas no final, acabam sendo a pior espécie de ladrão que rouba sabendo que as leis escritas por eles o dará amparo.
Somos nós,os patrões desses políticos corruptos.
Somos nós, aquele senhor aposentado que espera na fila para receber um valor insignificante por tantos anos de trabalho.
Somos nós, as pessoas que morreram esperando em uma fila astronômica o atendimento médico.
Somos nós, aquele estudante que se submete à qualquer emprego, apenas para continuar estudando.
Somos àqueles, que choram e comemoram a vitória do Brasil em mais uma copa.
Mas somos nós que mudaremos o rumo do país, basta lutar.
P.S.: Se quiserem perceber melhor o Mensalão, assistam a esta explicação (divertida e pedagógica) do jornal O Globo.
Força, minha cara amiga Simone V.!
Tem a palavra cultura no seu programa eleitoral?
O que gerou maior celeuma em Aveiro quando supostamente se discutia uma política para a cultura foi... o preço das fotocópias na Biblioteca Municipal! É por isso que aguardo com expectativa a tertúlia ou debate de logo à noite (21:30) na Livraria O Navio de Espelhos. A livraria lançou o desafio e representantes locais dos vários partidos políticos aceitaram estar presentes. Por favor, não deixem de comparecer! A hora, é esta!
26.9.05
Sans besoin
Partilhamos esta paixão por Jacques Brel. E ela, Nadine, ofereceu-me Sans Besoin. Mas eu acho que vocês devem ir ouvi-lo lá em casa.
Tout le Monde en Parle
Este é Thierry Ardisson, o animador de culto do Tout Le Monde en Parle. Sim, volto à carga, mesmo se o programa de ontem foi mais fraquinho. A verdade é que foram apresentados pelo menos 6 livros, 2 peças de teatro, 3 filmes e um novo ábum. Estiveram no estúdio os autores, actores, realizadores e músico que, sem complexos, vieram defender a sua "obra". O conceito do programa é genial porque mistura muito bem informação com divertimento. E uma coisinha assim faz-nos falta!
Agora os entrevistados! Vou seleccionar apenas alguns:
Guy Ritchie, o marido de Madonna, veio falar de Revólver, o seu quarto e último filme. O genérico é bom, torna o filme apetecível, mas não me parece que ele vá conseguir o primeiro sucesso da sua carreira. Teve problemas de financiamento, Luc Besson deu uma ajudinha, acabou com um casting fantástico. Centra-se no universo do jogo mas o que lhe interessa é o aspecto relacional: como se joga com a ilusão, como se joga com a confiança das pessoas. Tudo isto através de um argumento divertido. Frase a reter: enganamos as pessoas devido à sua cupidez. Trica cor de rosa ou lilás: não se lembrava da data de aniversário de Madonna.
Patrice Chéreau (realizador) e Pascal Greggory (actor) vieram apresentar Gabrielle, o filme sensação do ano. Isabelle Huppert é a protagonista e, com este filme, já ganhou um Leão especial em Veneza. De Chéreau já vi "Ceux qui m'aiment prendront le train" e gostei imenso! Argumento a reter: são duas pessoas que se esqueceram que têm um corpo, que se esqueceram de ter prazer.
Gerard Jugnot (sou fã) e Mélanie Doutey (actriz com corpinho de calendário e cabecinha de devia ter lido Proust) defenderam Il ne faut jurer de rien! (realiz.: Éric Civanyan).
Assinatura a reter (?): no cimo do corpo de uma mulher há uma cabeça.
Damon Albarn dos Blur e (criador) de Gorillaz, explicou o conceito deste último projecto: um grupo quase virtual que alia os universos musical e gráfico. Pela primeira vez temos uma banda sem interface humana, tendo como única representação visual personagens originais de BD. O novo álbum: Demom Days. Frase a reter: a celebridade é como um túmulo, como uma doença. Ou: em Inglaterra todas as revistas falam sempre dos mesmo 20 artistas (mais descansados? não é só cá...).
Depois, os livros! Não vou falar deles. Mas muitos são biografias. Fica a nota comparativa: se o nosso mercado editorial se assemelhasse ao francês, o Artur Albarran já teria gerado duas ou três biografias, a Fátima Felgueiras umas sete (3 por cada ano que esteve no Brasil mais outra a sair com detalhes sobre a estadia além-mar), todos os arguidos do caso Casa Pia teriam uma oficial e outra não oficial, pelo menos um ministro do governo de Santana Lopes teria já lançado qualquer coisa como "Tanto em tão pouco tempo", etc. etc..
Finalmente termino com a evocação que deu início ao programa: Simone Signoret. No aniversário da sua morte, tivemos Catherine Allégret, sua filha, (tão parecida com a mãe), a falar-nos de Signoret. Da sua origem judia (pai era polaco), do casamento com Yves Allégret que que durou muito poucos anos porque Simone se apaixonou perdidamente por Yves Montand, do engagement político do casal, do apoio ao partido comunista e de como foram utilizados por este, da negação às críticas à URSS, do afastamento apenas no início dos anos 80, da mágoa por não ter conseguido ter um filho com Montand, do Óscar em Hollywood e do sofrimento aquando do romance de Montand com Marilyn Monroe, da carreira no cinema - em 1978 ainda ganha um César, e da escrita, do funeral que foi um acontecimento nacional só comparável ao de Jean-Paul Sartre. Angústia a não reter: Simone descobre a primeira ruga aos 30 anos, Montand nunca esqueceu esse momento. As mulheres envelhecem mais rapidamente que os homens. Ou os homens ficam mais bonitos quando envelhecem, ao contrário das mulheres.
Agora os entrevistados! Vou seleccionar apenas alguns:
Guy Ritchie, o marido de Madonna, veio falar de Revólver, o seu quarto e último filme. O genérico é bom, torna o filme apetecível, mas não me parece que ele vá conseguir o primeiro sucesso da sua carreira. Teve problemas de financiamento, Luc Besson deu uma ajudinha, acabou com um casting fantástico. Centra-se no universo do jogo mas o que lhe interessa é o aspecto relacional: como se joga com a ilusão, como se joga com a confiança das pessoas. Tudo isto através de um argumento divertido. Frase a reter: enganamos as pessoas devido à sua cupidez. Trica cor de rosa ou lilás: não se lembrava da data de aniversário de Madonna.
Patrice Chéreau (realizador) e Pascal Greggory (actor) vieram apresentar Gabrielle, o filme sensação do ano. Isabelle Huppert é a protagonista e, com este filme, já ganhou um Leão especial em Veneza. De Chéreau já vi "Ceux qui m'aiment prendront le train" e gostei imenso! Argumento a reter: são duas pessoas que se esqueceram que têm um corpo, que se esqueceram de ter prazer.
Gerard Jugnot (sou fã) e Mélanie Doutey (actriz com corpinho de calendário e cabecinha de devia ter lido Proust) defenderam Il ne faut jurer de rien! (realiz.: Éric Civanyan).
Assinatura a reter (?): no cimo do corpo de uma mulher há uma cabeça.
Damon Albarn dos Blur e (criador) de Gorillaz, explicou o conceito deste último projecto: um grupo quase virtual que alia os universos musical e gráfico. Pela primeira vez temos uma banda sem interface humana, tendo como única representação visual personagens originais de BD. O novo álbum: Demom Days. Frase a reter: a celebridade é como um túmulo, como uma doença. Ou: em Inglaterra todas as revistas falam sempre dos mesmo 20 artistas (mais descansados? não é só cá...).
Depois, os livros! Não vou falar deles. Mas muitos são biografias. Fica a nota comparativa: se o nosso mercado editorial se assemelhasse ao francês, o Artur Albarran já teria gerado duas ou três biografias, a Fátima Felgueiras umas sete (3 por cada ano que esteve no Brasil mais outra a sair com detalhes sobre a estadia além-mar), todos os arguidos do caso Casa Pia teriam uma oficial e outra não oficial, pelo menos um ministro do governo de Santana Lopes teria já lançado qualquer coisa como "Tanto em tão pouco tempo", etc. etc..
Finalmente termino com a evocação que deu início ao programa: Simone Signoret. No aniversário da sua morte, tivemos Catherine Allégret, sua filha, (tão parecida com a mãe), a falar-nos de Signoret. Da sua origem judia (pai era polaco), do casamento com Yves Allégret que que durou muito poucos anos porque Simone se apaixonou perdidamente por Yves Montand, do engagement político do casal, do apoio ao partido comunista e de como foram utilizados por este, da negação às críticas à URSS, do afastamento apenas no início dos anos 80, da mágoa por não ter conseguido ter um filho com Montand, do Óscar em Hollywood e do sofrimento aquando do romance de Montand com Marilyn Monroe, da carreira no cinema - em 1978 ainda ganha um César, e da escrita, do funeral que foi um acontecimento nacional só comparável ao de Jean-Paul Sartre. Angústia a não reter: Simone descobre a primeira ruga aos 30 anos, Montand nunca esqueceu esse momento. As mulheres envelhecem mais rapidamente que os homens. Ou os homens ficam mais bonitos quando envelhecem, ao contrário das mulheres.
25.9.05
Colisão
Vocês pensam que não são racistas, certo? Vejam Colisão de Paul Haggis e depois digam qualquer coisinha...
Para uma sociologia do quotidiano: um tratado sobre racismo e xenofobia: estereótipos latentes e manifestos: diferença entre atitude e comportamento: (des)humanidade e (in)tolerância.
Num cinema perto de si. ou a alguns quilómetros de distância. porque tudo é muito relativo.
23.9.05
Dicionário do silêncio
Eu sei que escrevo longos textos e que não há pachorra, e que se todos os blogues fossem assim nunca mais saíamos daqui, etc., mas depois dos últimos posts fiquei sem perceber se:
- querem ou não um programa como o Tout Le Monde En Parle num dos nossos canais?
- já leram alguma coisa do Michel Houellebecq? não leram mas odeiam-no?
- as circunstâncias da morte de Salvador Allende é assunto irre ou relevante?
- tiveram/têm alguma t-shirt do Che Guevara?
- a AMI é uma ONG que respeitem? ou desconfiam de todas as ONG? gostariam de ser voluntários?
- apesar de tudo, apetece-vos Luanda como destino turístico?
Se optarem pelo silêncio (eu compreendo, é o que faço muitas vezes!), talvez vos interesse este dicionário: quais são as vossas palavras-silêncio?
- querem ou não um programa como o Tout Le Monde En Parle num dos nossos canais?
- já leram alguma coisa do Michel Houellebecq? não leram mas odeiam-no?
