Um filme de Janek Pfeifer, com música de Joaquim Pavão.
Dia 27 de Julho. Sessão Competitiva n° 4
Textos para o booklet do DVD:
Ciência (O Anel Mágico) - Paulo Renato Trincão/Fábrica de Ciência Viva de Aveiro
Ao olhar para este disco prateado vejo com muita facilidade as sete cores do arco-íris. A sua nitidez, o brilho dos seus tons, deixaria envergonhado o prisma de Newton que durante tanto tempo mostrou ao Homem o mistério que a luz branca encerra.
O fulgor que emana deste anel mágico faz-me pensar que talvez detenha um estranho poder, como um totem ou uma tiara, que em certas alturas de incidência de sol nos permite ver o passado e o futuro.
Se fosse um disco, grande e preto, que eu pudesse afagar com a polpa dos dedos, podia sentir-lhe as estrias. Estou certo que uma ponta de diamante fá-lo-ia cantar como nem os pássaros são capazes de fazer.
Talvez o seu segredo esteja na luz decomposta que insiste em mostrar-nos.
De repente alguém falou em digital!
No fim da minha adolescência, doutos mestres tentaram (em vão) explicar-me que digital era transformar a realidade em 1s (uns) e 0s (zeros). Só vim a perceber o que me queriam dizer quando, muitos anos mais tarde, abri a porta de um quarto de hotel com um cartão perfurado. O zero no meu cartão era um pequeno orifício e o um era a sua ausência.
Se eu tivesse a polpa dos meus dedos tão sensível que fosse capaz de acariciar uma penugem sem que ela se mexesse, talvez pudesse sentir os uns e zeros que entalham o meu disco prateado sem que eu os possa ver. O ponteiro de luz laser conhece-os um a um, como a agulha de diamante conhecia as estradas concêntricas onde dia a dia rodava.
E foi assim que fiquei a saber que dentro deste anel mágico estavam guardados a água, a terra, o ar e o fogo. Com o ponteiro de luz a que alguém chamou laser, era possível ver e ouvir a água a entrar e a sair da ria, pairar no ar, ver o castanho da terra e sentir o vermelho e amarelo do fogo. Todos transformados em uns e zeros!
A magia digital estava ali viva e pujante convencida que nada a poderá substituir nunca.
Regresso pois, cansado, desta aventura e não posso deixar de me lembrar do cientista, do cidadão, do poeta, que não conheci pessoalmente, mas que tenho a certeza que estaria connosco, neste ano em que fazia 100 anos, a compartilhar estes quatro elementos digitais. A minha escolha recai na origem da vida, a água.
Fica a “Lição sobre a água” de António Gedeão:
“Este líquido é água.
Quando pura é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor, sob tensão e alta temperatura,
Move os êmbolos das máquinas que, por isso,
Se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
Dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
E ferve a 100, quando a pressão normal.
Foi nesse líquido que numa noite cálida de verão,
Sob um luar gomoso e branco de camélia,
Apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
Com um nenúfar na mão.”
Teologia (Elementos) - Padre Pedro José
Elementos são unidades inteiras que não podem ser partidas. Não que façam da sua existência uma filiação a um partido, que parte o Todo nos Elementos. Lá vão desculpando, não é de elementos, de material, humano, mas de matéria. Mas a matéria na física moderna não deixou de ser material. Bem, que elementos nomeamos. Nomear é fugir ou caçar. É ser ferida ou cura. Esses Elementos são 4:
Ar (devir - inspiração), Água (vida - aspiração), Terra (seio - configuração); Fogo (morte - transpiração). Tudo está dito, e de tudo somos inventados. O zero do ar (vácuo...como), da água (sem cor, sem cheiro, sem sabor... a melhor água), da terra (anti-matéria onde...buraco negro ou branco), e do fogo (cinza é fertilizante, explosão, elemento preferido dos terroristas; viciados em TV e DVD...). O texto perdeu o contexto, porque eu queria um pretexto, ou seja, um elemento a mais e não a menos.
Todos esses zeros, de ar-água-terra-fogo são o silêncio primordial. A plenitude das realidades terrenas, as quatro matriarcas que geram vida e por isso são terra-mãe e nunca terra-pai (ponto para a Terra), está neles, não fora deles, mas por dentro deles. Os quatro pontos cardeais são dirigidos firmados e afirmados pelas ventanias e furacões (ponto para o Ar). Os quatro rios do Éden, tudo que é liquido de molda, passa de continente a conteúdo, como sémen, sangue, lágrima... (ponto para a Água). O fogo como o único elemento que se pode combater a si mesmo e se anular, o tal dito contra-fogo, fica bem às quatro taças da ceia pascal, os quatro evangelhos, as quatro virtudes cardeais (será dos Purpurados...), ou seja, também eles se podem combater a si mesmo: cuidado, cuide de si, cuide do outro (ponto para o Fogo).
Ar, Água, Terra e Fogo apenas isso e é muito, bom Filme, ou como disse Lao Tsé: "Olhando sem ver, o chamamos de Invisível; escutando sem entender, o designamos de Inaudível; tocando-o sem atingi-lo, o chamamos de Imperceptível". São 3 ou 4... Qual o que falta? Não falta, tem a mais? A comida mastigada não é o meu forte. "Tenho medo do avesso" (Miguel Torga), mas na água posso aprender a nadar, no ar posso aprender a voar, na terra posso aprender a semear, e no fogo posso aprender a apagar... Posso ou podemos... Veja esse Filme sobre o qual eu escrevi sem ter visto e só assim fechando os olhos vi o REAL elemento: ar-água-terra-fogo. FIM, em fim, ou a fim.