25.1.07

A recusa dos carniceiros #2

"Retornamos a 1830. Acaba de ser editado o romance Le Rouge et le noir do sr. Marie-Henri Beyle, que assina Stendhal, baseado na notícia do guilhotinamento de um criminoso passional publicada na Gazette des Tribunaux. Ainda em França, a estreia da peça Hernani, ou L'honneur castilhan, do sr. Victor Hugo, provoca na plateia um conflito entre adeptos do classicismo e do romantismo; lutando pelas tropas românticas foi visto o poeta sr. Théophile Gautier, vestido com "um colete cor de cereja e calças verde-água". Notícias de Weimar dizem que o sr. Johann Wolfgang von Goethe está a terminar a segunda parte do seu monumental poema dramático Fausto, "uma fantasmagoria teatral filosófica". Estamos no Rio de Janeiro, de volta, mais uma vez, à Câmara Dos Deputados.
(...)
O sr. Ferreira França rejeita o projecto por "ver nele uma hidra de crimes e culpados! As penas devem ser reduzidas ao menor número possível. Todo legislador que a cada falta impõe uma pena, que só quer achar criminosos, não é certamente digno do nome de homem; é um tigre digno de só legislar para os animais ferozes"."


Extracto de A recusa dos carniceiros, in Romance Negro e Outras Histórias, de Rubem Fonseca
Ed. Campo das Letras, pp 133

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