- as circunstâncias da morte de Salvador Allende é assunto irre ou relevante?
- tiveram/têm alguma t-shirt do Che Guevara?
- a AMI é uma ONG que respeitem? ou desconfiam de todas as ONG? gostariam de ser voluntários?
- apesar de tudo, apetece-vos Luanda como destino turístico?
Se optarem pelo silêncio (eu compreendo, é o que faço muitas vezes!), talvez vos interesse este dicionário: quais são as vossas palavras-silêncio?
la possibilité d'une île II
A minha encarnação actual degrada-se; acho que ela não se vai aguentar por muito mais tempo. Sei que na minha próxima encarnação vou encontrar o meu companheiro, o cãozinho Fox.
O benefício da companhia de um cão reside na possibilidade de o fazer feliz; ele pede coisas simples, o seu ego é tão limitado. É possível que numa época anterior, as mulheres se tenham encontrado numa situação comparável - próxima da situação do animal doméstico. Havia sem dúvida uma forma de felicidade domótica* ligada ao funcionamento normal, que nós já não conseguimos compreender; havia sem dúvida o prazer de constituir um organismo funcional, adequado, concebido para realizar uma série discreta de tarefas - e essas, repetindo-se, constituia a série discreta dos dias. Tudo isso desapareceu, e a série de tarefas; nós já não temos um objectivo estabelecido; as alegrias do ser humano permanecem desconhecidas para nós, as suas desgraças pelo contrário só podem descoser-nos. As nossas noites não vibram mais de terror ou de êxtase; mas vivemos apesar de tudo, atravessamos a vida, sem alegria e sem mistério, o tempo parece-nos breve.
O benefício da companhia de um cão reside na possibilidade de o fazer feliz; ele pede coisas simples, o seu ego é tão limitado. É possível que numa época anterior, as mulheres se tenham encontrado numa situação comparável - próxima da situação do animal doméstico. Havia sem dúvida uma forma de felicidade domótica* ligada ao funcionamento normal, que nós já não conseguimos compreender; havia sem dúvida o prazer de constituir um organismo funcional, adequado, concebido para realizar uma série discreta de tarefas - e essas, repetindo-se, constituia a série discreta dos dias. Tudo isso desapareceu, e a série de tarefas; nós já não temos um objectivo estabelecido; as alegrias do ser humano permanecem desconhecidas para nós, as suas desgraças pelo contrário só podem descoser-nos. As nossas noites não vibram mais de terror ou de êxtase; mas vivemos apesar de tudo, atravessamos a vida, sem alegria e sem mistério, o tempo parece-nos breve.
Michel Houellebecq
la possibilité d'une île
Sinto a provocação, vou trucidar este livro com o prazer da leitura!
pp 11, traduzido por mrf
* domótica: sistema de automatização de edifícios. ver exemplo aqui
* domótica: sistema de automatização de edifícios. ver exemplo aqui
22.9.05
Luanda, em Setembro de 2005
Esta é a crónica da viagem que não fiz a Luanda. Estava prevista para o início deste mês mas tive que deixar a minha amiga Cristina, também nascida em Angola, dar esse salto às origens... sozinha. Ela viajava (também) por razões profissionais. Há um provérbio africano que diz "Caminha sempre à frente de ti mesmo, como o camelo que conduz a caravana" e esse é um dos lemas de vida da minha amiga.
Já de volta escreveu-me este mail que, com o seu consentimento, vou postar para o mundo. Não sei se ela me quis consolar um pouco mas fiquei com a impressão de que, quando lá for, outros mitos (muito pessoais) vão ruir!
Já de volta escreveu-me este mail que, com o seu consentimento, vou postar para o mundo. Não sei se ela me quis consolar um pouco mas fiquei com a impressão de que, quando lá for, outros mitos (muito pessoais) vão ruir!
Olá Rosarinho
Já estou em casa - cheguei hoje de manhã. As viagens foram óptimas, mas já percebi porque é que se deve ir em executiva. São quase 8 horas dentro do avião e o espaço não é muito.
Conforme te disse, levei máquina fotográfica, mas não digital. Tirei algumas fotografias (poucas) que conto mostrar-te em breve. Luanda não é exactamente a melhor cidade do mundo para fazer turismo - caríssima e completamente limitativa no que se refere à capacidade de locomoção de um estranho. Não há transportes públicos dignos desse nome, não há táxis e não se vêm muitos brancos a andar a pé. Resultado - só consegui andar pela cidade com motoristas e carros emprestados. Consegui ir ao Mussulo e à Barra do Kuanza.
A cidade está bastante degradada - 30 anos sem manutenção e com guerra pelo meio não ajudaram nada. O que existe em termos de infra-estruturas foi feito pelos portugueses para uma cidade que, à época, teria cerca de 400.000 habitantes. Hoje tem mais de 4.000.000 .... A água e a luz faltam todos os dias, pelo menos 1 vez. Só se consegue viver sem grandes sobressaltos se se tiver um gerador eléctrico e um depósito de água com bomba. Claro que as casas alugadas pelos europeus têm estes "extras". O aluguer de uma casa/apartamento com estes requisitos não custa menos de USD 7.000. A somar a isto tens as despesas com segurança da casa, com estacionamento na cidade, com empregada, com lavagens de carros, .... Daí que a maioria dos expatriados optem por viver em hotéis, com diárias (sem alimentação) na casa dos 180 USD. Claro que o sector do turismo é um dos que regista maior desenvolvimento.
Foi uma experiência interessante, mas a não repetir do ponto de vista turístico. Quanto ao aspecto profissional, é uma situação a ponderar com cuidado.
Um beijinho muito grande e até breve.
Cristina
P.S. Na versão oficial tu também foste a Luanda. Se os meus pais sonham que fui sozinha têm um colapso.
21.9.05
Viagens contra a Indiferença II
A AMI - Assistência Médica Internacional foi criada em 1984 por Fernando Nobre, inspirada no modelo dos Médecins Sans Frontières de França. Fernando Nobre participou como cirurgião em várias missões desta ONG e foi administrador da Médecins Sans Frontières na Bélgica.
Em 1981, o Irão estava em guerra com o Iraque. Fernando Nobre integrou uma delegação da MSF que, no Irão, foi recebida pelo Ayatollah Khomeini. Este é um fragmento do seu diário da viagem.
Irão - 1981
(...)28 de Fevereiro
23:00 - Esta tarde às 15:00 a nossa delegação foi recebida em audiência oficial pelo Ayatollah Khomeini, líder supremo da revolução islâmica iraniana. Tal honra foi sem dúvida devida ao facto de sermos a primeira delegação ocidental a chegar ao Irão após a recente libertação dos reféns norte-americanos da Embaixada norte-americana em Teerão. De relembrar que esses reféns ficaram presos na Embaixada e em outros locais, mais de um ano e que foram apenas libertados no próprio dia do fim do mandato do Presidente Carter e da tomada de posse do Presidente Reagan. Tal facto deu-se a 20 de Janeiro de 1981, a saber pouco mais de um mês antes da nossa chegada a Teerão. Tudo isto explica o acolhimento extremamente caloroso e oficial a que tivemos direito no aeroporto, assim como as atitudes amigáveis e respeitosas com que temos sido brindados desde que chegámos a Teerão. Durante a audiência o Ayatollah Khomeini mostrou-se extremamente seráfico, silencioso, trocando poucas palavras connosco, estando mais à escuta do que falando ele próprio. Inteira-se do porquê da nossa estadia no Irão (...) Perante as dificuldades enfrentadas no Sul pelo povo iraniano em guerra com o Iraque, estávamos lá apenas como equipa médica para prestar o apoio possível. O seu olhar, sob espessas sobrancelhas, é intenso e tem o brilho e o fulgor daqueles que se crêem investidos de uma missão sobrenatural. É de certeza um místico, mas também um condutor de homens implacável. Sente-se nos seus seguidores, presentes na sala, uma deferência absoluta. A sala está toda coberta de tapetes e ele, como nós todos, está sentado sobre almofadas. Estamos perante um Califa com poder absoluto. É o Imã.
(...) tenho muitas dúvidas de que o Irão pós-Xá seja menos sofredor do que foi durante a ditadura do Xá, mesmo com a sua polícia política, a então temível Savak. Nesse mesmo dia à tarde visito o Bazar de Teerão que é fabuloso de gente, de mercadorias (das frutas aos tapetes), de cores, cheiros e sons. A ambiência em Teerão é de revolução com todas as mulheres trajadas a rigor, com o seu chador negro, com fotografias do Ayatollah Khomeini por todo o lado, não só nos edifícios oficiais mas também nos hotéis e em edifícios particulares.(...)
Fernando Nobre
Viagens contra a Indiferença, pp 33-34
Temas e Debates Ed.
Em 1981, o Irão estava em guerra com o Iraque. Fernando Nobre integrou uma delegação da MSF que, no Irão, foi recebida pelo Ayatollah Khomeini. Este é um fragmento do seu diário da viagem.
Irão - 1981
(...)28 de Fevereiro
23:00 - Esta tarde às 15:00 a nossa delegação foi recebida em audiência oficial pelo Ayatollah Khomeini, líder supremo da revolução islâmica iraniana. Tal honra foi sem dúvida devida ao facto de sermos a primeira delegação ocidental a chegar ao Irão após a recente libertação dos reféns norte-americanos da Embaixada norte-americana em Teerão. De relembrar que esses reféns ficaram presos na Embaixada e em outros locais, mais de um ano e que foram apenas libertados no próprio dia do fim do mandato do Presidente Carter e da tomada de posse do Presidente Reagan. Tal facto deu-se a 20 de Janeiro de 1981, a saber pouco mais de um mês antes da nossa chegada a Teerão. Tudo isto explica o acolhimento extremamente caloroso e oficial a que tivemos direito no aeroporto, assim como as atitudes amigáveis e respeitosas com que temos sido brindados desde que chegámos a Teerão. Durante a audiência o Ayatollah Khomeini mostrou-se extremamente seráfico, silencioso, trocando poucas palavras connosco, estando mais à escuta do que falando ele próprio. Inteira-se do porquê da nossa estadia no Irão (...) Perante as dificuldades enfrentadas no Sul pelo povo iraniano em guerra com o Iraque, estávamos lá apenas como equipa médica para prestar o apoio possível. O seu olhar, sob espessas sobrancelhas, é intenso e tem o brilho e o fulgor daqueles que se crêem investidos de uma missão sobrenatural. É de certeza um místico, mas também um condutor de homens implacável. Sente-se nos seus seguidores, presentes na sala, uma deferência absoluta. A sala está toda coberta de tapetes e ele, como nós todos, está sentado sobre almofadas. Estamos perante um Califa com poder absoluto. É o Imã.
