Há dois dias senti uma tal sensação de paz, de sossego, de amor! A vida ia ser novamente bela; mas, na noite passada, sonhei que subia por uma imensa escada para ao cimo dela me encontrar com Maurice. Ainda me sentia feliz, porque, ao atingir o cimo, íamos possuir-nos.
Muito alto, avisei-o de que chegava, mas não foi a voz de Maurice que me respondeu, e sim a de um desconhecido, que ressoou como uma sereia de nevoeiro avisando os navios perdidos, e me assustou. E pensava: mudou-se, foi-se embora, não sei onde ele está, e, ao descer as escadas, a água dava-me acima da cintura, e o vestíbulo estava opaco de nevoeiro. Acordei então. Perdi a paz. Continuo a desejá-lo como o desejava antes. Apetece-me estar com ele a comer sanduíches. Quero estar com ele a beber num bar. Sinto-me cansada, farta de amarguras. Quero Maurice. Quero o vulgar e corrupto amor humano. Ó meu Deus, bem sabes quanto desejo desejar a dor que me ofereces, mas, neste momento, não. Afasta-a de mim por um instante, oferece-ma numa outra altura.
Depois disso, principiei a leitura pelo início do livro. Não escrevera todos os dias, e não me apetecia ler tudo o que ela escrevera. Os teatros a que fora com Henry, os restaurantes, as reuniões... toda a vida que eu totalmente ignorava tinha ainda o poder de me magoar.
Muito alto, avisei-o de que chegava, mas não foi a voz de Maurice que me respondeu, e sim a de um desconhecido, que ressoou como uma sereia de nevoeiro avisando os navios perdidos, e me assustou. E pensava: mudou-se, foi-se embora, não sei onde ele está, e, ao descer as escadas, a água dava-me acima da cintura, e o vestíbulo estava opaco de nevoeiro. Acordei então. Perdi a paz. Continuo a desejá-lo como o desejava antes. Apetece-me estar com ele a comer sanduíches. Quero estar com ele a beber num bar. Sinto-me cansada, farta de amarguras. Quero Maurice. Quero o vulgar e corrupto amor humano. Ó meu Deus, bem sabes quanto desejo desejar a dor que me ofereces, mas, neste momento, não. Afasta-a de mim por um instante, oferece-ma numa outra altura.
Depois disso, principiei a leitura pelo início do livro. Não escrevera todos os dias, e não me apetecia ler tudo o que ela escrevera. Os teatros a que fora com Henry, os restaurantes, as reuniões... toda a vida que eu totalmente ignorava tinha ainda o poder de me magoar.
in O Fim da Aventura, de Graham Greene
Edições ASA, pp129-130
Nota 1: Este livro de Graham Greene foi considerado por William Faulkner como um dos mais verdadeiros e comovedores romances do seu tempo.
Nota 2: O Fim da Aventura foi adaptado ao cinema. Recentemente, a ASA e a marca DANUP estabeleceram uma parceria e criaram uma edição-promoção de livros com a assinatura "Lê os teus filmes". Assim, na compra de um package de iogurtes desta marca, é oferecido um clássico para ler neste Verão. O Fim da Aventura de Greene ou Paixão em Florença de Somerset Maugham vão "cair" inadvertidamente em alguns lares. Nada mau! E antes isso que mais um par de hawaianas!
Que belíssima ideia...
ResponderEliminarAdorei este livro. Li-o por sugestão de um amigo. Não me arrependi.
ResponderEliminarEu sei que este post já é muito antigo e que o mais provavel é já nem vir a ler este comentário.....de qualquer forma gostava de saber se adquiriu este livro da colecção lançada pela danup e pela asa.....eu tenho alguns livros dessa colecção e este é precisamente um dos que não tenho. Em contrapartide tenho dois de "sete anos no tibete" - heinrich harrer, que gostaria de trocar com alguém que estivesse interessado. Se chegar a ler este comentário entre em contacto: arcoirisdairis@hotmail.com
ResponderEliminarOlá Iris,
ResponderEliminarEu tenho estes dois livros mas não estou interessada em trocá-los. Lamento. :(
Abraço