9.10.05

Dias assim


Paula Rego


Há dias assim, em que começamos por acreditar em tudo e acabamos sem razões para acreditar em nada, mas festejamos na mesma.

Ontem, por exemplo, porque devia meditar, peguei no meu (livro-)cd do Brian L. Weiss há muito esquecido e num momento raro de fim de semana, peguei na minha solidão procurada, encontrei a posição horizontal mais confortável e comecei a ouvir: comece por se concentrar na sua respiração... inspire fundo... descontraia os músculos e sinta-se a mergulhar cada vez mais fundo... a seguir visualize uma luz a entrar pelo cimo da sua cabeça e a começar a espalhar-se suavemente pelo seu corpo...escolha a sua cor preferida... cinco quatro três... entre no espelho...sinta a força que o puxa... dois... está quase do outro lado... um... já está!

Este é um cd de regressão (quem quiser saber mais, faça uma pequena pesquisa) mas adormeci tão profundamente que nem me lembro do que sonhei, se sonhei.... e acordei já com a família toda à minha volta, muito agitada, ... pelo que ficou para a próxima a descoberta de uma outra vida passada.

À noite, assisti ao jogo da Selecção Nacional. Como todos sabem, a equipa ganhou mas jogou muito mal. Depois tive que suportar os adeptos felizes que buzinavam e cantavam e abanavam as bandeiras ao pé de minha casa, sem perceber muito bem aquela felicidade porque a ver pelo jogo, se continuar a jogar assim, a Selecção não chega a lado nenhum. E nós ainda lhes pagamos umas viagens e umas orgias! (sim, sou injusta!)

Hoje tenho que votar mas, como muitos, não sinto nenhuma vontade. Sei que vou acompanhar a noite eleitoral na TV e que vou correr todos os canais, porque é o que faço sempre. Gosto de assistir ao apuramento gradual dos resultados (quase lamento a rapidez com que se chega agora aos resultados finais). Mas na verdade o que vou ver é uma espécie de festival de cinema animado com personagens conhecidos há várias gerações (apesar destes nem sempre unirem os membros da família) e heróis que "morrem" num episódio mas aparecem cheios de saúde no episódio seguinte. Se a Fátima Felgueiras, o Avelino, o Isaltino e o Valentim ganharem as eleições - ou tiverem votações massivas - como indicam as sondagens - eles serão verdadeiros super-heróis! Nunca numas Autárquicas os absurdos possíveis numa democracia serão tão óbvios! Não obstante, sei que vou ter que aturar as mesmas buzinadelas e canções e bandeiras! E a estes pagaremos muito mais do que umas viagens e algum deboche!

Há dias assim, em que começamos por acreditar em tudo e acabamos sem razões para acreditar em nada, mas festejamos na mesma. 8 e 9 de Outubro ficam registados.

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