(...) tenho muitas dúvidas de que o Irão pós-Xá seja menos sofredor do que foi durante a ditadura do Xá, mesmo com a sua polícia política, a então temível Savak. Nesse mesmo dia à tarde visito o Bazar de Teerão que é fabuloso de gente, de mercadorias (das frutas aos tapetes), de cores, cheiros e sons. A ambiência em Teerão é de revolução com todas as mulheres trajadas a rigor, com o seu chador negro, com fotografias do Ayatollah Khomeini por todo o lado, não só nos edifícios oficiais mas também nos hotéis e em edifícios particulares.(...)
Fernando Nobre
Viagens contra a Indiferença, pp 33-34
Temas e Debates Ed.
20.9.05
Sonhar um impossível sonho
apeteceu-me!
sonhar um impossível sonho
suportar a mágoa das partidas
arder de uma possível febre
partir para onde ninguém parte
amar até se rasgar
amar, mesmo demasiado, mesmo mal,
tentar, sem força e sem armadura,
alcançar a inacessível estrela
eis a minha busca
seguir a estrela
pouco me importam as minhas chances
pouco me importa o tempo
ou o meu desespero
e depois lutar sempre
sem dúvidas nem repouso
condenar-me
pelo oiro de uma palavra de amor
não sei se serei este herói
mas o meu coração ficaria tranquilo
e as cidades ficariam salpicadas de lama azul
porque um infeliz
arde ainda, apesar de tudo já estar queimado
arde ainda, mesmo demasiado, mesmo mal
para conseguir esquartejar-se
para alcançar a inacessível estrela*
Jacques Brel, La Quête
Para ouvir, siga este link.
* a tradução é minha, esquartejei-me para fazer o melhor possível
Viagens contra a Indiferença
Viagens contra a Indiferença é o nome do livro que Fernando Nobre, fundador e Presidente da AMI, lançou em Dezembro de 2004 (acaba de sair a 5a edição). O livro reune 6 histórias e 16 diários de viagem: ao Irão em 1981, Zaire em 1994, Iraque em 1995 e 2003, Argélia, Palestina, Ruanda, em 1996, Nepal em 1995, Senegal, México e Colômbia em 1997, Guiné-Bissau e Honduras em 1998, Timor em 1999 e Chade em 2004. Ontem assisti a uma pequena palestra de apresentação deste livro e foi um prazer ouvir Fernando Nobre falar da AMI e das várias missões em que participou. Fernando Nobre é um viajante, já esteve em mais de 130 países, e parece que teria de ser assim, que estava escrito no seu adn de homem com origens multicolores. Neste livro lança gritos de inconformismo porque é impossível ficar imune à visão da morte, das mortes, em massa. Em 1983 a guerra civil no Sudão entre o exército muçulmano de Cartum e guerrilheiros animistas e cristãos provocou cerca de 2 milhões de mortos. Na Roménia pós Ceausescu, visitou orfanatos onde as crianças eram depositadas para morrer. No Ruanda, em 1994, esteve num campo (de extermínio) em que morriam 2000 pessoas por dia, cujos corpos iam sendo amontoados, já que o seu enterro era inviável naquelas terras enlameadas. Escreve estes livros para os filhos (25, 24, 12 e 8 anos), para que estes compreendam a razão das suas eternas ausências. Fê-lo com esforço, não tem o hábito de tomar notas, de fazer registos das viagens. Escreve então, de memória. Por ocasião dos 20 anos da AMI e dos seus 25 anos de acção humanitária.
Vou voltar a Fernando Nobre e à AMI. Mas por agora, fiquem com este extracto:
Iraque - 1995
(...)22 de Dezembro
5:30 - Partida de Bagdad. O táxi chegou 30 minutos atrasados. O carro e o condutor parecem-me correctos.(...) A auto-estrada que vai de Bagdad à fronteira de Rwesheid atravessa toda a zona desértica. Muitos camiões: esta estrada é a verdadeira aorta do Iraque. Se a cortassem o país morreria. Pelo caminho existem uns 10 a 15 checkpoints de controle da polícia. Os militares parecem estar a passar dificuldades. Por vezes fazem abrir a mala do carro, por vezes não, mas quase sempre fornecemos-lhes cigarros... Parece o Zaire. (...) aceitei dar boleia a um iraquiano (...) Parecia uma figura bíblica. Não nos esqueçamos de que os árabes, como os judeus, são semitas e daí as línguas árabe e hebraica pertencerem ao mesmo grupo linguístico semítico. Daí poder afirmar-se com justiça e propriedade que o Sr. General Sharon, em 1982, nos massacres de Sabra e Chatila, teve atitudes e comportamentos anti-semitas repugnantes.
(...)
O Sr. Khouri, depois de me pedir desculpa em nome do povo árabe, chamou um dos seus criados, deu-lhe ordem para afastar o sofá e qual não foi o meu espanto quando, após o criado ter enrolado um belo tapete que estava aos meus pés, um autêntico persa de seda, mo entregou pedindo mais uma vez desculpa s pelo sucedido e dizendo-me que o tapete que me oferecia valia de certeza 50 vezes mais do que os tapetes que me tinham sido roubados.
(...)
1. O rei Hussein da Jordânia é outro ditador e está, como sempre esteve, contra o Iraque. (...)
2. Não vale a pena enviar medicamentos para cá pois as exigências são mais que muitas na medida em que três ministérios estão envolvidos na questão das autorizações...(...)
3. Disse-me também que a Cáritas jordana não funciona porque o padre director é um ladrão. Enfim, existe de tudo um pouco na humanidade.(...)
Termino por aqui pois está na hora de me deitar.
pp 113-117
Vou voltar a Fernando Nobre e à AMI. Mas por agora, fiquem com este extracto:
Iraque - 1995
(...)22 de Dezembro
5:30 - Partida de Bagdad. O táxi chegou 30 minutos atrasados. O carro e o condutor parecem-me correctos.(...) A auto-estrada que vai de Bagdad à fronteira de Rwesheid atravessa toda a zona desértica. Muitos camiões: esta estrada é a verdadeira aorta do Iraque. Se a cortassem o país morreria. Pelo caminho existem uns 10 a 15 checkpoints de controle da polícia. Os militares parecem estar a passar dificuldades. Por vezes fazem abrir a mala do carro, por vezes não, mas quase sempre fornecemos-lhes cigarros... Parece o Zaire. (...) aceitei dar boleia a um iraquiano (...) Parecia uma figura bíblica. Não nos esqueçamos de que os árabes, como os judeus, são semitas e daí as línguas árabe e hebraica pertencerem ao mesmo grupo linguístico semítico. Daí poder afirmar-se com justiça e propriedade que o Sr. General Sharon, em 1982, nos massacres de Sabra e Chatila, teve atitudes e comportamentos anti-semitas repugnantes.
(...)
O Sr. Khouri, depois de me pedir desculpa em nome do povo árabe, chamou um dos seus criados, deu-lhe ordem para afastar o sofá e qual não foi o meu espanto quando, após o criado ter enrolado um belo tapete que estava aos meus pés, um autêntico persa de seda, mo entregou pedindo mais uma vez desculpa s pelo sucedido e dizendo-me que o tapete que me oferecia valia de certeza 50 vezes mais do que os tapetes que me tinham sido roubados.
(...)
1. O rei Hussein da Jordânia é outro ditador e está, como sempre esteve, contra o Iraque. (...)
2. Não vale a pena enviar medicamentos para cá pois as exigências são mais que muitas na medida em que três ministérios estão envolvidos na questão das autorizações...(...)
3. Disse-me também que a Cáritas jordana não funciona porque o padre director é um ladrão. Enfim, existe de tudo um pouco na humanidade.(...)
Termino por aqui pois está na hora de me deitar.
pp 113-117
19.9.05
Tout le Monde en Parle
Agora que já sabem qual é O meu programa televisivo preferido, não se admirem se todas as segundas vier aqui comentar os entrevistados da noite anterior. Desta vez o painel incluia Yves Cochet, Lambert Wilson, Juan Vivés, Iliana de la Guardia e Jim Kerr dos Simple Minds, entre outros (é claro que aparecem sempre umas actrizes lindíssimas e uns actores cómicos!).
Yves Cochet, ecologista, foi ministro do ambiente no Governo Jospin, é actualmente député vert à Paris (adoro a expressão francesa), e lançou um livro, "Pétrole, Apocalypse", que está a dar que falar. Segundo Cochet, por causa desse recurso energético limitado, vão suceder-se muitas outras guerras depois do Iraque (próximo terreno: Ásia Central). Frase a reter: A maior parte dos países que compõem a ONU são governados por ditaduras.
Lambert Wilson, actor. Quem não o conhece? Na foto podemos vê-lo em Matrix mas desta vez, em Tout Le Monde En Parle, ele veio promover L'Anniversaire de Diane Kurys. Elogio: é mais interessante do que a maior parte dos personagens que interpreta. Frase a reter: "quisémos mudar o mundo mas foi o mundo que nos mudou".
Juan Vivés, "El Magnifico", lançou um livro com o mesmo nome. Estamos a falar de um homem que foi companheiro de Che Guevara, um guerrilheiro, depois capitão rebelde, que ajudou a depôr o ditador Fulgêncio Baptista e que foi, mais tarde, e durante mais de 20 anos, agente secreto do regime de Fidel Castro. As suas memórias tornaram-se alvo da atenção dos media porque ameaçam destruir alguns dos mitos mais fortes da História da América Latina. As revelações começam com a morte de Che Guevara, em 1967. Segundo Vivés, Che foi abandonado à sua própria sorte por Fidel. Mandaram-no para a Bolívia e a morte terá sido uma operação orquestrada pela KGB soviética e pela Stasi (ex-serviços secretos alemães) com a aprovação de Cuba. Sobre Che Guevara, este registo: nunca se ria, tinha um péssimo carácter, adorava insultar pessoas, incluindo a mulher, era uma pessoa de difícil trato. Mas a sua revelação mais perturbadora é a de que Salvador Allende não se suicidou em 1973. Juan Vivés afirma que Allende foi assassinado pelo seu Chefe de Segurança Pessoal, um cubano chamado Patricio de la Guardia. Fidel foi apoiante de Allende e face ao golpe de Pinochet, teria preferido que o Presidente Chileno morresse como um mártir. Declara que o próprio Patricio de La Guardia lhe terá confessado esse assassinato.
E é então que Thierry Ardisson, o jornalista que anima esta emissão, informa Juan Vivés que no estúdio está Iliana de La Guardia, sobrinha de Patricio de La Guardia.
Iliana, uma mulher de muitas guerras (ver link) contesta as afirmações de Vivés. Mas a sua posição é fragilizada pela situação que vive actualmente Patricio de La Guardia em Cuba. Caído em desgraça por outras razões, foi torturado, condenado a 30 anos de prisão, vive hoje em prisão domiciliária. E era evidente - e declarado - o medo de que as revelações de Juan Vivés pudessem ameaçar o futuro e vida desse homem em Cuba.
A viver em França, El Magnífico "ameaça" escrever ainda uma biografia de Fidel Castro. Sobre o futuro de Cuba, não é optimista. Na sua opinião será Raul Castro, irmão de Fidel, o sucessor natural.
Finalmente, para acabarmos com alguma leveza, foi um prazer ver a cara do velhote Jim Kerr dos Simple Minds, que veio falar do novo álbum Black & White 050505. A reter: Cada geração tem os seus ídolos e heróis, e os Simple Minds viveram 10 anos de glória. O momento mais alto da sua carreira: o Concerto para Nelson Mandela. Formar um grupo de rock é viver uma boa e longa mentira - a de que se é jovem para sempre.
E eu insisto, quero um programa destes num dos nossos canais!
Yves Cochet, ecologista, foi ministro do ambiente no Governo Jospin, é actualmente député vert à Paris (adoro a expressão francesa), e lançou um livro, "Pétrole, Apocalypse", que está a dar que falar. Segundo Cochet, por causa desse recurso energético limitado, vão suceder-se muitas outras guerras depois do Iraque (próximo terreno: Ásia Central). Frase a reter: A maior parte dos países que compõem a ONU são governados por ditaduras.
Lambert Wilson, actor. Quem não o conhece? Na foto podemos vê-lo em Matrix mas desta vez, em Tout Le Monde En Parle, ele veio promover L'Anniversaire de Diane Kurys. Elogio: é mais interessante do que a maior parte dos personagens que interpreta. Frase a reter: "quisémos mudar o mundo mas foi o mundo que nos mudou".
Juan Vivés, "El Magnifico", lançou um livro com o mesmo nome. Estamos a falar de um homem que foi companheiro de Che Guevara, um guerrilheiro, depois capitão rebelde, que ajudou a depôr o ditador Fulgêncio Baptista e que foi, mais tarde, e durante mais de 20 anos, agente secreto do regime de Fidel Castro. As suas memórias tornaram-se alvo da atenção dos media porque ameaçam destruir alguns dos mitos mais fortes da História da América Latina. As revelações começam com a morte de Che Guevara, em 1967. Segundo Vivés, Che foi abandonado à sua própria sorte por Fidel. Mandaram-no para a Bolívia e a morte terá sido uma operação orquestrada pela KGB soviética e pela Stasi (ex-serviços secretos alemães) com a aprovação de Cuba. Sobre Che Guevara, este registo: nunca se ria, tinha um péssimo carácter, adorava insultar pessoas, incluindo a mulher, era uma pessoa de difícil trato. Mas a sua revelação mais perturbadora é a de que Salvador Allende não se suicidou em 1973. Juan Vivés afirma que Allende foi assassinado pelo seu Chefe de Segurança Pessoal, um cubano chamado Patricio de la Guardia. Fidel foi apoiante de Allende e face ao golpe de Pinochet, teria preferido que o Presidente Chileno morresse como um mártir. Declara que o próprio Patricio de La Guardia lhe terá confessado esse assassinato.
E é então que Thierry Ardisson, o jornalista que anima esta emissão, informa Juan Vivés que no estúdio está Iliana de La Guardia, sobrinha de Patricio de La Guardia.
Iliana, uma mulher de muitas guerras (ver link) contesta as afirmações de Vivés. Mas a sua posição é fragilizada pela situação que vive actualmente Patricio de La Guardia em Cuba. Caído em desgraça por outras razões, foi torturado, condenado a 30 anos de prisão, vive hoje em prisão domiciliária. E era evidente - e declarado - o medo de que as revelações de Juan Vivés pudessem ameaçar o futuro e vida desse homem em Cuba.
A viver em França, El Magnífico "ameaça" escrever ainda uma biografia de Fidel Castro. Sobre o futuro de Cuba, não é optimista. Na sua opinião será Raul Castro, irmão de Fidel, o sucessor natural.
Finalmente, para acabarmos com alguma leveza, foi um prazer ver a cara do velhote Jim Kerr dos Simple Minds, que veio falar do novo álbum Black & White 050505. A reter: Cada geração tem os seus ídolos e heróis, e os Simple Minds viveram 10 anos de glória. O momento mais alto da sua carreira: o Concerto para Nelson Mandela. Formar um grupo de rock é viver uma boa e longa mentira - a de que se é jovem para sempre.
E eu insisto, quero um programa destes num dos nossos canais!
18.9.05
Vidas Secretas
Veio depois num passo prudente
certificar-se se eu não seria
um dos porteiros da terra da sombra
As minhas pernas levantavam uma cortina
no corredor da casa àquela hora
e ele inquietara-se muito, tornara-se o foragido
que eu, porém, nunca deixei de avistar
entre a estante e o mapple forrado a cabedal
Aos poucos, quase se enroscou
bateu a cauda uma, duas vezes
talvez tenha percebido entre nós
vestígios de uma mesma solidão:
"Também em ti
alguma coisa derruba a luz,
as portas do mar..."
Nesses vagos
qualquer de nós podia
reconhecer seus domínios
in A Estrada Branca
José Tolentino Mendonça
certificar-se se eu não seria
um dos porteiros da terra da sombra
As minhas pernas levantavam uma cortina
no corredor da casa àquela hora
e ele inquietara-se muito, tornara-se o foragido
que eu, porém, nunca deixei de avistar
entre a estante e o mapple forrado a cabedal
Aos poucos, quase se enroscou
bateu a cauda uma, duas vezes
talvez tenha percebido entre nós
vestígios de uma mesma solidão:
"Também em ti
alguma coisa derruba a luz,
as portas do mar..."
Nesses vagos
qualquer de nós podia
reconhecer seus domínios
in A Estrada Branca
José Tolentino Mendonça
17.9.05
Produto
Faz hoje exactamente 23 anos que comecei a namorar com um rapaz chamado Paulino. O namoro demorou 11 dias. Ele fazia (faz) anos daqui a 3 dias. Ele e o namorado que tive a seguir. Alguém me explica por que razão eu não esqueço nenhuma data? Se vos parecer óbvio que ele foi muito importante na minha vida, ou que ter dois namorados nascidos num 20 de Setembro é inesquecível para qualquer um, saibam que também sei de cor as datas de aniversário de todos os vizinhos da casa onde vivi em criança (D.Irene: 17/10, D.Helena: 9/07, Quim: 9/12, Teresinha:4/01, Guida:4/04, Alfredo:10/06, Paula: 29/06, Florbela:7/12, Marta:10/07, Marco:27/06 and so on) ou da maior parte das minhas colegas da escola primária (Estela: 23/01, Claúdia: 15/04, Cristina: 8/06, ...). Em quase todos os dias do ano, ouço um "tlim" e lembro-me que fulano ou fulana que não vejo há mais de vinte anos faz anos! Uma vez o "tlim" apontou para uma ex-colega da Universidade que eu não via há uns oito anos. Como ainda tinha um número de telefone, resolvi ligar-lhe. Ela atendeu mais rapidamente do que esperava. Disse-lhe que me lembrara do seu aniversário e..., ela começou a chorar copiosamente. É um tipo de memória que não faz bem a ninguém!
Por outro lado, sou incapaz de fixar preços. Sobre o custo das coisas, tenho "uma ideia", sei se é muito, assim-assim ou pouco caro, sei se posso ou não posso pagar. No local, olho o preço, posso comparar com outros produtos similares, mas depois, pfff, evapora-se. Não me perguntem o preço dos bens de primeira necessidade, do preço ao quilo disto ou daquilo, tudo coisas que compro quase todos os dias!
Não sei se isto quer dizer qualquer coisa de especial sobre mim. O que sei é que olhei para o PC, vi "17 de Setembro", e desta vez o "tlim" produziu um post.
Por outro lado, sou incapaz de fixar preços. Sobre o custo das coisas, tenho "uma ideia", sei se é muito, assim-assim ou pouco caro, sei se posso ou não posso pagar. No local, olho o preço, posso comparar com outros produtos similares, mas depois, pfff, evapora-se. Não me perguntem o preço dos bens de primeira necessidade, do preço ao quilo disto ou daquilo, tudo coisas que compro quase todos os dias!
Não sei se isto quer dizer qualquer coisa de especial sobre mim. O que sei é que olhei para o PC, vi "17 de Setembro", e desta vez o "tlim" produziu um post.
16.9.05
la possibilité d'une île
O meu anjo da guarda trouxe-me o livro acabadinho de sair no mercado. Vem em francês, editado pela Fayard, e cheira a gosto de leitura. Começa assim: "Soyez les bienvenus dans la vie éternelle, mes amis". E na página seguinte, aparece logo uma boa pergunta:
"Qui, parmi vous, mérite la vie éternelle?"
"Qui, parmi vous, mérite la vie éternelle?"
Mercado do Livro
De 16 de Setembro a 2 de Outubro
no espaço da antiga Galeria Municipal (à Praça da República).
Iniciativa da livraria O Navio de Espelhos
com o apoio do Pelouro da Cultura da CMA e da SC da Misericórdia de Aveiro.
Tesouros variados a partir de 1.5 euros
(já espreitei e a oferta é variada:
desde livros da extinta editora Moraes a quilos de boa BD)
no espaço da antiga Galeria Municipal (à Praça da República).
Iniciativa da livraria O Navio de Espelhos
com o apoio do Pelouro da Cultura da CMA e da SC da Misericórdia de Aveiro.
Tesouros variados a partir de 1.5 euros
(já espreitei e a oferta é variada:
desde livros da extinta editora Moraes a quilos de boa BD)
15.9.05
Reabriu o Cinema no C.C. Oita
A partir de hoje, recomeçam as projecções diárias de cinema no Oita. É o Cineclube de Aveiro, com o apoio da Autarquia, que irá explorar a sala. O programa inclui filmes recentes, alugados às distribuidoras. Nesta primeira semana, já poderemos ver Clean de Olivier Assayas. O preço dos bilhetes é mais baixo que nas salas Lusomundo. Mas, para estarmos sempre informados e beneficiarmos de mais descontos, o melhor mesmo é sermos sócios do Cineclube.
Há sempre o risco de voltarmos a ver este espaço fechar. Não gostaria nada que isso acontecesse! Façam circular nos vossos blogs a notícia da reabertura, a programação da sala de cinema e o link para o site do Cineclube. E com/ou sem o nosso cartãozinho de membros associados pode ser que, para além da blogosfera, nos possamos encontrar noutro lugar! :)
Há sempre o risco de voltarmos a ver este espaço fechar. Não gostaria nada que isso acontecesse! Façam circular nos vossos blogs a notícia da reabertura, a programação da sala de cinema e o link para o site do Cineclube. E com/ou sem o nosso cartãozinho de membros associados pode ser que, para além da blogosfera, nos possamos encontrar noutro lugar! :)
La Repubblica II
La Repubblica I
Segundo os dados da MediaMonitor, o investimento publicitário realizado em televisão até Agosto de 2005 está perto de 1,5 mil milhões de euros, a preços de tabela.
A publicidade atingiu em Agosto um valor de 177 milhões de euros, a preços de tabela, na RTP1, 2:, SIC e TVI. Este valor representa um decréscimo de 20.8% relativamente ao mês anterior, mas um aumento de 29.7% face ao mês homólogo de 2004.
De Janeiro a Agosto de 2005 a publicidade nestes quatro canais está em 1 488 milhões de euros, mais 31.7% do que os 1 130 milhões de euros investidos no mesmo período do ano transacto.
Nos primeiros sete meses de 2005, a indústria da alimentação liderou o investimento publicitário realizado em imprensa, rádio, televisão, cinema e outdoor. O sector despendeu mais de 272,6 milhões de euros, a preços de tabela, o equivalente a 13.1% do total. Neste sector, os iogurtes foram a classe mais importante, responsável por quase 58 milhões de euros em publicidade.
Na segunda posição está o sector dos serviços e equipamentos de comunicação, com montantes superiores a 261 milhões de euros, 10.4% do total. Neste sector, os telemóveis foram a classe mais importante, responsável por montantes superiores a 151 milhões de euros.
A higiéne pessoal é o terceiro sector com maior volume de publicidade, responsável por compras de valor próximo dos 206 milhões de euros, 9.9% do total. Neste sector, os champôs foram a classe mais importante, responsável por cerca de 11 milhões de euros em publicidade.
No ranring de volume de publicidade por sector de actividade, seguem-se a indústria automóvel (193 milhões de euros), bancos e OIMF (154), bebidas (148), comércio (146), higiéne do lar (95 milhões de euros).
Mas sozinhos, os três primeiros sectores representam um terço (33.4%) do mercado publicitário nacional, a preços de tabela.
Numa análise mais detalhada, por classe de produto, a liderança foi dos automóveis, que despenderam, de Janeiro a Julho de 2005, mais de 157 milhões de euros em publicidade, a preços de tabela, nos cinco meios auditados pela MediaMonitor. O valor representa 7.6% do mercado publicitário total.
Os telemóveis foram a segunda classe com maior volume de publicidade, num total superior a 151 milhões de euros, 7.3% do total.
Na terceira posição, encontramos os super e hipermercados, responsáveis por montantes superiores a 117 milhões de euros em publicidade, 5.6% do total.
Em conjunto, estas três classes representam um quinto (20.5%) do mercado publicitário nacional.
Fonte: Marktest
A publicidade atingiu em Agosto um valor de 177 milhões de euros, a preços de tabela, na RTP1, 2:, SIC e TVI. Este valor representa um decréscimo de 20.8% relativamente ao mês anterior, mas um aumento de 29.7% face ao mês homólogo de 2004.
De Janeiro a Agosto de 2005 a publicidade nestes quatro canais está em 1 488 milhões de euros, mais 31.7% do que os 1 130 milhões de euros investidos no mesmo período do ano transacto.
Nos primeiros sete meses de 2005, a indústria da alimentação liderou o investimento publicitário realizado em imprensa, rádio, televisão, cinema e outdoor. O sector despendeu mais de 272,6 milhões de euros, a preços de tabela, o equivalente a 13.1% do total. Neste sector, os iogurtes foram a classe mais importante, responsável por quase 58 milhões de euros em publicidade.
Na segunda posição está o sector dos serviços e equipamentos de comunicação, com montantes superiores a 261 milhões de euros, 10.4% do total. Neste sector, os telemóveis foram a classe mais importante, responsável por montantes superiores a 151 milhões de euros.
A higiéne pessoal é o terceiro sector com maior volume de publicidade, responsável por compras de valor próximo dos 206 milhões de euros, 9.9% do total. Neste sector, os champôs foram a classe mais importante, responsável por cerca de 11 milhões de euros em publicidade.
No ranring de volume de publicidade por sector de actividade, seguem-se a indústria automóvel (193 milhões de euros), bancos e OIMF (154), bebidas (148), comércio (146), higiéne do lar (95 milhões de euros).
Mas sozinhos, os três primeiros sectores representam um terço (33.4%) do mercado publicitário nacional, a preços de tabela.
Numa análise mais detalhada, por classe de produto, a liderança foi dos automóveis, que despenderam, de Janeiro a Julho de 2005, mais de 157 milhões de euros em publicidade, a preços de tabela, nos cinco meios auditados pela MediaMonitor. O valor representa 7.6% do mercado publicitário total.
Os telemóveis foram a segunda classe com maior volume de publicidade, num total superior a 151 milhões de euros, 7.3% do total.
Na terceira posição, encontramos os super e hipermercados, responsáveis por montantes superiores a 117 milhões de euros em publicidade, 5.6% do total.
Em conjunto, estas três classes representam um quinto (20.5%) do mercado publicitário nacional.
Fonte: Marktest
14.9.05
Ian McEwan
Enquanto lia Sábado, de Ian McEwan, aconteceram os atentados em Londres, o que provavelmente potenciou o efeito que o livro teve em mim. Decididamente, pensei, McEwan é capaz de tocar o nosso lado mais emocional, mesmo quando escreve um livro mais "cosmológico". Ainda não tinha lido A Criança no Tempo. Acabo de o fazer e gostaria de saber expressar o que senti enquanto o lia___ acho que fiquei despedaçada. Não me lembro de ter chorado tanto, e compulsivamente___ aquando do último capítulo. Acho que nenhum autor me arrastou assim do profundo desgosto para a felicidade plena, desta para o medo, e do medo para a esperança. A transferência de emoções começa logo no início do livro, quando a filha de Stephen Lewis, o protagonista, desaparece num supermercado londrino. Esse foi o primeiro choque. Depois McEwan retrata divinalmente todas as nuances e vitórias da dor e o esforço de gestão de uma vida (ou de duas, ou de três,...) sujeita a essa pressão. O livro é muito mais que isso, é claro. Críticas ao establishment, ao mundo académico, às engrenagens do mercado editorial, aos educadores, às encenações nas altas esferas da política.
Mas continuo espantada com a densidade do último capítulo.
E depois de um romance que devorei lentamente, intensamente, o que é que hei-de ler agora?
Mas continuo espantada com a densidade do último capítulo.
E depois de um romance que devorei lentamente, intensamente, o que é que hei-de ler agora?
Atenção ao pedido!
As 5 coisas que me tiram do sério:
- má fé & excesso de fé
- imbecilidade & dogmatismo
- arrogância & desprezo
- inveja & maldizer
- boas oportunidades desperdiçadas & consciência disso & repetir
Gosto especialmente:
- das minhas filhas e de viajar
- das minhas filhas e de ler
- das minhas filhas e de dormir
- das minhas filhas e de estar com os bons amigos
- das minhas filhas e da invenção da pílula
5 Álbuns:
(não me apetece ir ver os nomes)
- Mahler, A Canção da Terra (com a Janet Baker e o James King)
- Tchaikovsky, Piano Concerto N.1 e Violino Concerto Op. 35
- Mercedes Sosa, um qualquer
- Ne me quitte pas, Jacques Brel (mfc, este mantenho do copy/paste)
- Dizzy Gillespie, um álbum que tenha Rumbola e Tangorine
- e tantos outros!
Bónus: Carlos Paredes
5 canções:
- Avec le Temps, Léo Ferré
- Bocochê, Elis Regina (e Baden Powell)
- Mon coeur s'ouvre à ta voix, Sansão e Dalida (Saint-Saëns)
- Les coeurs tendres, Jacques Brel
- Sara, Georges Moustaki (cantado por Reggiani)
- e tantas outras!
Bónus: Black Trombone, Serge Gainsbourg
5 álbuns no IPod:
Ainda não ...
Isto passa para:
...quem me conseguir arranjar algumas destas músicas em mp3
12.9.05
Tout le Monde en Parle
Tout le Monde en Parle é um dos meus programas de televisão favoritos. Quem tiver cabo, pode vê-lo todos os Domingos à noite na TV5. É animado por Thierry Ardisson, ele próprio uma lenda viva. Tem uma bagagem intelectual e um savoir-faire inquestionáveis. É assumidamente católico, monárquico e de esquerda porque, sim, isso é possível! O conceito do programa é genial: temos direito a um painel de entrevistados de excelência, de quem toda a gente fala (por boas ou más razões), que se evidenciaram nos mais diversos domínios, política, literatuta, música, moda, cinema, teatro, showbis, etc.. Ficam todos sentados à volta de uma mesa e com muito humor, sal e pimenta qb, entretêm-nos divinalmente.
Ontem o painel incluia, entre outros, Michel Houellebecq e Juan Guzmán.
Comecemos pelo último. Juan Guzmán é o juíz do Tribunal de Apelação de Santiago do Chile que, em 1989, um ano antes do fim do regime militar, ficou responsável pelo processo de investigação de Augusto Pinochet (após apresentação de queixa contra o ditador por parte da secretária geral do PC Chileno). Guzmán, agora reformado, escreveu um livro, Au bord du Monde, que acaba de ser editado por Les Arènes. Em França chamam-lhe le tombeur de Pinochet, uma vez que conseguiu efectivamente formalizar várias acusações contra Augusto Pinochet. Filho de um juíz, diplomata e poeta famoso, Juan Guzmán Cruchaga, lembra-se de ter celebrado com a família a queda de Salvador Allende (11/Set/1973). Só mais tarde teve conhecimento do bombardeamento ao Palácio de La Moneda e do suicídio de Allende. Sobre as atrocidades cometidas pelo exército, afirma que demorou alguns anos a acreditar que existissem. Imaginava uns excessos, "normais" dado o período político conturbado. Até que, como juíz, se começou a deparar com processos silenciados sistemáticamente. Mas quando a mulher, chegada de França, lhe explicou que Pinochet era visto como um ditador na Europa, ainda estranhou.
Quando foi nomeado pelo Tribunal de Apelação para este processo sentiu que era chegado o momento da verdade. Ou era juíz ou não era. Decidiu sê-lo. Nesta entrevista confessou ainda momentos de fraqueza, o medo que se instalou na sua vida, as vezes em que sentiu vontade de desistir.
Neste Tout le Monde en Parle, ficaram algumas lições, para a vida e para a História.
Michel Houellebecq dispensa apresentações. É um dos melhores escritores da actualidade. Acaba de lançar La possibilité d'une île e, como sempre, ainda antes do lançamento, o livro já gerou imensa polémica. Eu gosto do homem e mais ainda dos livros que já li. Depois de ler Plataforma, não percebi as críticas que lhe foram feitas! Mas Houellebecq pode ser perigoso no uso das palavras. Não vos vou falar da história do livro, vou apenas citar o escritor que, neste programa televisivo, comentou algumas das suas personagens e temas.
Daniel I (que vive em 2015):
Tem 47 anos, é um humorista cínico, que faz tudo para ter sucesso e é bem sucedido, mas tem consciência da sua própria mediocridade. Há sempre uma qualquer maldade no riso. Os bons humoristas têm de ser tristes, porque o segredo para fazer rir é certamente um segredo triste sobre a natureza humana.
Daniel I não tem filhos, ele prefere os cães. Ele quer fazer as pessoas felizes mas fazer alguém feliz é muito difícil. Os cães, pelo menos, ficam felizes facilmente.
Há qualquer coisa de inquietante no choro dos bébés. Vendo um recém-nascido berrar podemos constatar um qualquer desiquilibrio da raça humana. Não é normal nascer e gritar logo assim!
As crianças são anões viciosos, até os animais domésticos têm medo delas.
Daniel I não vai conseguir ser feliz nem com Isabelle nem com Esther. Nunca existe uma solução nos meus livros. O desejo não é uma solução e o não-desejo também não.
Isabelle:
É a mulher de David I. Já foi muito bela e às vezes as pessoas dotadas de grande beleza não gostam do amor físico porque o amor físico deforma.
Esther:
Tem 22 anos e, ao contrário de Isabelle, ama o sexo. Mas não ama o amor. Não sei se os jovens hoje têm vontade de amar. Não sei porque já não sou jovem. Daniel I não vai conseguir ser feliz com Esther por causa da diferença de idades. O problema não vai ser de ordem sexual mas social, ele vai ser marginalizado por ser velho. Nesta sociedade, podemos ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, racistas, pedófilos, tudo é permitido, menos ser velho.
Sobre os Raelianos:
Rael quer dizer anjo, era o nome de Deus segundo as antigas Escrituras. Exigem pouco e prometem a imortalidade física e a juventude eterna. Daí o seu poder de sedução. Daí o seu interesse pela clonagem humana.
Qualquer seita pode tornar-se numa religião de grande dimensão, de resto foi assim que começou o cristianismo. As grandes religiões são seitas que foram bem sucedidas.
Tudo aquilo que a ciência permite - como será o caso da clonagem humana-, será realizado.
Sobre si próprio, Houellebecq:
O pior que lhe podia acontecer - perder os dentes, porque gosta de fazer leituras dos seus livros
O cumprimento mais irritante que lhe podem fazer - que é amável/gentil
Qualidade que gostaria de ter - saber mentir
Qualidade que tem e não gosta de ter - ser demasiado inteligente
Defeito que gostaria de ter - ser mais primário
Defeito que gosta de ver numa mulher - ser desajeitada
A melhor pior crítica que lhe fizeram - fazer demasiadas concessões à emoção
O que o futuro não dirá dele - se foi feliz ou infeliz
A pergunta que não lhe devem colocar - quem é/são a(s) pessoa(s) que detesta (muito difícil, porque a sua mãe talvez seja uma delas)
O que nunca disse - "Vou-te matar", porque poderia fazê-lo
Conclui que haverá sempre pessoas a detestá-lo, independentemente do que diga ou faça. Sabe que muitas são movidas pela inveja e ciúme mas compreende sinceramente esses motivos e por isso perdoa-lhes. Recusou ser entrevistado pelo Le Fígaro (...durante toda a sua vida literária), Le Point ou L'Express. Só aceita entrevistas quando acha que vai ser um prazer. Aceitou esta entrevista do Thierry Ardisson para a televisão. Na imprensa escrita foi a revista Chien 2000 (isso mesmo, uma revista especializada na raça canina) a única a ter o privilégio de publicar uma entrevista sua.
Fiquei com vontade de ler os dois livros. E quero um programa de televisão assim num dos nossos canais, merda!
Ontem o painel incluia, entre outros, Michel Houellebecq e Juan Guzmán.
Comecemos pelo último. Juan Guzmán é o juíz do Tribunal de Apelação de Santiago do Chile que, em 1989, um ano antes do fim do regime militar, ficou responsável pelo processo de investigação de Augusto Pinochet (após apresentação de queixa contra o ditador por parte da secretária geral do PC Chileno). Guzmán, agora reformado, escreveu um livro, Au bord du Monde, que acaba de ser editado por Les Arènes. Em França chamam-lhe le tombeur de Pinochet, uma vez que conseguiu efectivamente formalizar várias acusações contra Augusto Pinochet. Filho de um juíz, diplomata e poeta famoso, Juan Guzmán Cruchaga, lembra-se de ter celebrado com a família a queda de Salvador Allende (11/Set/1973). Só mais tarde teve conhecimento do bombardeamento ao Palácio de La Moneda e do suicídio de Allende. Sobre as atrocidades cometidas pelo exército, afirma que demorou alguns anos a acreditar que existissem. Imaginava uns excessos, "normais" dado o período político conturbado. Até que, como juíz, se começou a deparar com processos silenciados sistemáticamente. Mas quando a mulher, chegada de França, lhe explicou que Pinochet era visto como um ditador na Europa, ainda estranhou.
Quando foi nomeado pelo Tribunal de Apelação para este processo sentiu que era chegado o momento da verdade. Ou era juíz ou não era. Decidiu sê-lo. Nesta entrevista confessou ainda momentos de fraqueza, o medo que se instalou na sua vida, as vezes em que sentiu vontade de desistir.
Neste Tout le Monde en Parle, ficaram algumas lições, para a vida e para a História.
Michel Houellebecq dispensa apresentações. É um dos melhores escritores da actualidade. Acaba de lançar La possibilité d'une île e, como sempre, ainda antes do lançamento, o livro já gerou imensa polémica. Eu gosto do homem e mais ainda dos livros que já li. Depois de ler Plataforma, não percebi as críticas que lhe foram feitas! Mas Houellebecq pode ser perigoso no uso das palavras. Não vos vou falar da história do livro, vou apenas citar o escritor que, neste programa televisivo, comentou algumas das suas personagens e temas.
Daniel I (que vive em 2015):
Tem 47 anos, é um humorista cínico, que faz tudo para ter sucesso e é bem sucedido, mas tem consciência da sua própria mediocridade. Há sempre uma qualquer maldade no riso. Os bons humoristas têm de ser tristes, porque o segredo para fazer rir é certamente um segredo triste sobre a natureza humana.
Daniel I não tem filhos, ele prefere os cães. Ele quer fazer as pessoas felizes mas fazer alguém feliz é muito difícil. Os cães, pelo menos, ficam felizes facilmente.
Há qualquer coisa de inquietante no choro dos bébés. Vendo um recém-nascido berrar podemos constatar um qualquer desiquilibrio da raça humana. Não é normal nascer e gritar logo assim!
As crianças são anões viciosos, até os animais domésticos têm medo delas.
Daniel I não vai conseguir ser feliz nem com Isabelle nem com Esther. Nunca existe uma solução nos meus livros. O desejo não é uma solução e o não-desejo também não.
Isabelle:
É a mulher de David I. Já foi muito bela e às vezes as pessoas dotadas de grande beleza não gostam do amor físico porque o amor físico deforma.
Esther:
Tem 22 anos e, ao contrário de Isabelle, ama o sexo. Mas não ama o amor. Não sei se os jovens hoje têm vontade de amar. Não sei porque já não sou jovem. Daniel I não vai conseguir ser feliz com Esther por causa da diferença de idades. O problema não vai ser de ordem sexual mas social, ele vai ser marginalizado por ser velho. Nesta sociedade, podemos ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, racistas, pedófilos, tudo é permitido, menos ser velho.
Sobre os Raelianos:
Rael quer dizer anjo, era o nome de Deus segundo as antigas Escrituras. Exigem pouco e prometem a imortalidade física e a juventude eterna. Daí o seu poder de sedução. Daí o seu interesse pela clonagem humana.
Qualquer seita pode tornar-se numa religião de grande dimensão, de resto foi assim que começou o cristianismo. As grandes religiões são seitas que foram bem sucedidas.
Tudo aquilo que a ciência permite - como será o caso da clonagem humana-, será realizado.
Sobre si próprio, Houellebecq:
O pior que lhe podia acontecer - perder os dentes, porque gosta de fazer leituras dos seus livros
O cumprimento mais irritante que lhe podem fazer - que é amável/gentil
Qualidade que gostaria de ter - saber mentir
Qualidade que tem e não gosta de ter - ser demasiado inteligente
Defeito que gostaria de ter - ser mais primário
Defeito que gosta de ver numa mulher - ser desajeitada
A melhor pior crítica que lhe fizeram - fazer demasiadas concessões à emoção
O que o futuro não dirá dele - se foi feliz ou infeliz
A pergunta que não lhe devem colocar - quem é/são a(s) pessoa(s) que detesta (muito difícil, porque a sua mãe talvez seja uma delas)
O que nunca disse - "Vou-te matar", porque poderia fazê-lo
Conclui que haverá sempre pessoas a detestá-lo, independentemente do que diga ou faça. Sabe que muitas são movidas pela inveja e ciúme mas compreende sinceramente esses motivos e por isso perdoa-lhes. Recusou ser entrevistado pelo Le Fígaro (...durante toda a sua vida literária), Le Point ou L'Express. Só aceita entrevistas quando acha que vai ser um prazer. Aceitou esta entrevista do Thierry Ardisson para a televisão. Na imprensa escrita foi a revista Chien 2000 (isso mesmo, uma revista especializada na raça canina) a única a ter o privilégio de publicar uma entrevista sua.
Fiquei com vontade de ler os dois livros. E quero um programa de televisão assim num dos nossos canais, merda!
11.9.05
Let the sun shine through II
Hoje também é dia para recordar Salvador Allende e Pablo Neruda... e um outro presidente americano e a CIA...
À Fábrica, s.f.f.!
À Fábrica, s.f.f.!
Let the sun shine through
No dia 11 de Setembro de 2001 eu acordei com o telefonema de um amigo que, sem dar ainda muita importância ao caso, me disse que um avião se despenhara contra uma das torres gémeas de Nova Iorque. Liguei a tv para ver a CNN. A imagem estava lá mas nesse momento não havia nenhuma informação precisa sobre o avião nem sobre a causa do "acidente". Logo a seguir aparece o segundo avião e eu vejo em directo uma imagem que não compreendo apesar dos gritos do jornalista (?). A segunda Torre tinha sido "atacada". Como escreveu Beigbeder no seu Windows on the World, 1 avião=1 acidente, 2 aviões=0 acidente !
Hoje sabemos com precisão o que aconteceu. Às 8:46, um Boeing 767 da American Airlines transportando 92 passageiros, voando à velocidade de 800 km/h, e abastecido com 40000 litros de querosene, embateu contra os andares 94° a 98° da face norte da Torre 1, pegando fogo de imediato aos escritórios da Marsh & McLennan. Nenhuma das 1344 pessoas que se encontravam nos 19 pisos superiores sobreviveu. O choque e posterior incêndio obstruiram todas as saídas possíveis (as escadas ruíram e os elevadores fundiram).
A Torre Sul, mesmo com a ameaça de queda da Torre Norte, não foi evacuada. Às 9:02:54, o vôo 175 da United Airlines, outro Boeing 767, transportando 65 passageiros, penetra nos pisos 78° a 84°. Voa a maior velocidade que o anterior: 930 km/h. Às 9:59 a Torre ruíu.
Até às 10:28 precisas, quando a Torre Norte do World Trade Center desabou, não consegui desviar os olhos do écran. Durante cerca de uma hora e 45 minutos, das 8:46 às 10:28, milhares de pessoas ficaram prisioneiras daquele inferno, podíamos (ou talvez não) imaginar o desespero, o pânico, os seus esforços para sobreviver... em vão. Foi também o primeiro dia do resto de muitas outras vidas.
Nessa altura vivia em Paris, a dois quarteirões da Torre Eiffel e não muito longe da Torre de Montparnasse. Estava chocada com as imagens, decidi sair de casa, passear com as minhas filhas. Elas tinham apenas 18 meses e não queria que percebessem a minha tristeza. Mas depois de atravessar a Av. Sufren apercebi movimentos "anormais", havia policiamento em vários locais. E decidi voltar para trás. Dava-me conta de que todos estávamos sob ameaça e de que, mesmo que se tratasse de psicose, não valia a pena arriscar. Senti medo.
Ainda não podemos medir o impacto do 11 de Setembro no mundo, sabemos apenas que em termos estratego-políticos tudo se alterou, que o mundo seria diferente sem 9/11, que a América provavelmente não teria re-eleito G.W. Bush., que os Taliban viveriam ainda tranquilos no Afeganistão, que o precedente criado pelos EUA ao invadirem o Iraque não teria desacreditado a ONU, que se teriam poupado milhares de vidas de soldados e civis, que o julgamento de Sadam Hussein não aconteceria em Outubro próximo, que os orçamentos para fins militares seriam menos defensáveis...
mas depois ocorreram os atentados em Madrid e em Londres, para só falar da Europa...,
pelo que o nosso medo e dúvidas balançam, serenamos e logo voltamos a ficar agitados.
Em Dezembro de 2003 visitei o Ground Zero. A estação de metro acabara de ser reaberta. O Hotel em frente (outro arranha-céus) tinha sido limpo e cintilava. Mas ao lado ainda havia um prédio coberto para futura demolição por questões de segurança (as estruturas teriam ficado afectadas). Visto da St. Paul Chapel, transformada em memorial aos que morreram do outro lado da rua em 9/11 de 2001, o panorama era de desolação. Por toda a cidade, em quartéis de bombeiros, restaurantes, lojas, encontrávamos ainda fotografias das vítimas, rostos que fixávamos e que demoravam a desaparecer da nossa memória.
Todos nós nos lembramos desse dia, do que estávamos a fazer, do horror e comoção que se instalaram, da sensação de incredulidade - era um acontecimento que nos ultrapassava por completo. Como estamos hoje? Já acreditamos, temos a certeza de que existe um novo risco com o qual temos de aprender a viver. Mas a incredibilidade da História supera todo o conhecimento. Organizamos o nosso Tempo em função do nascimento de um messias, ac, dc. E fanáticos de outra religião pretendem abalar essa civilização. Para quando o Tempo do al, dl, vulgo "antes da laicidade", "depois da laicidade"?
The Windows of the World era o nome do restaurante situado no 107° piso da Torre Norte do WTC. Estavam 171 pessoas nesse restaurante (incl. 72 empregados) no momento do choque do Boeing. The Windows of the World é também o título de uma canção de Burt Bacharach e Hal David, interpretada por Dionne Warwick em 1967. A canção foi escrita contra a guerra no Vietname mas a mensagem ainda é válida e sê-lo-á durante muito tempo...
The windows of the world are covered with rain,
Where is the sunshine we once knew?
Everybody knows when little children play
They need a sunny day to grow straight and tall.
Let the sun shine through.
The windows of the world are covered with rain,
When will those black skies turn to blue?
Everybody knows when boys grow into men
They start to wonder when their country will call.
Let the sun shine through.
(clicar para ouvir a música)
Hoje sabemos com precisão o que aconteceu. Às 8:46, um Boeing 767 da American Airlines transportando 92 passageiros, voando à velocidade de 800 km/h, e abastecido com 40000 litros de querosene, embateu contra os andares 94° a 98° da face norte da Torre 1, pegando fogo de imediato aos escritórios da Marsh & McLennan. Nenhuma das 1344 pessoas que se encontravam nos 19 pisos superiores sobreviveu. O choque e posterior incêndio obstruiram todas as saídas possíveis (as escadas ruíram e os elevadores fundiram).
A Torre Sul, mesmo com a ameaça de queda da Torre Norte, não foi evacuada. Às 9:02:54, o vôo 175 da United Airlines, outro Boeing 767, transportando 65 passageiros, penetra nos pisos 78° a 84°. Voa a maior velocidade que o anterior: 930 km/h. Às 9:59 a Torre ruíu.
Até às 10:28 precisas, quando a Torre Norte do World Trade Center desabou, não consegui desviar os olhos do écran. Durante cerca de uma hora e 45 minutos, das 8:46 às 10:28, milhares de pessoas ficaram prisioneiras daquele inferno, podíamos (ou talvez não) imaginar o desespero, o pânico, os seus esforços para sobreviver... em vão. Foi também o primeiro dia do resto de muitas outras vidas.
Nessa altura vivia em Paris, a dois quarteirões da Torre Eiffel e não muito longe da Torre de Montparnasse. Estava chocada com as imagens, decidi sair de casa, passear com as minhas filhas. Elas tinham apenas 18 meses e não queria que percebessem a minha tristeza. Mas depois de atravessar a Av. Sufren apercebi movimentos "anormais", havia policiamento em vários locais. E decidi voltar para trás. Dava-me conta de que todos estávamos sob ameaça e de que, mesmo que se tratasse de psicose, não valia a pena arriscar. Senti medo.
Ainda não podemos medir o impacto do 11 de Setembro no mundo, sabemos apenas que em termos estratego-políticos tudo se alterou, que o mundo seria diferente sem 9/11, que a América provavelmente não teria re-eleito G.W. Bush., que os Taliban viveriam ainda tranquilos no Afeganistão, que o precedente criado pelos EUA ao invadirem o Iraque não teria desacreditado a ONU, que se teriam poupado milhares de vidas de soldados e civis, que o julgamento de Sadam Hussein não aconteceria em Outubro próximo, que os orçamentos para fins militares seriam menos defensáveis...
mas depois ocorreram os atentados em Madrid e em Londres, para só falar da Europa...,
pelo que o nosso medo e dúvidas balançam, serenamos e logo voltamos a ficar agitados.
Em Dezembro de 2003 visitei o Ground Zero. A estação de metro acabara de ser reaberta. O Hotel em frente (outro arranha-céus) tinha sido limpo e cintilava. Mas ao lado ainda havia um prédio coberto para futura demolição por questões de segurança (as estruturas teriam ficado afectadas). Visto da St. Paul Chapel, transformada em memorial aos que morreram do outro lado da rua em 9/11 de 2001, o panorama era de desolação. Por toda a cidade, em quartéis de bombeiros, restaurantes, lojas, encontrávamos ainda fotografias das vítimas, rostos que fixávamos e que demoravam a desaparecer da nossa memória.
Todos nós nos lembramos desse dia, do que estávamos a fazer, do horror e comoção que se instalaram, da sensação de incredulidade - era um acontecimento que nos ultrapassava por completo. Como estamos hoje? Já acreditamos, temos a certeza de que existe um novo risco com o qual temos de aprender a viver. Mas a incredibilidade da História supera todo o conhecimento. Organizamos o nosso Tempo em função do nascimento de um messias, ac, dc. E fanáticos de outra religião pretendem abalar essa civilização. Para quando o Tempo do al, dl, vulgo "antes da laicidade", "depois da laicidade"?
The Windows of the World era o nome do restaurante situado no 107° piso da Torre Norte do WTC. Estavam 171 pessoas nesse restaurante (incl. 72 empregados) no momento do choque do Boeing. The Windows of the World é também o título de uma canção de Burt Bacharach e Hal David, interpretada por Dionne Warwick em 1967. A canção foi escrita contra a guerra no Vietname mas a mensagem ainda é válida e sê-lo-á durante muito tempo...
The windows of the world are covered with rain,
Where is the sunshine we once knew?
Everybody knows when little children play
They need a sunny day to grow straight and tall.
Let the sun shine through.
The windows of the world are covered with rain,
When will those black skies turn to blue?
Everybody knows when boys grow into men
They start to wonder when their country will call.
Let the sun shine through.
(clicar para ouvir a música)
10.9.05
Textos em Linha
O facto de a realidade não ter sido exactamente assim não é relevante, pois o universo divide-se sempre em dois fluxos temporais: um é a continuação da forma como as coisas estavam a evoluir; o outro é o início de uma realidade totalmente nova que pode iniciar outro curso inteiramente diferente.
9.9.05
Lx II
Como bem me lembrou a Isabela, "os anos 80 foram a minha geração de 60 mas acabaram, irremediavelmente". O tempo é outro, cidades e pessoas respiram outra atmosfera, pelo que até os lisboetas podem sentir saudades da Lisboa desse tempo.
Nos anos 80, a situação política acalmara mas os espíritos estavam ainda agitados e frenéticos com a conquista da liberdade, o desaparecimento da censura, e a entrada no país de todas as novas (para nós) influências e correntes. Queríamos "participar", havia curiosidade. Foi bom ter 18/20 anos nessa altura pela "coincidência" de ânsias entre esse Tempo e o meu, pessoal. Politicamente, era difícil não tomar partido, mesmo sem militâncias formais. E do ponto de vista cultural, abriam-se janelas e testavam-se caminhos. A cidade experimentava também novas formas de estar. Alguém se lembra da primeira Animação do Chiado? Creio que foi em 85, actores e performers actuavam nas ruas. A SN de Belas Artes, ali ao pé, "mexia" e envolvia. Acabei mascarada de palhaço a cumprimentar as crianças que passavam. As bancas de artesanato proliferavam. Ouvia-se música portuguesa, muito Zeca Afonso, Fausto, Sérgio Godinho. Os Trovante revolucionavam o meio, enchiam o Coliseu e provocavam histeria junto das meninas. Mas também me lembro de ouvir Chico Fininho enquanto fazia o cubo mágico. Na faculdade, os professores mais liberais deixavam-nos beber cerveja nas aulas e porque ficava ali ao pé, até tivemos direito a aulas no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian. O primeiro a levar-nos até lá foi o Prof. de Semiologia, Pedro Frade, que para grande orgulho nosso fora entrevistado pelo JL a propósito da tese de mestrado que originaria o seu livro Figuras de Espanto, e que nos incutiu o gosto por Barthes e Baudrillard. Apetece-me falar dele e do Dr. João Loureiro, o nosso professor de Economia que no ano a seguir a nos ter dado aulas, já saía connosco para o Bairro Alto e, apaixonado por Gershwin, nos levava às Noites Longas para ouvirmos uma orquestra de jazz. Líamos Escuta, Zé Ninguém! (Wilhelm Reich) ou Nietzsche ou Sartre ou Mário-Henrique Leiria e os seus Contos do Gin-Tonic ou O Memorial do Convento de Saramago ou Memória de Elefante de Lobo Antunes ou pequenos livrinhos sobre Lenine, Marx e mesmo Catarina Eufémia. O Macintosh foi lançado (1984) mas o gabinete de informática demorou algum tempo a ser criado, pelo menos no Departamento de Sociologia. Aceitavam-se trabalhos escritos à mão porque nem todos tinham... máquina de escrever! E Lisboa continuava a convidar-nos para novas propostas! O Frágil, de Manuel Reis, era o must. Aí podíamos encontrar alguns dos pintores da nova geração. Abriam novas galerias de arte, discutia-se estética e o valor da arte. Pedro Proença e Pedro Portugal fundaram o projecto de uma revista intitulada Homeostética, a partir da qual se viria a formar o grupo Homeostético (colectivo que integrava também, no início, os nomes de Manuel João Vieira, Ivo e Xana...). Recordo-me de assistir a uma vernissage em que "Sanita Pintor" pintou com um spray o preço da obra na tela, 500 CONTOS. Diria Mário Murteira, "como se, por um golpe de mágica, tivéssemos saltado a pés juntos dum capitalismo arcaico e asfixiante para a sociedade perfeita com que sonhara o jovem Marx"!
Lisboa, a capital do país, reunia todos os tempos. E foi bom cirandar pela cidade... acreditando que, pelo menos a nossa vida, poderia ser perfeita!
João Loureiro e Pedro Frade, referidos neste post, faleceram no início dos anos 90. A FCSH da Universidade Nova perdeu então, subitamente, dois dos seus professores assistentes mais jovens e promissores. Lembro-me de passar na Av. de Berna e de ver a bandeira a meia haste. Tinha começado a trabalhar, os colegas de curso estavam dispersos pelo país, e então quis fugir dali! O problema da memória é que ela também não perdoa...
Nos anos 80, a situação política acalmara mas os espíritos estavam ainda agitados e frenéticos com a conquista da liberdade, o desaparecimento da censura, e a entrada no país de todas as novas (para nós) influências e correntes. Queríamos "participar", havia curiosidade. Foi bom ter 18/20 anos nessa altura pela "coincidência" de ânsias entre esse Tempo e o meu, pessoal. Politicamente, era difícil não tomar partido, mesmo sem militâncias formais. E do ponto de vista cultural, abriam-se janelas e testavam-se caminhos. A cidade experimentava também novas formas de estar. Alguém se lembra da primeira Animação do Chiado? Creio que foi em 85, actores e performers actuavam nas ruas. A SN de Belas Artes, ali ao pé, "mexia" e envolvia. Acabei mascarada de palhaço a cumprimentar as crianças que passavam. As bancas de artesanato proliferavam. Ouvia-se música portuguesa, muito Zeca Afonso, Fausto, Sérgio Godinho. Os Trovante revolucionavam o meio, enchiam o Coliseu e provocavam histeria junto das meninas. Mas também me lembro de ouvir Chico Fininho enquanto fazia o cubo mágico. Na faculdade, os professores mais liberais deixavam-nos beber cerveja nas aulas e porque ficava ali ao pé, até tivemos direito a aulas no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian. O primeiro a levar-nos até lá foi o Prof. de Semiologia, Pedro Frade, que para grande orgulho nosso fora entrevistado pelo JL a propósito da tese de mestrado que originaria o seu livro Figuras de Espanto, e que nos incutiu o gosto por Barthes e Baudrillard. Apetece-me falar dele e do Dr. João Loureiro, o nosso professor de Economia que no ano a seguir a nos ter dado aulas, já saía connosco para o Bairro Alto e, apaixonado por Gershwin, nos levava às Noites Longas para ouvirmos uma orquestra de jazz. Líamos Escuta, Zé Ninguém! (Wilhelm Reich) ou Nietzsche ou Sartre ou Mário-Henrique Leiria e os seus Contos do Gin-Tonic ou O Memorial do Convento de Saramago ou Memória de Elefante de Lobo Antunes ou pequenos livrinhos sobre Lenine, Marx e mesmo Catarina Eufémia. O Macintosh foi lançado (1984) mas o gabinete de informática demorou algum tempo a ser criado, pelo menos no Departamento de Sociologia. Aceitavam-se trabalhos escritos à mão porque nem todos tinham... máquina de escrever! E Lisboa continuava a convidar-nos para novas propostas! O Frágil, de Manuel Reis, era o must. Aí podíamos encontrar alguns dos pintores da nova geração. Abriam novas galerias de arte, discutia-se estética e o valor da arte. Pedro Proença e Pedro Portugal fundaram o projecto de uma revista intitulada Homeostética, a partir da qual se viria a formar o grupo Homeostético (colectivo que integrava também, no início, os nomes de Manuel João Vieira, Ivo e Xana...). Recordo-me de assistir a uma vernissage em que "Sanita Pintor" pintou com um spray o preço da obra na tela, 500 CONTOS. Diria Mário Murteira, "como se, por um golpe de mágica, tivéssemos saltado a pés juntos dum capitalismo arcaico e asfixiante para a sociedade perfeita com que sonhara o jovem Marx"!
Lisboa, a capital do país, reunia todos os tempos. E foi bom cirandar pela cidade... acreditando que, pelo menos a nossa vida, poderia ser perfeita!
João Loureiro e Pedro Frade, referidos neste post, faleceram no início dos anos 90. A FCSH da Universidade Nova perdeu então, subitamente, dois dos seus professores assistentes mais jovens e promissores. Lembro-me de passar na Av. de Berna e de ver a bandeira a meia haste. Tinha começado a trabalhar, os colegas de curso estavam dispersos pelo país, e então quis fugir dali! O problema da memória é que ela também não perdoa...
Confessionário
D.Gálas-Plague Mass-Confessional
Diamanda Gálas vai estar no dia 18 de Setembro na Casa da Música para apresentar La Serpenta Canta. Suspeito que aceitou o convite porque um tal de Gabriel Jeffrey lhe falou do blog que vai ser lançado em Outubro! There is no time for compassion, there's only time for confessional. Batatas na senda do futuro!
8.9.05
Lx
mrf
Idas e voltas a Lisboa. Descubro que morro de saudades. dos amigos. da esplanada da Nova na Av. de Berna, do café Pato logo em frente (ainda existe?), dos jardins da Gulbenkian, dos espectáculos no anfi-teatro ao ar livre, dos concertos às 6 da tarde, das sessões contínuas à meia-noite de sexta no cinema Quarteto, mais tarde o King e a livraria do King e o bar do King, mais tarde ainda os bifes no Monumental regados a cerveja belga antes ou depois do cinema, do bairro alto das tascas e bares, das bolas de berlim da Almirante Reis, dos namoros, das noites longas, do Jamaica, do apartamento da 5 de Outubro atrás da Feira Popular, da Feira Popular e dos porteiros que me deixavam entrar sem pagar, do Príncipe Real e da rua da Escola Politécnica (das mais bonitas) e do café do Parque, dos concertos no Coliseu e das artimanhas para entrar sem pagar, das sessões de cinema do Técnico, onde vi Fassbinder pela primeira vez apenas com a ideia de que devia conhecer mas sem saber porquê, da revista do Expresso quando era a única e apenas uma Revista, do JL que usávamos debaixo do braço e líamos todo apesar de só compreendermos dois ou três artigos, do fascínio pelo teatro e pela oferta que me parecia enorme, o impacto da Cornucópia, Comuna, Teatro Aberto e depois o Teatro da Graça, daquela disco perto da rua da Beneficiência (quem se lembra do nome?) onde tocavam bandas de música alternativa e onde eu ia ver os amigos do O. tocar, do Ritz onde aprendi a dançar mornas e coladeiras e funanas, das ruelas e vielas de Alfama. do barco para Cacilhas e do Atira-te ao Rio. Das casas onde morei e vivi em imensos lugares porque as mudanças eram simples, Largo do Rato, Campo Grande, 5 de Outubro, av. EUA, Benfica, and so on e das colegas com quem partilhava as casas e era farra o tempo todo. e o curso que gostava de frequentar. das certezas. de tudo para viver. dos amigos. a quem não é preciso dizer nada, contar nada, porque também estavam lá e sabem como foi, como éramos, em que mudámos e porquê, dos anos 80 até hoje, os amigos. merda, que saudades!